“Originalidade, Colaboração, Investigação, Diversidade e Sustentabilidade. Mergulhar e confiar nos próprios processos e histórias, atentos às grandes mudanças do mercado, no quesito sustentabilidade e diversidade. E a busca por novos negócios colaborativos influenciam positivamente no DNA mais criativo e sólido numa marca de moda”. Esta é a análise da consultora de moda e confecção do SENAI CETIQT Charllene Oliveira, que ministrou a palestra “O DNA da Criatividade: Desconstruindo Referências em Busca de Novos Padrões“, naquele que é o evento que marca, justamente uma de suas maiores vocações: a de estar na vanguarda na discussão dos temas pertinentes e presentes na contemporaneidade: o Minas Trend – Maior Salão de Negócios da América Latina -, promovida pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). O encontro de Charllene e os amantes da moda foi realizado no belíssimo prédio do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-BH), em Belo Horizonte.
Charllene tem uma trajetória profissional que é pura inspiração. Formada em Administração de Empresas, Técnica em confecção do vestuário, design de moda e pós-graduada em gestão e planejamento em modelagem, medalhista de prata na modalidade tecnologia da moda nas Olimpíadas de Conhecimento 2012 e medalhista em Excelência em Tecnologia da Moda na 42º Competição Internacional – WorldSkills, Alemanha (2013), Charllene formou-se em estilismo pela Esmod Paris e em Moulage Avançada pelo Institut Français de La Mode. Mentorada do Programa de Educação para Liderança Feminina e Sustentabilidade Women Dior 2020, ela foi finalista da “Academia da Moda”, reality de moda do programa É de Casa (TV Globo), e atua na área criativa da indústria da moda há mais de 15 anos.
Trazendo como proposta o construir novas pontes para o fazer moda e dar asas à imaginação diante de uma pluralidade de falas, histórias e vivências, Charllene Santos propôs um olhar 360 graus, uma autoanálise, especialmente no que tange às marcas. “Olhe para dentro, invista na sua equipe interna (…) e criando relações verdadeiras e transparentes”. Para a consultora do SENAI CETIQT, “pensar em moda, é pensar em ecossistemas, num organismo vivo e mutável, onde há sempre lugares para serem revisitados e criar a partir dele, fugindo de percepções tradicionais ou não”.
Quando pergunto sobre a questão dos padrões que durante tanto tempo observamos na moda, Charllene argumenta apontando a subjetividade do termo: “Padrão sempre foi algo que me incomodou muito. O que é padrão para mim pode ser o oposto para o outro, logo, podemos considerar que apenas existem outras formas de enxergar o mesmo, sem um certo ou errado, contanto que haja ética. E com isso é possível desconstruir o que muitas vezes foi falado para nós, por exemplo: como vestir, como criar, a tendência do momento, metodologias de criação… Isso envolve questionar o status quo e reimaginar conceitos antes estabelecidos, através da experimentação, mergulho nas próprias histórias, escuta e novas e vivência em perspectivas diversas”.
A moda nacional caminha em direção à sustentabilidade, valorização do que é nosso, diversidade e inovação. Temos ainda muito desafios, mas estamos aprendendo a mergulhar nas nossas próprias histórias – Charllene Oliveira
Considerando haver no Brasil uma pluralidade de corpos e uma diversidade gigantesca em nosso país, como pode uma marca diferenciar-se? “Nesse novo momento de mercado, e após tantas mudanças no mundo, é preciso que marcas estejam atentas a comportamentos que há tempos vêm dando sinais de desejo por mudanças. Isso inclui o fato de que não adianta fazer uma moda exclusiva, se ela não é inclusiva. É tempo de diferenciar-se com experiências, autenticidade, conexão, transparência com cliente interno e externo, storytelling e senso de comunidade”, frisa.
A inspiração é algo que pode vir de lugares e pensamentos mais improváveis. E que não há barreiras para o criador quando ele tem o compromisso com a sua própria arte – Charllene Oliveira
E o democratizar conhecimento de Norte a Sul do país é vital. “Com o olhar para dentro do Brasil, gigantesco e plural! O fortalecimento da indústria nacional é imprescindível para essa democratização e entendimento dessa pluralidade, que podem ser complementados por iniciativas privadas e governamentais para a valorização da moda nacional e local”, analisa.
Quando perguntada sobre 10 pontos dos quais o tema de sua palestra influencia o consumidor, ela assinala:
- Curiosidade;
- Desconstrução;
- Incômodos;
- Experimentação;
- Novas perspectivas;
- Tecnologias manuais;
- Autoexpressão;
- Customização;
- Quebra de padrões de gênero;
- Originalidade.
Uma visita guiada à mostra do Estúdio Drift, no CCBB, na capital mineira, pode alimentar criatividade a partir das esculturas, instalações, performances experimentais que fundem arte, design, tecnologia, ciência e natureza. Para a consultora do SENAI CETIQT, “pensar em moda, é pensar em ecossistemas, num organismo vivo e mutável, onde há sempre lugares para serem revisitados e criar a partir dele, fugindo de percepções tradicionais ou não. Acredito que na confirmação do universo de possibilidades”.
Abordei como a geração Z tem se mostrado em termos de criatividade e subvertendo o status quo. Para Charllene, esta é “uma geração que já nasceu nativa digital. Os integrantes de fato mudaram a forma de consumo, com destaque para o ativismo social, socioambiental e político, usando a criatividade para abordar questões importantes e o celular na mão para influenciar o público, principalmente dentro das mídias sociais”.
Diante de suas experiências nacionais e internacionais, indago o que a consultora acredita que deve ser enfatizado junto aos empresários de médio ou pequeno porte. “Diria que é importante olhar para dentro, investir na sua equipe interna, seja nas boas relações, criando conexões verdadeiras entre a empresa e os funcionários, como o foco na transparência. Além da importância de treinamento e desenvolvimento de habilidades”.
Tenho pontuado também que a criação é alinhada com os processos industriais, com uma adequação de modelagem e fabricação para uma ficha técnica definitiva, para a busca da matéria-prima mais competitiva, do fornecedor mais confiável do mercado e para a planificação da distribuição. Quanto ao feedback dos empresários diante da implantação de uma Indústria 4.0, a consultora do SENAI CETIQT observa esse processo: “Estamos caminhando, porém, já apresentando melhorias e implantações consideráveis. Levando em conta os desafios na adaptação às novas tecnologias, principalmente para micro e pequenas empresas, pois muitas delas enfrentam outros desafios diários, em comparação a empresas de grande porte”.
Considerando ser o Brasil um país repleto de saberes e com uma moda autoral de primeiríssima qualidade, Charllene analisa a nossa exportação do nosso handmade de forma esperançosa: “O mundo está de olho no Brasil! Aqui é uma fonte inesgotável de referências, que infelizmente não é tão celebrada internamente, sendo um banquete para marcas internacionais que buscam novas inspirações. Porém, acredito na força da nossa produção interna, inclusive as que estão fora do mainstream, como: produtores locais, artesãs com saberes e tecnologias ancestrais, artistas e fomentadores da cultura nacional, que estão comprometidos em mostrar as nossas potências”.
Consciente de que o trabalho pode ser prazeroso, ela destaca o que mais a satisfaz em seu ofício: “A possibilidade de aprender coisas novas diariamente, e poder trocar conhecimento e experiências com pessoas de setores diferentes dentro da indústria da moda, nos quatro cantos do Brasil. O que me traz insights fundamentais e de extrema importância para meu desenvolvimento pessoal e profissional”. E, entre tantos projetos realizados, Charllene prossegue sua linda trajetória com o desejo de sempre “ser útil, compartilhar meu conhecimento e promover aprendizagem”.
Artigos relacionados