Exclusivo! Antes de riscar a passarela do Minas Trend, Lino Villaventura declara: “As pessoas gostam do meu desfile porque tem emoção”


O estilista dono das apresentações mais disputadas do evento mineiro não gosta de “vai-e-volta de modelos” e confessa: a crise atrapalhou muito a indústria fashion. “O momento não é fácil. As coisas são desencorajadoras, mas fazemos moda porque somos corajosos, responsáveis e quem gosta da marca merece isso”, afirmou

Um dos estilistas brasileiros mais respeitados, fama internacional e mente criativa por trás dos desfiles mais disputados das semanas de moda país afora. Nada disso deslumbra Lino Villaventura: “As pessoas ficam curiosas com o que o doido vai fazer”, chegou a brincar. Diretor criativo da marca que leva o seu nome, Lino está com a corda toda: prestes a apresentar sua coleção de Verão 2017 no Minas Trend, dia 6 de abril, e, logo em seguida, na São Paulo Fashion Week. Em um bate-papo exclusivo, ele adiantou o que vai mostrar na passarela, nos falou sobre os boatos de que teria vendido sua grife, analisou o novo formato dos desfiles, com peças que vão direto para as lojas, e comemorou a chegada de uma semana de moda no Rio de Janeiro. A crise econômica, claro, não ficou de fora da conversa. “Fazemos moda porque somos corajosos, responsáveis. E quem gosta da nossa marca merece. Mas é difícil viver em um país onde não vemos ninguém se mexendo por uma solução”, criticou. Como se vê: a personalidade forte não fica restrita à passarela e aos desfiles conceituais. Com vocês, Lino Villaventura.

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HT: Todo mundo já sabe que Lino Villaventura não é, nem de longe, sinônimo de básico. Você gosta de inovar e nós ficamos curiosos sempre. O que pode adiantar da coleção e do desfile no Minas Trend?
Lino Villaventura: Ano passado, fizemos um desfile mais suave e acabou sendo quase que uma pré-homenagem ao David Bowie. A coleção é de uma marca de roupa mais comercial, fácil de usar. Gosto de criar peças que seduzem no desfile, que o público já sabe como usar, onde usar. Porque tem vezes que você acha a roupa linda na passarela, mas pensa que não cabe em você, na sua rotina. O Minas Trend tem um foco de a roupa ser linda, diferente, mas que caiba nos corpos. Se sentir dentro da roupa é bem legal. Fiquei muito contente com o convite, porque gostei muito do resultado da edição passada. O evento é muito bem organizado, familiar, descontraído. O Minas Trend é para provocar não só novos conceitos, mas novos negócios. Isso é incrível. Sobre a coleção: tudo na minha vida é incógnita, gosto de fazer na intuição, só dá para saber definitivamente quando sai. Claro que tudo é pensado, mas o todo é só quando sai, então espere e verás.

HT: O que você acha do tema Essência do Minas Trend?
LV: Essência é de cada um, de identidade, do prazer, de criar. Isso faz parte da vivência, da experiência, da vida. Tudo é muito essencial. Fazer um trabalho de essência pode ter o que quiser e isso já é parte do meu trabalho normalmente. É o DNA da marca. É muito forte o conceito do que se faz, do que se mostra. A personalidade nunca morre.

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(Foto: Divulgação)

HT: Como estilista consagrado, queria saber a sua opinião sobre o “see now, buy now” que tem revolucionado o mercado fashion. Ninguém mais quer esperar quatro meses para ter algo que viu na passarela… Acha que isso talvez represente um fim das semanas de moda – pelo menos como conhecemos?
LV: Sempre fui assim. Eu sempre terminei a coleção e coloquei à venda. Nunca disponibilizo por inteiro, porque acho bacana ir mostrando as novidades aos poucos. Mas se faço em uma semana, na outra já está na loja. Faz muito mais sentido: a pessoa vai para o desfile, ama a roupa, sai com vontade. Então, vem pela frente dois, três, quatro meses… Quando chega na loja, tem que reconquistar o consumidor. Isso não faz sentido para mim. Sempre coloquei praticamente dois dias depois à venda. Acho que isso é inteligente. É maravilhoso ir a uma apresentação, depois à loja e comprar aquilo que você se apaixonou. Cada vez faço mais isso. Nunca me prendi muito nessas coisas de lançar e só depois ir para as lojas. Não acho que representa um fim de semana de moda. O desfile não é só mostrar a roupa, mas todo o conceito por trás. A trilha de acordo, a maquiagem, as modelos. Quando finaliza tudo e os elementos se juntam, o desenho da roupa muda, tudo fica mais forte. Os efeitos cênicos servem para transformar um produto em fotografia de moda. Mostrar conceito, história e ideia é essencial. O desfile funciona para isso. Tanto que, quando você vê a roupa na passarela, ela é exuberante, diferente, mas na loja nem é tanto. É super usável. Porque aí ela está na realidade. Gosto de desfiles exóticos, esse vai-e-volta de modelo na passarela é muito chato.

HT: Falando nisso, o seu desfile é um dos mais disputados do Minas Trend. Por que isso acontece?
LV: As pessoas ficam curiosas com o que o doido vai fazer, mas hoje estou comportado. Eu fazia mais delírio, mas os tempos agora são outros. Temos que buscar incentivo e emoção para desenvolver as coisas bacanas que queremos. É um período complicado, mas temos que trabalhar bem, com responsabilidade e honestidade. Faço isso. O momento não é fácil. A situação é desencorajadora, mas temos que seguir em frente. As pessoas gostam do meu desfile porque tem emoção. A minha roupa tem muita emoção envolvid,a porque é a minha personalidade, é verdadeiro. Tem identidade própria.

HT: Depois você vai direto para a SPFW. Como é essa dobradinha, Lino? Como fica sua rotina?
LV: É correr para complementar, porque tem que ter peças diferente. Não podem ser desfiles iguais. No Minas Trend aposto muito na exuberância. As mineiras querem ver. Depois, sigo para São Paulo. Essa época é uma loucura boa.

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(Foto: Reprodução/FFW)

HT: O que achou da chegada de uma semana de moda no Rio de Janeiro novamente?
LV: Acho incrível, bacana. O Rio precisa disso. É uma forma de resgate da personalidade carioca na moda que se perdeu há um tempo. A cidade não é só moda praia. Tenho clientes que merecem uma semana de moda no Rio. Fiz um desfile há muitos anos no Rio e levei esse mesmo desfile para a SPFW, e foi tão diferente! Apesar de ter os mesmos looks, tudo muda. Cada lugar é diferente, mesmo com o mesmo trabalho. O Rio precisa desse resgate. Pelo que eu soube, vai ser algo muito diferente das semanas de moda do Brasil e isso é legal e saudável. Não é disputa. É outra história.

HT: A crise econômica afetou a moda?
LV: Completamente. Não há quem não tenha sido afetado. O maior problema do pais é o não reconhecimento de que existe algo grave. O governo atual não reconhece. Em qualquer lugar do mundo, Estados Unidos, Alemanha, que o governo tivesse levado o país a uma crise dessas, com patrocinadores caindo, fornecedores fechando por falta de apoio, etc, seria muito complicado. Fazemos moda porque somos corajosos, responsáveis e quem gosta da marca merece isso. É difícil viver em um país onde não vemos ninguém se mexendo por uma solução. Há uma tentativa, mas parece que tem gente que não quer sair do poço. Vivemos uma beira de falência.

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HT: Por algum motivo surgiu um boato que dizia que você vendeu a grife. Ninguém melhor para me contar sobre. O que houve?
LV: Isso foi ano passado, mas nunca disse tal frase. Tenho amigos e incentivadores sempre do meu trabalho, como o Minas Trend, por exemplo. Essa história de venda é puro boato. Se eu vendesse, não estaria nem mais aqui. Estaria em uma praia no Caribe.