Em meio a muitas coleções do verão 2017 que estarão na passarela do Minas Trend, uma estilista promete causar com roupas de… inverno. É que Sonia Pinto, com seus 40 anos de carreira e feitos como a criação do Grupo Mineiro de Moda no currículo, foi convidada para o evento e optou por levar a coleção atual. “É a primeira vez, depois de 40 anos de trabalho, que eu participo de um evento desse porte, que inclui uma grande feira de negócois, apesar de ter feito eventos poderosos. Sou uma convidada especial do Minas Trend, fiquei superfeliz e bastante surpresa. Aceitei sob a condição de desfilar a coleção que eu tenho no momento, que é de outono-inverno. Tem muitos anos que eu trabalho dessa forma e não iria mudar de jeito nenhum. Eles aceitaram e eu resolvi participar e fazer o melhor que posso em resposta a essa confiança”, contou ela, que não gosta da “corrida contra o tempo” da moda. “Não acredito nesse trabalho de seis meses de antecedência antes de a roupa ir para a loja. É desgastante financeiramente e fisicamente, principalmente para quem tem indústria pequena. É hora de reconsiderarem, mudarem os calendários para se ajustar melhor ao varejo”, analisou.
Em tempo. O discurso de Sonia reitera o conceito “see now, buy now”, que tem ganhado força, pois ninguém mais quer esperar quatro meses para ter uma peça que viu na passarela. “Começou com a Burberry na Europa. Se um toma atitude o resto vai atrás. Por lá, a preocupação nem é só o dinheiro, mas de a roupa ficar queimada, de outras grifes copiarem. Eu faço várias coleções por ano e sinto como o mercado caminha. Não me empenho em fazer uma louca coleção, aquela correria. Atendo muito varejo e o consumidor final é o mesmo. Minha participação no Minas Trend é justamente para que mais pessoas conheçam meu trabalho”, disse ela, que acredita que o formato das semanas de moda vai, sim, mudar. “Tudo vai ser renovado, a vida é uma renovação constante. Não adianta baterem numa tese só e se garantirem nisso. O interesse do mercado muda. Não há estrutura para acompanhar o calendário, não somos Europa. As semanas de moda não vão acabar, elas vão ficar melhores, mais verdadeiras, experientes, atentas, não mais aquele folclore de fazer beleza para convidados e imprensa. É fazer trabalho concreto e sério”, apostou.
Sonia confessou que viver de moda no Brasil, atualmente, é muito complicado. “Estamos lutando em uma contramão gigantesca. A concorrência é muito grande, o dinheiro é escasso e a situação é meio assustadora. É um momento ruim. Não só na moda, todos os segmentos estão paralisados. Pra quem vive disso – como é meu caso – tem grandes apertos. Mas cada dia a gente se reinventa e tenta mais uma vez”, disse ela, que sabe: a crise econômica piorou a situação. “Eu vi vários amigos desistirem. Hoje, nossa matéria-prima é 100% importada, o parque industrial quebrou todo. Fui presenciando os fornecedores quebrando um a um, pessoas de 40, 50 anos de trabalho que não deram conta de continuar. Esse lado é cruel porque esse esforço foi por água abaixo. Além disso, a minha roupa fica mais cara, porque tudo depende de matéria-prima importada, eu uso malha italiana, crepes japoneses. Quando o dólar disparou foi um caos, porque nós não temos matéria-prima nacional. Hoje, a moda é um ou outro se debatendo. Estar nesse meio e fazer um trabalho que acredita e, sobretudo, que se viva dele, é um desafio enorme”, afirmou.
Apesar disso, fatos como a leva de estilistas mineiros e a criação de um evento de moda carioca estimulam a experiente profissional. “A moda mineira tem retomado bons tempos. Tem muita gente bacana no mercado e as pessoas trabalham com cuidado e zelo. O mineiro é caprichoso. Tem uma leva muito legal de bons estilistas que estão atuando. Esteve meio monótono, mas acho que agora melhora, tem muita gente se preparando bem”, elogiou ela, que também é otimista com a criação do Rio Moda Rio. “Acho maravilhoso! O Rio já foi um grande lançador. Na minha época, nos anos 80, era uma sensação, era espetacular. Acho sensacional que volte, que circule, que dê possibilidade para todos. Tomara mesmo”, disse.
Não é só o fato de as roupas que apresentará no Minas Trend chegarem logo no começo de abril às lojas que desperta atenção. Quando anunciado no line-up, o nome de Sonia Pinto logo gerou burburinho no meio fashion. E o que ela mais ouviu? “Eu fiquei feliz de causar rebuliço, espero que a curiosidade seja pelo que eu estou preparando. Tenho muitos amigos no meio que torcem, estão juntos, e ficaram muito felizes. É um debut, um recomeço, uma retomada, isso é assustador, mas estou fazendo meu melhor e espero que corresponda a expectativa. Cada um tem um olhar, um jeito de ver tudo, mas espero que seja positivo”, analisou ela, que adorou o tema “Essência” proposto. “A minha coleção também se chama ‘Essência’, batizei em homenagem ao Minas Trend, porque achei o tema lindo demais. É exatamente isso, a minha essência, a mulher que eu acredito. Foi o encaixe perfeito”, elogiou.
E o que veremos na passarela? “Gosto de fazer roupa para o show. Gosto da mulher extravagante, de ser única. Não sou nada da roupa corretinha, prefiro as especiais e que as pessoas que usam se sintam assim e tenham coragem de ser únicas. Hoje todo mundo quer ser igual. Antes, no meu tempo, os adolescentes se vestiam igual para serem aceitos e, agora, as mulheres também estão nessa. A minha clientela é a mulher bem resolvida que tem coragem de ser sofisticada, autêntica nas atitudes. É para essa mulher que eu faço a roupa. A moda é cada um que faz, de acordo com possibilidades. Estar de bem consigo mesmo, ter autocritica, se organizar para estar melhor, andar feliz com o que carrega, não fazer presença e graça, isso é moda”, defendeu ela, que lança pequenas coleções-cápsula ao longo do ano, perfeitas para que sua consumidora complemente, aos poucos, o guarda-roupas. “A minha roupa é sempre bem minimalista e eu estou feliz, porque ultimamente todos os lançamentos estão dentro do estilo que eu tenho feito. Gosto de peças soltas, com movimento, volume. É atemporal. Não sigo a risca as tendências, faço o que acredito, em função de valorizar o corpo. A minha roupa é andrógena, veste homem e mulher, porque alma não tem sexo. Agora estou fazendo uma pequena coleção masculina, porque tenho quatro filhos homens e não vejo roupas bacanas. É uma participação pequena, mas vai ser bacana para os homens que gostam de ser especiais. Tem audácia”, adiantou.
Enquanto não saem, ela se dedica a sua participação, em breve, no Minas Trend. “Espero que seja espetacular, essa é a intenção. Tem espaço para todo mundo e estou me dedicando a uma atuação bacana e bonita”, disse. Não temos dúvidas.
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