Logo mais a noite vai rolar o Met Gala, baile mais importante da cena da moda, no Metropolitan Museum de Nova York. Sob batuta de Anna Wintour, atual editora-chefe da edição norte-americana da revista “Vogue”, o evento deste ano terá como tema “China: Through the Looking Glass”, que é como se chama a exposição que vai ser inaugurada no Metropolitan. A novidade desta vez, darlings, é que nossa expectativa não fica por conta dos looks, e sim de uma curiosa proibição. No convite, as celebs receberam a seguinte advertência: “O uso de telefones para tirar fotografias e ter acesso às redes sociais não vai ser permitido dentro da Gala”. Ou seja: bye, bye, selfie e nossos planos de ficar conferindo tudo quase que em real time no Instagram.
A proibição, no entanto, já começou a gerar uma desconfiança no que diz respeito a sua motivação. Neste ano, estarão gravando, durante o evento, um documentário sobre o baile e a tal exposição, numa parceria entre a “Vogue”, a Condé Nast Entertainment e os estúdios Relativity. Há quem diga que a proibição das câmeras é uma forma mais letal de se conferir exclusividade à revista, coisa que eles negam, alegando segurança dos convidados (oi?) e melhora no convívio entre eles durante o badalo. Hum.
Pelo sim ou pelo não, o que vai nos restar é aproveitar o preview no red carpet já que lá, ainda bem, a selfie ainda é permitida. Gracejos à parte, essa proibição do Met Gala não é pioneira, o que faz HT pensar melhor sobre o assunto. Demos uma recapitulada básica. Há cerca uma mês Thierry Frémaux, diretor do Festival de Cannes, gritou aos quatro cantos que vai lançar uma campanha contra a prática das selfies no tapetão que vai rolar dos dias 13 a 25 de maio na Riviera Francesa. Diz ele que o veto não vai ser total, mas que o evento quer, sim, reduzir. “É ridículo, grotesco e realmente atrasa o evento. Você nunca fica tão feio como quando tira uma selfie”, disse.
A medida já chegou também no deserto de Indio, na California. Por lá, no Coachella, o pau de selfie foi totalmente proibido, bem como no Lollapalooza Brasil. Eles alegam o possível uso do acessório de fotos como armas em agressões. A justificativa no entanto não amedrontou a organização do Lolla no Chile, que liberou geral, e nada aconteceu. Vai entender.
Pois bem. É inegável que o uso do celular tem posto abaixo em rodas de conversa – sejam elas em uma festa ou restaurante – o diálogo. Entre tuitadas e curtidas, o olho no olho virou coisa do passado e abriu espaço para restaurantes chegarem ao ponto de fixarem placas clamando por um tête-à-tête tradicional.
Temos de concordar que a selfie sempre existiu. Ela apenas ganhou um novo nome ao ser atingida por um raio gourmetizador do mundo hi tech. Convenhamos, a mania de se registrar num auto-retrato existe desde que a fotografia foi inventada. Lógico que, com a popularização do termo e a ampliação do leque de pessoas com acesso a equipamentos para este fim, fez com que virasse uma moda, rendendo até acessórios especiais para a prática. Coisa do século XXI, meus caros.
Thierry Frémaux, o respeitoso diretor de Cannes, tem todo o direito de achar que se autoclicar em uma evento beira o ridículo e o grotesco. Assim como, é bom dizer, tudo bem se a grande maiorias das pessoas quiser mais é que o mundo acabe em selfie. Discutir se tirar uma foto de si mesmo é cafona ou não, se pode ou não, vai além de uma tentativa de imposição do fim de uma tendência. Tendência essa que tem prazo de validade, assim como os baldes de gelo, os desafios sem maquiagem e as dublagens. Elas sempre existiram, só que em dado momento ganharam uma grande-angular maior.
Como tudo que é popular, a selfie, coitada, também começará a passar pelo processo de declínio. Mas esse caminho deve ser feito por meio da mesma desconstrução que outras modas da web sofrem, não por uma opinião particular de curador que quer deixar seu red carpet mais bonitinho, ou de um veículo querendo controlar a exclusividade de um conteúdo em seu baile. Até porque, nem se quisessem (e que bom que seja assim!), teriam a força de apedrejarem de forma unilateral a prática.
Ah, e a que ponto chegamos: temos que deixar nossos celulares na encolha, e pensarmos duas vezes antes de eternizarmos ou divulgarmos os momentos que bem queremos. E pior: discutindo a liberação ou não de um simples modo de tirar foto. O que será de Kim Kardashian, a diva das selfies? Em desuso ou não, o nosso Narciso particular continuará dentro de cada um, só esperando um momento propício ou não para lançar mão da câmera frontal. Qualquer coisa, não gostando, é só dar unfollow, Thierry Frémaux. Não dói e é de graça.
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