Gloria Coelho firma parceria com Dell Anno, empresa que conjuga moda e arquitetura, e fala com HT sobre design, rumos do fashion world e física quântica


O anúncio oficial foi feito ontem no encerramento da Casa Vogue Experience, na qual a Dell Anno foi uma das patrocinadoras. Para o diretor de marketing, pesquisa e desenvolvimento, Edson Busin, a escolha de Gloria reforça a proposta da Dell Anno de traduzir o lifestyle para os ambientes da casa

Sou uma jornalista carioca, ariana e há mais de 20 anos apaixonada pelo trabalho de Gloria Maria Menezes de Alencar Coelho, uma leonina, aficionada em astrologia, física quântica e pela… moda, arquitetura, design. Sim, estou falando da estilista, designer e diva da moda Gloria Coelho. Até a revista britânica Wallpaper já a incensou como o título “dama da moda brasileira”. Se não fosse estilista, designer de moda, Gloria seria… arquiteta, decoradora ou cineasta. Ela é plu-ral. No sentido pleno da palavra. Gloria cria, cria, cria – 24 horas sem parar se fosse possível e sempre com a ajuda dos astros (a astrologia é outra de suas paixões). E o ano de 2015 foi de glórias, conquistas e viagens em diversas áreas. Recentemente, ela mergulhou no mundo teatral e ganhou o Prêmio Shell de ‘Melhor Figurino’ por “Trágica.3”, a peça de Heine Muller, Carlos de Andrade e Francisco Carlos, dirigida por Guilherme Leme, que relê os personagens das tragédias Medeia, Electra e Antígona. E… agora… acaba de ser anunciada a parceria com a Dell Anno, na qual a designer vai desenvolver um padrão exclusivo para os móveis da marca de excelência. A criação chegará ao mercado em 2016.

A Dell Anno escolheu a Casa Vogue Experience para anunciar, na noite de ontem, em São Paulo, esta novidade. “Compartilho os princípios da Dell Anno de excelência, inovação e tecnologia. Tenho a missão de arquitetar os corpos das mulheres com minhas roupas. Então, para essa parceria, troquei as peças de vestuário pelos móveis”, comentou a estilista. Para o diretor de marketing, pesquisa e desenvolvimento da Dell Anno, Edson Busin, a escolha de Gloria reforça a proposta da empresa de traduzir o lifestyle para os ambientes da casa. “A Gloria é muito talentosa e vai trazer para o mobiliário da Dell Anno algo que tenha seu estilo e, ao mesmo tempo, que se encaixe perfeitamente com a marca. Estamos muito felizes com este novo projeto”, destacou. A Dell Anno foi uma das patrocinadoras da Casa Vogue Experience, projeto que marcou a comemoração dos 40 anos da revista e reuniu, entre os dias 3 e 8 de novembro, o melhor do design, arquitetura, artes, gastronomia e lifestyle, em um endereço da Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1.522, nos Jardins.

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A nova campanha da marca será fotografada neste mesmo espaço, em novembro, com a top internacional Izabel Goulart nos ambientes Dell Anno montados especialmente para a Casa Vogue Experience. A modelo apresentará looks assinados pela estilista Gloria Coelho e será clicada pelo mestre Bob Wolfenson. Palmas para Gloria, que fez um dos desfiles mais lindos da recente edição da São Paulo Fashion Week Inverno 2016. Só faltou nevar na passarela. Como comentei, na ausência do gelo, nossa mente viajou para os Sete Reinos de Westeros, da série “Game of Thrones”, para ficar bem próximo, mesmo que na imaginação, do frio e da inspiração nórdica que a estilista quis nos revelar. Feita as devidas mudanças de plano, acompanhar o passo das modelos de Gloria foi prazeroso. Com ar minimalista e como se estivessem passando por um inverno que começou lá atrás, as mulheres usaram e abusaram de mantôs, sobretudos, repletos de assimetria, e trabalhados em crepes acetatos, cetim de seda pura, lã, couro e pelo de carneiro. Os ombros ficam de foram, enquanto as mãos eram devidamente cobertas justificando os baixos termômetros da Escandinávia de Gloria. Aliás, por lá, off white, o cinza, o gelo e o bege conversam muito bem. No alerta tendência, os mantôs, as fendas e as tiras de couro chamaram atenção e são boas pedidas.

“São anos e anos de amor e de paixão pela moda. Sou muito feliz fazendo roupa”, sempre diz Gloria que imortalizou sua história no livro “Gloria Coelho – Linha do Tempo” (ed. Alles Trade), com 60 looks que ilustram os 20 últimos anos de carreira, + a exposição “Gloria Coelho – Linha do Tempo”, com curadoria de Ana Lúcia Castro. Mas vamos falar de moda e arquitetura em um universo único, como é a filosofia da Dell Anno e sempre ressaltada pelo diretor de marketing, pesquisa e desenvolvimento, Edson Busin. “A moda que se inspira na arquitetura e a arquitetura que se inspira na moda”. Esta é a frase inspiração da empresa, parte integrante do grupo Unicasa.

Em tempo: a Dell Anno se consagra também como a empresa que tem a chancela de contar com o triunvirato da moda brasileira entre seus colaboradores no desenvolvimento de estampas exclusivas para superfícies de modulados. Reinaldo Lourenço, ex-marido de Gloria, criou a linha Duo Chamalote, explorando o conceito do dia (Clair) e escuro da noite (Noir), e o filho do casal, Pedro Lourenço idealizou um acabamento de decoração batizado Moon, inspirado na estética do final dos anos 60. Além do triunvirato, a Dell Anno firmou uma parceria com a Animale na concepção da superfície Ashanti. Em síntese: pura arquitetura fashion e simbiose moda-arquitetura do corpo traduzida em design e décor.

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Gloria estudou moda no Studio Berçot, mas sempre nos conta que chegou a fazer um colégio técnico preparatório para a faculdade de Arquitetura com matérias como Desenho e Livre Expressão. Em entrevista exclusiva ao site HT ela revela o que está criando para a Dell Anno, comenta sobre a sibiose moda-arquitetura, fala da intimidade da decoração de sua casa, aborda os caminhos da indústria fashion no país, sua inspiração na Nasa, os detalhes sobre a linha jovem Coelho e muito mais. Vem com a gente!

HT – Você firmou uma parceria com a Dell Anno. Qual a chancela que Gloria Coelho quis imprimir no projeto?

GC – Na parceria com a Dell Anno, eu idealizei uma placa quântica. Portanto, repleta de energia positiva. É uma placa que cura. Vai proporciona amor, alegria, felicidade, proteção. É como se fosse uma madeira e, nas veias dela, estão escritos números binários em alusão a uma frase que eu ressaltei anteriormente: “Essa placa dá amor, cura, proporciona felicidade e protege”.

HT – Nos conte o prazer de mergulhar nessa empreitada.

GC – Criar me proporciona energia. Então, a arquitetura, a moda sempre me deram energia. A arte… Se eu estou um pouco desanimada e começo a criar alguma coisa, imediatamente a sensação é de felicidade. E isso é o que me faz me sentir contente na vida.

HT – A moda e a arquitetura de interiores sempre mantiveram uma conexão intrínseca e isso foi reforçado pela Dell Anno. Como você avalia estes mundos fascinantes que interagem?

GC – A moda, a arquitetura, o corpo são uma unidade em tamanho e dimensões diferentes. E eles são corpos que precisam de elementos para viverem melhor. Acho que existem muitas maneiras de pensar sobre esses temas. Mas, eu sou obsessivamente apaixonada pela moda e pela arquitetura.

HT – Reinaldo Lourenço e Pedro Lourenço desenvolveram estampas exclusivas para superfícies de modulados da Dell Anno. O que tem a comentar sobre a linha Duo Chamalote de Reinaldo, explorando o conceito do dia (Clair) e escuro da noite (Noir), e o acabamento de decoração que Pedro desenvolveu, batizado Moon, inspirado na estética do final dos anos 60?

GC – Cada um expressa seu gosto e obsessões. O Reinaldo optou pelo chamalote e ele tem um pouco a ver com madeira. Então, eu acho que fica perfeito e fácil para o cliente final compreender. E a lua, do Pedro, eu amo prata, os fundos pratas. Na capa do meu livro – “Gloria Coelho – Linha do Tempo” , com 60 looks que ilustram os 20 últimos anos de carreira – eu pensei na prata dos computadores da Apple. E a lua, com o meu filho, canceriano, escolhendo a lua como tema… é muito lógico.

HT – O que a inspira?

GC – A arte, os amigos, o cinema, a rua, as festas, os livros, a internet, as musas, a Nasa e os pensamentos.

HT – Como é a casa de Gloria Coelho? Quais os elementos decorativos que não podem faltar? Como é o mundo dessa criadora?

GC – Minha casa é verdadeira. Costumo dizer sempre que a arquitetura não pode ser mentirosa. Por que se passam os anos, os anos, os anos… e 200 anos depois os arqueólogos resolvem cavar este solo de São Paulo e ver que tipo de casa existia aqui, quais os materiais compunham esta construção. Eu sempre penso na arquitetura autêntica. Se ela tinha todas as possibilidades arquitetônicas das décadas de 50 e 60, eu acho que seria importante preservar. Os paulistas reformam muito as casas e gostam de decorações novas. Mas, a minha casa é de 1958 e bem típica até hoje. Parece um pouco a construção da Fundação Maria Luísa e Oscar Americano, no Morumbi (em meio a plantas e árvores de vários tipos, do pau-brasil ao pé de café, encontra-se a casa projetada pelo arquiteto Oswaldo Arthur Bratke em 1950 e repleta de obras de arte). Mas tudo de uma maneira muito simples e é isso que eu gosto na minha casa. O que eu tenho são objetos que foram garimpados durante a vida. Como amo arte, escolhi um sofá Pfister, porque ele não interfere muito na decoração. Nesse momento, eu quero esconder tudo. Eu gosto de uma casa que mostre um conforto natural e necessário, apenas. Você ter conforto, mas sem muita coisa. Acho que gastamos muito tempo na vida arrumando e limpando. Agora, estou fazendo armários, que deixam tudo escondido. Se eu tiver necessidade de algo, eu vou lá e encontro. Mas, os objetos não ficam mais interferindo na beleza da casa. Gosto dela muito limpa.

HT – Você é uma grande pensadora de moda. Vimos na última edição da SPFW grifes como João Pimenta flertando com a feminilidade em sua alfaiataria, Apartamento 03 derrubando os muros do sexismo na moda. Você sempre foi pioneira neste aspecto. O que tem a comentar sobre esta questão nos dias de hoje?

GC – Eu acho que as grandes marcas estão fazendo o símbolo de moda lançando mão do já consagrado. Para vender é muito mais fácil assim. Pense na obra de arte. Você não sabe muitas vezes se gosta ou não gosta. Pode ser um artista considerado um gênio, mas existem pessoas que não se identificam com ele. É tudo uma incógnita. As grandes marcas estão fazendo o símbolo do comércio, mas de maneiras tecnológicas luxuosas e preciosas. Se eu pudesse, faria a moda mais louca ainda, porque tenho necessidade do que é mais avançado, do que é mais novo, de coisas que nunca foram vistas. Eu gosto dessa reflexão. Mas, a gente faz a coleção comercial e procurando fazer um desfile um pouco mais comercial também. Eu posso sempre fazer mais e diferente. E descobrir sempre o que o mercado quer e que não sabe.

HT – Gloria Coelho é plural. E assina um mega projeto hoteleiro no Rio de Janeiro. O que há de novidade sobre esta empreitada?

GC – Quando eu fui convidada a fazer o Best Western Premier Arpoador – Fashion Hotel por Gloria Coelho, eu fiquei numa felicidade que não foi brincadeira. Conversei com a Cecília Zon Rogério, diretora da Incortel Vitória (desenvolvedora dos hotéis Best Western no Brasil), e perguntei se as pessoas que iriam desenvolver o projeto tinham a ver comigo. Só tinham. Foi muito fácil. Pensei em cinco elementos: rasgo de luz, no jardim vertical, no branco, na madeira e no vidro. As inspirações foram os sistemas do futuro, um minimalismo essencial, com conforto. Cada andar vai ter o nome de uma coleção de moda criada por mim. Por exemplo, o oitavo andar vai ser batizado Pokémon. Vamos ter fotos das meninas desfilando. Vamos ficar eternizados no Rio de Janeiro. Existe luxo maior?

HT – Em 2015, você mergulhou no mundo teatral e ganhou o Prêmio Shell de Melhor Figurino por “Trágica.3”, a peça de Heine Muller, Carlos de Andrade e Francisco Carlos, dirigida por Guilherme Leme, que relê os personagens das tragédias Medéia, Electra e Antígona. Como foi esta experiência e gostaria de saber se teremos mais Gloria Coelho no teatro ou no cinema?

GC – Não esperava esse prêmio. Fiquei muito contente com o resultado. Estou aberta a novos trabalhos nessa área, claro. É uma logística complexa, mas vou mergulhar em novo projeto no teatro. Tenha certeza.

HT – Quais as dificuldades de empreender no Brasil?

GC – A dificuldade de empreender no Brasil é a complexidade dos impostos e do governo que complica muito para todos nós. E governo não cria estrutura adequada para quem trabalha com moda. O porto não anda. A produção no Brasil é caríssima e esse espírito do governo eu não compreendo.

HT – Qual a situação da indústria da moda hoje no Brasil? E de que forma você faz a sua parte para ajudá-la a crescer ainda mais?

GC – A tecnologia é antiga, porque ainda não temos recursos. O governo complica um pouco. A gente podia aprender com máquinas novas com pensamentos de outros. Mas a gente tem que dar um jeito e inventar tudo. As empresas não são tão produtivas, porque não tem expertise necessária. O Brasil é muito grande. Espero que tenham empresas com expertise que eu ainda não tive a chance de conhecer. Por outro lado, se não temos a tecnologia, vamos fazer o artesanal. Vamos inventar o que não existe. Mas é caro. Fica muito caro. O custo Brasil está muito alto. A gente tem que inventar sempre. Eu aprendi: se você não sabe fazer de uma maneira, faça de outra. Tem é que tentar se expressar. Fazer aquela pedra bruta virar um diamante.

HT – Quem chama sua atenção por um bom trabalho na nova geração de estilistas brasileiros?

GC – Deve ter muitas crianças aparecendo em garagem, que nem a música, que eu ainda não conheço. Mas eu gosto do Pedro, meu filho, Pedro Lourenço. Gosto do Eduardo Mahfuz Toldi, da Egrey, Lilly e Renata Sarti, da Lilly Sarty. Tem uma geração bacana começando. Desculpa se eu esqueci de alguém, por favor.

HT – A indústria da moda no Brasil tem sentido o reflexo de uma busca maior pela qualidade? O que você sente em suas andanças pelo Brasil afora?

GC – Eu fui ao Piauí fazer uma palestra e um artista plástico me deu um colar de bonequinhas de presente. A coisa mais linda do mundo. Totalmente artesanal. O Brasil pode fazer a diferença com o artesanal. Pode ser cara, mas é a nossa diferença.

HT – O que podemos esperar dos próximos passos de Gloria Coelho em 2016?

GC – Eu melhorar muito, aprender bastante. Melhorar a qualidade, a excelência, a criatividade e ajudar o nosso planeta a ficar vivo, que é uma grande responsabilidade nossa. E acabei de criar uma linha batizada Coelho voltada para os jovens. Criamos o logotipo do coelho. Temos a polo coelho, o tênis coelho, a bolsa coelho usando esse símbolo que eu gosto tanto.