Depois da minha entrevista com o estilista Walter Rodrigues, coordenador do Núcleo de Design da Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) , eu gostaria de compartilhar com vocês as conclusões de um trabalho aprofundado de pesquisa realizado pelo estilista e seu grupo de consultores sobre as inspirações para o Inverno 2016 que vão permear a realização da 12ª edição do Inspiramais – Salão de Design e Inovação de Materiais, levando as principais novidades em componentes e materiais que nortearão as coleções para a temporada.
Como abordei no amplo bate-papo com Walter Rodrigues que você lê aqui, o Inspiramais é realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), pelo Footwear Components by Brasil e pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil(CICB). O local escolhido é o Centro de Convenções do Shopping Frei Caneca, que vai ferver nos dias 8 e 9 de julho. Trata-se do momento em que os fabricantes de calçados, bolsas, acessórios, vestuário e móveis têm o primeiro contato com as novidades desenvolvidas pela indústria brasileira de componentes para a estação, incluindo as inovações em tecidos, sintéticos, couros, saltos, enfeites, aviamentos e outros itens que estarão disponíveis no próximo inverno. Uma resultante do Fórum de Inspirações desenvolvido pelo Núcleo de Design da Assintecal, que promove a busca e desenvolvimento de materiais inovadores.
Um evento desse porte, considerado um dos mais importantes da América Latina, corrobora o papel pioneiro da Assintecal de fornecer subsídios para o setor de componentes. E, consequentemente, colaborar para que as indústrias façam a roda da economia brasileira girar de forma consciente em relação também ao seu papel inovador de levar aos mercados nacionais e internacionais o melhor do made in Brazil nas áreas de calçados, bolsas, acessórios, vestuário e design de móveis.
O público alvo do Inspiramais – composto por altos executivos de indústrias do Brasil, designers, estilistas e equipes de desenvolvimento de produtos das mais diversas empresas, sediadas no Brasil, na Europa e nas Américas Latina e Central – irá ao Salão conferir mil e uma matérias-primas com um branding de inovação e tecnologia de ponta. Tudo concebido a partir da conclusão de seis meses de trabalho intensivo do Núcleo de Design.
Nas conclusões finais, Walter Rodrigues faz uma alusão a uma palavra muito na moda hoje em dia: ostentação. Mas, com o intuito de fazer uma paralelo instigante. Ele afirma: “No Inverno 2016, a palavra ostentação também se refere a pertencimento, à apropriação de tradições, da exclusividade e da essência dos produtos artesanais, aqueles que contêm alma, pois… tudo que reflete é conteúdo. Justamente esse “tudo que reflete é conteúdo” virou a frase-tema do Inspiramais. A importância de se olhar para dentro de nós mesmos e para a nossa Ferrari, a artesania de luxo, nosso branding no exterior é de vital importância. Marca de origem: uma expressão mágica, uma chancela que um país como o Brasil, hoje enxergado de forma tão positiva no inconsciente coletivo mundial, tem toda propriedade para ter.
Para se chegar a este ponto vital, Walter Rodrigues faz uma análise contundente dos dias de hoje frente à internet, por vezes tão massificada. “A importância das imagens em nossos dias é tão significativa que uma boa câmera pode ser item decisivo na hora da compra de um celular, e já existem até cursos e aplicativos (apps) que ensinam a fazer o melhor selfie (autorretrato), não importando se ele será compartilhado com cinco seguidores de um núcleo familiar ou com milhões de fãs pelo mundo. Essa plateia mundial, hipnotizada por participantes de reality shows, artistas pop e celebridades de 15 minutos, sempre está em busca de entretenimento, o que revela um comportamento contemporâneo em que o instantâneo e o imediato têm o poder de se tornar virais e ser o assunto Número 1 no mundo, até ser suplantados por outro acontecimento fugaz”.
O estilista faz um revival dos anos 1990, relembrando a onda das celebridades substituindo as modelos em capas de revistas de moda. “As modelos foram preteridas das capas das principais revistas de moda em favor das celebridades. Mais marcas de luxo estão usando atores e atrizes em sua publicidade. Para mim, a moda sempre foi algo inspiracional, instigando o desejo de “se parecer com”. Acredito que todo consumidor se inspira em alguém, e a pose do selfie imitando a capa da revista nada mais é que a força da imagem impulsionando o consumo. Assim, de simples coadjuvante, o consumidor passou a ser propagandista, cocriador, fiscal e até inspirador para as marcas”.
E Walter segue o seu pensamento afirmando que o mais interessante é que a mensagem enviada por essa profusão volátil de rostos e nomes estrelados nas redes sociais e na mídia estimula o consumo de luxo, geralmente inacessível para a maioria de seus seguidores. “Cria-se, assim, o desejo de consumo de itens mais acessíveis, que geram lucros milionários, desde que os logos estejam bem visíveis para satisfazer o voyeurismo contemporâneo”. E como fica o consumidor atual frente à tanta informação e desejo? “O consumidor atual estabelece com as marcas de luxo uma relação de protagonista independentemente de usar o produto original ou o “genérico”. O que importa é que, no filme de sua vida, na timeline de suas redes sociais, todos o reconheçam como um exemplo a invejar. Ostentar, hoje, deixou de ser pecado e foi resignificado como uma atitude normal – afinal, a exibição proporciona mais likes e, em consequência, mais status”.
E as empresas como se comportam com esse cenário que não só domina o Brasil, mas o mundo inteiro? “O mais fascinante disso tudo é que, cada vez mais, se expor, se comunicar utilizando a própria imagem está contribuindo para uma nova maneira de apresentar produtos. Empresas atentas a essas manifestações têm proporcionado a seus clientes inúmeros canais para eles divulgarem sua satisfação com os produtos e atitudes das marcas. Afinal, nada melhor do que a propaganda boca a boca, ou, melhor, cara a cara”.
Para o Núcleo de Design da Assintecal, o ponto de partida neste momento, antes mesmo de pensar no produto, “é importante que empresas e designers façam uma avaliação sobre suas necessidades e limites, para compreender as reais prioridades do estudo da pesquisa e da implantação da metodologia da Pirâmide de Produtos para a criação de componentes de moda. É preciso ter em mente que em um mercado sem fronteiras e cada vez mais competitivo, passa a ser muito valioso utilizar de forma inovadora as próprias heranças, história e identidade. É preciso encantar o consumidor sempre. E, mais que tudo, é importante sair da zona de conforto que acalma, mas que, ao mesmo tempo, envelhece tudo”.
Segundo os estudos, Pertencimento é a palavra-chave do Conceito 03 deste Inverno 2016. Nela está intrínseca a força do conhecimento da capacidade criativa, que pode estar aliada à tecnologia ou não, mas que representa aquilo que uma empresa é, o que ela quer preservar e ampliar. No Conceito 03, é importante avaliar tudo que a empresa já fez, o que a tornou respeitada e reconhecida. E aí estará a resposta para a busca de inovação. Além disso, é necessário estudar as inspirações e entregar-se àquilo que pertence à marca, sejam acabamentos, sejam formas, cores… Enfim, é hora de descobrir-se!
Deslocamento é a maneira mais criativa de começar a pensar nos produtos que deverão, em curto prazo, tornar-se sucesso de venda. Em primeiro lugar, cabe a cada marca analisar seu projeto de inovação da estação passada, o que foi aprendido com ele, e em que ponto fez com que sua equipe evoluísse. E também: qual foi o resultado dele no Inspiramais? Foi um dos Top 20 produtos eleitos pelo público? Somente então deve se envolver na criação de novos componentes para o Conceito 02 do Inverno 2016. O que foi uma experiência deve, agora, tornar-se uma aposta!
Suavidade é ponto principal do Conceito 01 do Inverno 2016. Esta será a terceira estação em que trabalharemos o tema da chuva e, consequentemente, os pássaros e as borboletas. Aqui, é tempo de ampliar as apostas da estação passada, realizadas no Conceito 02 do Verão 2016, e, através da experiência adquirida, oferecer ao mercado componentes de moda criativos e prontos para uso. Deve-se pensar em grande produção. Na criação dos componentes, tudo deve ser planejado equilibrando as respostas do ranking de vendas, o entusiasmo dos clientes e o efeito dessas imagens nas ruas, diretamente no consumidor final. Assim, preparados, será muito mais fácil e rápido alcançar o sucesso.
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