A prévia do inverno 2015 no Minas Trend continua a todo vapor. Nesta terça-feira (7/10) a maratona de desfiles começou com Patricia Motta exibindo seu couro em desfile que impressionou. A marca, que algumas temporadas atrás ainda apresentava alguns problemas de modelagem, se mostra agora afiada em show bem cuidado, onde a exuberância da floresta tropical foi o ponto de partida para experiências com o militarismo, já que o print inspirado no Rio Amazonas remete a um camuflado. Bacana, e embora a marca tenha se baseado na alfaiataria dos anos 1940/50 para desenvolver sua coleção, o ótimo styling aludia aos uniformes dos desbravadores do inóspito território brasileiro nos Século XVII. Impossível não observar os punhos duplos dobrados, as golas brancas que sobem pelo pescoço, contraste do preto & branco e as vestes em couro de pirarucu sobre as montagens sem pensar na Flandres do período barroco, abordado não apenas nos longos e nas sobreposições que parecem saídas de quadros de mestres da pintura, como também no uniforme dos bandeirantes. Mas os acabamentos, por sua vez, têm um quê de anos 1990, já que os as bainhas desfiadas e costuram inacabadas dão a pista de que a estilista andou voltando suas antenas para o estilo destroy dessa época, imortalizado no trabalho de Anne Demeulemeester e Martin Margiela.
Patricia opta agora pela predominância dos comprimentos midi e longo, algumas assimetrias e sobreposições – que, pelo que foi visto até agora no MTP, parece ser uma das tônicas da próxima temporada. A cartela seca de cores começa com neutros, como preto, branco, mel, leite e café, s desdobrando nos púrpuras – vinho, uva, bordô, heliotrópio –, mas os dois looks finais em rosa forte se revelam desnecessários.
Em seguida, Rogério Lima fez nova dobradinha com a B.Bouclé para mostrar seus acessórios. Dessa vez, uma série de bolsas em tramado rústico preto com detalhes e forros em cores vivas, como magenta, esmeralda e azul turquesa, além de belas mochilas masculinas. Chamaram atenção as valises e pastas, assim como as bolsas pequenas estruturadas, além das peças confeccionadas em zetex – aquele papelão de couro reciclado usado para fazer etiquetas de passador de calça jeans – com silks localizados. O estilista ainda ofereceu ao público algumas opções de bolsas com franjas em couro, mas a bolsinha com sequência de borlas em couro causou ótima impressão.
Já a B.Bouclé brinca com aqueles tramados que fazem parte do seu DNA, com muitas sobreposições em preto e cinza, em peças de tricô aberto com franjados, além de renda e paetês em prata. Aos poucos, o revival da década de noventa vai avançando as estações e as marcas demonstram ir perdendo o medo de investir no prateado. E, para vestir os modelos masculinos que exibiam as peças de Rogério, a grife opta por um visual de passarela, com maxi pull e saia longa, usados com tênis All Star. E bacana mesmo são os capuzes dos hoodies, que coordenam com as matérias-primas das maxi mochilas. Cool.
Depois, foi a vez da Jardin optar por um tema que têm sido caro à algumas grifes nas últimas temporadas, como a Forum: o frenesi dos grandes centros urbanos, com a rigidez das metrópoles atenuada pelo colorido de estampas que aludem aos sinais luminosos e das janelas acesas no skyline. O tema não é nenhuma novidade, mas é sempre passível de ganhar novas interpretações, caindo como uma luva no estilo contemporâneo da marca, que abusa de materiais tecnológicos como vinil, neoprene cortado a laser e tule esportivo transparente e ainda mistura com couro, tudo arrematado por acessórios em plástico desenvolvidos em impressão 3D. Deu conta do recado, com tops cropped com saias midi, zíperes decorativos e bermudas midi arrematando algumas boas ideias. No mais, as ankle boots rasteirinhas de Virginia Barros, em metalizado amarelo-ouro, despertaram desejos.
Depois, foi a estreia da blogueira Raquel Mattar (do Las Mimas) na passarela. Como assim? Bom, sua marca já tem um tempinho e ela, que vive entre Minas Gerais e o showroom de São Paulo, quer mostrar que entende mais do riscado do que o look do dia. O caminho parece curioso, mas faz até sentido, já que suas seguidoras curtem seu estilo e traduzi-lo em peças próprias pode ser uma boa sacada, já que a moça estudou moda.
Ela desenvolve a coleção a partir de duas estampas florais, Blend e Blossom, em tonalidades de rosa e bordô, exibidas na primeira parte do desfile, meio lady like, com um quê de alfaiataria bem talhada. Tudo vai bem, até que a quebrada na passarela – que deve existir para não cansar – toma o rumo errado e uma série de peças em renda, mais pesadas (mas sem nenhuma relação que justificasse a ruptura) irrompe, seguidas das montagens finais, em plush com jacquard dourado. Aí a coisa pesa, revelando que o potencial até pode existir, mas ainda é necessário um amadurecimento.
Entre tantos expoentes do tricô na moda mineira, como a GIG e a Coven, a Faven, de Natália Pessoa, sempre se mostra uma grife coerente, com pesquisa bem feita e resultado têxtil de primeira. Com o competente Lucas Magalhães no estilo e a ótima produção de Daniel Ueda, ela prova mais uma vez que, se é mais acanhada que as outras na hora de divulgar seu trabalho, quando resolve fazer passarela manda bem. Agora em busca do aconchego e afeto que caracterizam sua história, a marca pinta e borda com incríveis combinações de cores e mix de prints, em elaborado patchwork. Os maxi cardigãs e os casaquetos usados com saias midi imprimem um aroma 1930/1970, e, nos pés, os oxfords e trekkers da Ceconello se encarregaram de deixar o luxo devidamente despojado. As trincas de cores, lindas de doer, impressionam, e o único senão são os fios puxados nas saias felpudas, uma pequena distração.
Depois de enveredar por vitrais e borboletas, Fabiana Milazzo mostra crescimento no seu inverno 2015, devidamente seduzida pelo brilho das pedras preciosas. Marilyn Monroe já dizia que os diamantes são os melhores amigos de uma garota, e óbvio que seus vocais sensuais compareceram na trilha com a música-tema de “Os homens preferem as louras” (Gentlemen prefer blondies, 1953), o clássico dirigido pelo bamba Howard Hawks para a Fox, onde a estrela dilata as pupilas cada vez que vê uma joia poderosa. E, como um só é pouco, o delicioso desfile ainda termina sob a extensão vocal de Shirley Bassey, imortalizadosna abertura de outro longa, “007 – Os diamantes são eternos” (Diamonds Are Forever, de Guy Hamilton, MGM, 1971). Okay, meu bem, os amantes se vão e o brilho dos aneis fica no dedo, está certo. E Fabiana se diverte com tules bordados com pedrarias, transparências, desenhos geométricos e bordados espelhados, em silhuetas que evocam frívolas platinum blodies.
Fechando a noite, a Vivaz dá um tempo no excesso de bordados e pedraria que marcaram as últimas temporadas, preferindo brilhar com a leveza da mousseline, crepe de seda e georgette, entre outros tecidos diáfanos que fizeram a alegria dos anos 1970. Não que não haja aplicações. Claro que há, e a cliente da marca espera isso. Daí os bordados art déco, embora em menor escala,presentes pontualmente, já que essa era influência constante na era disco. Mas aquele aroma 1920/30 que andou dominando a cena nas últimas estações agora cede espaço ao boogie oogie setentista, com charmosas neo-divas dando as cartas, perfeitas reencarnações de Marisa Berenson, Liza Minelli, e Bianca Jagger flanando pela passarela sob a forma de tops como Izabel Goulart e Renata Kuerten. A languidez de Halston – estilista síntese dessa estética – comparece nos longos vaporosos, nas fendas, nas pernas de fora, nas golas arrematadas com echarpes, decotes nas costas ou indo até o umbigo e ainda nos volumes de panos fluidos.
E teve até espaço para túnicas e um macacão-pantalona incrível, entre peças em cartela de cores forte, com predominância de vermelho, rosa, bordô, turmalina e azul-petróleo. Bonito, embora o desfile pudesse ser um pouco mais sintético, com uma edição de moda menos longa.
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