Intenso, colorido e alegre. Estes serão os acabamentos do couro que irão se destacar no Verão 2019. Isto foi o que vimos no Preview do Couro, projeto da Assintecal e do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), que trabalha com diversos curtumes brasileiros e adianta as principais inspirações do material com mais de um ano de antecedência. No Salão de Design e Inovação de Componentes, que rolou no começo desta semana, foram apresentadas as principais apostas para o Inverno 2018, que trabalhará o tema Leveza, e antecipada algumas inspirações para o Verão 2019, que terá a Resistência como conceito norteador. Entre os destaques para a estação mais quente, estavam os acabamentos do Preview do Couro, projeto da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos, coordenado por Marnei Carminatti, com a parceria do designer de desenvolvimento, Ramon Oliveira Soares.
Por lá, o que vimos foi um resgate ao mais natural e tradicional acabamento do couro. Para o Verão 2019, Marnei acredita que o material irá beber de sua fonte mais primária e terá, como diferencial, as cores intensas e alegres. “O Preview do Couro imagina a sua resistência pelo artesanal, que se mantem vivo em um contexto de modernidade e descartável. Nesse sentido, o conceito chave trata também de refugiados e rebeldia. E, para nós, essa revolta está associada a trazer de volta as características naturais do couro”, explicou o coordenador do projeto que acrescentou como esta naturalidade no tratamento do material será aplicada no produto final. “A gente trabalha principalmente com acabamentos serosos, que dão uma estrutura de batimento no couro, mas também com referências ligadas à cultura. Ou seja, quando olhamos para o Preview do Couro e pensamos a resistência pelo artesanal, usamos a palavra folclore como inspiração”, disse.
Por conta disso, as cores surgem neste ambiente como o diferencial da naturalidade do material. De acordo com Marnei Carminatti, o Preview do Couro apresentou dez tonalidades diferentes que garantem a alegria e a intensidade na moda do Verão 2019. “Dessa cartela, metade é muito intensa e colorida. A gente espera um Verão, principalmente na aplicação do couro, com um trabalho rico, ligado ao artesanal e a técnicas que valorizem o material pela sua natureza. A nossa ideia não é competir com outros tecidos e nem com os sintéticos. Com a nossa parceria cada vez mais forte com o CICB (Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil), a proposta é valorizar cada vez mais o couro pelo que ele é”, detalhou o coordenador do Preview do Couro que adiantou algumas dessas cores que irão se destacar na estação: vermelho, amarelo, rosa, verde e azul.
Outra característica que, embalada pelas propostas de Resistência e folclore, irá se destacar na temporada é o handmade no trabalho deste material. Como destacou Marnei Carminatti, o couro do Verão 2019 terá um acabamento muito manual, sem o uso de máquinas na maior parte do processo. “Cada pele propõe uma estrutura que pode ser repetida, mas nunca será parecida. E isso valoriza absurdamente cada produto. Afinal, estamos falando de uma matéria-prima que tem natureza viva e é transformada do que seria lixo após o consumo da carne. Então, durante muito tempo, o couro foi colocado como algo que necessitava de preço e qualidade. Porém, hoje nós não queremos isso. A gente quer valorizar as pequenas quantidades e as peles distintas, como pirarucu e salmão”, disse sobre a importância desta valorização do handmade.
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No entanto, este trabalho delicado e manual em cima do couro não é uma tarefa tão simples e prática, como apontou o coordenador do projeto da Assintecal. No Brasil, Marnei contou que os curtumes não possuem um tratamento similar ao da Europa, que garante à pele animal uma uniformidade e qualidade. “Enquanto na Europa os produtores já têm consciência de como criar o material, e isso reflete no trabalho do curtume, no Brasil ainda não temos essa referência. Aqui, a nossa matéria-prima tem uma classificação mais baixa e passa por uma série de acabamentos para se tornar um produto de moda. E essa é a nossa maior qualidade: transformar algo com classificação menor em um produto de extrema qualidade”, disse o consultor que destacou a importância e a tradição do nosso país no setor coureiro. “Nós temos o maior rebanho do mundo e, com isso, peles maravilhosas. O Brasil sempre exportou commodities e, com o Preview do Couro, a gente propõe a exportação de matéria-prima acabada, o que valoriza os artigos e os curtumes também. Então, a gente vai levar esse trabalho para o Japão, Nova York, Itália e França”, destacou sobre o projeto que foi pioneiro na internacionalização dentre as iniciativas do Inspiramais.
Para a manutenção e crescimento deste sucesso do Preview do Couro, Marnei Carminatti tem a função de indicar os caminhos e as melhores formas de traduzir as inspirações da estação no material. Para isso, o coordenador da iniciativa e consultor do Núcleo de Design da Assintecal acumula as experiências que tem durante as viagens pela Brasil e as incorpora nas novidades do Preview do Couro. “A gente vai juntando as inspirações que temos durante as viagens do Conexão e isso se traduz para o couro e para toda a cultura de construção de moda. Essa dinâmica é importante porque mostra a um curtume de 60 anos de história que a criação é fundamental para que ele sobreviva no meio da cadeia”, destacou.
Como aliado, Marnei Carminatti também tem o trabalho desempenhado pelo CICB entre as marcas de moda. Preocupado com o uso correto da nomenclatura couro, o centro especializado no material percorre diversas empresas explicando a diferença entre o material natural e o sintético. De acordo com o CICB e com a Lei do Couro, criada há 40 anos, não existe couro ecológico ou sustentável. Apenas pode receber esta nomenclatura aquele material que tem origem natural. Tudo o que for produzido em indústrias deve ser chamado de sintético.
“O CICB vem prestando um serviço muito importante para o comércio varejo e para os consumidores. Durante muito tempo, acreditou-se que usar a nomenclatura couro para materiais que têm o mesmo visual era certo. Mas não é o caso. Só é considerado couro aquilo que vem de uma matéria viva. Então, por muitos anos, o consumidor comprou gato por lebre até por falta de informação das empresas”, explicou Marnei que acrescentou que o objetivo deste trabalho educativo do CICB não é punir quem usa a nomenclatura couro de forma errada. “A gente não quer prejudicar quem não tinha conhecimento desta informação. Nós queremos apenas falar a verdade para o consumidor e informar quando aquele material é sintético e quando é natural, de origem animal”, completou o coordenador do Preview do Couro, Marnei Carminatti.
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