Made in Brazil: o poder de fogo dos compradores internacionais em busca dos sapatos com a chancela brasileira


Zero Grau, a feira de calçados e acessórios, realizada em Gramado/RS, recebeu representantes de 12 países e se consolida como plataforma de grandes negócios

A multiplicidade de lançamentos para o Outono-Inverno 2014, apresentada na Zero Grau, feira de calçados e acessórios, realizada semana passada, em Gramado/RS, só corrobora os dados de que nossa indústria calçadista é milionária em termos de criações e fabricações. A força desse mercado calçadista, com tantos expositores fechando negócios durante a feira,  tem a seu favor também os holofotes internacionais direcionados para o nosso país. O importante, sem dúvida, é a simbiose entre qualidade, preço e  mix de tendências apresentados. Os ventos sopram cada vez mais a favor das exportações do setor calçadista, que consegue atender demandas bem específicas.

A feira Zero Grau divulga uma chancela forte e o branding de marcas poderosas. Tem sido reconhecida como uma bela ponte com o mercado internacional para atrair grandes compradores. Cerca de 12 importadores de  diferentes partes do mundo desembarcaram em Gramado, na serra gaúcha, em um momento super propício para se fazer negócios. Em primeiro lugar, a linda cidade está em clima natalino e tem uma das atrações mais divulgadas em todo o país: o seu Natal Luz. São shows, luzes, enfeites natalinos, Papai Noel e árvores repletas de laços, bolas e cores por todas as ruas, Happy Hour Christmas, na Rua Coberta, renas de três metros de altura com intervenções de artistas plásticos… As lojas possuem uma decoração de alto luxo capaz de atrair os olhares mais aguçados de um expert em design. Em segundo lugar, a infra-estrutura hoteleira e gastronômica da cidade também merece aplausos. Nessa época do ano, além de a gente observar a arquitetura da cidade, as flores estão no seu ápice de beleza. As tão famosas hortênsias estão florindo e o perfume de Dama da Noite deixa um rastro por onde caminhamos à noite. Um clima perfeito, um cenário deslumbrante para… se fazer business.

O grupo de compradores representou a oportunidade de os expositores brasileiros abrirem mercados no exterior. De acordo com os dados fornecidos pela Merkator, empresa organizadora do evento, e divulgados para a imprensa, são importadores provenientes de países africanos, como África do Sul e Angola, e também da Europa, caso dos russos da empresa L.G. AMTREAD, INC. A América do Norte também esteve representada, pelos compradores da IPANEMA INC/KLUB NICO. Da Oceania, os australianos da HARIAN PTY LTDA. “Este é o terceiro ano da Zero Grau e já atingimos um excelente número de importadores. A nossa feira está consolidada no mercado interno e já estamos vendo que o mercado internacional agendou esta feira para as suas compras da coleção Inverno em calçados e em acessórios”, afirma Frederico Pletsch, diretor da Merkator Feiras e Eventos.

Vale ressaltar também que os nossos irmãos da América do Sul têm feito compras substanciais. Os vizinhos de continente que estiveram em Gramado vieram do Chile, Bolívia, Colômbia, Uruguai, Paraguai e Peru. Outro ponto: o país com maior número de compradores no grupo de importadores é o Equador. São pelo menos 12 empresas equatorianas que enviaram representantes para compras e pesquisas de tendências, tanto sob o aspecto de moda como de distribuição feita pela nossa indústria calçadista.

“O mercado latino-americano de forma geral tem se mostrado um excelente parceiro para a indústria brasileira de calçados e acessórios. Essa aproximação com as empresas deve fortalecer ainda mais a parceria”, enfatiza o diretor da Merkator Feiras, Frederico Pletsch, acrescentando que a Zero Grau, além de se firmar como uma das mais visadas feiras para importadores, também sai na frente como preview Outono-Inverno 2014, propiciando tempo hábil para o lojista estrangeiro ter a coleção em sua prateleira.

“O mercado internacional de venda de calçados está de olhos bem abertos para o que produzimos no Brasil. Só para citar um exemplo de potência brasileira e exportadora, a Grendene fabrica 12 pares de sapatos por segundo. Grande parte vai para exportação. Isso é uma maravilha!”, revela Frederico, com o largo sorriso no rosto. Acrescenta ainda que as indústrias de couro do Sul do país atingiram um nível tão alto de qualidade que “não perdem para nenhum lugar do mundo. Nem mesmo para a Itália”, analisa. Frederico ainda diz que o sinal está verde para a grande exportação de sintéticos que a indústria de calçados também tem fabricado.

Mesmo com a Zero Grau em plena ebulição de negociações e expositores apresentando as tendências, Frederico, pacientemente, fez um flashback durante a minha entrevista com ele e lembrou que as últimas quatro décadas foram cruciais para o Brasil marcar território na História do calçado como um dos maiores fabricantes do mundo em couro. Com a entrada feroz da China no mercado de calçados, a indústria calçadista brasileira teve a sabedoria e astúcia de investir em profissionalização e qualidade. “Com isso, reaprendemos a vender sapatos. E, aliado ao nosso design, conquistamos novamente o mercado externo. Vendemos, agora, uma chancela”, atestou. E Frederico lembrou que a indústria hoje produz 820 milhões de pares de sapato/ano. Os exportadores brasileiros aprenderam também a buscar novos mercados e não ficarem apenas atrelados aos dólares dos Estados Unidos. “África e Arábia Saudita estão encantados com o que produzimos aqui no nosso país”, comenta.

Segundo a Abicalçados – Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, o Brasil ocupa  o terceiro lugar entre os maiores produtores mundiais e é oitavo maior exportador. Os dados revelam que no ano de 2011, a produção foi de cerca de 819 milhões de pares de calçados. Deste número, o mercado interno consumiu 706 milhões de pares. A exportação foi de 113 milhões de pares, que representa 13% da produção nacional, destinados a 150 países. A exportação gerou US$ 1,3 bilhão para o mercado.

Conversei com o diretor presidente da Piccadilly e vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Paulo Eloi Grings, e ele disse que o mercado internacional está em busca da nossa forma de se fazer sapatos com muito estilo e sabendo aliar conforto. Cerca de 30% da produção da Picadilly tem sido exportada. Dubai é um grande comprador desde 2007. “Possuímos lojas fidelizadas no exterior que pagam royalties. É mais simpático do que abrirmos franquias”, avalia. Hoje, a Picadilly tem 28 lojas próprias em sete países e exporta para 90 países. A frase mais forte de Paulo Eloi? “Temos condições de brigar com a China. Vendemos qualidade e marca. Eles não vendem marca, mas preço”.

A competente jornalista Marta Araújo, da Notícia em Dobro, empresa que tem a Merkator como cliente, conversou com a colombiana Maria Del Rocio, presente no Brasil pela quarta vez. Nos informa que a importadora distribui o calçado brasileiro por toda a extensão de seu país. Grande parte desse material é proveniente das compras efetivadas durante ou em decorrência da Zero Grau. Na Colômbia, há um notável crescimento da importação brasileira. A China ainda é o maior exportador para o país, mas recentes medidas protecionistas do governo colombiano em relação ao sapato chinês, mesmo que focadas no desenvolvimento da indústria interna, contribuíram para que a procura pelo sapato brasileiro crescesse muito. “O Brasil como país tem uma marca muito forte, sempre associada com um produto de alta qualidade e conforto. Esse valor agregado faz com que o sapato não apenas seja muito procurado, como também se torne referência na Colômbia”, destaca Del Rocio. O volume de importação brasileira na Colômbia é de 6 milhões de pares ao ano.

No Equador, outros 2 milhões de pares fabricados no Brasil são consumidos a cada ano. Os importadores equatorianos Mario Aguirre Maura e Mario Vintimilla, além de abastecerem suas próprias lojas com calçados infantis e femininos, também distribuem para outras redes varejistas em todo o território equatoriano. “O mercado calçadista brasileiro é completo e muito bem representado aqui na feira. O produto é de alta qualidade, reunindo conforto, qualidade e versatilidade”, afirma Maura. Ele revela que cerca de um terço do mercado interno calçadista do Equador é composto por importações, onde o calçado brasileiro tem grande proeminência. “No Equador, as marcas do Brasil andam lado a lado com grandes grifes europeias”, ressalta Vintimilla.

Como diz Roberta Pletsch, gerente de relacionamento da Merkator Feiras e Eventos, “vamos que vamos, Brasil!”. Porque não há quem não ame um calçado made in Brazil.

Fotos: Henrique Fonseca