Inspiramais 2021_II: Preview do Couro antecipa referências e o tema “Antídoto” refletirá novo fazer moda

O Inspiramais 2021_II – Único Salão de Design e Inovação de Materiais da América Latina marcou nesse momento tão difícil que enfrentamos com o coronavírus uma nova era na história da moda nacional por ser uma edição 100% digital – planejada em menos de cinco meses durante a pandemia que impediu o encontro físico, em São Paulo – com a missão de manter-se como responsável por impulsionar o processo criativo de toda a indústria têxtil e de confecção, dos setores calçadista, moveleiro, automotivo, acessórios e bijuterias realizando uma simbiose entre linguagem, inspiração e metodologia para toda a cadeia produtiva comprometida cada vez mais com a sustentabilidade/economia circular. Só para vocês terem uma ideia, segundo a organização, em três dias a plataforma digital recebeu mais de 40 mil visitas nos 150 estandes virtuais, o que gerou 3 mil agendamentos de negócios com as empresas. Entre projetos, palestras e lançamento de produtos, ao todo foram 166 mil páginas visitadas por pessoas interligadas no mundo todo.

E vamos comentar a experiência que designers, empresários, profissionais da moda e players das indústrias de calçados, bolsas, acessórios, vestuário e móveis de Norte a Sul do país e do exterior tiveram ao conferir o projeto Preview do Couro, que tem grande projeção internacional e propõe encorajar o setor coureiro – que tem investido cada vez mais em processos sustentáveis- na criação, no aperfeiçoamento e na promoção comercial do couro acabado e autêntico, fomentando a imagem desse produto e dos curtumes no exterior, aumentando as possibilidades de venda e valorizando toda a cadeia produtiva.

Para vocês entenderem, se no Inspiramais 2021_II o trabalho de inspiração foi realizado a partir do tema “Free Spirit“, o Preview do Couro já antecipa as referências para 2022_I, a partir das pesquisas realizadas sob o prisma da nova palavra-chave que permeará a próxima edição que representa o primeiro semestre de 2022, independente da estação. E ela é “Antídoto“! Na live sobre o projeto que contou com a participação de Walter Rodrigues, coordenador do Núcleo de Design do Inspiramais; Marnei Carminatti, designer e consultor que coordena o projeto; Daniel Ormeleze, Emmanuelle Tonani e Ramon Soares, consultores da Assintecal.

As pesquisas de “Antídoto” vão servir de inspiração para os novos produtos e coleções do primeiro semestre de 2022, independente da estação em que a marca se encontra, porque temos diferente starts de desenvolvimento dos produtos. “Dependendo do volume de produtos ou das coleções, as marcas muitas vezes estão em estações “diferentes”. Ao mesmo tempo, temos toda a América Latina e o mundo para atendermos. Entendemos, desta forma, que cada semestre é uma reflexão sobre os temas e servem para qualquer coleção”, pontua Walter Rodrigues.

Contextualização da pesquisa inspirada no tema “Antídoto”

Segundo o trabalho realizado pelo Núcleo de Design e apresentado em primeira mão por Walter Rodrigues, a ênfase dada ao ser humano nas últimas apresentações do Inspiramais, em “Sincronia”, “Zen” e, principalmente, no “Free Spirit”, quando todos estavam muito preocupados com a evolução do comportamento a partir da bipolaridade do mundo se provou correta quando o mundo parou por causa de um vírus que afeta justamente nós humanos. “Nunca vivenciada antes e facilitada pela globalização, a pandemia paralisou o mundo, ruas vazias, cidades silenciosas, o céu mais limpo, praias despoluídas e a natureza agradecida. De repente, o universo ficou centrado nos metros quadrados que nos acolhiam e, adaptáveis como somos, observamos as mudanças como se estivéssemos em uma cápsula espacial lá na órbita da Terra, descobrindo novos pontos de vista e buscando resposta para este momento tão único”.

Interação via Zoom de uma família

Portanto, “trancados inventamos mil maneiras de sobreviver. Aprendemos novas funções, reinventamos a casa, que agora é escritório, playground, escola, padaria e até academia. Observamos o mundo por outras janelas como a do Instragram, do Facebook, e nos amamos, choramos e matamos as saudades via Zoom. Percebemos que a nossa camiseta velha era nossa compreensão de conforto, que sutiã não era necessário e, mesmo trabalhando, podíamos estar de calça de pijama e uma camisa legal – relaxamos e focamos nossas forças em higienizar e proteger tudo aquilo que amamos”.

A empatia de pai e filha ao levar o lixo para coleta, diariamente, em uma pequena cidade da Espanha

Os estudos apontam que, enfim, mais sensíveis, nos deparamos com a importância dos detalhes, pois a nossa lente agora é macro, e evidencia o diferente, aquilo que não estávamos acostumados a olhar. E com a natureza ao nosso redor – “instagramável” – apareceram milhares de céus tingidos de todas as cores no amanhecer e no fim do dia, a silenciosa beleza das flores, o canto dos pássaros e poesia das cidades vazias. Reclusos voltamos a nossa atenção para fé, em busca de sentimentos apaziguadores e buscamos um antídoto que irá acalmar nossos temores e projetar novas esperanças”.

O lúdico e o belo ao acompanhar as flores no Instagram de Sam Mcknight

“ Antídoto é uma reflexão sobre o presente, sobre neutralizar e converter um momento de dificuldade em inspiração para a cartela de cores e desenvolvimento de novos produtos. Analisamos nossos hábitos através de excessos e desperdícios e descobrimos que podemos fazer mais coisas do que imaginávamos, reprogramando nossa capacidade artesanal um tanto esquecida, dando a isso um imenso valor”, explica Marnei Carminatti.

O impacto de uma rua de Nova York e o Jardin des Tuileries, em Paris, vazios no dia 8 de maio de 2020

“Moda responde, basicamente, a todas as questões dos seres humanos, porque é um conjunto de percepções socioculturais, econômicas, políticas e a intuição e a percepção do universo se reflete em produtos”, frisa Walter Rodrigues.

Em “Antídoto”, os pesquisadores do Núcleo de Design do Inspiramais trabalharam dentro de um organograma com um olhar macro e dentro de quatro pilares: sustentabilidade é o antídoto do futuro;  inovação, o  antídoto da moda; comunicação, o antídoto para as empresas; e a tecnologia, o antídoto do mercado. E “Antídoto” tem dois subtemas: Naturar e Cotidiano.

“Naturar” e as novas formas de fazer negócios com menos desequilíbrios – não mais linear e finito, mas sim circular

Os estudos do Núcleo de Design sobre naturar mostram que impacto da pandemia em nosso conhecimento é gigantesco, pois ampliamos nossa capacidade de aprender, ouvir de compartilhar estratégias, planejamentos e busca de soluções. Ameaçados por algo microscópico, desconhecido e verdadeiramente letal, o vírus fez com que buscássemos amparo na ciência, indagando sobre a virologia, biotecnologia, genética e nanobiologia.

E, de acordo com as pesquisas, “é nesse momento desafiador que se exige reinvenção, combinando ciência, design, arte e tecnologia com princípios da natureza, transformando-a em fonte de inspiração, que encontraremos subsídios para inovar. O exemplo de regeneração que ocorre na natureza tem muito a nos ensinar. Através dela temos um caminho para repensar nossos sistemas buscando conciliar a vida humana e tudo que a gente construiu, nossas indústrias e produtos, com a vida no planeta”.

“ Precisamos encontrar novas formas de fazer negócios com menos desequilíbrios – não mais linear e finito, mas sim circular – , concebendo produtos e serviços verdadeiramente encantadores e necessários para as pessoas. A criação de novos materiais de moda requer processos inovadores, equipes multidisciplinares e muita cooperação. Precisamos redesenhar o mundo juntos”, ressalta Walter Rodrigues.

Recuperar, reutilizar, compostar e até mesmo criar novos materiais a partir da nossa biodiversidade ou resíduos naturais, como cascas de frutas, aplicando técnicas de curtimento e gerando novas fibras. A criação de novos materiais de moda requer processos inovadores, equipes multidisciplinares e muita cooperação. Precisamos redesenhar o mundo juntos.

O pôr-do-sol tão observado nesse período difícil como inspiração de moda

Neste sentido e com o olhar nas cores e movimentos durante a pandemia, Naturar apresenta alguns subtemas ou palavras-chaves: em “Camadas/Barrados”, percebe-se a manifestação da cor a partir deste degradês, com forte impacto de mistura de cores, bastante evidente na coleção e trabalhos de Craig Green. Assim como a combinação de transparências e materiais pesados, com bastante efeito de cores, sendo usados de forma muito correta a partir da Maison Margiela.

De acordo com a pesquisa, “Estriações e Nervuras” são palavras-chaves muito importantes, onde vamos olhar para a natureza e, de certa forma, também para a arte e entender como isso impacta a criação de estamparias e texturas. “A ideia de flor não é uma flor simplesmente, ou uma estampa, mas como podemos trabalhar estas ideias de nervuras. Temos aí o trabalho do Richard Malone, completamente impactante e a ideia das estamparias com macros de flores, mas diluídas, criando o que chamamos de bio print”, completa Walter.

Outra grande referência em Naturar é o “Biofilme Membrana”, matéria transparente que poderia ser aplicada em várias histórias, criando texturas, aplicando cor, e também como uma espécie de membrana com transparência. “ Vemos esta ideia do bio trazendo uma referência muito forte para dentro do design de produto, facilitando a compreensão e também instigando a parte de ciência, a partir da ideia da pandemia.

“Cotidiano” apresenta impactos e percepções para a criação de novos produtos

O segundo tema das pesquisas de Antídoto é o “Cotidiano”, que vem de encontro a tudo aquilo que a gente viveu e percebeu nos últimos tempos e o impacto que isso vai ter nas nossas vidas como consumidores, como designers e como empresas para propor novos produtos. Walter fala que “nele vemos a importância da proteção, da higienização, do conforto e que os meios de comunicação terão outros valores a partir de agora e, desta forma, incidirão com novos produtos em nosso dia-a-dia. Tivemos tempo para repensar sobre os objetos que nos rodeiam e suas funções, sobre nossas roupas, calçados, utensílios e o que mais usamos. E sobretudo o que é descartável”.

Também durante estes últimos tempos, analisamos nossos hábitos através de excessos e desperdícios, e descobrimos que podemos fazer mais coisas que imaginávamos, reprogramando nossa capacidade artesanal um tanto esquecida, dando a isso um imenso valor. Nesse momento de confinamento, percebemos nossa vontade de modificar e personalizar nosso entorno e utensílios.

Neste universo, a pesquisa apresenta materiais com suas texturas e com suas rugosidades irregulares, principalmente de folhas, de madeira, próximos do cotidiano. O pinhão é visto como referência de textura e de cartela de cor, mas também de relevo. A madeira também ganha grande importância e todos estes materiais se tornam referências para novos materiais e texturas.

Também observamos um grande avanço em materiais de proteção antiviral, não apenas entre os associados, mas no mundo inteiro com uma quantidade de produtos feitos com materiais como o cobre, ou com outras bases de biotecnologia, para que todos se sintam cada vez mais seguros.

Outro ponto que ganha destaque no contexto da pesquisa são os amuletos, onde percebemos a importância da fé, principalmente durante a pandemia. Assim aparecem todos os tipos de amuleto utilizados em objetos, estampas, texturas, como símbolos de proteção, de armadura que a gente pudesse construir, para nos tornarmos mais fortes e otimistas.

O última palavra-chave analisada pelos pesquisadores em Cotidiano foi  “Fantasia e gameficação” que, de certa forma é uma ideia de escapismo, das pessoas entenderem o mundo de uma forma mais otimista, mas também é o mundo das crianças e do game,  possibilitando a criação de novas matérias, estampas e texturas.

Observamos que isso já está estabelecido como conceito, a partir do momento que já existem pessoas que se vestem assim, até para sair do lugar comum, e que já está sendo utilizado por várias marcas que estraram a ideia de personagens, levando para a rua o novo “super humano” .Também encontramos esta percepção nas casas, que assumem um aspecto mais divertido e isso também se reverte nos acessórios.

“Destaco aqui o trabalho da estilista Stella McCartney, que desde que iniciou sua marca tem uma preocupação muito grande com os processos sustentáveis. Em seu último desfile, ela surpreendeu todo mundo quando intercalou sua coleção junto com modelos fantasiados de bichos, enfatizando sua preocupação com a natureza e com o mundo. O mais interessante disso foi olhar o sorriso do público e entre as próprias modelos, felizes e fazendo parte de um movimento que tem muito a ver com o futuro”, disse Walter Rodrigues ao concluir a apresentação de Antídoto.

O Preview do Couro 2022_I a partir da reflexão sobre o presente, sobre neutralizar e converter um momento de dificuldade em inspiração

A partir deste amplo trabalho de pesquisa de materiais e cartela de cores de Antídoto, o Preview do Couro busca encorajar o setor coureiro na criação, no aperfeiçoamento e na promoção comercial do couro acabado e autêntico, fomentando a imagem desse produto e dos curtumes no exterior, aumentando as possibilidades de venda e valorizando toda a cadeia produtiva.

Este ano, o Preview do Couro conta com as seguintes empresas apresentando diversos de seus novos trabalhos e materiais: Arte da Pele, Couro Química, Fuga Couros, JBS Couros, Nova Kaero, OCM Best Brasil, Casa Romeu, Sculp Leather, Tre Anytry, Treat Couros, Arte Final Couros e Gobba Leather.

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O projeto é a união de esforços do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), Assintecal, Abit, Tex Brasil, By Brasil Components  e projeto Brazilian Leather, uma parceria do CICB com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e um grande incentivo também à internacionalização do que é produzido no Brasil.