Minas Trend day #2: da Belle Époque às odaliscas marroquinas


Victor Dzenk, Fabiana Milazzo, Plural e E.Store abusam do sportswear nos desfiles

Abrindo a série de 14 desfiles individuais, Fabiana Milazzo trouxe a efervescência visual da Belle Époque em uma série de looks transparentes, sobretudo vestidos, que evocaram a riqueza em detalhes do período art nouveau. Destaque para as peças em tules especiais repletas de aplicações e bordados em forma de arabescos. O stylist Pedro Salles soube aproveitar o tema e inserir satisfatoriamente os truques de montagem que são a bola da vez, como os suéteres esportivos que se misturam com saias em material nobre. Entre os possíveis hits da coleção, macacões, saias longas fluidas e muita transparência, talvez até um pouco além do que deve ser a cartilha da próxima estação. Na plateia, as atrizes Maria Casadevall e Paloma Bernardi parecem ter se emocionado com a boa trilha, composta pela Valse d’Amélie, de Yann Tiersen – música-tema do filme bonitinho-fofo-gracinha Amélie Poulain – e Non, Je Ne Regrette Rien, naquela versão rodadésima (mas, nem por isso menos impactante) que imortalizou o vozeirão de Edith Piaf.

Em seguida, Victor Dzenk exibiu sua verborragia visual de costume. Mas, ao invés de exagerar nos prints, ele soube equilibrar de maneira inédita (para o estilista!) a estamparia com os looks lisos e aplicações. Digamos que as estampas, que fazem parte da essência desse designer mineiro, estavam todas lá, mas com um pouco menos de presença e em menor quantidade que nas suas últimas coleções. Victor soube trazer à passarela a exuberância de Marrakesh, tema que costuma ser caro aos fashion designers desde os anos 1960/1970 quando Yves Saint-Laurent era Yves Saint-Laurent. Evidentemente, tudo faz sentido aqui. Victor é conhecido pelos vistosos prints digitais, pelos vestidos drapeados que valorizam a silhueta feminina, pelo uso do jérsei e por adorar viajar nos cáftãs. E, óbvio, quando se pensa em Marrakesh e em um “mergulho no mundo árabe” (como ele mesmo escreveu no release), é humanamente impossível abrir mão desses cáftãs, dos vestidos das mil e uma noites e das cores desse universo mágico. Daí, claro, o tema permitiu a Victor se esbaldar que nem pinto no milho e tudo virou (roupa de) festa! O estilista brincou no colorido com a atmosfera do Norte Africano: terracota, manteiga, amadeirados, turquesas, âmbar, tangerina, vermelho e preto dividiram a cartela de cores na intensidade em que somente um time de mulheres de um harém seria capaz de compartilhar o mesmo califa. Resumindo: tititi com harmonia no pedaço.

Além disso, a marca aprimorou um pouco mais as peças em alfaiataria e também apresentou boas peças masculinas, sobretudo os paletós, lisos ou estampados. E, provavelmente, no souk (mercado árabe) onde o estilista bateu perna, obviamente havia a deliciosa bugigangada de sempre. De olho nessas miudezas que fazem os olhos dos turistas piscarem, ele desenvolveu duas linhas bacanas de acessórios. As bolsas ficaram a cargo de Rogerio Lima, parceiro recorrente de Victor, e as bijoux, em acrílico com metal, foram confeccionadas pela incrível Aramês. Babamos com os colares e braceletes voluptuosos, mas quase cortamos os pulsos com os maxi brincos, nosso novo objeto do desejo. E, para fechar, como o pessoal tem caprichado nas trilhas, vale mencionar o ótimo efeito causado com as versões moderninhas de Tainted Love, do Soft Cell, e do hit minimalista Memorial, composta por Michael Nyman para o filme O Cozinheiro, o Ladrão, a Mulher e o Amante, de Peter Greenway. Um arraso!

O desfile da Plural, realizado em parceria com os calçados da Vicenza, teve inspiração na fauna e flora do Parque Nacional de Yosemit, na Califórnia. A coleção desfilaria em quatro atos, cada um representando uma estação do ano através dos jogos de cores: off white e cinza-gelo para o inverno, mostarda com preto para primavera, o azul royal para o verão. Mas o último bloco, que traria o verde militar das folhas caídas de outono, não deu as caras na passarela.

A marca investiu em materiais estruturados como moleton e neoprene contracenando com a fluidez do crepe e do georgette. E apostou em estampas de veados e ursos em estampas localizadas nas malhas. Destaque para o tricô pesado e bem aberto com detalhes em pele, os xadrezes, as saias pregueadas em comprimento midi (uma constante nessa temporada, lindas de se ver nos editoriais e pouco prováveis de vingar nas ruas) e no equilíbrio entre a alfaiataria e a interpretação do sportswear noventista, com maxi pulls usados com legging, que devem pegar.

Fechando a noite, mais uma parceria entre duas grifes: a E.Store e os calçados de Paula Bahia, que buscaram o refinamento de uma mulher internacional, mais chegada a uma elegância despojada do que a peruíces carnavalescas. O destaque foi o contraste entre texturas lisas e relevos em materiais nobres com efeitos gráficos aplicados em formas soltas, mais quadradas, arquiteturais. E a presença dos elementos esportivos também foi intensa: golas-careca, zíperes plásticos, mangas raglant e outros detalhes bacanas nortearam a coleção. Nesse âmbito mais esportivo, os suéteres prevaleceram e nós adoramos a dupla de pull cropped texturado com pantacourt em couro ecológico. Valeu!

Fotos Henrique Fonseca

Por Alexandre Schnabl