Desde que “Verdades Secretas” surgiu na nossa tela – com uma trama incrível, como aqui já analisamos -, trouxe com ela o submundo da moda (lê-se aqui trapaças, drogas, egos inflados e prostituição) e provocou um furor com a turma dessa cena. Entre modelos, estilistas, donos de agências, e mães de meninas que estão começando na carreira, todos ficaram apreensivos. Seja achando que a trama pesou a mão na abordagem de polêmicas, ou que estão manchando o cenário fashion e seus negócios, por exemplo. Pelo sim ou pelo não, HT, que é habitué das fashion weeks e de tudo que movimenta a indústria, interessado que só no assunto, já ouviu os modelos Raphael Sander, Alessandra Ambrósio e Yasmin Brunet, que estão na novela. E agora, resolvemos ir além: chamamos o estilista Dudu Bertholini para um papo, já que ele é consultor da novela, e o responsável por ajudar a dar toques preciosos de como inserir a trama no mundo da moda.
Direto de São Paulo, Dudu já começou deixando claro: trata-se de ficção. E, por isso, pode haver de um tudo em prol do conteúdo dramatúrgico. “A história da Fanny, personagem da Marieta Severo, por exemplo, é a exceção, não é regra. A gente tem que imaginar o pior cenário. Tudo que envolve ela é mais dramático. O que a gente não pode jamais fazer é generalizar. A moda é a quarta maior indústria do país e nós temos modelos brasileiras que abriram caminhos inacreditáveis lá fora. Elas jamais precisaram fazer book rosa para alcançar o sucesso que têm”, disse. E acrescentou: “O book rosa existe? Existe. Mas não é a regra”.
Dudu conta como foi a adaptação para as telas do texto do autor. “A gente recortou os depoimentos [de pessoas que conviveram com a questão do book rosa]. Tudo que foi levantado foi a favor da dramaturgia”, ressaltou. Já quando perguntado sobre o medo de alguns donos de agências de terem o filme queimado no mercado pela possível questão de prostituição em seus castings, Dudu tratou de esclarecer que a ideia “não é colocar lama” no trabalho de ninguém. “A ideia não é essa. É para se ter certeza que existem, sim, profissionais picaretas, mas também que há pessoas sérias no mercado”, explicou.
Aliás, os calabouços da moda não são feitos apenas de book rosa. Para ele, a fogueira de vaidades e os egos inflados também são tão ruins quanto. “É um mercado muito competitivo, e isso é algo que a gente sempre vai ver. Por isso, eu digo que, na moda, temos luzes e sombras. Porque também é um lugar em que se conhecesse pessoas incríveis. Em um desfile, por exemplo, há um trabalho árduo de maquiadores e stylists para um momento impactante de 15 minutos na passarela. Então, é natural que exista tensão nos relacionamentos humanos. Enfim, é como todos os mercados”, analisou.
Dudu, que recebeu convite do diretor Mauro Mendonça para integrar a equipe de “Verdades Secretas”, está trocando figurinhas com Ellen Milet, figurinista da TV Globo. E, além de dar opiniões foi o responsável por toda a parte fashion, digamos assim, das gravações. “A novela tem uma linguagem super única esteticamente falando. E essa consultoria vai se desenhando ao longo do trabalho. Eu faço toda a parte de moda. Dirijo os desfiles e os editoriais da trama. Eu também mapeei alguns lugares bacanas de São Paulo para a produção conhecer e fiz a aproximação com a São Paulo Fashion Week. Mais para frente teremos cenas do elenco gravadas na semana de moda”, adiantou. Sim, Dudu querido, nós presenciamos você a mil durante vários desfiles na recente edição da SPFW nos quais os personagens da trama estavam lá, ao nosso redor, na simbiose ficção com realidade.
Logo, por esses e por outros motivos, ele, além de ser ideal para esclarecer as polêmicas sobre a trama, pode analisar o cenário atual da moda brasileira. E é exatamente isso que fez a nosso pedido. Com a recessão econômica enfrentada, perdemos o Fashion Rio, algumas marcas cancelaram suas presenças em desfiles, e outras tantas cortaram gastos em publicidade, pessoal e renovação de coleções. Conclusão: vivemos um inverno rigoroso. E Dudu explica bem o porquê disso tudo. “A moda é um espelho do mundo. Ela é antropológica. Com ela você entende a sociedade. E a moda é e sempre foi e será um reflexo da economia. As pessoas estão com medo de gastar dinheiro. E essa indústria, bem ou mal, ainda é considerada erroneamente supérflua. E, por isso, com tanta demanda de roupa chegando às lojas todo dia, é difícil sustentar todo o consumo”, afirmou.
Perguntado por HT se a moda não se encontra ajoelhada perante a roda da economia, ele argumentou: “Não acho que o termo certo seja que a moda está ajoelhada. Ela sempre se adequou e se adequará ao momento. É só você comparar, por exemplo, os anos 40, com as guerras, e depois o consumo. Nos anos 80, por exemplo tivemos um consumo desenfreado. Por isso, acho que conclusão é que a moda é um reflexo da economia”, opinou.
O Fashion Rio, que morremos de saudade, é um bom exemplo. Dudu, assim como a gente, sorri ao imaginar a volta da semana de moda da urbe-maravilha. A possibilidade, como aqui informamos com exclusividade, é grande. Oskar Metsavaht, coordenador do Fórum Empresarial de Moda da Firjan, órgão responsável por reformular o evento de moda carioca, nos disse que o evento voltará completamente reformulado na primeira semana de setembro. Na opinião de Dudu Bertholini seria uma boa nova nesses tempos difíceis.
“O Rio é uma cidade incrível. Eu vejo várias possibilidades como, por exemplo, o verão ser no Rio e o inverno em São Paulo. Mas, ainda assim, o Rio merece ter uma semana de moda. A cidade é muito importante, e é maravilhoso fazer uma semana no Píer, com toda aquela turma carioca”, disse ele, que também sugere mais união. “Se o mercado se unir em uma semana de moda, nós poderemos sair fortalecidos em questões de patrocínio e visibilidade”, comentou.
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