Ivan Aguilar arma desfile-show que celebra de Domenico De Masi a Hitchcock


Para festejar os 30 anos de muita moda, estilista assina coleção baseada na calmaria dos campos ingleses. É um alerta para quem não consegue dar um tempo no frenesi do whatsapp, nem no mimimi das mídias sociais

O fashion designer Ivan Aguilar celebrou na noite desta quinta-feira (30/5), no Centro de Convenções de Vitória, seus 30 anos de estrada na moda masculina. De que forma? Bem, se formos falar do próprio Ivan, com aquele jeitinho faceiro de mineirim “come-quieto” que conquistou o mundo vestindo artistas e políticos, sin perder la ternura jamás. Sorrisão Colgate na cara, pele bronzeada de quem não abre a mão de um dolce far nientezinho básico e olhos brilhando de criança que apronta. E o que ele aprontou? Um desfilão-festão-bafão de arromba, com 40 looks da nova coleção, pela primeira vez se apresentando na cidade que o acolheu, a capital capixaba.

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O designer fez o dever de casa certinho: antenado com esses novos tempos de engajamento social, parte da renda da noite foi revertida para a OSGADE, obra social Gabriel Delanne, organização não governamental sem fins lucrativos que cuida da educação, nutrição, cultura, esporte e lazer de crianças e adolescentes carentes em risco social, na comunidade de Novo Horizonte, em Cariacica, ES. A cidade em peso compareceu e colaborou com a causa. E Ivan ainda convocou para tocar o desfile o amigo de longa data, o stylist Claudio Silveira, que já dirigiu runaway shows de brands importantes como Alexandre Herchcovitch, Osklen, Amir Slama e Samuel Cirnanscki. O moço aterrissou no Espírito Santo direto da labuta, após tocar fogo na Praia de Iracema, depois de abocanhar a direção de passarela do DFB Festival, maior evento de moda autoral da América Latina, realizado em Fortaleza de15 a 18 de maio. “Dessa vez, me dei ao luxo de dar pinta no dia, relegando a pauleira ao Claudio”, ri Ivan, com verve de enfant terrible, do tipo que enfia besouro em bolso de avental de empregada. No fim, tudo deu match.

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E a coleção? Uma coisa! Com a nome de “Urban folk”, tem inspiração nos campos ingleses, em clássicos cinematográficos, como “Retorno a Howard’s End” (1992) e “Vestígios do dia” (1993), de James Ivory, e até em “O terceiro tiro” (1955), filme de Alfred Hitchcock com Jonh Forsythe que lançou Shirley McLaine. Downton Abbey perde…

Tudo numa levada slow life, movimento de se voltar para o campo para meditar, para se entregar à reflexão, ao respiro. Como assim? Ivan explica: “Existe um movimento global de retorno ao ambiente rural ou, pelo menos, na direção daquilo que remete a ele; um neo arcadismo social decorrente do cansaço da vida frenética, da escravidão das mídias sociais, do excesso do whatsapp e seu esgotamento mental. Quando isso acontece, o homem se volta para a natureza. Rendo mais quando estou longe da urbe”, aponta o criador. Segundo ele, é daí que ressurge essa atmosfera rural inglesa como ambiência de desejo.

O conceito das peças vai ao encontro da obra mais conhecida do filósofo e professor da universidade La Sapienza, em Roma, Domenico De Masi, “O ócio criativo” (Editora Sextante, 2000), e também da mais recente, “Uma simples revolução” (Editora Sextante, 2019), que acaba de ser lançada no Brasil e na qual o pensador defende a ideia de que o trabalho hoje é menos necessário para produzir riqueza, sendo agora mais intelectual que braçal, realizado à distância. “Não abro mão daquele café ou chocolate quente de manhã, na varanda, em Pedra Azul, cidadezinha para onde vou quando quero recuperar energia”, conta o estilista.

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Em pauta: blasers, calças, ternos e costumes clássicos se completam com a linha casual: jaquetas, bombers, shorts, pijamas e overcoats, que comparecem com o DNA do designer – perfeição no corte, destaque para o acabamento e a escolha dos tecidos, um must. Os toques: forros num composê bacanudo; camisas que vêm em seda com cores adamascadas; e xadrezes de lascar: príncipe de gales, madras, tartans e até um tipo de padrão meio Burberry. Para arrematar, prints geométricos e de monograma, que remetem aos anos 2000, em gamas como ocre, toffee, café au lait, nougat, conhaque, uísque, amêndoa, macadâmia, marzipã e cáqui são aquecidos por vermelhos queimados – merlot, laranja-raposa, brandy e licor –, ao lado dos neutros: cinza, estanho, preto, marinho.