Inspiramais 2021_I: Projeto Conexão Criativa e Comercial e a identidade da moda em simbiose com sustentabilidade


“No Único Salão de Design e Inovação de Materiais da América Latina, trabalhamos tanto com tecnologia limpa quanto com todos os processos artesanais, tentando criar uma ponte e viabilizando parcerias entre empresas, com o objetivo de oxigenar o mercado de moda e design nacional, promovendo a diversidade”, explica a coordenadora Flávia Vanelli. Com ênfase na preservação do meio ambiente, os produtos apresentados contribuem para o reconhecimento e valorização do ‘made in Brasil’, enaltecendo, portanto, a diversidade e a riqueza do design e do artesanato produzidos no Brasil voltados para o desenvolvimento de componentes para que possam entrar em qualquer mercado com uma chancela exclusiva e original

E o Inspiramais 2021_I – Único Salão de Design e Inovação de Materiais da América Latina, realizado entre os dias 14 e 15 no Centro de Eventos Pró Magno, em São Paulo, trouxe a Sincronia como tema como contei a vocês. Como pontuou Walter Rodrigues, coordenador do Núcleo de Design do Inspiramais, trata-se da “mescla perfeita entre o humano e a máquina. É passado, presente e futuro no agora”. Nesses tempos de Quarta Revolução Industrial, que tem sua base na mudança do mindset da sociedade e foco 100% na sustentabilidade, a tecnologia entra em simbiose com o humano para valorizar a pessoa. Um dos projetos que representa muito essa visão dentro do Salão é o Conexão Criativa e Comercial, que apoia iniciativas que oxigenam o mercado. “Aqui nós falamos de diversidade, tecnologias limpas, sustentabilidade. Todos que vêm expor inovações têm como premissa tais valores”, explica a curadora Flávia Vanelli, consultora do Núcleo de Design do Inspiramais.

Vimos designers, empresários, profissionais da moda e players das indústrias de Norte a Sul do país e do exterior, entre 7.800 visitantes, se conectando de todas as formas com as inspirações para roupas, calçados, bijuterias, design de móveis e outros segmentos ligados à moda e até ao setor automobilístico e universo dos pets. Ao todo, cerca de mil materiais inovadores – soluções em solados, acessórios, tecidos, laminados e couros, entre outros produtos – foram apresentados por 180 empresas durante o evento, realizado semana passada, no Centro de Eventos Pró Magno, em São Paulo.

Promovido pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e Programa de Internacionalização da Indústria Têxtil e de Moda Brasileira (Texbrasil), Brazilian LeatherBy Brasil Components, Machinery and Chemicals e apoio de algumas das principais entidades setoriais do país, o Inspiramais apresentou no projeto Conexão Criativa e Comercial protótipos com impressão 3D e PLA (amido de milho), produtos com novas tecnologias em borrachas amazônicas, fiação artesanal de seda, tingimentos vegetais e tecelagem manual, seda pura, sustentável e ecológica, óculos feitos com tubos de pasta de dente e plástico pós-consumo, biotecido é produzido a partir de cultivo de bactérias do gênero Acetobacter, peças para moda e decoração produzindo produtos finais e componentes como alças de bolsas, cabedais para calçados, fivelas de cinto e acessórios, com viés da sustentabilidade a partir de matérias-primas da Amazônia  como sementes, fibras, madeiras, escamas de peixes e fios, entre tantas outras criações que nos fascinaram.

E a sincronia entre as indústrias e/ou pequenos produtores voltados para a moda autoral e a questão da sustentabilidade é pura realidade. As indústrias são capazes de acompanhar e embarcar nas transformações digitais, mas aliadas à sustentabilidade em prol de um mundo melhor com responsabilidade e transparência. Os materiais circulam no máximo de seu valor como nutrientes técnicos ou biológicos em sistemas industriais integrados, restaurativos e regenerativos. E uma das bases da economia criativa é o tão real upcycle. E muitos já seguem as diretrizes da Agenda 2030 – Plano de Ação da ONU que visa o desenvolvimento sustentável garantindo que segmentos se fortaleçam, de forma competitiva, frente às demandas e mercados globais.

Para participar é simples. MEI, micro e pequenas empresas inscrevem seus componentes, que, necessariamente, devem ser destinados a um dos segmentos com que o Salão se relaciona: vestuário, calçados, acessórios, joalheria, mobiliário, entre outros. Passada essa etapa, são escolhidos os materiais que mais correspondem às características do projeto. Os inscritos nas categorias foram avaliados pela comissão julgadora coordenada por Flávia Vanelli, designer especialista em Criação e Desenvolvimento de Produtos com foco em pesquisa, e atuação estratégica em Inovação, Sustentabilidade e Cadeias de Valor. As empresas selecionadas recebem uma curadoria para criação e desenvolvimento de materiais inovadores em design e tecnologia e adequam seus produtos às inspirações a partir da pesquisa do Núcleo de Design do Inspiramais. Esses produtos são, posteriormente, expostos com destaque no Inspiramais. “Trata-se de um espaço visionário que apresenta de biotecnologia a soluções para materiais reciclados, pensando sobre os resíduos das indústrias e os sólidos urbanos”, frisa Flávia Vanelli.

Foram 20 selecionados a partir de critérios como originalidade, inovação sustentável, adequação ao mercado e público alvo, viabilidade comercial e impacto social. Assim, designers, empresários, profissionais da moda e players das indústrias de calçados, bolsas, acessórios, vestuário e móveis de todo o país e do exterior puderam conhecer as novidades de um projeto que incentiva uma nova geração de valores, reunindo pluralidade, sustentabilidade e tecnologia. “O empreendedor e sua equipe são estimulados ao máximo a usar a imaginação, a criatividade e a inspiração, além de reduzir o tempo gasto na produção”, destacou a curadora. O resultado são componentes únicos, com abordagens responsáveis, produzidos por negócios de diversas regiões do país.

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“Esse ano fizemos uma parceria com a Associação Brasileira de Estilistas (Abest), que trouxe quatro criadores para trabalhar com materiais inovadores em seus processos em collab com outras empresas selecionadas pelo Conexão Criativa e Comercial: Flávia Amadeu, Gissa Bicalho, Mariah Rovery e LLAS, que a utilizaram os componentes das empresas selecionadas para criação de protótipos, um incentivo a parcerias entre as empresas. Um desses criadores foi a designer de joias Mariah Rovery, que fez colares com a Seringô usando látex da Amazônia; com a RatoRói, utilizando restos de plásticos e EVA (Espuma Vinílica Acetinada), e com a Black Purpurin, de Florianópolis (SC), que trabalha com impressão 3-D e PLA (amido de milho)”, conta a curadora do Conexão Criativa e Comercial.

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“Outra novidade superinteressante foi a entrada da Swarovski Professional, que veio para colaborar com as marcas autorais. Fizemos a aproximação com a Flavia Amadeu, de Brasília, que já trabalha com o látex superluxuoso da Amazônia e aplicou os cristais da grife austríaca sobre colares e pulseiras. São as chamadas biojoias”.

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“A entrada da Swarovski no Conexão Criativa aponta as possibilidades e a interação que uma grande pode ter com os pequenos e autorais, inclusive reconhecendo o potencial criativo dos pequenos empreendedores. Uma grande empresa que entra e só tem a somar ao projeto avançarmos mais rápido nas soluções em produtos sustentáveis”, diz Flávia Vanelli.

Gerente de marketing para América Latina da Swarovski Professional, Ana Paula Blanco Limonge conta que a Swarovski é uma empresa muito ligada à sustentabilidade desde sua fundação em 1895, quando o seu visionário fundador, Daniel Swarovski, já se preocupava com os impactos ambientais e sociais de seu negócio. Por esse motivo, a Swarovski é pioneira no desenvolvimento de cristais livres de substâncias tóxicas, além de estar sempre garantindo que toda sua cadeia produtiva seja responsável. Como resultado, trabalhamos com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, entre eles: Empoderamento de Mulheres, Parcerias Justas, Gestão da Água, Inovação Sustentável e Design Consciente. “Quando buscamos parcerias é mandatório que elas estejam alinhadas aos nossos valores, e justamente por isso resolvemos patrocinar a edição do Conexão Criativa e Comercial, que acontece no Inspiramais. Acreditamos que é uma oportunidade única de divulgar a missão da Swarovski e seus produtos, soluções e projetos dentro desse tema tão relevante, e ainda de nos conectarmos com públicos de interesse que tenham a mesma visão”.

 A designer brasiliense Flavia Amadeu pesquisa e desenvolve produtos com novas tecnologias em borrachas amazônicas há 15 anos, em parceria com o Laboratório de Tecnologia Química da Universidade de Brasília. A grife tem parcerias com comunidades seringueiras para a produção da borracha colorida e outras tecnologias que geram renda e incentivam a preservação dos recursos naturais.

Flávia Vanelli chama a atenção para uma grife que ficou famosa pela sofisticação e se uniu recentemente a uma associação de rendeiras para tornar seus acessórios ainda mais charmosos.A Gissa Bicalho cria bijuterias e trabalha com acrílico, mas trouxe uma inovação sustentável que é o uso da renda artesanal feita por uma cooperativa do Sergipe chamada Asderen”, conta.

Criada há 20 anos, a grife mineira Gissa Bicalho desenvolve acessórios em acrílico. As peças são produzidas à mão e o processo de criação é baseado em pesquisa de tendências e de elementos de arquitetura e arte. Já a Asderen (Associação para o Desenvolvimento de Renda de Divina Pastora) foi criada em 1998 para preservar a renda irlandesa (ou ponto de Irlanda) e o modo de fazer praticado pelas rendeiras de Divina Pastora, município de quatro mil habitantes distante 39 quilômetros da capital de Sergipe, Aracaju. O contraste entre a sofisticação arrojada das peças de acrílico e a feição mais delicada e artesanal da renda irlandesa resulta em peças únicas de extremo bom gosto e ainda ajuda a manter a sede onde atualmente 120 artesãs produzem toalhas, colchas, passadeiras, blusas e vestidos, entre outros itens.

As irmãs Lorena e Laura Andrade criaram a grife mineira Llas em 2013, com a ideia de confeccionar roupas “emocionais”. Traduzindo, fazem uma moda cosmopolita, feminina e autoral que não segue tendências, com resultados personalizados e exclusivos. No Conexão Criativa e Comercial, elas mostraram dois vestidos longos super cool feitos com tecidos da empresa O Casulo Feliz, de Maringá, que atua na fiação artesanal de seda, tingimentos vegetais e tecelagem manual, seda pura, sustentável e ecológica. “Pegamos vários tecidos da O Casulo Feliz, desfiamos e fizemos um tricô manual em um vestido. Tem a diversidade de cores e os tecidos com que costumamos trabalhar. Também usamos nossos bordados de linha, pelos quais já somos conhecidas, e demos um banho de ouro em detalhes com a CerraD’Ouro. No fim do processo não sobrou nenhum resto. É um trabalho que não gera lixo, totalmente dentro do conceito de economia circular”.

Flavia Vanelli continua o tour pela produção de outras empresas. “Apresentamos os tecidos de O Casulo Feliz, com uma cartela de cor do tema Zen com bem terrosos e também os azuis e os verdes; a Seringô, que faz acabamento de látex sobre tecidos; e a RatoRói, que se uniu ao Jorge Feitosa, em um trabalho para a Casa dos Criadores desenvolvendo uma jaqueta ultra revolucionária.

A RatoRói com a Sagui, na coleção de óculos feitos com tubos de pasta de dente e plástico pós-consumo”, enumera Flávia.

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Ela ainda destacou os belos botões de porcelana da Nós Mais Eu e as possibilidades de impressão 3D para calçados e bolsas com amido de milho testadas pela Black Purpurin, fashiontech de moda que aposta na impressão 3D e 4D para criação de produtos biodegradáveis. A Das Catarina mostrando a possibilidade de desenvolvimento com malha residual, além das peças feitas com reaproveitamento de borracha do Grupo Canoa.

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Prosseguindo, nos deparando com o inovador e impressionante material desenvolvido pela Biotecam, que trabalha com bactérias no desenvolvimento de tecidos e fizeram uma co-criação com a Llas em um lindo chinelo mostrando a aplicação da matéria. A Biotecam é uma startup de biotecnologia do Rio de Janeiro, cujo biotecido é produzido a partir de cultivo de bactérias do gênero Acetobacter. É composto por uma trama densa de fibras de celulose nanocristalina, sintetizada pelas bactérias e depois tratado, esterilizado e eventualmente tingido. A Biotecam já havia participado em duas edições do Inspiramais  desenvolvendo criações para o setor moda. “A empresa tem se preocupado em encontrar formas novas de aplicar a bactéria na estamparia de materiais”, explicou Flávia.

Vimos a parceria da Flavia Amadeu com a RatoRói no uso de byeplastic para o desenvolvimento de bolsas e brincos. Nascido em Jaraguá (SC), o Estúdio RatoRói vem se especializando no desenvolvimento de superfícies feitas com materiais reciclados obtidos com a recuperação de embalagens e sacolas plásticas. Esse reciclado é recolhido junto à cooperativas e transformado num composto. Ele é utilizado para fazer alça de bolsa, óculos, aviamentos em geral. Os laminados são feitos com embalagens de alimentos e sacolas plásticas que muitos acham que são usados só uma vez.

Impressionam também o incrível colar, brinco e pulseira de acrílico e aplicação de renda irlandesa desenvolvidos em dobradinha pela Asderen, em Divina Pastora, Sergipe, com a designer Gissa Bicalho, de Belo Horizonte (MG). A CerraD’Ouro, de Minas Gerais, levou joias magníficas desenvolvidas com plantas do cerrado e de Minas Gerais. As folhas e flores são metalizadas em banhos com ouro e cobre.

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Maravilhosos os colares com escamas de pirarucu e as peças de jarina (o marfim das biojoias) da Flor Silva, de Manaus AM). A empresa cria e fabrica peças para moda e decoração produzindo produtos finais e componentes como alças de bolsas, cabedais para calçados, fivelas de cinto e acessórios, com viés da sustentabilidade a partir de matérias-primas da Amazônia  como sementes, fibras, madeiras, escamas de peixes e fios.

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A moda de Luciano Pinheiro, que trabalha com tecidos e aviamentos naturais com tingimento vegetal. As peças confeccionadas com resíduos de metais da Ponto 1, que tem a economia circular de moda como primazia, eram lindas alças para bolsas confeccionadas em alumínio dialogando com a robótica que está dentro do tema Sincronia do Inspiramais, além das bolsas criadas com saco de cimento.

O Inspiramais conta com a promoção da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e apoio de algumas das principais entidades setoriais do país, como Abest, Abiacav, Abicalçados, In-Mod, IBGM, Instituto By Brasil (IBB), ABVTEX, Francal, Ápice, Guia Jeans Wear, Abrafati e Trans Rubber. Conta também com o apoio Institucional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e ainda tem o patrocínio da Cipatex, Altero, Bertex, York, Sprint Têxtil, Caimi&Liaison, Brisa/Intexco, Cofrag, Advance Têxtil, Endutex, Colorgraf, Componarte, Branyl, Aunde Brasil, Suntex Brasil, Camaleoa, Top Shoes / Pettenati e Soares Materiais para Calçados.