Minas Trend: Maior Salão de Negócios da América Latina comemora 15 anos
O Minas Trend, maior Salão de Negócios da América Latina, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), propulsor ativo de inspirações, sustentabilidade e inovações no setor, trouxe o tema “Cenários 2024 – o futuro começa hoje” para a roda de debates e pensarmos juntos os novos rumos. O comportamento do novo consumidor é a chave para os estudos e planejamentos dos novos passos na indústria, e quando falamos em cenários futuros, precisamos compreender como se desdobra a partir da contemporaneidade, e que isso é o fator fundamental para construirmos um 2024 mais promissor, sustentável e ético para todos, como nos diz a CEO da Tendere Pesquisa e Soluções Criativas, Patrícia Sant’Anna, que aponta as macrotendências: “Elas possuem três grandes frentes: a digitalização radical; a sustentabilidade no dia a dia; e a valorização do debate decolonial para processos criativos. Todas essas ações têm consequências tanto para serviços quanto para desenvolvimento de produtos”. E acrescenta: “Os estudos prospectivos são baseados na realidade e no histórico sociocultural e estético do Hemisfério Sul, isso gera informações muito potentes para planejamentos e formação da visão estratégica de qualquer negócio criativo, especialmente da moda. As referências vêm do passado e do presente, não há como fazer desdobramentos para o futuro sem antes conhecermos profundamente o que ocorre no aqui e agora, e isso requer também repertório sobre o passado. Só assim podemos desenhar futuros possível e plausíveis”.
A moda é uma linguagem estética, mas também é tecnologia social, e esse pode ser um propósito que todos nós podemos construir e distribuir ao mundo: uma moda sustentável, diversa e que não tem medo de dialogar e incluir – Patricia Sant’Anna, fundadora e diretora de pesquisa da Tendere
Patricia Sant’Anna apresentou os resultados de pesquisas sobre cenários futuros para 2024 (Foto: Divulgação)
Para a pesquisadora, o período será um ponto de transição importante para a indústria. “Marcas com propósito fazem sempre a diferença. Primeiro para a sociedade, incluindo seus clientes. Há diversas formas de se fazer essa conexão com o consumidor, uma delas é tornar o mais transparente possível o processo e todos que fazem parte dele. Sabemos que é complexo produzir no mundo da moda, há muitas mãos envolvidas, mas se endereçarmos todas para os nossos clientes, o retorno é uma sociedade mais emancipada, mais socialmente consciente, e uma marca mais relevante do que as que estão ao redor. A diversidade é um dado extremamente importante, não só por que estamos em um país diverso, mas por que a diversidade faz com que a empresa seja mais criativa, humana, e não raro, contribui para ampliarmos o nosso mercado, pois falaremos com mais pessoas”, diz.
E reitera: “É importante que as marcas definam seus propósitos. Se posso dar uma dica, é para que converse com sua equipe, avalie o seu entorno sociocultural, veja quais são os problemas da sua cidade, do seu bairro, da sua região, desenhe com todos da empresa os objetivos e liste as ações que podem fazer isso acontecer. Lembre-se, ter um CNPJ é ser, antes de tudo, uma organização social. Não perca essa definição tão inicial de toda empresa do horizonte”.
Patrícia falou sobre ‘Cenários Futuros: 2024 o futuro começa hoje’ no Minas Trend
Sobre a influência da aceleração tecnológica decorrente dos tempos pandêmicos, ela pontua: “A digitalização do mundo amplia os espaços que existem também para o ambiente digital, compreender e saber como utilizar isso para o seu empreendimento de moda, seja uma marca, indústria, varejo, é fundamental. Acredito que são a incursões da moda no mundo dos games, seguido de metaversos, e ações que fundem as sensibilidades reais e digitais, que despertam o sensorial de novas maneiras”. E Patricia, você considera que seja plural? Para todas as classes sociais? “No Brasil, grande parte do acesso ao mundo digital é feito pelo smarphone, o que democratiza isso, desde que as experiências levem em consideração as especificidades do país, para criar real conexão com diversas classes sociais. Vale destacar que uma classe social de uma localidade pode agir e ter valores completamente diferentes da mesma, em outra região, isso por que há fatores internos como cultura local, grau de instrução, atuação na sociedade, modelos de comportamento, entre outras coisas, que criam situações específicas de como acessar, compreender, assimilar e atuar no mundo digital em cada região do país”.
O tema ‘Cenários Futuros: 2024 o futuro começa hoje’ foi abordado no evento
A medida em que o consumidor se habitua aos mundos virtuais, os itens digitais se tornam tão importantes quanto os produtos físicos, mas as conexões entre cliente e marca são os pilares fundamentais. “Para se tornar referência no mercado, é preciso conexão com o cliente, com suas ‘dores’ e com suas ‘delícias’. É importante estabelecer laços reais, nos quais as suas criações representem os anseios de imagem que o seu consumidor deseja ostentar (seja on ou offline). A conexão real faz a empresa fazer as escolhas certas de comunicação, projeção de inovações, desenvolvimento de coleções e tudo o que envolve o planejamento”, afirma.
E diante de todo esse contexto, sinaliza rumos para a moda brasileira: “Ela caminha para a diversidade, para o reconhecimento daquilo que nos é próprio, para uma visão decolonizante dos padrões de beleza, e para um ‘grande abraço’ em que todos possam cumprir seus diferentes propósitos com respeito às diferenças. Com pesquisa de ponta das universidades trazendo novos materiais, e isso sendo fundido e difundido pelos diversos níveis industriais da moda no país. Vejo a moda brasileira crescendo em tecnologias que buscam soluções cada vez mais sustentáveis, com diálogos francos e reais entre grandes e pequenas marcas.
Patricia Sant’Anna: “Para se tornar referência no mercado, é preciso conexão com o cliente, com suas ‘dores’ e com suas ‘delícias'”
Quarta Revolução Industrial
A nosso pedido, Patrícia também analisa o panorama da Quarta Revolução Industrial que está sendo desenhado: “A Quarta Revolução Industrial ou Indústria 4.0 é uma expressão ampla que engloba como tecnologias de automação e troca de dados aumentarão a produtividade das indústrias bem como as deixarão mais inteligentes. Essas tecnologias incluem sistemas ciber-físicos, Internet das Coisas (IOT), Computação em Nuvem etc. O foco da Quarta Revolução Industrial é a melhoria da eficiência e produtividade dos processos que conectam bilhões de pessoas, juntamente com avanços tecnológicos emergentes em áreas como inteligência artificial, robótica, impressão 3D, nanotecnologia, ciência de materiais e armazenamento de energia. A indústria da moda pode ou não estar imersa nessa nova possibilidade de organização e prática industrial, mas sabemos que, no Brasil, essa é uma realidade para uma ínfima parte dos participantes desta indústria. Essa indústria pode por um lado conseguir alcançar uma velocidade sem precedentes na produção, em uma evolução exponencial que vai transformar os sistemas de produção, gestão e governança. Mas também pode gerar uma indústria mais sustentável, tudo depende da maneira como ela é aplicada. Afinal, como toda tecnologia, ela não vem com o sinal de positivo ou negativo, é a humanidade e maneira como colocamos essa tecnologia para funcionar que pode fazê-la ser para o bem amplo e social, salvaguardando o meio ambiente, ou para a produção desmedida e excessiva que só degrada o ambiente e o mundo em que vivemos”.
Já fazem parte do nosso dia a dia wearables anti-suor, anti-chamas, reguladores para temperaturas quentes ou frias, calças jeans com poder de ajudar a circulação, as roupas rastreáveis, a nanotecnologia a favor da indústria da moda. “Cada vez mais veremos muitas soluções aplicadas ao vestuário que vão além do valor simbólico (moda) da roupa. É óbvio que o teor simbólico, passando pelo estético, serão fundamentais como gatilhos de escolha das pessoas, mas a funcionalidade também é algo que facilita a vida do usuário, que o ajuda em alguma problemática, ou mesmo que lhe dá mais segurança em algum tipo de atividade, sendo assim, é algo positivo e tudo depende de como essas funções dialogam e se entrelaçam nas teias simbólicas das escolhas do vestir”, pontua Patricia.
Aplicativos capazes de tirar medidas dos nossos corpos, roupas feitas pelo próprio consumidor através da tecnologia 4.0. Para onde caminha a humanidade? “Todos esses caminhos são possíveis, mas quase todos estão em fase de teste social, ou seja, mesmo que sejam uma realidade do ponto de vista tecnológico, que seja algo passível de ser feito hoje, ser comum amanhã tem relação direta com a maneira como as pessoas consomem e compreendem as tecnologias, se elas são viáveis do ponto de vista sociocultural, se fazem sentido no cotidiano das pessoas, para os valores que elas querem manifestar por meio da moda”.
E como uma marca contribui para o socioambiental? “Há inúmeros dados que comprovam o impacto que a moda faz no meio ambiente e na sociedade. Após a pandemia, o consumidor se tornou muito mais consciente sobre o que compra e usa no seu dia a dia, desta maneira, é fundamental que as marcas, indústrias e varejo de moda olhem para todo o seu impacto, avaliem, e consigam fazer ações que fomentem uma visão mais circular, com menos desperdício, com impacto social positivo, enfim, que seja socioambientalmente mais responsável. Alguns empresários ainda possuem a visão antiquada achando que é desperdício de investimento, mas conglomerados de luxo como a Kering e Prada já provaram que mudar a abordagem da produção e do posicionamento são formas de ganhar muito mais, aumentando o lucro, a própria B3 (bolsa de valores de SP) exige que seus participantes tenham posturas e ações de ESG claras. Em verdade, ser sustentável, é reduzir custos, cuidar melhor das pessoas, e lucrar mais… então porque ser resistente? Normalmente porque se tem medo do que é novo, de novas práticas e formas de fazer. Mas será que há futuro para empresas que tem medo da inovação?”