É muito interessante quando um nicho de mercado une a racionalidade necessária para se fazer negócios à emoção, essa capacidade de sentir que nos torna únicos e faz de nós humanos. Pois o mercado da beleza não poderia dar um exemplo melhor desse mix: aumentar a autoestima é, no final das contas, o objetivo principal do consumidor – e, muitas vezes, salva uma vida. Observando também o prisma do business, vender produtos de beleza é sinônimo de sucesso. Foi esse mélange que constatei ao conferir a décima edição da Hair Brasília and Beauty, realizada na capital federal, e que deu um exemplo prático da potência e da pujança deste setor no Brasil. E também mostrou que há muita emoção envolvida.
Em apenas três dias movimentadíssimos no anel externo do Estádio Nacional Mané Garrincha, o maior evento de Beleza do Centro-Oeste contou com 67 mil participantes, arrecadou quase 40 toneladas de alimentos (distribuídas por 43 instituições do Distrito Federal) e apresentou mais de 400 marcas de cosméticos nacionais e internacionais. Sem falar que ganhou 12 mil metros quadrados a mais em área de exposição, dobrando de tamanho em relação às edições passadas.
Lendo sobre esses números acima, você pode querer um comparativo com a edição passada. Normal. Vamos lá: em 2018, a feira arrecadou 28 toneladas de alimentos não-perecíveis e teve 320 marcas expositoras, 44.794 participantes e 5.800 metros quadrados de área de exposição. É muita coisa, gente, especialmente sabendo que apenas um ano se passou. Um exemplo de força como pouquíssimos, seja aqui ou no exterior.
A organizadora do evento, Erika Lobo, que espera ter gerado R$ 32 milhões em negócios, comemorou o resultado e ressaltou a importância de um mercado forte para a geração de emprego e renda no DF. “São 365 dias pensados para realizar essa feira grandiosa. Queremos proporcionar, além da apresentação de produtos, boas possibilidades de novas técnicas e tecnologias aos profissionais da beleza, sem que tenham que sair de Brasília. Ficamos muito satisfeitos com a arrecadação de alimentos, também. São verdadeiras manifestações de amor ao próximo”, pontuou.
O mercado forte de que fala Erika vai bem, obrigada. Muito bem, aliás: segundo uma pesquisa recente, só as mulheres brasilienses gastam 40% a mais com beleza em comparação aos outros estados. O Distrito Federal tem uma população de três milhões de habitantes que, somada a do entorno, chega a 4,4 milhões. Para atender à demanda, há 15 mil estabelecimentos de beleza, que geram 60 mil empregos diretos.
Essa grandiosidade que tanto impressiona, especialmente em tempos de crescimento lento da economia, é acompanhada por todo o país. E as perspectivas são excelentes. De acordo com dados divulgados no começo de 2019 pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), nos últimos cinco anos o mercado de estética cresceu 567% no Brasil, passando de 72 mil para mais de 480 mil profissionais.
A associação prevê que o crescimento neste ano fique entre 1,5% e 2% em comparação a 2018, quando o setor movimentou incríveis R$ 47,5 bilhões. Uma conclusão interessante da pesquisa é que o mercado de beleza não é sazonal; ou seja, em qualquer estação do ano, seus resultados costumam ser ótimos. (Para se ter uma ideia da importância do mercado nacional, uma mulher brasileira gasta 11 vezes mais que uma inglesa em cosméticos anualmente).
E os homens têm contribuído muito com o crescimento vertiginoso desse mercado. A previsão é de que, em 2022 (daqui a três anos, dá para acreditar?), as vendas atinjam US$ 8.1 bilhões no país. Só para comparar, em 2017 esse mercado atingiu US$ 6,2 bilhões. O crescimento impressionante de 69,7% em cinco anos, aliás, deixou a média mundial, de 26%, a ver navios. Os dados são da plataforma de inteligência de marketing britânica Euromonitor. Em termos planetários, o mercado de beleza masculina nacional representa 13% do total de vendas (o país é o segundo colocado no ranking, atrás dos EUA, com 18%, e bem à frente da Alemanha, terceiro lugar com 6% das vendas globais).
A indústria de beleza como um todo – produtos e serviços para todos os gêneros – deverá movimentar US$ 429.8 bilhões em 2022 em termos globais. Alguns trilhões de reais…. Os dados são da Allied Market Research, empresa especializada em pesquisa de mercado.
De olho no futuro e focada no desenvolvimento e no aprimoramento, a décima edição da Hair Brasília and Beauty não podia deixar de apresentar aos empreendedores alternativas para oferecer serviços de qualidade aos clientes. “Proporcionamos, além da apresentação de produtos, boas possibilidades de técnicas e tecnologias aos profissionais da beleza”, ressaltou Erika Lobo. “A meta é transformar as formas de atendimento e a oferta de produtos aqui na capital. Nossa programação educacional atendeu de micropigmentadores e cabeleireiros a barbeiros, esteticistas e maquiadores”.
O público conheceu as tendências mais em voga de atendimento e teve contato com produtos e técnicas inéditas. Profissionais reconhecidos, como o hair stylist Marcos Antonio de Biaggi (responsável pelos cabelos de Grazi Massafera, Marina Ruy Barbosa e Sabrina Sato), as maquiadoras Letícia Pequeno e Nath Capelo (sucessos mega do Instagram) e a influencer Mari Maria (quase dez milhões de seguidores no Insta) prestigiaram a Hair Brasília and Beauty. Completíssima, a programação de oficinas, técnicas e dicas sobre serviços também incluiu aula sobre inovação e tecnologia em cosméticos, conversas sobre micropigmentação e cílios, palestra sobre Art Mix 3D e 4D, unhas de fibra realistas e técnicas de maquiagem, marketing e vendas.
Um dos momentos mais bonitos foi o Desfile Fashion Inclusivo, apoiado pela Hair Brasília and Beauty. Compareceram os secretários do Trabalho e do Desenvolvimento Econômico do DF, João Pedro e Ruy Coutinho, respectivamente; a primeira-dama do DF, Mayara Noronha, entre tantos outros nomes vindos de todas as cidades do Centro-Oeste. Valteni Souza, que está à frente da organização junto com Erika Lobo, falou sobre a importância do mercado de beleza para a capital do país: “Não estamos aqui simplesmente para um evento comercial, estamos aqui também para mostrar a importância do mercado da beleza para o Distrito Federal e para o Centro-Oeste”.
Idealizadora do projeto Fashion Inclusivo, Ângela Ferreira contou que o ele oferece treinamento para passarela a 70 modelos. Criado em Sobradinho em 2010, ele recebe desde crianças até idosos com qualquer tipo de deficiência ou doença rara. Ângela também revelou sua missão: “Nosso objetivo é acabar com o preconceito e proporcionar autoestima para nossos modelos”. É a emoção alavancando a indústria. É o sentimento indicando qual deve ser a ação concreta que vai, efetivamente, melhorar a vida de milhões de pessoas. A produção do desfile contou com a assinatura de Fernando Lackman.
Cabe aqui citar o Índice Batom, termo cunhado por Leonard Lauder, chairman da Estée Lauder no começo dos anos 2000, para dizer que, mesmo quando as mulheres não têm condição financeira para comprar um vestido ou acessórios caros, elas compram batons ou esmaltes de unha. Ou seja, nunca deixam de alimentar a autoestima. Foi o que se verificou, por exemplo, na Grande Depressão de 1929. E durante a recessão de 2008, entre outros exemplos ao longo da História.
É a mistura da emoção com a racionalidade que a indústria da beleza consegue equilibrar tão bem. No final das contas, vale também saber que, de acordo com Erika Lobo, 40 instituições, como creches para crianças carentes ou em situação de abandono, receberão a doação de alimento. E vamos em frente.
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