Gisele é uma máquina, mas não tem o menor cuidado ao se propor participar de, se possível, todas as campanhas do mundo!


O jornalista e dramaturgo Junior de Paula comenta: “Mesmo que em cada foto ela consiga imprimir suas multifacetas, não há camaleão no mundo que tenha tanto disfarce para usar assim. Por uma próxima temporada de anúncios com menos Giseles”

*Por Junior de Paula, de Miami

Gisele Bundchen é uma máquina. Em todos os sentidos. Uma máquina de trabalhar, de fazer dinheiro para si e para as marcas para a qual empresta sua imagem. Uma máquina de gerar cliques na internet, de gerar interesse pela sua vida e uma máquina de fazer filhos e boas ações.

No topo há pelo menos 10 anos, ela não dá sinal nenhum de que vai descer do pedestal de “a maior modelo de todos os tempos” tão cedo. Nem que para isso ela tenha que desgastar sua imagem em cinco campanhas simultâneas.

Erro de estratégia ou simples desejo de fazer tudo ao mesmo tempo agora, Gisele, nesta temporada, corre o risco programado de ter exagerado na dose. Não entendeu o nosso ponto de vista? Segue a linha de raciocínio.

Para usar um exemplo mais popular e mais próximo de todo mundo – antes de retomar para o mundo das grandes marcas de moda – lembra quando era só ligar a TV que a gente via o Fabio Porchat anunciando todos os produtos possíveis e imagináveis? Ou, mais recentemente, Felipão, técnico da Seleção Brasileira, entrando em um comercial atrás do outros nos intervalos? Pois bem: este é o nosso ponto.

A repetição à exaustão da imagem de uma pessoa para vender os mais diferentes produtos tem, muitas vezes, o efeito oposto do imaginado inicialmente, que seria o de consolidar uma marca e despertar o desejo. Ao ver Gisele anunciando Balenciaga – de cabelo curtinho, raspado nas laterais -, Emilio Pucci, Isabel Marant e Stuart Weitzman, junte a essas a campanha brasileira da Colcci, o consumidor se perde em meio a um mar de Giseles e o mercado das modelos se fecha ainda mais em torno dos mesmos nomes de sempre.

Todo mundo sabe que o índice Gisele – que aumenta as vendas de qualquer coisa à qual ela se associa – é uma realidade e que, em tempos de crise, as marcas vão, sempre, recorrer a nomes que elas sabem que dão retorno certo e imediato. Nada mais comum, portanto, que o nome de Gisele apareça nas mais diferentes rodas de negociações.

Caberia à top, portanto, o papel de filtrar com mais parcimônia essa vulgarização de sua imagem. É só uma folheada nas revistas bombadas de moda ou um passeio pelas ruas que concentram as marcas de moda de luxo ao redor do mundo, como a Quinta Avenida, em Nova York, ou a Faubourg du Saint-Honoré, em Paris, para que a gente encontre a brasileira em quase todas as páginas e vitrines. Chato, previsível e afronta ao bom senso de quem se interessa pelo tema.

O consumidor e a gente que acompanha o entra e sai de modelos dos anúncios pode se sentir confuso e desprestigiado ao perceber que a própria Gisele não tem o menor cuidado ao se propor participar de, se possível, de todas as campanhas do mundo. Mesmo que em cada foto ela consiga imprimir suas multifacetas, não há camaleão no mundo que tenha tanto disfarce para usar assim. Por uma próxima temporada de anúncios com menos Giseles.

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* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura