Esquenta para a Casa de Criadores: entre índios, make, Ísis Valverde e devaneio das tops, HT apresenta ensaio feito no backstage da SPFW


Da guerra para fotografar uma celebrity à piração da sombra conceitual na maquiagem, a moda vai muito além daquilo que é exibido na passarela. Confira esse retrato da arte que reside por trás do mero estilo!

Como no círculo da vida, as engrenagens da moda não param jamais. Depois de uma semana de Minas Trend e outra de São Paulo Fashion Week, o planetinha fashion parece querer dar tréguas mas, antes que se pense em descanso, após esse feriado de Tiradentes (21/4), André Hidalgo e sua Casa de Criadores já comparecem completamente revigorados, plenos de novidades para o próximo verão de gente fina, elegante e sincera – como diria o poeta  Cazuza, mas sobretudo criativa! – de novos talentos (alguns nem tão recentes assim), tipo Felipe Fanaia, Igor Dadona, Karin Feller, Weider Silveiro e Rober Dognani. Fabia Bercsek volta a dar as caras. Que bom! E alguns, como Jadson Raniere, Danilo Costa e Arnaldo Ventura, preferiram nessa temporada investir em um vídeo que será exibido no evento. E outros, como as meninas da Gralias, apostam em um happening. E, enquanto o evento não começa, HT oferece como acepipe um ensaio exclusivo feito nos bastidores da SPFW, só para lembrar que aquilo que se vê nos fugazes minutos de um desfile numa passarela é fruto de muito trabalho e que o backstage, por si só já rende um estudo antropológico. Prato cheio para um dia de feriado (21/4), quando a cultura pode ser exalada pelos poros…

Para os detratores que acham que moda é firula, o camarim da Cavalera é a prova de que semana de moda pode dar o que falar muito além de roupa e make up. Verdadeiro estudo antropológico. Literalmente. Também pudera, em suas andanças pelo mundo, Alberto Hiar e sua equipe levam ao pé da letra a cartilha do multiculturalismo, indo do universo muçulmano aos meandros da atitude street, trazendo para o estilo outras expressões tão ricas quanto a pintura corporal da tribo Mutum, dos Yawanawás, do Acre, fonte de inspiração da nova coleção e que promoveram um ritual de purificação esperto na tenda, antes de dar cabo dele ao vivo na taba, na frente de fashionistas atônitos.

Quem estava na plateia, inebriado com as ervas queimadas na fogueira exalando um aroma que se assemelhava a orégano, entrou no barato indígena, mas não pode se dar conta de quanto a verdadeira viagem que pode ser contrastar a pintural corporal dos 21 integrantes da etnia com a maquiagem esperta das modelos, a cargo do xamânico Robert Estevão. E é ele quem dá a verve daquilo que pode ser um backstage de um desfile de moda: “Faço make há muito tempo, cada experiência é única. E, em cada edição do evento, surge uma vivência que vai marcar a vida de um profissional com anos de estrada. Loucura ver esse povo se pintando com suas técnicas que, de primitivo nada têm”.

Alheia a tudo e a todos a loura Yasmin Brunet – alçada do posto de modelo filha de ícone a estrela de “Verdades secretas”, e presente nesse fashion show – parece quase incorporar algum Hans Staden pronto para saborear as delícias de cruzamento de culturas. Felizmente, a mocinha não corre risco de virar refém dos tupinambás…

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A maquiagem, aliás, é uma espécie de ponte entre aquilo que os corpos exibem nos desfiles e a leitura mais sincera da arte que pode conter entre os sete a quinze minutos de um desfile. Sim, óbvio que, por trás de todo make, existe uma infinidade de produtos prontos para serem degustados, consumidos, avaliados, testados, assimilados e deglutidos pelos reles mortais, e não é à toa que a indústria cosmética disputa a tapa a inclusão dos itens de seus portfolios na maletinha dos make up artists que participam dessa aventura da moda.

Mas essa parte também pode ser considerada puro caráter lúdico, pois além da função de emoldurar a roupa e completar o visual, o processo de embelezamento encerra hábitos da infância que podem ser trazidos para a maturidade, tanto pelas princesas que  irão desfilar, quando pelos artistas que vão embonecá-las.

Tops que nessa edição tiveram participação mais fugaz, como as louras douradas Renata Kuerten (Mega) e Natália Zambiasi (da Joy, top que desfilou com exclusividade para a Triya, antes de meter o pé e voltar correndo para Nova York, tipo bate-e-volta), dão a tônica. Enquanto a primeira diz: “O chato de virar famosa e ficar carinha (de cachê) é que a gente desfila um pouco menos porque, em tempos de crise, nem toda marca tem verba para pagar nosso valor. É tão bom esse friozinho na barriga que sempre vem, sem nunca se acomodar, a cada show…”

Já Zambiasi – eterna “Zambicrazy” para esse repórter que ama as duas de paixão –, fala, com simplicidade de menina, do trabalho dos maquiadores e cabeleireiros: “Eles continuam brincando de boneca, só que ao invés do exemplar de plástico e polipropileno, nós somos as Barbies Malibus vivas da sua existência profissa. Tipo cenógrafo ou decorador, que se diverte de casinha na vida real”. Faz sentido…  Podemos esperar loucuras nesse campo na Casa de Criadores que está para começar? Veremos!

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Mas camarim também é pura trincheira, guerrilha do tipo que não é combatida com baionetas, fuzis, drones ou mísseis teleguiados, mas com a lábia. Enquanto os modelos rapazes e moças, do lado de fora do camarim, esperam sua hora de entrar para se preparar para o próximo desfile, lá dentro, nos espaços de Gloria Coelho e Adriana Degreas, outras batalhas são travadas. No da primeira, hordas de repórteres de celebridades e paparazzi se acotovelam para arrancar da globete Ísis Valverde – estrela-mór do desfile da estilista – palavras que farão a manchete do post no site de famosos ou da revista.

E os fotógrafos também disputam centímetro a centímetro para ver quem consegue a melhor equação recuo de lente versus ângulo, a fim  de garantir o melhor clique do dia. Perto disso, duelos em filme de bangue-bangue parecem musical adocicado da dupla Claudio Botelho & Charles Möeller no teatro.

Ao lado, no backstage de Adriana Degreas, outra guerra corre solta. No caso, uma interior, daquelas que se passam dentro de cabeças pensantes: o maquiador Henrique Martins bolou um olho diferente para a maquiagem da modelos, cujo teste já havia sido feito dias antes e o cliente aprovado. Algo peculiar, conceitual, que arremate com chave de ouro o visual do tema do desfile, barbatanas de tubarão. Delicinha absoluta para a turma que cobre a maratona de fashion shows e se enfastia com a repetição da beleza, como se comesse todo dia o mesmo arroz com feijão no prato feito da esquina. Fato que acontece para dar o devido tempo de as mesmas modelos poderem correr de uma marca para outra e serem onipresença em todos as apresentações. Afinal, time que está ganhando não se mexe e, salvo algumas exceções, nenhuma grife quer abrir mão das tops que fazem sucesso.

Mas Henrique pensou numa coisa especial para a marca: uma sombra gráfica, amalucada, que dialoga com as pirações conceituais que saíram da cabeça de Adriana. Quase visual de história em quadrinhos de X-Men. Teste feito e aprovado, equipe treinada e já em ação, agora é a hora agá. Será que vai dar certo mesmo essa elucubração toda? Bom, o resultado algumas horas depois na catwalk prova que sim!

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