Feira Nacional da Indústria Fashion (Fenin): o poder de uma feira para o varejo realizada em Bento Gonçalves (RS)


Animal print, muita flor e neoprene: na sua primeira edição em casa nova, a feira é sucesso de vendas e se afirma como polo lançador de tendências comerciais, com cerca de 1 mil marcas gerando negócios que chegam a R$ 300 milhões

* Por Heloisa Tolipan e Alexandre Schnabl

Neste ano, não faltou quem dissesse que, com a Copa do Mundo no Brasil, o ano só começaria de fato após o término da competição esportiva. Faz sentido. Após o marasmo que se abateu sobre a economia nos primeiros sete meses de 2014, o mercado começa a querer fazer sinal de fumaça, mesmo com as eleições presidenciais programadas para outubro. Pensando nisso, Julio Viana, o diretor da Expovest  sacudiu o Sul do Brasil nesta última semana, transferindo a data da edição primavera-verão 14/15 da sua mais conhecida feira, a Fenin, para logo após o término do evento futebolístico. O resultado acabou se mostrando um gol de placa. Afinal, como o empresário é chegado a uma novidade, dessa vez não fez por menos: instituiu Bento Gonçalves, na área do Vale dos Vinhedos do Rio Grande do Sul, como epicentro do estilo verão 2015, montando o palco da moda no Fundaparque – Parque de Exposições de Bento Gonçalves, para a primeira edição da Feira Nacional da Indústria Fashion Verão 2015 nesta cidade, após 18 anos em Gramado. O evento, que durou de 15 a 17 de julho, foi um sucesso, e a feira de negócios da indústria de confecções nacional e internacional acabou movimentando toda a Serra Gaúcha com compradores e jornalistas se dividindo entre a própria cidade-sede e Caxias do Sul para se hospedar, a fim de conferir os lançamentos para a estação mais quente do ano. Bento Gonçalves é conhecida como a capital brasileira do vinho – a região responde por 80% da fabricação nacional – e também abriga eventos internacionais do setor moveleiro, que representa 33% da produção nacional.

Em uma área de 322.566 metros quadrados cerca de 1 mil marcas e clientes de toda a América do Sul negociaram em torno de R$ 300 milhões para o setor da moda. E, além daquelas novidades que vão comparecer nas vitrines das multimarcas e lojas de departamentos de todo o Brasil, o evento ainda apresentou um desfile de tendências com um casting integrado por Paulo Zulu, Luciano Szafir, Julie Cardoso e Felipe Titto, convocado pelas marcas como Pacific Blue, Lofty, Sawary, Caedu, Puccini, NRK Jeans e Nicoboco que, se não são necessariamente conhecidas do público fashionista que frequenta as semanas de moda do Rio e São Paulo, são aquelas que fazem as engrenagens da moda girarem para valer, movimentando o mercado e fazendo dinheiro. Grifes como a Gangster, power brand de jeanswear com extensa linha de produtos e espaço super bem produzido ou empresas com poder de bala para contratar celebridades para suas campanhas, como a Aishty, que escalou a belezura Fiorella Mattheis para estampar seus banners. Aliás, nesse quesito chamaram atenção Sabrina Sato, como a imagem do milagroso jeans da Sawary que emagrece, e o craque Neymar Jr fazendo as vezes da Rock & Soda Jeans. Aliás, ele até parecia triste (seria o resultado da Copa?) em um dos paineis que compunha a lateral do estande dese expositor, mas foi só dar uma circulada em volta do estande para essa impressão se desfazer. Claro, né? Sua imagem permaneceu intocada, apesar do fiasco da seleção na Copa, e ele deve ter faturado uma boa grana nessa publicidade.

Além de todo o burburinho, não é possível deixar de ressaltar também o poder dos expositores chineses. A China é o maior exportador do mundo, ultrapassando os Estados Unidos, e vários estandes repletos de ótimos produtos made in China estavam presentes na feira. Confira as fotos!

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Fotos: Henrique Fonseca

O dono da Feira – Julio Viana

Incansável, Julio Viana é daqueles que tem em mente a tácita questão da descentralização do comércio de moda do eixo Rio-São Paulo. “Os holofotes da moda hoje, no país, são plurais e a gente vem batendo na tecla que, cada vez mais, outras regiões do país têm mostrado a sua força na moda. Fortaleza, Goiânia e o próprio Rio Grande do Sul estão mostrando seu poderio”, diz o empresário, enxergando longe. Ele acrescenta que o Brasil ainda é campeão na fabricação de jeans. “Na Fenin dedicamos um espaço só para o jeans. Nós conseguimos fazer o melhor produto com lavagens em variações mil que agradam a gregos e troianos”, afirma. Julio foi corajoso e realizou em pleno período da Copa do Mundo a Fenin Verão São Paulo, que movimentou os corredores do Expo Center Norte entre os dias 14 e 16 de junho, praticamente junto com o início da confraternização esportiva. “A moda não pode parar. E nós sabemos disso e colocamos em prática o nosso calendário adequado ao setor. A roda da vida tinha de seguir independente dos jogos que estavam sendo realizados no nosso país”. Palmas, Julio!

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Fotos: Henrique Fonseca

HT circulou pelos corredores do enorme pavilhão do Fundaparque para conferir aquela moda que realmente vai ser consumida, tentando, como uma antena parabólica, captar as tendências desse estilo de verdade, sem firulas. E, como o negócio é vender, alguns estandes capricharam na produção, investindo no merchandising visual e apimentando sua participação com desfiles individuais. É o caso da Queens, sediada em São Paulo, mas que produz mercadoria de primeira na China, fornecendo para multimarcas e lojas de departamentos em todos o Brasil, como a Leader, do Rio. “Apostamos muito em materiais tecnológicos, como esse neoprene fininho, com toque super especial, e em modelagens modernas com inspiração esportiva, recortes e jogos de cores, originários long johns dos surfistas, mas agora aplicados ao prêt a porter feminino. E, nas estampas, além do animal prints, não dá para fugir dos florais de fundo escuro, um must have”, declara Vitor Fujiwara, o proprietário.

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Fotos: Henrique Fonseca

Entre as principais apostas, o eterno animal print compareceu nas coleções de muitos expositores, já que parece não sair de moda nunca. Além da cobra – um must! -, a onça foi quase unanimidade, marcando presença tanto in natura quanto em coloridos improváveis, além de uma diversidade de escalas. Prova de que, após um inverno murcho e prejudicado pela Copa, a palavra de ordem agora é aquecer a primavera na garra. Marcas como a Mochine e Malharia Nacional investiram em linhas inteiras nessa pegada.

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Fotos: Henrique Fonseca

E, mais até mesmo do que em outras edições de verão, as estampas florais deram as cartas, misturando-se a outras de folhagens, que ainda insistem em dar o ar de sua graça. A Lofty apresentou vitrines inteiras nesse tema. Isabel Cesare, da Feito Flor, de Porto Alegre, é outra que faz parte desse coro romântico: “Na edição de inverno, investi em uma linha de camisetas com prints digitais de landscapes do Brasil que foi um sucesso. Uma forma de ir de encontro à Copa do Mundo, fugindo do óbvio produto verde-amarelo. Vendeu super bem, tanto que até a Prefeitura de Curitiba fechou dois modelos com paisagens da cidade. Agora, aproveitei essa levada da estampa digital e desenvolvi esses florais exclusivos que estão saindo bastante bem aqui na feira, inclusive na minha linha de bodies”,  explicava ela, enquanto atendia um grupo de blogueiras locais encantadas com os modelitos.

Gabriela Franck, uma das três sócias da Hy Brasil, de moda praia, e da Bem Amada, composta por várias linhas, explica que a feira correspondeu às expectativas: “Percebemos que o que está funcionando para a gente aqui é ter diversidade de produtos individualizados, tanto na nossa marca de beachwear que acabamos de lançar, quanto nas nossas outras linhas. Por exemplo, as sandálias rasteiras decoradas com flores estão tendo aceitação tão boa quanto os biquínis, bodies e maiôs com detalhes vazados ou alças de tressê em couro ecológico. A mesmas coisa está acontecendo com as bolsas franjadas. Nem é uma novidade da estação, mas continua no auge, e os clientes estão procurando produtos de moda, abrindo mão do feijão com arroz”.

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Fotos: Henrique Fonseca

Outro segmento que mostrou sua força na Fenin foi o masculino, que já havia crescido nas últimas edições. Mas quem chamou muita atenção foi o recém-criado Espaço Interjeans Fashion, com grifes de âmbito nacional e global, entre elas Polo Ralph Lauren, Lacoste, Desigual, DKNY, Triton, Converse Moda, TNGVide Bula, Tommy Hilfiger, Levi’s e FC Barcelona. Apesar de estandes simples, sem muito investimento no visual, o nível das coleções difusion era ótimo e deu o que falar. Nem é preciso dizer que a torcida é para que este segmento cresça na próxima edição, se estruture mais ainda e venha a abrilhantar o desfile do evento, ainda tímido, mas com potencial.

E, considerando que a Fenin apresenta um importante panorama daquilo que deverá pegar no varejo nacional (e nas ruas), tudo indica que o caminho para os fashions shows neste evento seja, ao invés de desfiles individuais, um grande show de tendências, pleno de propostas da estação, didático e que, mais que inspiracional, sirva de orientação para os compradores usufruirem da informação qualificada de estilo, otimizando assim suas compras nesta importante iniciativa da moda nacional. Confira abaixo as fotos.

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Fotos: Henrique Fonseca

No mais, uma grata surpresa a exposição de looks criados por alunos do Curso de Design em Tecnologia de Moda da Universidade de Caxias do Sul (UCS),  revelando que a região é uma interessante incubadora de novos talentos. Veja abaixo!

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Fotos: Henrique Fonseca