Minas Trend: Coloral exalta a cultura afro-alagoana com handmade traduzido em moda genderless


A marca estreia no maior Salão de Negócios da América Latina, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) com uma história potente. “Como pessoa negra, nordestina e alagoana, eu queria me sentir representada naquilo que eu visto, uso e expresso. A Coloral surge também da necessidade de mostrar a Alagoas do coco de roda, do sururu, da literatura e do artesanato que eu vivo e me situam no mundo”, pontua Mara Galvão, que tem uma bonita história no magistério no no fazer moda plural

“Muitas demandas contribuíram para o surgimento da Coloral, mas, o ponto principal, foi o desejo de me sentir representada, que marcasse meu lugar no mundo como uma pessoa nordestina, alagoana e negra. Nunca foi somente sobre roupa. Moda não é só sobre vestir, é também sobre pertencimento”. As frases potentes são ditas por Mara Galvão. A designer estreia no Minas Trend, maior Salão de Negócios da América Latina, realizado no Minascentro, em Belo Horizonte, com sua chancela autoral, ênfase na cultural afro-alagoana, pegada genderless e para todos os tipos de corpos. “Em 2018, eu tive a oportunidade de colaborar com o figurino no Coletivo Afrocaeté. Esse foi o pontapé para jogar o nosso nome no mundo. A vontade em atender ao segmento afro só aumentava, pois contei com pessoas que cruzaram meu caminho e contribuíram para essa história”, recorda Mara.

Mara Galvão é produtora de moda e idealizado da marca Coloral (Divulgação)

Mara Galvão e o fortalecimento do empreendedorismo em prol de muitos (Divulgação)

E detalha sobre a coleção apresentada no Minas Trend: “Iniciamos tudo com uma pesquisa de tendências para termos um norte daquilo que conversa com a marca. Para esta coleção, mantemos alguns tecidos já trabalhados aqui como a viscose e tricoline, leves e confortáveis. Temos também algumas peças em viscolinho/linho misto nas quais serão utilizados retalhos de capulana, tecido africano com o qual produzimos camisas, por exemplo. A técnica é o patchwork. O artesanal, o feito à mão, está cada vez mais presente em nossos produtos. Teremos cores e o aconchego do handmade levando a nossa identidade e nosso propósito em parte de nossas peças”.

Coloral: no Mercado do Artesanato de Maceió, Maria Eduarda com macacão saruel

Emocionada em levar a sua arte ao maior Salão de Negócios da América Latina, a fundadora da label  reforça: “Estar em um evento como este era até bem pouco tempo algo inimaginável. Estou muito feliz em poder apresentar a Coloral. Também há uma certa apreensão, pois é a nossa primeira participação em um espaço desta magnitude. Acredito que o Minas Trend tem me proporcionado muito trabalho e amadurecimento. É gratificante e um passo importante. Espero impactar de forma positiva para que outras marcas como a minha se vejam aptas à mesma oportunidade. Espero ampliar nossa participação na cadeia produtiva da moda e representar bem a moda feita em Alagoas”.

A marca Coloral estreia na 28ª edição do Minas Trend (Divulgação)

A marca Coloral estreia na 28ª edição do Minas Trend (Divulgação)

Mara também faz um balanço da vida entre o mercado da moda e seu trabalho como professora. “A beleza de ser quem nós somos, individual e coletivamente, é saber que para onde olho todos os dias vejo sentido. Tudo o que me cerca, música, dança, literatura, negritude, contribui para formar minha identidade, a leitura de mundo. E nesse caminho me reconheço em outros grupos e espaços que comungam da mesma perspectiva. Como pessoa negra, nordestina e alagoana, eu queria me sentir representada naquilo que eu visto, uso e expresso. A Coloral surge também da necessidade de mostrar a Alagoas do coco de roda, do sururu, da literatura e do artesanato que eu vivo e me situam no mundo”, pontua.

E acrescenta: “Talvez, minha maior dificuldade no momento seja o fato de ser responsável por boa parte dos processos: do corte e costura até a criação e ao financeiro. Conto com algumas parcerias que são pontuais. Tanto que, durante os últimos anos, eu dividi meu trabalho entre a moda, a sala de aula e pequenos projetos na área da educação. E apesar de ter costurado desde nova e às vezes atender a pedidos de amigos, comecei a vender com mais intensidade quando resolvi aumentar minha renda, me dedicando mais à moda, pois a sala de aula não era mais suficiente. Então, antes de pensar em marca, em produção de moda, mesmo tendo criado muitas roupas exclusivas, sempre me apresentava como costureira”, reflete.

A Coloral mostra sua coleção na 28ª edição do Minas Trend (Divulgação)

A Coloral mostra sua coleção na 28ª edição do Minas Trend (Divulgação)

A Coloral mostra sua coleção na 28ª edição do Minas Trend (Divulgação)

A Coloral mostra sua coleção na 28ª edição do Minas Trend (Divulgação)

O amadurecimento desse trabalho, segundo Mara, “veio junto com uma demanda que cresceu aliada à minha formação em Produção de Moda e a parceria com a C&A, primeiro com o edital ‘Todes na Moda’, voltado aos pequenos empreendedores LGBTQIA+ e que me permitiu pensar e estudar com clareza, de forma mais assertiva sobre as ideias e o propósito da Coloral. Em seguida, veio a coleção ‘Nosso Encontro, Orgulho C&A‘, na qual as mesmas marcas do edital lançaram uma coleção conjunta. Foi um trabalho muito enriquecedor e que me apresentou muitos caminhos novos. Eu ainda vejo muito do que gostaria de realizar, mas hoje em dia não me aflige tanto. Ver também que a discussão sobre moda tem sido cada vez mais ampliada e recortada por questões sociais e ambientais, que sempre existiram, mas eram ignoradas, e não somente aqui no Brasil, me permite enxergar outros espaços com o qual o meu fazer local/regional também dialogue”.

A Coloral mostra sua plural coleção no Minas Trend (Divulgação)

A Coloral mostra sua plural coleção no Minas Trend (Divulgação)

A empreendedora destaca a missão da label que exala seus propósitos. “Desejamos valorizar e enaltecer a beleza afro-alagoana. No ano passado pude participar de um edital que proporcionou um rebranding na marca, então tive a oportunidade de refletir muito sobre o que eu queria com a Coloral, e aos poucos tenho procurado inserir de forma prática, como a diversidade de corpos, por exemplo. Há muitas outras pautas que nos atravessam e sempre procuro lembrar que antes de ser uma marca, eu sou uma pessoa que lida com outras pessoas. Então, ouvir meu público e saber de suas necessidades é importante para direcionar melhor nosso trabalho. Por ser uma marca pequena e produzirmos sob demanda, ou seja, a partir do pedido, o diálogo com a clientela é mais detalhado. Com isso, atendemos a pequenos ajustes que possam trazer mais conforto, como alterar um pouco o comprimento de algumas peças, a medida da manga ou detalhes nos decotes de camisas e batas. Mesmo quando há um custo extra, percebo que o público prefere pagar a mais do que ficar sem usar o produto. O que me anima a pensar em propostas para ampliar esse atendimento”, compartilha.

Modelos da Coloral, marca que exala pluralidade (Divulgação)

Modelos da Coloral, marca que exala pluralidade (Divulgação)

E acrescenta: “Um outro exemplo que posso citar são as medidas corporais que temos como base para a construção das peças. Inicialmente fiz muitas peças sob medida, então tomei minha clientela como base, o que me permitiu ter um quadro mais amplo, com medidas maiores e mais proporcionais ao perfil corporal comum aqui no Nordeste. Outras propostas estão sendo analisadas como ampliar a numeração para atender ao público plus size, e algumas já serão vistas em alguns produtos como peças que atendam a mais numerações”.

Modelo Coloral que prioriza a identidade e a versatilidade (Divulgação)

Modelo Coloral que prioriza a identidade e a versatilidade (Divulgação)

Mara, e qual o caminho da moda autoral brasileira? “O Nordeste tem sido um celeiro de inspiração para muitas (e grandes) marcas brasileiras que buscam apresentar uma identidade nacional. E, agora, eu vejo o Norte (marcas, criadores) ganhando também seu protagonismo. Não que só agora essa moda exista, pelo contrário, a arte, o artesanato, e muitas marcas que hoje estão ganhando espaço, sempre representaram isso muito bem, regionalmente. O que eu percebo é que essa visibilidade dada por grandes marcas e eventos de moda tem sido cada vez maior. A pandemia também potencializou esse processo, pois além desse “reset” que houve não somente na moda, como em outros segmentos que tiveram de repensar seus propósitos e objetivos futuros, ela permitiu através do uso mais frequente da internet que a comunicação entre as pessoas fosse ampliada. Então eventos, marcas, criadores, que antes eram enxergados apenas onde desenvolviam seus trabalhos, alcançaram novos lugares e isso nos permitiu conhecer diferentes realidades. Ser autoral é buscar/mostrar/(re)construir identidades e acredito que esse movimento de busca e apresentação dessas diversas identidades brasileiras ainda tem muito a apresentar. É um caminho rico, cheio de criatividade, assim como é o Brasil.

Otimista com o futuro no setor, Mara aponta para os sonhos com a Coloral: “Eu vejo a moda como algo acessível, cotidiano e que ao mesmo tempo não é um lugar tão comum. É pessoal, porque é identitário e é também coletivo. Meu sonho hoje é transformar a marca nessa voz, fortalecendo outras identidades, enaltecendo a nossa diversidade, a beleza de nossas raízes. Ocupar um espaço como o Minas Trend é um sonho que eu nem imaginei ver tão breve sendo possível, então hoje eu não defino um espaço, um momento, eu sonho em me manter coerente, responsável e manter minha essência por onde a Coloral seguir”.