FESTIVAL ID:RIO – Obras de arte em forma de roupa, a coleção ‘Energia by Almir França’ foi feita com upcycling de uniformes


No Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói, cerca de 50 looks foram idealizados pelo designer e produzidos, desde tecidos até acessórios, todos feitos com materiais reutilizados dos uniformes dos trabalhadores da Enel. O upcycling pode ser definido como ‘(re)design inteligente’ (upcycling = design + sustentabilidade)”. E, além de valorizar uma marca, cria vínculos sólidos com seu público. Marcas com propósitos verdadeiros e engajamento genuíno, além de terem a chance de devolver para a sociedade o que recebem dela, fortalecem seu posicionamento no mercado e contribuem para o bem-estar coletivo

FESTIVAL ID:RIO - Obras de arte em forma de roupa, a coleção 'Energia by Almir França' foi feita com upcycling de uniformes

Um trabalho belíssimo focado em moda de reuso. Com técnicas de reutilização de resíduos para a fabricação das peças e encaminhamentos para roupas usadas como matéria-prima de novos negócios e oportunidades, o designer Almir França marcou sua chancela ao assinar o belíssimo desfile “Energia by Almir França“, fruto de uma parceria com o departamento de sustentabilidade da empresa Enel e 100% realizado a partir de técnicas de upcycling.

A coleção firma o compromisso do estilista com a moda sustentável levando para a passarela do Festival ID:RIO – multiplataforma idealizada por Claudio Silveira e Helena Vieira Gualberto Silveira com o tema “Multiversos Sustentáveis“ e que impulsiona a identidade/energia criativa da moda e empreendedorismo do Estado do Rio de Janeiro -, no Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói, cerca de 50 looks produzidos, desde tecidos até acessórios, todos feitos com materiais reutilizados dos uniformes dos trabalhadores da Enel. Uma coleção de moda casual é criada anualmente como forma de resultado de mais de 10 toneladas de roupas usadas e resíduos.

“Energia by Almir França”

Já comentei aqui com vocês, leitores, que energia gera potencialidades, tanto na vida, como no trabalho. Sabemos que toda força motriz depende de empenho e ação. Esses e outros fatores corroboram cada vez mais para se colocar a sustentabilidade como pauta diária na indústria têxtil e de confecções. E vamos falar sobre o reuso, criar, renovar e ressignificar peças e materiais: o upcycling. A proposta se baseia em dar nova vida a produtos que seriam descartados, sejam roupas ou sobras da indústria têxtil, diminuindo tanto a quantidade de resíduos lançados no planeta quanto a necessidade de produzir matéria-prima. “Upcycling pode ser definido como ‘(re)design inteligente’ (upcycling = design + sustentabilidade)”.

“Energia by Almir França” (Foto: Thais Mesquita)

“Energia by Almir França” (Foto: Thais Mesquita)

Acompanhei desde a primeira edição do ID:RIO, o desfile da Coleção Energia idealizada dentro da filosofia da Enel de reaproveitamento dos uniformes dos funcionários e desenvolvida com base no conceito do criar, renovar e ressignificar peças e materiais. A proposta se baseia em dar nova vida a produtos que seriam descartados, sejam roupas ou sobras da indústria têxtil, diminuindo tanto a quantidade de resíduos lançados no planeta quanto a necessidade de produzir matéria-prima.

“Energia by Almir França” (Foto: Thais Mesquita)

“Energia by Almir França” (Foto: Thais Mesquita)

Professor/estilista, cenógrafo, Almir França é graduado pela Sociedade Propagadora das Belas Artes 1986 (licenciatura plena). Tem Pós-graduação em Moda pela Universidade Veiga de Almeida e é Mestre em História da Moda Senac SP 1992. Foi consultor de Moda Sebrae Nacional e desenvolveu pesquisa sobre trabalho escravo com crianças e mulheres na comunidade da Maré-RJ (fundação CeA). Atuou na aplicação do Projeto Ecomoda em mais de 20 unidades em comunidades do Rio de janeiro e interior do estado do Rio e atua como Coordenador de Projetos Culturais do Instituto Arco-Íris.

“Energia by Almir França”

“Energia by Almir França”

Almir desenvolveu os 50 looks reforçando mais ainda, volto a frisar, a premissa de que a Enel faz a sincronia com responsabilidade social, socioambiental, empreendedorismo, desenvolvimento econômico, inclusão. “A ideia inicial era pensar que produtos de moda poderiam ser feitos com os uniformes dos trabalhadores da empresa. Pensamos em peças de vestuário que fossem possíveis para uma moda casual. Os 50 looks retrataram o processo transformador de calças em vestidos, saias e blusas. Mas por se tratar de uma empresa que trabalha com energia, tínhamos que encontrar caminho direto na teoria do reuso, por isso todo beneficiamento, e para os bordados utilizamos os micros resíduos deixados no processo da confecção”, conta o designer.

“Energia by Almir França”

“Energia by Almir França”

Perguntei a Almir qual fio condutor em mente para alinhavar todo o projeto que vimos. “O quantitativo atual de descarte de roupa usadas é 50% de uniformes de trabalhadores. Por isso nos dedicamos no desdobramento de dar utilidade imediata ao uso das peças, ou seja a jaqueta continua uma jaqueta, mas a proposta foi ressignificar o design. Essa ação é importantíssima, porque o Brasil ainda não tem uma política para resíduos têxteis, tão pouco temos uma legislação para a indústria da moda”, frisa, acrescentando: “Usamos a cartela de cores do próprio uniforme, todos os tons de cinza, trazendo o preto e branco e um ponto de laranja,  para manter os reflexivos dos uniformes”.

“Energia by Almir França”

A classe artista, intelectual e parte dos políticos já compreendem que a roupa é uma linguagem e que para falar com os coletivos terão que utilizar esses códigos, isso faz com uma esposa de um grande governante use uma saia de retalho. Precisávamos hoje de uma grande revolução dos editoriais de moda sobre uso de roupa. É pensar moda com economia forte dentro de uma sociedade que luta por cidadania – Almir França

“Energia by Almir França”

“Energia by Almir França”

Eu conheço o trabalho desenvolvido por Almir há muitos anos e perguntei a ele como tem sentido o feedback: “Nesses últimos 20 anos de projeto, fui entendendo o reaproveitamento como matéria-prima importantíssima para qualidade de texturas e novas possibilidades de criação. O grande ponto positivo do nosso projeto é ter o reuso como metodologia de ensino da moda. Hoje temos muitos parceiros, empresas e instituições de ensino que nos apoiam com a ideia de se empreender com os resíduos”.

A indústria da moda, a Indústria 4.0 quer ter uma chancela de transformação digital aliada à sustentabilidade. Como você tem visto ser desenhado este panorama? “Acredito sim em iniciativas dos coletivos, da política reversa, de uma economia circular onde todas as classes estejam envolvidas. Faço roupa com responsabilidade e na continuidade dessa roupa”.

“Energia by Almir França”

“Energia by Almir França”

Hoje, as palavras-chave são responsabilidade e transparência. Nunca se falou tanto sobre os princípios da economia circular como processo que deve nortear as empresas. Assim como zero waste, sustentabilidade, matérias-primas renováveis, redução de consumo de produtos, entre outros pontos. “Não cumprimos nem 30% das metas da Conferência de 92, a reciclagem é só uma redução de danos ambientais, o norte global não avançou nas políticas de direitos humanos, então economia circular é bacana mas está dentro de um processo de gastos de energia natural. Mas acredito que a moda pode sim ser um grande exemplo de práticas positivas. Através do design podemos ressignificar todo esse lixo. Mas temos que entender hoje qual o papel da roupa nos novos corpos”, analisa.

“Energia by Almir França”

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) são produzidas 175 mil toneladas de resíduos têxteis por ano. Só para se ter uma ideia da poluição causada pelo setor moda, uma quantidade de tecidos equivalente a um caminhão de lixo é enterrada ou queimada a cada segundo em todo o planeta. O desperdício causado pela produção de roupas no mundo também é preocupante, pois é responsável por 20% do total de desperdício de água globalmente. Tem mais: um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2019 mostrou que a produção de um único par de jeans consome 7.500 litros de água e que a fabricação de roupas e calçados gera 8% dos gases de efeito estufa. A indústria da moda é a segunda maior poluidora do mundo, atrás apenas da indústria petrolífera. E levantamento publicado pela Global Fashion Agenda, organização sem fins lucrativos, aponta que mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis foram descartados no mundo em anos recentes.

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Diretor do Festival ID:RIO, Claudio Silveira ressaltou : “Fazer um evento do tamanho do ID:Rio, que nesta edição passa por três cidades: Petrópolis, Niterói e Rio de Janeiro, só é possível graças ao suporte de nossos apoiadores. A Enel Brasil, que desde a primeira edição do ID:Rio acredita e renova o apoio à energia criativa gerada pelo evento. O Governo do Estado, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, na pessoa da secretária Danielle Barros. Em Niterói, agradeço à Prefeitura Municipal; ao Vitor Wolf, diretor do Museu de Arte Contemporânea  (MAC); à Fundação de Artes de Niterói; ao André Felipe, da CGE; e a Thaís Garcia e Taiana Jung, do Grupo Mulheres do Brasil – Núcleo Niterói. Em quase 40 anos de eventos, eu nunca havia sentido na pele o que aconteceu conosco nesta última semana, aqui em Niterói”.

O Festival ID:Rio 2024 é apresentado por Enel Brasil, com patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Apoio da Prefeitura de Niterói e da Prefeitura de Petrópolis, com realização da Equipe de Produção.