* Por Carlos Lima Costa
Nos anos 80, a modelo Magda Cotrofe era considerada uma das mulheres mais bonitas do Brasil, sendo precursora no uso dos biquínis asa delta e fio dental. Musa daquela década, dividia as atenções com nomes como Luiza Brunet, Xuxa e Monique Evans. E sempre defendeu a beleza natural, sem radicalismo. Não é contra plásticas, é contra os excessos em um país onde mulheres ainda jovens recorrem cada vez mais a procedimentos estéticos. “Hoje, as pessoas estão muito padronizadas. Querem ser iguais. Acho estranho isso. É raro ver uma mulher de beleza natural. Isso é uma distorção da própria pessoa. Isso acontece muito no Brasil, onde temos o recorde de cirurgias plásticas. Muito jovens as mulheres já recorrem a isso, porque estão se espelhando nas outras, querem ser iguais”, reflete ela, aos 57 anos.
Magda, pelo contrário, fazia tudo para ser diferente. Se vestiam um tipo de blusa, ela usava outro “Hoje, até na fisionomia, estão robotizadas, querem ser iguais na forma de se vestir, ter a mesma sobrancelha, a mesma boca. Hoje, até os dentes são todos uniformizados e brancos. Desculpa, mas acho muito estranho isso. Sou feliz com meu dentinho dentucinho até hoje, não vou mexer e acabou. A não ser que seja um problema de saúde”, assegura.
Mas Magda deixa claro que não é contra plásticas. “Todo procedimento que pode ajudar é válido. Eu nunca fiz no rosto, porque tenho muito medo. Às vezes, mexe um pouquinho, fica bem diferente, muda a expressão, você não se reconhece”, avalia. A única intervenção cirúrgica estética a qual ela se submeteu foi a colocação da prótese mamária, após a segunda gestação.
“Não estava satisfeita, achei que com a amamentação, meu peito tinha ficado menor. Mas tem que saber bem tudo. Eu passei quase um mês frequentando o consultório do cirurgião para conseguir ter segurança para fazer”, explica Magda, mãe de Thalita, 31, estilista, fashion designer da Farm, e de Thiago, 27, produtor e DJ, conhecido como Dakid. Mas já algum tempo, Magda aplica botox em alguns pontos na testa. Por outro lado, não fez preenchimento, morre de medo, não gosta da harmonização facial. E faz um alerta. “É demonização, fica esquisito. Qualquer procedimento que for fazer tem que averiguar bem com quem vai fazer. Não pode ver um serviço sendo oferecido na internet e já ir fazendo. Algo pode dar errado, o produto escorrer. Então, tem que saber bem quem é o profissional com quem está lidando. Conheço quem já fez isso e depois teve problema”, alerta.
Com o sucesso que fez nos anos 80, Magda trabalhou como atriz. Na TV, por exemplo, integrou o elenco do humorístico Viva o Gordo, ao lado de Jô Soares. Foi produtora cultural. Ela tem um espírito empreendedor.
Atualmente, Magda é curadora na América Latina do Bikini Art Museum, inaugurado, em julho, em Bad Rappenau, na Alemanha. Foi convidada para tal função por seu dono, o alemão Alexander Ruscheinsky. Além disso, é homenageada lá com um imenso painel, ao lado de outras brasileiras. Esta peça do vestuário feminino, que completa 75 anos em 2021, foi criada pelo francês Louis Réard (1897–1984), em julho de 1946. “É muito bacana, ele mostra não só a história, mas a cultura da moda praia. Eu sou considerada precursora do biquíni fio dental e asa delta no Brasil. Faço parte da história do lançamento mundial em Ibiza. Entrei como personalidade e musa do carnaval, que nas fantasias dos desfiles muitas eram peças de biquíni”, ressalta.
A sala dedicada ao Brasil tem 200 metros quadrados, falando de estilistas como Cidinho Pereira, da Bumbum, Lenny Niemeyer e Amir Slama. E materiais ainda de nomes como Rose de Primo e Leila Diniz. E conta que o museu dedicado a moda praia é um complexo de 2.000 metros quadrados, com restaurante, hotel com quartos decorados com o tema da moda praia, tem esculturas e pinturas. Existem salas ainda de Alemanha, França e Estados Unidos, onde está exposto um maiô que Marilyn Monroe usou em um filme de Hollywood. E no da França está o biquíni dourado, o Golden Reard, criada em 1946. O museu tem 3.000 peças, tendo coleções de trajes de banho de 1870 até os dias atuais.
Como a eterna musa da década de 80 vai à praia, hoje? “Naquela época, vínhamos da ditadura, então queríamos liberdade. No Carnaval todo mundo com peito de fora, tinha gente da sociedade, era contagiante. Lá fora foi um escândalo, todos com a bunda desnuda, foi bem escandaloso. A gente andava no calçadão quase pelada, de fio dental, era uma loucura. Atualmente, as pessoas são mais pudicas, reservadas, o biquíni é hot pant. Hoje, vou de tanga”, frisa.
Muitas lembranças vem na cabeça de Magda quando relembra o início de sua história. Em 1983, vindo de Campos dos Goytacazes, onde nasceu, chegou na cidade do Rio para cursar uma faculdade. Pelo menos era a história para sair de sua cidade. Seu sonho era participar de uma Olímpiada na patinação artística. Chegou até a dar aulas. “Eu fazia o maior sucesso patinando e todo mundo falava que eu tinha de ser top model”, recorda. Fez um curso no Senac e aos poucos os trabalhos começaram a acontecer. “Fui conseguindo tudo na ralação, não foi fácil”, garante. O fato é que estourou. Por três anos consecutivos, entre 1985 e 1987, foi capa da Playboy, sendo que na primeira, a edição esgotou nas bancas em 15 dias.
Como era ser uma das mulheres mais desejadas desse país? “Interessante, não me colocava nesse patamar, não me via nesse referencial. Hoje, revendo meu material, minhas fotos eu me surpreendo comigo mesma. Mas era uma loucura quando chegava em algum lugar. Teve uma Fenit (Feira Nacional da Indústria Têxtil) onde quase quebraram o estande, pelo tumulto das pessoas querendo me ver. Queriam me tocar, ver se eu era real. Vi o furor que foi o sucesso da Playboy. Sabia que os homens desejavam, com certeza. Mas era muito focada na profissão, não ficava nesse devaneio, tipo ‘sou símbolo sexual’. Nunca gostei de ficar colocando título. Não parava para pensar nisso. Tem gente que sobe a cabeça, fica estrela. Eu fiquei bem na minha em vez de achar que eu era a tal”, reforça.
A carreira não foi feita só de momentos incríveis. “Vivenciei assédios, deixei de fazer trabalhos legais. Diziam, ‘se não passar por aqui não vai em frente’. Era complicado. Acho ótimo hoje em dia as mulheres terem voz para tocar nesse assunto. E chega disso. A gente quer trabalhar como profissional, não só como um corpo, tendo que se submeter a certas coisas. Como eu me empresariava, tinha um escudo, tentava evitar, fazendo o cara virar um amigo, saía pela tangente, para pararem de me ver como objeto de desejo. E fazia verem que sou mulher, mas sou gente. O pior assédio era quererem te comprar. O ruim é quando você tem um trabalho, que sabe que vai fazer e a pessoa trava, vamos dizer, alguns diretores não te deixam passar no teste e aí você não vai a frente”, lamenta.
Em relação a ter posado nua, não se arrepende. Mas isso já rendeu muitas histórias. “Eu vivenciei muito preconceito. Até hoje, por ter feito a Playboy, acham que você é isso, aquilo, te chamam de tudo que se pode imaginar, acham que você pode ser comprada. As mulheres não se tocaram que não tiveram mais conquistas, porque a mulher mesma critica a outra, desfaz da outra. É difícil andar no meio de mulheres casadas? É difícil, te olham com rabo de olho, ainda hoje. Estou solteira e elas casadas, fiz Playboy e estou bem. Se tenho algum trabalho, “é porque saí com alguém”. Fiquei chocada quando vieram me perguntar isso. Acho um absurdo uma mulher achar que eu não sou inteligente, que não sou capaz. Porque sou bonita, tenho sempre que usar o meu corpo? Isso é um preconceito horroroso. Essa questão, evoluiu muito pouco desde os primórdios”, analisa.
Atualmente, Magda está solteira. “Mas estou bem, obrigada. Por enquanto, não estou procurando. Nunca fiquei tanto tempo solteira, tem três anos. Mas não sozinha”, diverte-se.
Para ela, a menopausa não atrapalhou na questão amorosa. “Existe esse tabu que ninguém gosta de falar. Eu não fiz reposição hormonal, comentam que quando você faz se mantém mais. Por ter a prótese, fui aconselhada a não fazer. Pra mim não foi um terror não. Claro, a libido diminui nessa época pra todo mundo, é normal, mas se estou com alguém bacana, tudo acontece, tudo fica normal. Comigo é assim”, assegura.
Quando se refere a questão estética, procura se manter bem. “Mas sem neura, sem achar que tenho que ter corpo de 20. Não me privo de certas coisas. Se der vontade de comer, eu como. Agora, se acho que engordei , tento dar maneirada. Para a pele você toma um colágeno, uma vitamina, mas ela vai ficando diferente. Quero é ter saúde. O mais importante é ter cabeça jovem. Agora, brinco com minhas amigas, prefiro ser uma mulher velha e murcha, do que ser velha e gorda (risos). Nunca fui de malhar demais, fazer dieta, então, é levantar a mão para o céu e agradecer”, garante.
E faz uma ressalva: “Falam que sou ex-modelo. Não sou ex modelo, vou ser sempre modelo não importa a idade. Agora, com o Instagram, você modela. Tem mercado para tudo. As mulheres da minha idade também são consumidoras. E eu gosto de apresentar, tenho feito no meu IGTV, estou para fazer o meu canal no YouTube”, finaliza.
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