*Por Jeff Lessa
A moda-praia brasileira sempre atraiu os olhares do mundo. O país que lançou a tanga, o fio-dental e o modelo asa-delta tornou-se referência em maiôs e biquínis que modelam os corpos das mulheres de uma forma única. Não é por acaso que são objetos de desejo de dez entre dez mulheres em todo o planeta. Desde a abertura em Milão da label da Águas do Brasil, muitas italianas tem usado as peças. O DNA, porém, continua brasileiríssimo: a grife foi criada em 2017 pela ex-modelo brasileira Beatriz Lanfredi que, morando na Europa há dez anos, sentia falta da modelagem nacional, assim como sua sócia há um ano, a também ex-modelo Fernanda Rigon, responsável pela grife no Brasil.
“Passei cinco anos direto desfilando para a D&G, a segunda marca da Dolce & Gabbana. Com o tempo senti a necessidade de parar e montar a minha própria marca. Quando quis fazer uma sociedade, meu marido (o empresário Fabrício Lanfredi, de Caçapava, que vive há anos em Milão, onde é dono de um sushi bar) me indicou a Fernanda, nós nem nos conhecíamos”, conta Beatriz. “Para as gringas, é difícil encontrar biquínis e maiôs legais. Os cortes são grandes e as peças são lisas, sem estampas. Elas usam aquelas calcinhas imensas, mas fazem topless. O asa-delta faz pouco sucesso, é considerado pequeno demais para elas. O preferido é o modelo ripple”. (A calcinha do ripple tem um corte em formato de coração que, em tese, levanta o bumbum. Mais solto, não aperta a cintura)
O biquíni ripple tem sido o queridinho de beldades como Bruna Marquezine, Fiorella Mattheis e Isis Valverde, no Brasil, e as atrizes americanas Jennifer Aniston e Cameron Diaz, por exemplo. “Já fizemos com cordão de São Francisco e com tranças, ambos manualmente. Toda a nossa produção vem Brasil, pois assim é mais valorizada pelos europeus”, garante Beatriz.
O forte da dupla, que desenha todas as peças, são as estampas, conta Fernanda Rigon: “Nós criamos juntas, são exclusivas. Escolhemos um tema ligado à natureza e cada uma dá uma ideia. Já fizemos penas, árvores, folhas, animal print, areia. Nossa penúltima coleção chamava-se ‘Preserve’ e tinha estampas de seis animais brasileiros em extinção. A coleção atual, ‘Almas da Natureza’, vem com fundo mar, plantas. As estampas sempre são tropicais”.
Além das estampas, outras marcas registradas da Águas do Brasil são a diversidade e a responsabilidade com o meio ambiente. A diversidade Beatriz e Fernanda resolvem produzindo para todas as idades e corpos. “Nosso público vai da menina à avó dela passando pela mãe. E, no quesito modelagem, fazemos questão de que mulheres com corpos de todos os tipos se sintam maravilhosas. Então oferecemos do menor modelo ao tamanho GG”, afirma Fernanda.
A valorização do meio ambiente, cada vez mais cobrada pelos consumidores de moda no mundo todo, pode ser percebida nas próprias estampas, sempre ligadas à natureza. Na coleção atual, por exemplo, uma das estampas é de cocares, para alertar para a urgentíssima causa indígena, enquanto outra chama a atenção para a necessidade de se preservar os oceanos. O método de produção também segue a cartilha ecofriendly: a grife trabalha com fios tingidos em massa, o que reduz em 70% o consumo de energia e água.
Se ainda não conseguiram convencer totalmente as clientes europeias a usar o biquíni asa-delta (“Aos poucos, porém, elas estão se acostumando com a ideia”, diz Beatriz), a dupla está satisfeita com duas “novidades” que estão fazendo sucesso na loja de Milão: “Estamos introduzindo o pós-praia na coleção. O pessoal tem usado as nossas saídas de praia como vestidos nos beach clubs, na balada e na cidade”, observa Fernanda.
Beatriz chama a atenção para outro costume aos quais as mulheres italianas estão aderindo agora: o uso do body no dia a dia. Na verdade, trata-se do nosso bom e velho collant de lycra, que fez o maior sucesso aqui no Brasil na década de 1970. Lembra dele?
“Elas não usavam, acredito que fosse por preconceito. Agora está se tornando comum. Usam com uma camisa por cima, sozinho, com blazer. Gostam muito do modelo de um ombro só que temos na coleção”, afirma Beatriz. “É uma peça versátil que dá para usar de dia e de noite, dependendo com o que você combina. Nós prezamos muito o acabamento, fica muito bonito. E procuramos evoluir a qualidade da lycra. No momento estamos satisfeitas com o produto que, além de muito bom, tem estampas únicas”, observa Beatriz Lanfredi.
Localizada na Lombardia, no riquíssimo Norte da Itália, Milão é uma das grandes capitais mundiais da moda. Mas… como uma grife de beachwear sobrevive em uma cidade onde a temperatura máxima média no inverno é de apenas seis graus Celsius? “Faz muito calor em Milão no verão, os dias são muito quentes. Temos o Lago di Como, que funciona como uma praia para os milaneses. A cidade e os arredores também têm inúmeras piscinas, sem falar que é bastante fácil viajar. Dá para pegar um voo e chegar rapidamente em Ibiza, Barcelona ou Mônaco”, argumenta Beatriz, acrescentando: “Muitas italianas gostam de viajar para a Tailândia, onde faz calor e elas podem pegar praia”.
Artigos relacionados