Fashion Rio #day 2: em noite-gourmet que foi da feirinha ao refrigerante, marcas cariocas fazem bonito!


Em temporada de crise, grifes comerciais aguçam o paladar. Confira os desfiles da Oh, Boy!, Espaço Fashion, Maria Filó e Coca Cola Jeans neste segundo dia de evento!

* Por Alexandre Schnabl

A xepa gritou neste segundo dia da edição verão 2015 do Fashion Rio. Explica-se: em época de recessão global e na onda de captar a atenção dos vips, houve grife que apelasse para a feirinha no kit imprensa, distribuindo hortigranjeiros ao público. Ótima iniciativa, já que, em meio ao frenesi de cobertura da temporada de moda, o povo não tem tempo nem de comer, quanto mais fazer compras de supermercado. Marcas cariocas como Oh, Boy!, Espaço Fashion e Maria Filó provaram que existe espaço para um evento que engloba moda comercial, ainda que nem tudo que desfile vá parar nas lojas. E a jornada ainda fechou com o ótimo estilo da Coca Cola Jeans, uma marca que tem provado que tem muito mais a oferecer do que merchan de refrigerante.

E, em uma temporada de desfiles na qual a SPFW esteve despojada de arroubos cenográficos – enquanto as grifes que puseram os pés na passarela do Minas Trend exibiram o verão sob um único décor -, é um alento ver que, no Rio, mesmo com a crise, houve investimento neste quesito, com belas molduras visuais para as coleções. Confira!

A Oh, Boy! viajou para a América Central e pesquisou as vestimentas guatemaltecas para criar seu verão, chamado de latin lover. Uma fofura, bem melhor do que as duas últimas coleções, que ficaram no meio do caminho, se comparadas com a sua marca irmã, a Sacada, que infelizmente pulou esta temporada. Referências de ponchos e vestidos étnicos se desdobram em estampas ótimas, naquele repertório folk centro-americano, mas super atualizadas. Os prints de listras, pipas e mix de flores exóticas, por exemplo, aludem ao Festival de Barriletas, quando a Guatemala, ao invés de se vestir de luto, homenageia seus entes queridos que se foram no Dia do Todos os Santos. Isso fica evidente no colorido acesso da marca: pink, cobalto, vermelho, que contracenam com black jeans, preto e branco. E as borlas que decoram as bainhas das blusas, tops e vestidos, se não vão aparecer nas araras, são excelente recurso criativo, de design e de styling. A marca mandou bem, e os maxi brincos de Christopher Alexander, que já haviam comparecido em outro desfile da Oh, Boy! e também deram as caras nesta SPFW, causaram.

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

A Espaço Fashion repaginou sua identidade, fugindo um pouco daquele perfil que a consagrou comercialmente nas vitrines e, também, nas passarelas do Fashion Rio. Mas o resultado foi para melhor, revelando não apenas amadurecimento da equipe criativa, mas também uma vontade enorme de crescer, mais e mais. Mesmo com algumas ideias nem tão adaptáveis assim à realidade de varejo da marca, é louvável o desejo de nunca morrer na praia, seja no verão ou no inverno.  A grife escolheu as festas regionais do Norte ao Sul do Brasil, como o Carimbó, Folia de Reis, São João, Carnaval e Maracatu, como ponto de partida para sua moda urbana. As estampas de bandeirinhas – meio Volpi – e as mesmas em aplicação volumétrica nas costas de um top deram o que falar, de tão bonitas. Aliás, a marca apresentou ótimas misturas de prints na passarela em edição esperta de Daniel Ueda, um stylist de sensibilidade cada vez mais apurada, como convém a um descendente de orientais, habilidosos na hora de brincar com cores e mixes sem o pudor do Ocidente.

A cartela de cores, com turquesa, pink, menta, tangerina, cyan, salmão e cáqui é uma das mais bonitas da estação, junto com a da Lolitta, em São Paulo e as da GIG e da Vivaz, em Minas. E as open boots-plataformas completaram bem os looks.    

A marca aposta nos comprimentos midi da temporada – uma unanimidade, neste verão, digna de fazer Nelson Rodrigues saracotear no túmulo -, e brinca com volumes e assimetrias que já fazem parte do seu imaginário.

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

A Maria Filó fez parceria com o Hortifruti, distribuiu frutas para uma plateia-frutinha e, sobre uma passarela cenográfica confeccionada com com sarrafos de caixotes de feira, apresentou uma coleção colorida inspirada pelos mercados livres. Dentro da proposta de sofisticar sua imagem (inclusive a partir da absorção das Filhas de Gaia há algum tempo), a grife foge ligeiramente do seu público alvo, acostumado a buscar o conforto do dia a dia em suas araras com peças daquele jeito de “menina gostosinha de tricô”. Mas renovação de brand é assim, e esse tipo de risco, o de perder um tipo de cliente para amealhar outro, faz parte do show!

Formas assimétricas, vestidos com volumes fluidos nas saias e outros tomara que caia armados e listrados em vermelho-e-laranja saem da zona de conforto da marca e a inserem em um universo mais mulher. Mas quem disse que isso não é possível? Shortinhos e costas desnudas se encarregam de contrabalançar, assim como alguns brilhos e transparências, perfeitos para não assustar. A série em azul clarinho já se aproxima mais daquilo que a cliente espera, criando um contraponto, e é ótimo ver as peças em malha canelada areia, bem mais comercial do que o conjunto que foi apresentado na passarela. Há algum tempo não se via um aproveitamento tão bom dos tricôs canelados!

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Fotos: Vinícius Pereira

Mais uma vez, a Coca Cola Jeans afirma sua verve de lançadora de boa moda jovem. Retira-se toda a firula midiática, com globetes desfilando e chamando atenção dos paparazzi, sobra o estilo bem pensado, sem nenhum jeito de merchandising de bebida.  Dessa vez, a marca foi comedida até mesmo na efusão de estampas corridas que costuma caracterizá-la e somente um logo Coca Cola avulso, em um braço de um abrigo de verão, foi visto silkado, além de poucos prints corridos. Prova de que Thais Rossiter, a estilista, está empenhada mesmo nesse jihad em prol de uma coleção de verdade.

Nessa coleção, a ordem é por a garotada para saracotear. Com o mote “move”, a grife quer fazer todo mundo se mexer, sacudir o esqueleto e, de preferência, correr para o ponto de venda mais próximo para renovar o guardarroupa. É época de eventos esportivos, a Coca tem esse ar despretensiosamente urbano, meio skater, e, assim, os uniformes esportivos dão as cartas. Detalhes reflexivos das corridas de bike, plásticos e vinis, alguns grafismos e cores energéticas – como  vermelho, verde, coral, preto, branco, prata, amarelo vibrante e laranja (em sequência de looks que lembram a Fanta) – comparecem, reforçando o conceito, com alusão aos esportes de vela em degradês que simbolizam o por do sol. E, entre os objetos do desejo dessa temporada, os parkas femininos e masculinos seriam capazes de este editor seguir os passos do rabino Henry Sobel no famoso imbróglio das gravatas surrupiadas em Miami. Brincadeirinha.                         

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite