*Com Dudu Altoé
Na manhã deste sábado, 26, o Teatro Municipal de São Paulo, sinônimo de elite e alta cultura, recebeu uma ode à moda das ruas no desfile da grife À La Garçonne. O primeiro fashion show da temporada de moda, que na verdade não fez parte oficialmente da programação, trouxe a coleção 02-2017 da marca de Fábio Souza e Alexandre Herchcovitch. Ao todo, foram 70 looks altamente desejáveis que ocuparam o tablado do teatro situado no coração pulsante da maior metrópole da América do Sul, em produções que seguem à risca a cartilha defendida pela dupla.
Esta é justamente a provocação pretendida por Fábio e Alexandre. Ao levar para o teatro o seu megamix de referências populares, pinçadas cuidadosamente no dia a dia do cidadão comum, a ÀLG eleva a sua moda “reciclada” a outro nível. “É uma coleção que tem bastante o upcycling, tanto nos tecidos quanto nas roupas prontas, que foram transformadas em outras peças a partir de novas propostas. Estamos nos aperfeiçoando cada vez mais”, explica Alexandre Herchcovitch.
Não se engane: as grandes tendências das passarelas internacionais estão lá. Porém, em uma mistura fina de ingredientes próprios da realidade particular de um jovem brasileiro, de alma urbana e cosmopolita. Uma moda democrática, em uma nova versão do que os designers vêm propondo. “A coleção segue os valores da marca apresentando uma moda eclética, que privilegia a todos e não apenas um grupo”, comenta Herchcovitch. “É moda para todo mundo, que vai desde a camiseta até literalmente o vestido de festa, como os dois que abriram e fecharam o desfile”.
Pois já que a moda da À La Garçonne é para todos, as referências utilizadas para formatar a coleção também o são. O upcycling resgatou a estética rude do workwear, em peças com volumetria confortável e ampla, para o trabalhador comum, e, por que não, para o garoto e a garota de atitude punk. Os punks da ÀLG, pois, usam do skate como estilo de vida, apoiados em tênis Vans criados com exclusividade para a marca em uma celebrada collab. As calças curtas, hits instantâneos, vistas a todo momento, evidenciaram ainda mais o mood “skater”, com um “quê” dos surfistas do asfalto da Califórnia dos anos 70. O perfume esportivo que tanto impregna a moda não mostra sinais de descanso, e trouxe looks totais em moletom como uma aposta, já de olho na esstética carregada pelas celebridades na virada dos anos 2000.
A estamparia merece destaque. Um elogiado clash de motivos, elegendo animal print e grafismos geométricos, fez os fashionistas presentes ao desfile suspirarem. Uma alma kitsch orientou os trabalhos, resultando em misturas inusitadas que são a cara do streetwear contemporâneo. Uma estampa micro floral, ainda, evocou um romantismo parnasiano, ocupando vestidos leves, de silhueta ampla, bem a cara de uma tarde de verão. O tom romântico, pois, evoluiu, adquirindo um ar gótico que equilibrou drama e sensualidade, em peças pautadas por rendas e tules.
Como não poderia deixar de ser, Fábio e Alexandre trouxeram mais uma vez o militarismo como um dos pilares da coleção. Jaquetões e parkas flutuaram pelo tablado do Teatro Municipal, em combinações urbanas de muito estilo. Sem dúvida, o charme de uma terceira peça desse perfil é inconfundível, e serviu para conferir ainda mais brilho ao mix. Hit dos hits, e desejo absoluto da ÀLG entre os modernos, as jaquetas pintadas à mão trouxeram estampas de aves para esta temporada, enquanto as cordas, outro ícone, flertaram com um novo esquema de cores. Tudo devidamente amarrado e bem executado, como já era de se esperar.
Aplaudidos de pés por uma platéia concorrida, Souza e Herchcovitch conseguiram reunir, assim, o créme de la créme da moda em uma manhã fria de sábado, entres nomes da moda, como Giovanni Bianco, diretor criativo da Vogue Itália, além de celebridades, como Sabrina Sato e Cléo Pires, clientes e fãs confessas da À La Garçonne. Sem dúvida alguma, um senhor pontapé inicial para a edição 44 do São Paulo Fashion Week.
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