Com uma coleção menos coloridíssima que o habitual – pero no mucho – Versace combina neutros com pasteis em verão onde os frisos romanos, correntes e cabeças de medusa dão as caras em grafismos bem estilizados, quase pop art. Mas, claro, não dá para brincar tanto assim com marca que faz parte do imaginário da mulherada, e Donatella não abre mão de fendas, assimetrias, comprimentos curtinhos, pernas reveladoras e peças de um ombro só, além de telados e couros vazados. A crise come solto na Europa e é preciso vender mais do que nunca, daí a necessidade de renovar por aí, tentando fazer parecer novo mais do mesmo. Ah, e se não dá mais para evitar a volta do minimal anos 1990, que tal abusar do prateado e até de alguns metalizados purpurinados? Afinal, foi na virada dessa década que Gianni Versace ampliou seus domínios, deixando de ser apenas um importantes estilista oitentista para se tornar total celebrity noventista, amigo de gente importante, como Elton John e Lady Di.
Fotos: Divulgação
Esqueça tudo aquilo que você estava acostumado quando pensava na esfuziante tradição visual de Emilio Pucci, pois Peter Dundas continua em pleno processo de renovação da grife. Ocupando a cadeira de diretor criativo desde 2008, o estilista até inclui na nova coleção algumas peças que lembram aqueles grafismos sessentistas que caracterizam a brand, em looks repletos de prints espelhados – mandalas orientais e florais exóticos de inspiração mediterrânea –, mas pesa a mão no resto, parecendo expurgar de vez o aroma de naftalina que ainda existia na marca.
Traduzindo: aquela sensação que se tinha quando se olhava para um vestido recente da grife e se pensava em fantasmas de um jet set remoto – como Capucine e Marisa Berenson – foi mesmo aposentada, e a menção a esta aura de estilo retrô permanece somente um pouco aqui e acolá. O designer prefere mesmo se deixar levar pelos ventos étnicos que sopram nesta temporada, e é nessa parte que se nota a alegria do moço. Franjas, botas até os joelhos e um certo espírito folk (coisa que seria impensável na grife até então), comparecem na coleção verão 2015 e , decididamente, revelam que foi aí que o norueguês fez a festa. A ênfase vai para o amarelo forte, marrons, coral e roxo, além dos florais miudinhos sobre branco, e teve até vestido-poncho para contar a história, mas é de se estranhar o tubinho de oncinha, bem justinho, que aparece em dada hora. Sinal de que a Pucci se rende aos cânones da exuberância nem sempre elegante, propostos por best sellers como Versace? Talvez. O animal print causa estranheza mais do que os longos em tie dye coloridíssimos que marcaram presença, aproximando a elegante e exuberante, mas vetusta e tradicional consumidora da grife daquela mais espalhafatosa que prefere exibir Cavalli. Mas estes funcionam direitinho no processo de atualização e parecem se adequar aos novos tempos.
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Cavalli, por sua vez, prefere fazer mais do mesmo. Afinal, para que renovar tanto se sua clientela continua comprando muito e lhe garantindo bala na agulha suficiente para continuar exagerando no bronzeado artificial e nos procedimentos estéticos que cada vez mais lhe aproximam do Fofão, aquele personagem da “Turma do Balão Mágico”? Galhofas à parte, o estilista não brinca mesmo em serviço, e abusa como sempre daqueles códigos que fazem o mulherio saracotear para o seu lado na hora de escolher em qual arara de que grife vai torrar o dinheiro do marido: oncinhas vistosas, zebras, plumas gatsby, prints manchados multicoloridos, transparências peruetes, couros, crocos em prateado star trek, rendas brancas e até jeans rasgados estão ali, prontos para causar no verão 2015, mas é a parte dos listrados multicoloridos horizontais, com pegada latinoamericana, que a marca se sai melhor.
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Na contramão da exuberância, Salvatore Ferragamo mantém o pé no essencial, sem arroubos. Seu sucesso e permanência estão calçados na tradição, e render-se à peruagem seria pecado mortal, algo como dar tiro no pé, afastando sua cliente bem nascida, para quem uma oncinha tropical seria digno de pena. Ainda assim, há até espaço pra esta, assim como o tigre e até um print que lembra cobra, desde que sóbrios – já que causar pela elegância seca é sua praia. E, entre neutros e pasteis, também a nova coleção também diz amém para os amarelos e laranjas que andam batendo perna pelos corolários da moda, imprimindo um pouco mais de vida ao todo e abrindo espaço para o caramelo que entra em seguida. Em tempo: as estampas miméticas com listras irregulares e manchados verticais são a prova de que podem co-existir exuberância e discrição.
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