A 15ª edição do Minas Trend terminou nesta sexta-feira (10/10) e, por tudo que foi visto, tanto no salão de negócios quanto nos desfiles, o inverno 2015 é gráfico e étnico. Invertendo a premissa de que é no verão que se investe mais em estampas, o próximo semestre promete aquecer a onipotência do preto, na mistura com branco ou através das monocromias em gamas fortes, em substituição ao exagero de brilhos que pontuou as últimas coleções. E, no meio disso tudo, esse excesso de prints corridos alegra a estação fria do ano, entre grafismos abstratos, flores e referências que esbarram nas antigas culturas da América pré-colombiana. No último dia de desfiles, Plural e Lucas Magalhães dividiram a cena com Alessa e Herchcovitch; Alexandre, duas marcas que se apresentam na Cidade-Maravilha mas que, com a ausência do Fashion Rio nesta temporada, optaram pela passarela mineira. E, no final, Mabel Magalhães impressionou em show onde a preferência por florais ocupa o espaço dado antes à pedraria. Confira!
Sem a presença de sua criadora na passarela – as performances de Alessa Migani no final de cada desfile se tornaram antológicas com o passar dos anos – Alessa deu um tempo nos caftãs e apresentou coleção com cruzes, tigres rebatidos e coqueiros, dentro daquele repertório que lhe é característico: silhuetas soltas confortáveis, sobretudo túnicas com calças-pijama, tecidos fluidos, o brilho suave da seda e, agora, uns repuxadinhos e amarrados aqui e ali se encarregando de renovar seu estilo, junto com as franjas. Tudo para reforçar, óbvio, seu trabalho gráfico, ponto de partida sempre.
Em seguida, a Plural subiu a serra também optando – pelo menos na primeira parte – por brincar com mix de estampas em resultado charmoso: as plasticidade dos prints de montanhas com xadrezes causou boa impressão em montagens que primam por sobreposições e valorizam as texturas dentro do universo esportivo. Seu inverno adapta o espírito do montanhismo para o ambiente urbano em looks que devem fazer a festa na cidade grande, e a escolha do branco neve para abrir o desfile revela a importância que esta cor deverá ter na próxima estação, assim como o vermelho que esquenta neutros e o azul glacial. No mais, vale ressaltar que o uso de golas punho, rolê e jabôs reforça a identidade dentro do revival da virada 1980/1990.
Depois da surpresa de sua marca ter sido recém-incorporada pelo grupo que Patricia Bonaldi está montando – e que, além destas duas, ainda inclui a Pat Bo e Apartamento 03 –, e após ter comparecido, no dia anterior, como estilista no ótimo desfile da Faven, Lucas Magalhães prova que, mesmo vendendo sua grife, pretende manter seu espírito autoral. Com inspiração nada óbvia no Nordeste (embora a estampa craquelada logo de cara remetesse ao solo castigado da região e a música de cordel também sublinhasse a leitura), as modelos irromperam passarela adentro em separates de blusa e saia ou de blusa e calça, ora em composições gráficas de xilogravuras, ora valorizando o mesmo print de cabo a rabo. Para arrematar, alguns casacos para reforçar o clima desse inverno levinho, mas o destaque fica por conta dos vestidos e saias que emulam franjas, mas que são confeccionados como se fossem folhas de papel submetidas àquela máquina de desfiar documentos, comum nas repartições públicas e multinacionais. Cool.
Alexandre Herchcovitch preferiu enfatizar o aspecto comercial no inverno de sua Herchcovitvh; Alexandre, linha mais acessível. Para calar a boca daqueles que insistem em dizer que o estilista é genial, mas pouco afeito às vendas, ele prova que, mesmo quando se rende às regras do mercado, conserva sua verve. Com muito preto total ou monocromias às vezes subvertidas por um ou outro detalhe em gama contrastante, ele investiu na ótima alfaiataria seca, com toques assimétricos, uma bicromia de vez em quando, nos longos estampados arrematados com jaquetinhas, nos sobretudos usados como peça única e na cintura marcada. No masculino, nem é preciso dizer que as modelagens impecáveis fizeram a turma do Bolinha salivar. E, claro, a boa surpresa de ver Caroline Ribeiro na passarela já vale por si só o desfile.
Mabel Magalhães deu um tempo no exagero dos brilhos e, junto com a Faven, apresentou o melhor show da temporada mineira em apresentação que contou com o precioso styling de Paulo Martinez. O resultado ficou com um aroma de desfile antiguinho, meio bon chic bon genre, daqueles que Christian Lacroix fazia lá atrás, e, nesse caso, isso é bom. Pura referência, até porque a mistura de peças lisas com florais e o uso de luvas coloridas com mangas arregaçadas intensifica essa ideia. O uso de moletons e suéteres, para imprimir nas sobreposições com a alfaiataria esse espírito retrô, ganha o reforço de “Libertango”, de Astor Piazzollana trilha sonora e das passadas precisas de Mariana Weickert no catwalk.
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