Hoje é dia de novo episódio da websérie “Enjoy”, na qual Regina Guerreiro, em parceria com a Cavalera, faz as mais incríveis e interessantes viagens no tempo e na cultura, resgatando casos antigos da história e mostrando como eles ecoam pela contemporaneidade. No vídeo liberado hoje e batizado “Por baixo do pano”, a jornalista e editora de moda conta como as mulheres sempre souberam usar truques do mundo fashion a favor da sensualidade, mesmo que, muitas vezes, elas tivessem que esconder o corpo por camadas e mais camadas de tecido.
Repleto de imagens de Beyoncé, Lana Del Rey, Elizabeth Taylor e Marilyn Monroe, o episódio começa com Regina falando sobre a Renascença e a invenção da lingerie: “Uma parafernalha de barbatanas, arames, enchimentos, preenchimentos. Tudo para que, no resumo da Ópera, o modelito caísse no chão e… bom, vocês sabem como as coisas acontecem”, brinca a apresentadora. A partir daí, ela aborda o tema do corselete – sua peça peça preferida -, a apropriação do mesmo pela cultura pop, principalmente através da parceria entre Jean Paul Gaultier e Madonna até culminar na folhinha de Eva e os milhares de sutiãs de cintas-liga, plumas, meias de seda e tudo o mais dos dias de hoje .
Como não poderia deixar ser é claro que Regina Guerreiro aproveita a chance para provocar os padrões vigentes, principalmente os silicones, academias, regimes e enchimentos de gel que turbinam as medidas femininas atualmente. A exigência do corpo esbelto para agradar os homens também não passa despercebida, sobre a qual ela diz: “Tadinhas das mulheres, viviam literalmente engaioladas! Nem sei como elas respiravam, como andavam e como se sentavam carregando todos esses apetrechos – por baixo do pano!”.
“Enjoy!” Temp. 2 Epi. 3: “Por baixo do pano”
Leia abaixo a nossa entrevista completa com Regina Guerreiro, na qual ela fala sobre a websérie, o atual estado da moda e muito mais:
HT: Qual a proposta inicial da websérie “Enjoy” e qual mensagem você deseja passar ao público?
RG: Acho que o papel da imprensa está requerendo algo mais atual e moderno, como uma plataforma online. Eu não faço mais jornalismo de moda. O meu intuito nessa série é ter uma conversa com as pessoas que não estão grudadinhas comigo no meu dia-adia. É sempre um bate-papo sobre os mais diversos assuntos. As pessoas me perguntam como eu escolho os assuntos, mas o santo desce e eu falo tudo na hora. Gosto de amarrar assuntos variados, como figurino com cinema, cozinha, arte e tudo. Não são vídeos delifestyle. É uma conversa com Regina Guerreiro, a qual acho que todos os jovens na moda adorariam ter.
HT: A sua carreira foi muito voltada para o impresso e o jornalismo escrito. Como está sendo a adaptação em frente às câmera?
RG: Eu estou adorando, viu? Não sabia que tinha um DNA de atriz e, na hora, o texto sai, sabe? Na realidade, eu escrevo o que vou falar, mas quando gravo sempre sai uma frase on e outra off, e assim vai.
HT: Como encara a atual situação da moda com a crise econômica que tem assolado o país?
RG: O que acontece é o seguinte: a crise não é só do Brasil, é do mundo. A economia está muito delicada, existe muito sangue e pouca água. É uma hora em que a moda se transforma em um sintoma das ruas: se as ruas estão pobres, a moda se encolhe e as pessoas usam roupas mais básicas.
O futuro da moda não está em grandes transformações: ela já foi decotada, fechada, curta, longa, de todos os jeitos. O grande lance, agora, é a preocupação com a textura e a matéria-prima. Aí está a modernidade da roupa: a anti-frio, a de calor etc. Como a moda está muito uniformizada, com calça e camiseta, e as diferenças não são tão explícitas, o jeito é mudar por dentro.
HT: O que acha do cancelamento do Fashion Rio e da concentração dos desfiles na São Paulo Fashion Week?
RG: Em nenhum país existe duas semanas de moda. Não tem, é uma só! Embora eu adorasse ir para o Rio e todo aquele programão, além de eu também amar o espírito da moda carioca, acho bacana unificar tudo. É um bem, não um mal.
HT: Como você avalia a parceria com a Cavalera e o pioneirismo de Alberto Hiar nos desfiles, chegando até a trazer índios do Acre nesta temporada (saiba mais aqui)?
RG: O Alberto é uma pessoa que gosta de sacudir. Gosta de espantar, de fazer o olhar das pessoas ir para um lugar novo. Acho que, para a nossa parceria, ele se baseou na seriedade do meu conteúdo e sou muito agradecida por isso. Ele viu em mim algo que ainda posso oferecer às pessoas.
HT: Falando em seriedade de conteúdo, como você vê a nova forma de as informações de moda chegarem ao público?
RG: Eu vejo com tristeza. Sei que pode parecer nostalgia, ou dar a impressão de “ela é de época”, ou até fazer as pessoas acharem que blogueira não dá certo. Não é isso. É que tudo se liquidificou, se esfumaçou. Hoje, todo mundo diz que acha isso e aquilo e, nesse achismo, as pessoas ficam sem direção. As revistas, hoje, querem cobrir tudo e isso mostra que elas não têm uma linha editorial, que é saber dizer ‘não’ ou dizer ‘sim’. As pessoas vão no embalo de ‘não sei quem vestiu não sei o quê’ e assim o visual da humanidade vai ficando pior ainda.
HT: O que você não gosta no visual contemporâneo da humanidade?
RG: A vulgaridade. Eu prefiro a pessoa com uma calça simples, bem cortada e de um bom material. Prefiro isso, simples e básico, à peruice internacional. O recado que a mulher perua passa é melancólico: não tem nada dentro, precisa mostrar o bundão e o decote. Mas essas coisas todas passam.
Artigos relacionados