Foi dada a largada para a Semana de Moda de Haute Couture e Paris está em chamas com as coleções de outono 2015. Se no domingo todos os olhares se voltaram para as ninfas boho chic da Versace – que, após o desfile, marcaram presença em massa no jantar da amfAR -, a segunda-feira começou com o impressionismo romântico e a dualidade de Raf Simons à frente da Dior. Fora isso, Bertrand Guvon fez uma excelente estreia à frente da Schiaparelli e a russa Ulyana Sergeenko voltou ao line-up após duas temporadas ausente. Vem, que HT mostra
Atelier Verscae:
Mostrando o lado mais “suave” da mulher Versace, Donatella apresentou uma coleção com menos pele à mostra, em vestidos longos, fluidos e florais pintados à mão, como se modelos do calão de Lara Stone, Doutzen Kroes, Kendall Jenner e Karlie Kloss fossem ninfas recém-saídas de alguma floresta paradisíaca, direto para a noite sensual de Paris. O ar etéreo da coleção traz inspirações dos festivais dos anos 1970, mais evidenciados pelas botas de plataforma, as plumas e organzas que traziam leveza para as mangas bufantes em formato de sino, e as coroas de flores nos cabelos. Sim, o boho chique apareceu em plena temporada de alta-costura, com rendas, corsets, aplicações de cristais e apelo jovem e sexy como manda a medusa. Os cortes assimétricos, chancela primordial no jogo de-mostra-e-esconde da grife, eram segurados vez ou outra por cordões de flores e se revezam em silhuetas etéreas, formadas por muita seda e tules, em uma paleta de tons pasteis, onde o preto ocasionalmente dava as caras.
Schiaparelli:
A estreia do estilista Bertrand Guvon – que passou os últimos sete anos na Valentino – à frente da Schiaparelli misturou a pegada inventiva e irreverente da própria Elsa, com seu toque pessoal de extravagância contemporânea, no que o próprio chamou de uma ‘releitura’ da personalidade da estilista. Ou seja, pegue códigos famosos da casa, como os blazers bem estruturados, cobertos de desenhos e aplicações de pedras douradas, com um spin contemporâneo, mas seguro, sem grandes riscos. Um quê de surrealismo aparece através do pelo de cabra, do patchwork de peles e das estampas dos vestidos, com referências a bustos e estátuas gregas. Deusas gregas também parecem ter entrado na passarela, com vestidos leves em tons pálidos e dourado, transbordando sensualidade. O icônico rosa “shocking” imortalizado pela estilista começa a aparecer de maneira discreta no desfile, como se desse as caras e dissesse um oizinho através de golas, barras e blazers, para escancarar a porta do armário no look final: um longo poderosíssimo, imponente e monocromático.
Ulyana Sergeenko:
Após ficar fora do line-up de alta costura por duas temporadas graças à crise econômica da Rússia, a estilista novamente pegou a história do próprio país como ‘musa’ para uma coleção sóbria e que se inspira na decadência da nobreza durante a era soviética. Logo, a arquitetura dos apartamentos serve para dar vida a peças que trazem essa dualidade entre a depressão da falência financeira e a renúncia a deixar o glamour morre – e, nas mãos da estilista, ele não vai embora nem tão cedo. Seu primoroso trabalho manual aparece em longos negros, ao mesmo tempo em que decotes românticos e arquitetônicos trazem uma sensualidade coroada por flores aqui e ali. A opulência de peles se alterna com transparências, fendas e quimonos ultrassexys, em uma paleta de cores dark e perfeita para a noite, que explicam o porquê de Ulyana continuar sendo uma das queridinhas de gente como Kim Kardashian, Rihanna e Emilia Clarke.
Dior:
Sem Rihanna, mas com Lupita Nyong’o na fila A, o desfile da Dior foi para impressionar desde o cenário: o Musée Rodin foi decorado com 356 painéis de vidro, todos pintados à mão com pequenos botões de flores no melhor estilo impressionista. Apesar de servirem como mood para a apresentação, a inspiração mais forte da coleção veio de um outro jardim, menos romântico do que o sugerido: o tríptico “O jardim das delícias terrenas”, de Bosch, um dos precursores do surrealismo. Logo, a pintura em que o holandês retrata a criação da Terra entre céu e inferno, serve para ilustrar a dualidade de uma coleção que se reveza entre o pueril e o malicioso. Como? Raf Simons colocou na passarela tanto longos angelicais e brancos, com transparências discretas (sim, é possível), ares românticos e silhuetas espaçosas, quanto casacos oversized com uma das mangas de pele, vestidos decotados e blazers presos pelas mãos das próprias modelos, como se guardassem ali um segredo inimaginável. O new look apareceu aqui revisitado com aplicações e peles, enquanto o impressionismo floral desceu do teto para vestidos leves e incríveis. Correntes sobre e no interior de alguns looks foram o toque final de uma coleção que transbordou a própria dualidade do romântico.
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