Inspiramais 2020_I: Projeto Referências Brasileiras transforma nossas raízes em moda e reúne empresas em co-criação para inovação e sustentabilidade


Norteado pela temática ”Zen”, que estará presente no Inspiramais 2020_II, o projeto decodificou o Sertão Baiano. Designers e empresas se uniram para criar produtos que instiguem um olhar de desenvolvimento que integra as referências do Brasil, mapeando importantes influências culturais e abrindo um novo espaço para o design para originar coleções de calçados, acessórios, joias, moveis e confecções

Inspiramais - Julia Webber

“A partir das possibilidades existentes na palavra Zen, como temática para o Inspiramais 2020_II, nós nos questionamos: ‘O que é ser humano? Como o homem tem se relacionado com a natureza? Portanto, dois vieses permearam o trabalho: nós, como indivíduos, e também como parte integrante de um mundo. Ou seja: o individual e o coletivo foram fontes de estudos”. A partir dessas inspirações, Julia Webber, integrante do Núcleo de Design da Assintecal, coordenado por Walter Rodrigues, conversou com o site HT sobre as propostas do Projeto Referências Brasileiras apresentado no Inspiramais 2020_I – Único Salão de Design e Inovação de Materiais da América Latina. Foi ela a responsável pelo projeto que tem como objetivo instigar a criação de produtos sob o olhar de desenvolvimento que integra as referências do Brasil, mapeando importantes influências culturais e abrindo um novo espaço para o design para originar coleções de calçados, acessórios, joias, moveis e confecções. Portanto, uma linguagem efetiva de elaboração de produtos criativos e inéditos que enalteçam as raízes brasileiras para além dos estereótipos que norteiam a identidade do Brasil.

A designer Julia Webber à frente do Projeto Referências Brasileiras, que decodificou os signos identificados no Sertão Baiano

A designer Julia Webber à frente do Projeto Referências Brasileiras, que decodificou os signos identificados no Sertão Baiano

O Inspiramais é promovido pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) e Programa de Internacionalização da Indústria Têxtil e de Moda Brasileira (Texbrasil), Brazilian LeatherBy Brasil Components, Machinery and Chemicals e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), abrange toda a cadeia dos setores de moda, calçadista e moveleiro, e apresentou mais de 1.000 materiais inovadores para as indústrias nacionais e de toda a América Latina, nos dias 15 e 16, no Centro de Eventos Pró Magno, em São Paulo.

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Julia Webber sempre fez questão de ressaltar que “a gente deve olhar para a nossa identidade brasileira aplicando-a de uma forma incrível e bacana que dê para comercializar e conversar com o mundo inteiro, mas sem ficar nesse folclórico óbvio que estamos acostumados, que são referências que já se esgotaram”. O sertão baiano, que foi estudado minuciosamente também no projeto Iconografia Local como contamos para você na matéria publicada aqui no site HT, foi a inspiração para incentivar a criação de moda a partir de novas referências brasileiras. Por meio de pesquisas históricas e iconográficas, designers e empresas se uniram para criar produtos a partir de uma decodificação da cultura e realidade de uma parte do Brasil, propondo novos caminhos e linguagens para superfícies, formas e estética de materiais e produtos de moda, principalmente calçados, acessórios, confecções, joias e móveis. O grande momento para os integrantes do Projeto Referências Brasileiras foi apresentar os resultados das parcerias e das inspirações do Sertão Baiano no Inspiramais, trazendo grandes novidades para todo o Sistema Moda.

O projeto Referências Brasileiras tem como tônica decodificar a cultura brasileira e propor novos caminhos para a construção de uma moda genuína brasileira e conta com a promoção da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB) e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil).

“Estudamos a origem da nossa história sob a ótica do Sertão Baiano. Os passos dos hominídeos naquela região, observando as pinturas rupestres. Como princípio, então, trabalhamos a questão do indivíduo, fazendo uma exaltação do fazer manual, da matéria-prima e desse vínculo que esses saberes manuais criam entre as pessoas. Ao abordar o coletivo, nós pensamos no ambiente, na paisagem, no todo e entorno desse espaço e o que ele mostra para nós e a ação do tempo ali”, comentou Julia Webber.

O “Zen” é uma simbiose entre passado e futuro, segundo Julia Webber. “Uma questão é usar essa abordagem para pensar qual é o legado que vamos deixar, juntamente com a ação do tempo nesses ambientes e o ponto da sustentabilidade. Pensamos nos materiais, nas técnicas e na inovação. A gente tem uma pluralidade de técnicas e eu acredito que um dos aspectos que o projeto acaba contemplando é de ser bem plural. Temos um handmade mega artesanal assim como podemos também fazer uma releitura mais industrial utilizando uma técnica muito bacana de sustentabilidade. É uma forma de mostrar como dá para aplicar essas ideias em vários setores, que podem ser de acordo com o objetivo da marca: superprodução ou mais artesanal”, esclareceu.

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O sertão baiano, que foi estudado minuciosamente também no projeto Iconografia Local como contamos para você na matéria publicada aqui no site HT, foi a inspiração para incentivar a criação de moda a partir de novas referências brasileiras. Por meio de pesquisas históricas e iconográficas, designers e empresas criaram os produtos com o objetivo de instigar o novo olhar. São as seguintes as empresas envolvidas na produção dos produtos pós-pesquisa: Arte da Pele, Romeu Couros, Ecosimple, LRB Tecidos, Arco Metais, Wolfstore, Tecnoblu, D’Madero, Atelier Manrehebrom, Cetiras, APAEB, SISALGOMES, Antimatéria, Preza, Marcenaria Antoninho, Rico Bracco, Studio Coralli, Amez, Aredda, Classe Couros, Duda Calçados e Calçados Beatriz.

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As parcerias estão envolvidas tanto na abordagem individual quanto na coletiva. No primeiro viés, os resultados trouxeram técnicas e juntaram empresas do sertão para criações únicas. “O trabalho artesanal em selarias de couro e o cultivo do sisal – planta cuja preparação dura cinco anos até a tessitura, simbolizam a cultura e a riqueza –, o valor do indivíduo e suas conexões indicam o poder do vínculo, expresso no respeito aos saberes manuais”, comentou Julia. Ela nos mostrou cada produto apresentado e os nossos olhos brilharam com tanta criatividade.

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“Nós temos, por exemplo, a parceria da indústria Romeu Couros com o artesão sertanejo Diniz Alves de Oliveira, o Dunga, que marcou à mão o couro desenvolvido. Depois, aplicamos em bolsas e também em calçados, feitos pela empresa Duda Calçados. Temos também a mesma estética de padronagens nesses óculos de madeira da Preza, brincando que os óculos tem que virar um acessório de cabeça, quase um adorno. Também temos a fita feita com sisal, que trouxemos da região, e em parceria com a Wolfstore tingimos e fizemos a trama, aplicada já ao calçado e a bolsa, também uma parceria com a Marcenaria Antoninho, que fez o solado. A Romeu Couros também fez parceria com a Cetiras, que produziu tiras de couro e o Atelier Manrehebrom fez a trama com couro e sisal. Nas amostras desse trabalho, temos protótipos para homewear, como jogo americano, por exemplo. Eu também apliquei em uma peça de vestuário, uma blusa com essa trama, misturando o couro com o sisal da Bahia”, explicou Julia Webber.

O estudo do coletivo foi feito a partir da observação do ambiente, que segundo Julia, “nós utilizamos fotos aéreas, que mostravam bem as corrosões e todas as características do árido”. A observação do solo virou texturas que foram bem aplicadas nas parcerias das empresas do sertão. “A partir desse estudo, fomos montando essas padronagens com aspecto remetendo ao árido, ao corroído e essa ação do tempo. Então desenvolvi essas outras matérias que têm um aspecto de corrosão e de superfícies orgânicas. Na parte dos corroídos, temos um couro desenvolvido com a Romeu para fazer uma parte orgânica, aplicada na bolsa versátil da marca Amez, também do sertão. Além disso, temos uma parceria da Antimatéria com a Tecnoblu, em que a Antimatéria desenvolve uma fibra de biocelulose, a partir de um cultivo bacteriano. Podemos controlar a textura das fibras. Optamos por uma amostra super rugosa para conseguir essa estética de orgânico e depois a Tecnoblu fez o trabalho de tingimento. Como resultado, pulseira, cintos, tags… Isso é algo bem experimental e se encaminha para produtos veganos, sendo possível usar para um novo setor de mercado, afirmou.

A sustentabilidade aplicada à inovação também trouxe parcerias de sucesso e produtos interessantes. “Apresentamos um tecido sustentável, feito de garrafa pet e algodão reciclado. O material é desenvolvido pela Ecosimple e a estamparia da LRB, sendo cada metro dele o correspondente a oito garrafas PET retiradas do meio ambiente. Ele foi aplicado em todos os forros das bolsas e em um calçado, que foi feito pela Beatriz Calçados. A variedade misturando nossas estratégias também está numa bolsa, feita pela Classe Couros, onde nós brincamos com essas formas orgânicas e com a corrosão, como se tivesse uma bolsa dentro da outra, além das aplicações de metal. Ela é feita de couro de jacaré da Arte da Pele, onde tem essa brincadeira do opaco com o verniz, o metalizado e a padronagem, que foi feita em cima de uma fotografia aérea”, contou a designer.

As técnicas que evoluem o processo de produção e protegem o meio ambiente também mostram a simbiose com as empresas do sertão. “Um grande material foi o metal da Arco, onde eu fotografei uma formação rochosa e a gente reproduziu a forma exatamente igual, foi bem bacana. Esse metal foi aplicado na roupa, que também é feita com esse tecido sustentável, com zero waste, uma técnica de modelagem que não tem sobra e nem lixo. Quando vamos cortar a cava, a gola, vai sobrando tecido que vira lixo e isso é um grande problema da indústria têxtil. Com essa técnica de planejamento incrível, tudo pode ser encaixado em uso e ser utilizado de alguma forma na própria peça. O estudo de zero waste foi do Atelier Rico Bracco, que foi o parceiro de uma roupa que produzimos. Um vestido sem mangas, todo orgânico e desconstruído, onde tem um bolso acoplado que quase parece uma bolsa junto, brincando com essas formas orgânicas e com esse tecido corroído… Além disso, os metais aplicados junto com as amarrações, que fazem esse tecido com um movimento mais natural”, exemplificou Julia Webber.

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Na edição passada do Inspiramais, o projeto viajou pelo tempo, decodificou a região da Farroupilha, localizada na Serra Gaúcha, e propôs novos caminhos e linguagens para superfícies, formas e estética de materiais e produtos de moda, principalmente calçados, acessórios e confecções. Com o tema ‘’Reconfiguração’’, o papel foi transformado em sua principal inspiração e símbolo da identidade do imigrante italiano que se estabelece na Região Sul do país. A elaboração dos produtos, como bolsas e calçados, foi totalmente baseada no uso da matéria-prima papel, importante símbolo na identidade desse povo, que enfrentava grandes dificuldades econômicas e sociais no período do século XIX, marcado pela unificação e introdução do capitalismo.

De acordo com Julia Webber, responsável por decodificar estes signos identificados no Sertão baiano, “o projeto propõe novos caminhos e linguagens para superfícies, formas e estética de materiais e produtos de moda, onde a cultura brasileira por meio de pesquisa histórica e iconográfica e que indica inspirações alinhadas ao preview das próximas coleções”. E acrescenta: “A nova proposta do Referências Brasileiras surge para facilitar as pesquisas e o relacionamento entre visitantes e expositores, tornando a experiência mais rica e proveitosa”.

Inspiramais é promovido pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Tem patrocínio da Cipatex, Altero, Bertex, York, Advance Têxtil, Sappi Dinaco, Wolfstore, Caimi & Liason, Brisa, Intexco, Tecnoblu, Britânnia Têxtil, Cofrag, Colorgraf, Endutex, Componarte, Branyl, Berlan, Suntex e Aunde Brasil e conta com o apoio da ABEST, ABICAV, Abicalçados, IBGM, Instituto By Brasil (IBB), In-Mod, ABVTEX, Ápice, Abimóvel e Guia JeansWear by Style WF e Francal.