Milão Fashion Week FW19: um olhar hypado sob o prisma da fotógrafa brasileira Giselle Dias


“O terceiro dia foi um dos mais divertidos, pois eu fui convidada a fotografar o backstage da Blumarine e Francesca Liberatore. Como fotógrafa, nada é mais prazeroso do que essa oportunidade, pois nos bastidores você pode criar uma relação com as modelos que seria impossível na passarela. Existe mais tempo para orientá-las nas fotos e até bater um papo. Além de poder ver as peças de perto e olhar de antemão toda uma coleção sendo preparada para seu début na passarela”

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*Por Giselle Dias

Desembarquei na Itália e entrei direto na maratona de uma das semanas de moda mais famosas do mundo, a Milão Fashion Week. Muitos desfiles importantes foram realizados nesta edição. Meu favorito? Moncler, que abriu o primeiro dia com uma festa em forma de apresentação batizada “Moncler Genius Project”, na qual a marca convidou nove fashion designers – Pierpaolo Piccioli, Craig Green, Simone Rocha, Hiroshi Fujiwara entre outros – para criar coleções cápsulas e reinterpretar as jaquetas símbolo da marca.

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A festa teve como cenário um galpão aberto, com a decoração pegando fogo, literalmente. A parte interna foi dividida entre nove salas, cada uma decorada no tema e com o conceito da coleção de cada designer. Rocha criou uma vibe romântica para a coleção, até revestindo capuzes com enfeites delicados de pérolas; Richard Quinn apresentou jaquetas com estampas floral vibrantes e calçados de zebra e Matthew Williams da Alyx lançou capas de chuva brilhantes e jaquetas de inverno com hardware de metal e nylon. Porém, o destaque da noite, e minha preferência pessoal, foi a apresentação de Piccioli e Kebede, com uma coleção que mescla artisticamente silhuetas de vestidos de festa com o material de assinatura da Moncler e as expondo no dia como as verdadeiras obras de arte que são.

Piccioli falou com a Vogue sobre sua colaboração com Liya e sua decisão de lançá-la com todos os modelos negros: “Eu acho que inclusão não é só uma palavra. Eu realmente acredito na ideia de trabalharmos juntos de uma forma que lhes dê novos pontos de vista … E eu estava pensando que quando a coutture nasceu não era para mulheres negras, era só para mulheres brancas, revistas como a Jet não podiam nem emprestar roupas! Então essa coleção é para mostrar que o sonho da alta costura deveria ser permitido para todos. E é por isso que a ideia de Liya funcionou tão bem.”

No segundo dia, o show mais hype de Milão, era a The Attico, criada pelas estrelas do streetstyle, Gilda Ambrosio & Giorgia Tordini. Elas fecharam a Garage Traversi e fizeram um show anos oitenta fashion extravaganza. A sensação geral foi totalmente maximalista. Ambiente com modelos posando em cima de carros de luxo vintage,  fotos coloridas do lookbook gigantes penduradas nas paredes e, acima de tudo, roupas com aspecto caleidoscópios, tecidos metálicos brilhantes e tons vibrantes.

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O terceiro dia foi um dos mais divertidos, pois eu fui convidada a fotografar o backstage da Blumarine e Francesca Liberatore. Como fotógrafa, nada é mais prazeroso do que essa oportunidade, pois nos bastidores você pode criar uma relação com as modelos que seria impossível na passarela. Existe mais tempo para orientá-las nas fotos e até bater um papo. Além de poder ver as peças de perto e olhar de antemão toda uma coleção sendo preparada para seu début na passarela.

A Blumarine apresentou uma coleção repleta de rendas e sedas românticas e muitas rosas vermelhas floresceram a passarela. Segundo a designer italiana Anna Molinari, ela queria injetar um pouco de “amor pela beleza” no guarda-roupa das mulheres.

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Após sua estréia nas passarelas de Milão ano passado, Francesca Liberatore retorna encantando com sua visão futurista no Palazzo Reale Milano. Os modelos desfilaram como astronautas com capacetes e com itens de materiais em contraste um com o outro. Cada peça tem sua própria personalidade e forma. O design romano trouxe de volta o estilo escocês com dobras, combinando-as com linhas mini e midi e formas suaves, retas e largas. Um show fora desse mundo como apenas uma mulher de renome internacional da moda, como a designer romana, poderia fazer.

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Para fechar o terceiro dia, vale citar o incrível show da Iceberg. A Italian House apresentou um vibrante e memorável show e teve sua coleção pontuada por modernidade elegante, cores brilhantes, coordenação de cores, óculos de esqui, e trabalho enfático de logotipo.

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No quarto dia de fashion week, já completamente morta de todas as atividades que a semana demanda, eu só fui assistir os shows. O meu favorito do dia foi o Philosophy Di Lorenzo Serafini que teve a Bella Hadid abrindo o show. Longos vestidos de seda e cetim em rosa ou marfim com ternos de alfaiataria em vermelho ou preto, e blusas de babados com saias de couro.

O último dia da semana mais famosa de moda começou com um super show do Angel Chen às 9h30 (não entendo porque eles fazem os shows tão cedo). O designer chinês fechou o ‘Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci’ para estreia de sua coleção FW19. Dando o tom do desfile com uma música tribal sinistra, a paleta vibrante de laranja, vermelho e amarelo surge como inspiração da antiga tribo do povo Qiang, um grupo de pastores nômades baseado na região de Sichuan. A marca experimentou com lã pela primeira vez, incluindo uma jaqueta de jacquard de seis cores que foi tingida usando Anofix, um corante ecológico. Alguns dos looks foram completamente trabalhados na lã e serão apresentados como parte da edição do 2019 International Woolmark Prize.

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Saindo do Angel Chen, tive que correr para o desfile seguinte para fotografar backstage. Durante o MFW, é extremamente difícil pegar um taxi de um desfile para o outro. E os desfiles acontecem de uma em uma hora basicamente. Se você ainda fotografa backstage, tem que chegar uma hora e meia antes do horário marcado. Então você tem que tentar priorizar e ser extremamente organizada com seu horário. Sou muito grata à PR Natália Gongora, porque ela montou a minha agenda e me acompanhou em todos os desfiles me mantendo no horário e organizada tendo todos os endereços e convites em mão.

Chegando ao backstage do Teatro Menotti, locação escolhida para o show da marca MARIOS, um coletivo de artistas e marcas extremamente contemporâneos que têm isso como identidade fundamental desde a sua criação, me deparei com uma linda coleção inspirada na cena internacional do techno, formada por peças com detalhes neon de identidade streetwear. Cada coleção inclui uma cápsula gerada em colaboração com um artista contemporâneo. A abordagem da MARIOS ao design é simples e racional, demonstrando uma ideia conceitual da moda destinada a consumidores conscientes que usam roupas como uma forma de narração. Suas roupas são contemporâneas, muitas vezes transformadas e multifuncionais, e para uso diário. E o desfile FW19 apresentou justamente isso.

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Ao contrário do que muitos pensam, eu não senti em nenhum momento um ar de estresse no backstage. Obviamente muita correria e atenção a detalhes ao entorno de um caos organizado, porém dá para se perceber claramente que todos os presentes trabalham com amor pelo que fazem.

Infelizmente no mundo da fotografia ainda me deparo com uma realidade dominada pelo machismo, algo que não é uma surpresa em muitos meios. Quase sempre a única fotógrafa mulher presente. E a sensação de que ainda há muito a ser feito para conquistar nosso espaço.

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Fotografia por Giselle Dias, Assistência por Natalia Gongora.