Minas Trend Day #4:o pote de ouro depois do arco-íris


LLAS, AMMIS, Jardin e Lucas Magalhães apresentam suas apostas para o próximo inverno

O quarto dia do Minas Trend começou com o desfile da irmãs Lorena e Laura Andrade, sócias na LLAS, grife que ganhou a primeira edição do concurso Ready to Go, braço do evento que procura fomentar novos talentos, organizado pelo Sindivest com curadoria de Terezinha Santos. Agora, elas estrearam no line up oficial da semana de moda mineira e souberam fazer bonito. Com um desfile onde a proposta era contrapor dualidades, elas brincaram e bordaram (literalmente) com o assunto.

Peças lisas em formas orgânicas se completam com linhas verticais precisas, tecidos densos – como malha piquê, lã, jeans encerado e renda guipure – se equilibram com texturas leves como tules e sedas, recortes arredondados harmonizam com plissados. E, com uma cartela essencialmente de cores sóbrias e delicadas, as irmãs bordaram delicados desenhos florais nos barrados e decotes. As meninas já haviam apresentado um belo trabalho em abril, por ocasião do Ready to Go. É bom, portanto, conferir a evolução das duas, que sabem fazer moda conceitual, mas usável, dominando os tecidos, coisa de quem estudou moda fora e tem segurança naquilo que faz. Vamos ver como elas se apresentam em São Paulo, já que foram convidadas para integrar o line up do SPFW. Além querer crescer e ter visibilidade, existe, é claro, a questão comercial. Sintomática, portanto, a trilha musical do seu desfile terminando em Over The Rainbow, na voz de Judy Garland. Afinal, além da magia de alcançar o arco-íris, não é justamente ali que costuma ficar o pote de ouro?

Em seguida, a AMMIS, outra estreante no Minas Trend, apresentou sua moda em couro e tecidos de alfaiataria. A grife, de Ana Laura Penido, procura usar o couro de maneira menos óbvia, em tiras enviesadas ou coberto com ilhoses, mas mantendo o aspecto sensual da matéria-prima. O problema foi esse: apesar de boas sacadas, a marca apostou em um excesso de sensualidade, como nos sutiãs rendados sob jaquetas, um recurso de styling que ficou bobo e deveria ter sido deixado na gaveta. Ainda assim, os looks em tweed e pied-de-poule devem pegar, pois estes materiais vêm com tudo no inverno e as modelagens são boas. Os tubinhos em couro e a saia lápis com barra rendada funcionaram.

A Jardin trouxe uma China menos óbvia para a passarela. A abordagem são os enclaves étnicos nas metrópoles ocidentais, uma leitura moderna da inserção das diversas Chinatowns nas grandes cidades mundo afora. O filme A Flor da Pele (2000), do diretor Wong Kar-Wai, queridinho dos festivais de cinema, também inspirou a grife. Com uma cartela seca, composta essencialmente por branco, off-white, preto e vermelho-cereja, a apresentação causou boa impressão, em especial os looks em tressê  preto com magenta, as peças com padronagem corrida de leques orientais e os delicados prints florais bicolores. Ah, o quimono usado com legging é uma excelente saída para situar o oriente dentro dos cânones comerciais da próxima estação. Afinal, o legging vem com tudo!

Fechando os desfiles do evento, Lucas Magalhães brincou com o mix de estampas e texturas. O resultado foi positivo. Lucas manda bem e sabe fazer moda jovem com um it a mais, conseguindo, ao mesmo tempo, ser autoral e pensar no aspecto comercial. Trouxe referências estéticas dos índios brasileiros combinadas com uma rica fornada de xadrezes tartans, alguns dos melhores que temos visto por ai. O estilista sempre brinca com estamparia e sua interpretação de grafismos saídos da cerâmica indígena deu o plus que o as misturas de estampas e texturas pediam. O conjunto de camisa e calça xadrez costuradas ao avesso impressionaram, e os florais em fundo cinza são boa adaptação das rosas vermelhas em fundo negro que andam fazendo sucesso, por hora, nas araras do hemisfério norte.

Resta agora aguardar as próximas edições do SPFW e do Fashion Rio, que começam, respectivamente, dias 28/10 e 7/11 para comparar os lançamentos e conferir quais apostas se confirmarão para o inverno.

Fotos Henrique Fonseca

* Por Alexandre Schnabl