A febre do “Sigo de Volta” no Instagram: de quantos seguidores você precisa para ser feliz?


A busca desenfreada por seguidores no Insta acabou gerando um grande palco para reflexão sobre quem somos, onde vivemos e do que nos alimentamos na grande rede mundial. E a conclusão, como se percebe, não é nada boa.

* Por Junior de Paula

De quantos likes e quantos seguidores você precisa para ser feliz? A se levar em consideração a avidez, insistência e desespero dos usuários do Instagram nos comentários de alguns perfis bem famosos, a resposta seria: muitos, infinitos. Para se certificar, é só uma rápida passagem pelas fotos publicadas por nomes como Ivete SangaloPreta GilSabrina Sato e Bruna Marquezine, só para citar algumas das que já ultrapassaram um milhão de seguidores, para  perceber que o terreno dos comentários deixou de ter qualquer vestígio da utilidade inicial, que é a de promover discussões, debates ou, por que não, massagens no ego dos autores das imagens, para se transformar em um grande mercado de comercialização de carência.

É um sem número de gente usando likes, seguidores e coisas que o valham como moeda de troca, que beira o constrangimento. Para onde se olha, só se lê “Me segue que sigo de volta”, “ quem curtir minha foto ganha 10 likes” e assim por diante.  Vivemos, é fato, em uma sociedade cada vez mais egocêntrica, onde o ver e ser visto nunca fez tanto sentido e foi tão desejado. Culpa, em muito, das redes sociais que potencializaram o tão procurado momento de fama, nem que sejam só os 15 minutos citados por Andy Warhol, que fazem com que as pessoas só se sintam pertencentes ao universo quando inseridas de forma efetiva nos grandes círculos que rondam a internet.

Daí, as pessoas acreditam que precisam de seguidores, nem que sejam só estes criados patologicamente em laboratório, para poder dar sentido à sua existência. Por conta disso, da maluquice geral e irrestrita e também para tentar diminuir o esvaziamento da função das redes sociais, algumas das celebs cansadas da avalanche de SDV e Troco Likes resolveram reagir de forma mais efetiva, depois uma tentativa mais tímida que começou ainda no fim do ano passado, liderada por Marcos MionNeymar e Fernanda Paes Leme. Preta Gil, recentemente, foi uma das mais incisivas e, com razão, ameaçou bloquear todo mundo que continuasse com isso. “Esse espaço é para amigos, admiradores e até mesmo curiosos. Não aguento mais entrar nos meus comentários e não conseguir ler mais o que me escrevem, já que os mesmos estão contaminados. O que me interessa não é quantidade, mas sim qualidade”, disse Preta, que viu seu clamor ganhar eco em outro perfil, o de Bruna Marquezine, na semana passada.

A atriz não só resolveu abordar o tema em sua conta, como também compilou manifestações contrárias aos malucos do SDV, como Manu Gavassi, e propôs a criação de um perfil só para este fim. “Galera do SDV, troco likes, curto a ultima foto, troco elogios, e derivados… Chega! Está muito chato, né?! É vergonhoso e fútil ! Fiquem felizes que seus amigos e as pessoas importantes para você já te seguem… Essas sim estão interessadas em acompanhar sua vida, ver o que você gosta e tudo o que tem pra postar! A @gabrielapugliesi (musa) teve uma ideia ótima! Por que um de vocês, desesperados por seguidores, não cria uma página no Instagram pra divulgar só essa galera? Ai vocês comentam todos lá, pedem seguidores, likes, elogios, tudo o que quiserem SÓ nessa página!”, comentou.

A turma, aliás, fez a tal página e Bruna, inclusive, divulgou. Em menos de quatro dias, o perfil @sdvetroqueliques já tem mais de 15 mil seguidores e uma atividade constante. Entre as hashtags mais usadas, tem umas que denunciam, e muito, a mentalidade de quem se preocupa com isso. Que tal #trocoelogios, #chamodelinda, #chamodetop e #retribuonamesmahora ? Se isso é o começo de uma conscientização de um manual de utilização dos comentários ainda é cedo pra dizer, mas, não há como negar, essa situação acabou gerando um grande palco para reflexão sobre quem somos, onde vivemos e do que nos alimentamos na grande rede mundial em que vivemos. E a conclusão, como se percebe, não é nada boa.

 

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A febre da busca de seguidores no Instagram: polêmica

 

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura.