Em editorial exclusivo no Royal Tulip, Luiza Brunet fala da carreira, Gisele, agressão, aborto e de sua vida como enredo de filme


Com uma trajetória que começou como empregada doméstica e cabeleireira no interior do Mato Grosso do Sul e resultou em um dos maiores nomes da moda nacional dos anos 1980, a modelo contou como se vê hoje, aos 55 anos, mergulhada no discurso da violência doméstica. “Eu me defino como uma mulher plena, super segura, feliz e me acho maravilhosa”

Que turbilhão! Luiza Brunet é uma mulher intensa e que carrega uma extensa lista de adjetivos. Mas um se destaca entre todos eles: plena. É assim que a eterna modelo se define, é assim que ficaram as fotos e é assim que ela escolheu viver seus dias. Aos 55 anos, ela tem a alegria de uma menina com a força de uma guerreira. Carrega em sua bagagem os sonhos e também a coragem que a transformaram em uma potência aos nossos olhos, do luxo à dor. Por muito mais que isso, Luiza Brunet é a estrela do novo editorial do site HT, fotografado no maravilhoso Royal Tulip São Conrado. Em fotos que exaltam a alegria do rosto da modelo que saiu de Itaporã, no interior do Mato Grosso do Sul, ela celebra a vida, as cores e as novas portas que abriu. O ensaio pleníssimo, como ela definiu, é do fotógrafo Vicente de Paulo, com beleza assinada pelo super Edilson Ferreira e styling de Herik Dumont. Venha se apaixonar por essa mulher!

Já são mais de 30 anos no cenário da moda brasileira. Representante do time de ouro da geração dos anos 1980, Luiza Brunet trilhou uma carreira que atravessou as passarelas. Com o tempo, mais do que campanhas, a modelo ganhou espaço nos negócios e, principalmente, no discurso feminista. Embaixadora do Instituto Avon, ela trabalha a violência doméstica e, desde o ano passado, quando tornou pública a agressão que sofreu do ex-marido, fala com propriedade do assunto. O enredo, que antes poderia parecer história de cinema, de fato ganhará as telonas em breve. A partir da biografia literária lançada pela modelo há quatro anos, a vida de Luiza Brunet será contada agora em filme e no decorrer dessa matéria.

Vestido Karine Fouvry Paris | Sandália Arezzo | Joias Tereza Xavier (Foto: Vicente de Paulo)

Vestido Karine Fouvry Paris | Sandália Arezzo | Joias Tereza Xavier (Foto: Vicente de Paulo)

Luiza no cinema

Animada com a novidade, Luiza Brunet contou que seu longa já está bem adiantado. Segundo ela, a proposta para o cinema partiu de uma produtora de São Paulo que se interessou no que a menina de Itaporã contava em sua biografia. “Em 2013, eu lancei meu livro com a minha história. É uma obra que conta a minha trajetória, desde quando eu comecei no Mato Grosso até os meus 50 anos. Agora, eu recebi a proposta de tornar esse livro um filme biográfico”, explicou.

Para o papel principal, a modelo contou que já trabalha com três nomes de peso. Ao HT, Luiza revelou que adoraria ver sua vida contada na pele de Bruna Marquezine, Anitta ou Isis Valverde. “Eu acho que são mulheres com personalidade forte e, por isso, conseguiriam levar bem a minha história para as pessoas”, explicou sobre as candidatas ao papel. Além de estar decidindo sobre o elenco, Luiza Brunet contou que também está escolhendo o diretor que vai comandar a película, que já foi até assinada.

Vestido Karine Fouvry Paris | Sandália Arezzo | Joias Tereza Xavier (Foto: Vicente de Paulo)

Assim, em breve, teremos no cinema a história da modelo dos anos 1980 que viveu diferentes curvas em sua vida e que hoje é a voz feminina do discurso sobre a violência doméstica. Sobre esta experiência na telona, Luiza Brunet acredita que o enredo terá uma bonita trajetória para narrar. “É sobre uma menina pobre que nasceu no interior do Mato Grosso, começou a trabalhar muito cedo e desde sempre teve muitas responsabilidades. Na carreira foi de um ícone sexual a uma mulher empoderada, mãe de filhos maravilhosos e que foi casada por 24 anos. Teve um terceiro relacionamento em que se apaixonou perdidamente e foi terrivelmente espancada, mas que, mesmo assim, sobreviveu e continua seguindo”, resumiu.

A história

E é para entender os detalhes deste enredo cinematográfico e a força que Luiza Brunet exalta hoje em dia que conversamos com a modelo sobre assuntos que vão desde o começo da carreira à representatividade atual. No túnel do tempo, Luiza contou que não sonhava com a carreira de modelo. Para ela, a profissão da vida tinha a ver com beleza, mas se restringia a cuidar das madeixas de outras mulheres. “A moda entrou na minha vida quando eu tinha 17 anos, já era casada e trabalhava em um salão de cabeleireiro. Na época, eu era muito fã de uma modelo dos anos 1970 chamada Rose di Primo, ela era um ícone de beleza do Brasil. Essa modelo era cheia de formas femininas e saía totalmente daquele estereotipo. Ela era alta, saudável e super bronzeada”, lembrou.

Até que um dia, entre uma escova e um penteado, um amigo de Luiza, que era modelo, a convidou para assistir um ensaio com sua top favorita. “Quando eu cheguei no estúdio, o mesmo fotógrafo que estava fazendo o ensaio da Rose para a capa da Manchete disse que eu era bonita e perguntou se eu não queria posar para ele”, contou. E aí, ela fez duas poses, uma de rosto e uma de corpo, e, pouco tempo depois, se viu ao lado de Rose di Primo dividindo o set. “O próprio fotógrafo mandou para o Roberto Barreiras que depois ligou para a minha casa me chamando para fotografar. Quando eu cheguei no estúdio, meu primeiro trabalho era uma matéria de lingerie com a Rose di Primo”, disse.

Vestido Karine Fouvry Paris | Sandália Arezzo | Joias Tereza Xavier (Foto: Vicente de Paulo)

Vestido Karine Fouvry Paris | Sandália Arezzo | Joias Tereza Xavier (Foto: Vicente de Paulo)

Depois dessas fotos, Luiza Brunet decolou e nunca mais parou. A então cabeleireira abriu mão do emprego no salão e passou a viver uma realidade que só lhe era conhecida das revistas de fotonovela da sua mãe. De acordo com ela, a moda fazia parte de sua vida apenas nas roupas que as atrizes da época usavam nos folhetins. “Como eu nasci no Mato Grosso e naquele tempo eu não tinha acesso a quase nada, eu lia as revistas de fotonovela da minha mãe. Então, eu sempre fui muito apaixonada por aquelas mulheres que eram mais arrumadas. Mas eu nunca tinha pensado em me tornar modelo, minha vida tinha outros caminhos”, lembrou Luiza que, antes do salão, trabalhou como empregada doméstica e babá.

Garota Dijon e Humberto Saad

Se no primeiro momento Luiza Brunet foi surpreendida pelo seu talento como modelo, depois, ela correu atrás de se profissionalizar e se tornar um dos nomes mais importantes de uma geração. Nos anos 1980, ela fez parte de um time estelar que até hoje tem seu espaço no cenário fashion brasileiro. Mas foi ao lado de um visionário que Luiza Brunet ganhou ainda mais força e experiência. Durante dois anos e meio, ela foi modelo exclusiva da Dijon e com Humberto Saad desbravou os principais capitais da moda. “Essa experiência deu um upgrade na minha carreira porque ele fez algo totalmente diferente. Eu sendo modelo exclusiva, viajava pelos cartões postais do mundo inteiro com a marca”, contou Luiza que explicou a importância deste período como garota Dijon. “Foi uma época de muito trabalho, muita intensidade e que nós não tínhamos um contrato assinado. Tudo o que eu fiz com o Humberto era acordado de boca. E eu fiz de um tudo. O meu trabalho na Dijon era desde ajudar a vender na loja aos desfiles. Então, eu não era só uma modelo da marca. Eu era a figura que representava a mulher Dijon”, detalhou.

No dia 11 deste mês, Humberto Saad morreu no Rio de Janeiro vítima de um infarto. Quando soube da notícia, Luiza Brunet destacou o papel que o empresário teve em sua vida. E, nesta conversa, a modelo não escondeu a admiração e as boas lembranças que guarda dos dois anos como garota Dijon. “Essa exclusividade foi boa, porque foi nesse período que eu consegui comprar meu primeiro apartamento e ter um pouco mais de segurança, que foi algo que eu sempre busquei. Fora a oportunidade de ter trabalhado com um grande empresário e ter tido a chance de estar dentro da fábrica e ver como funciona o mundo da moda de um outro lado”, destacou.

Macacão Hagaef | Sandália Arezzo | Colar Tereza Xavier (Foto: Vicente de Paulo)

Por causa deste contato com os bastidores da Dijon, Luiza acumulou conhecimentos que traz até hoje em sua vida. Além de alavancar a carreira como modelo, ela contou que também garantiu experiência com marketing, negócios e contratos. Ao lado de Humberto, a garota Dijon participava das reuniões e acompanhava todas as engrenagens do mundo da moda, que muitas vezes ficam longe do glamour do meio. “Para mim, essa experiência foi como se eu tivesse feito uma faculdade. De verdade. Como eu sempre tive muito interesse em aprender, através dessa oportunidade eu conheci outras áreas. Com isso, depois que saí da Dijon, eu mesma administrei a minha carreira, fazia os meus contratos e tudo mais que envolvia a profissão de modelo”, afirmou.

A geração de 1980

E quantos contratos Luiza já deve ter feito! Integrante de uma época de ouro, ela fez parte de um time que marcou a moda brasileira. Nos anos 1980, nossas modelos ganharam o mundo e ela estava entre as tops. Sobre o período que até hoje ainda é comentado no cenário fashion, Luiza Brunet não esconde a alegria de ter sido parte do sucesso. Para ela, a melhor definição desta época é “incrível”. No entanto, a modelo destacou que não foi só na moda que a década ganhou força e visibilidade. “A geração dos anos 1980 está além da moda. Foi uma passagem no tempo bem diferente e que, de fato, marcou uma sociedade. Para mim, essa época foi marcada por uma questão comportamental e que agora está até sendo reeditada. Mas eu vivi tudo isso”, lembrou.

Viveu e explorou uma nova proposta que trazia para a passarela a mulher com curvas brasileiras e sem aquele padrão tradicional da época – que ainda vive nos dias de hoje. Entre as tops, Luiza Brunet tinha curvas, bronzeado e altura um pouco menor que a maioria. “Como eu saía daquele biotipo da modelo clássica, que tinha que ter 1m 80, ser branca e magérrima, era algo diferente no mundo da moda”, contou Luiza que destacou que desde cedo gosta de se cuidar e manter a aparência de mulher saudável. “Sempre cuidei da minha alimentação e gostei de fazer exercício físico. Para mim, estar com essa aparência saudável não era uma obrigação ruim. A minha preocupação não era estar magérrima para desfilar na passarela. Eu queria estar saudável e bonita. E aí, essa apresentação visual me deu a chance de me tornar uma musa brasileira”, comemorou.

Macacão Hagaef | Sandália Arezzo | Colar Tereza Xavier (Foto: Vicente de Paulo)

Porém, nem mesmo as musas brasileiras da época tinham vida de madame. Diferente de um cenário mais glamouroso dos dias de hoje, Luiza contou que no passado a profissão de modelo era cercada de dificuldades e perrengues. “Não tinha esse brilho de hoje em dia. Tínhamos poucas revistas na época e a estrutura era bem básica. A gente viajava de Kombi do Rio para São Paulo com toda a equipe para fazer uma matéria de moda. E não tinha estrelismo. Eu carregava mala, passava roupa e ralava muito. Porém, eu acho que tudo isso é bom porque a gente acaba conhecendo outros universos e entendendo a dinâmica de cada profissão”, lembrou a modelo que nessas viagens desconhecia o luxo do ar-condicionado, por exemplo.

Mas engana-se quem pensa que as dificuldades representavam um lado ruim da profissão. De acordo com Luiza Brunet, as experiências mais desafiadoras foram também as mais memoráveis, que permanecem vivas até hoje nas lembranças da modelo. Entre as dificuldades, Luiza destacou as amizades que fez e as relações que construiu com os profissionais com quem dividia a apertada Kombi. “As equipes eram muito unidas, quase como uma família. Não tinha separação de funções, todos se ajudavam. Então, era tudo organizado e muito bom. Ainda mais porque naquela época tinham diversos desfiles coreografados. Para isso, precisávamos viajar em grupo para ensaiar e isso acaba unindo mais. Era quase um teatro”, contou a modelo que acrescentou: “As amizades tinham mais consistência, se ganhava menos e não tinha a competitividade de hoje em dia. Foi uma época muito boa”.

A moda de hoje

Os anos se passaram, os cenários se transformaram e a tecnologia invadiu o panorama. Hoje, a profissão de modelo é acompanhada de diversos luxos que não existiam na época de Luiza. Na verdade, atualmente, as tops vivem outras dificuldades e uma atmosfera bem diferente. E, na visão de Luiza Brunet, o cenário moderno traz novidades que já aparecem desde o começo do processo. “Hoje em dia é muito fácil uma pessoa se tornar super conhecida porque as redes sociais deram uma alavancada enorme. Dependendo da maneira que você conduz um Instagram, por exemplo, pode acabar se tornando uma personalidade, como uma influenciadora digital. Então, isso mudou demais”, apontou.

Vestido Animale | Sandália Schutz | Brinco Lavish (Foto: Vicente de Paulo)

Com isso, modelo não é mais apenas aquela mulher bonita e com um corpo invejável. A profissão do século XXI exige mais do que aparência. De acordo com Luiza Brunet, com a democratização e a pulverização do meio, para ser modelo, é preciso oferecer conteúdo. “Hoje em dia, eu vejo que a modelo perdeu um pouco a importância primária que ela tinha. Não é que todo mundo possa se ver nessa posição, mas qualquer estilo pessoal hoje em dia ganha visibilidade e relevância. Então, quem tem influência nas mídias sociais, por exemplo, pode fazer uma campanha incrível de cabelo e maquiagem ou falar sobre qualquer tema importante. Ou seja, o ambiente não está mais restrito a modelo. O que se busca hoje é uma pessoa que tenha história de vida, comprometimento, posições políticas e que fale sobre assuntos interessantes. E isso não tem a ver se ela tem 1m90, 50cm de cintura e 90cm de quadril. E eu acho isso bom”, analisou.

Neste panorama moderno, Luiza Brunet confessou que não saberia apontar um grande nome que nos representa mundo afora. Para ela, a última vez que o Brasil foi representado em peso para além de nossas fronteiras foi quando tivemos um grupo que já não está mais nas passarelas. “Eu acho que parou no quarteto que tinha a Gisele, Alessandra Ambrósio, Isabeli Fontana e Isabel Goulart. Essas são as nossas musas brasileiras que foram para fora do país e fizeram tantos desfiles maravilhosos. Hoje nós temos algumas novas, mas ninguém com a força da Gisele, por exemplo. E, muito disso, está relacionado ao fato do tipo de mídia que as marcas buscam hoje em dia. O Neymar, por exemplo, pode ser o nome mais forte de uma marca de moda. Então, está tudo diversificado. A moda não busca mais um nome, ela quer um personagem”, disse.

E, por falar em Gisele, Luiza Brunet não poupou elogios a nossa musa brasileira contemporânea. Para a representante do passado, a top do presente é a união de diversos fatores fundamentais que vão além da beleza. Como Luiza já destacou, Gisele Bündchen é um exemplo de conteúdo e lifestyle, mesmo antes desses conceitos ganharem força no cenário da moda. “Alguém como a Gisele jamais vai existir novamente. Eu acho que ela conseguiu levar o Brasil para fora com a sua beleza, carisma, elegância e profissionalismo. É uma profissional que tem uma carreira exemplar como mulher, modelo, mãe e cidadã. Ela é uma pessoa completa. Então, eu acho impossível que nasça alguém como ela pelos próximos 100 anos”, disse.

Vestido Maria Valentina | Brinco Lavish (Foto: Vicente de Paulo)

No entanto, não é apenas em relação ao casting que a moda está se transformando. Com todos esses fatores que a modelo apontou como nova realidade, Luiza Brunet também destacou a mudança na forma de consumir e produzir. “Quem poderia imaginar uma Kim Kardashian como estrela da campanha da Balmain? Ela é uma mulher que tem 1m50, um bumbum enorme e seios gigantescos. Mas ela tem 101 milhões de seguidores, um programa de televisão que bomba e um público que quer ter a vida dela. E a moda está atenta a isso”, argumentou Luiza que ainda ressaltou a invasão do consumo chinês e japonês nas coleções das principais grifes do mundo. “As asiáticas são as maiores consumidoras das marcas francesas. Por isso, as grifes se adaptaram a esse mercado. Isso dificulta, por exemplo, para a brasileira que quer consumir porque o biotipo é muito diferente. Então, o que as marcas estão buscando são as compradoras. Se elas estão na China, é para elas que vão produzir”, sintetizou.

Luiza e Yasmin: genética na moda

Esse frescor no olhar de Luiza Brunet sobre o novo cenário fashion mundial não é por acaso. Além de continuar interessada e trabalhando a moda diariamente, a modelo ainda tem uma representante dos novos tempos em casa. Ou melhor, na família. Desde os 12 anos de idade, Yasmin Brunet, filha de Luiza, incorporou a profissão da mãe a sua vida e hoje é um dos exemplos modernos dessas mulheres com beleza e conteúdo. “O que eu mais admiro na Yasmin é que ela é uma musa inspiradora de qualidade de vida. Ela se preocupa com o bem-estar, cuidado com ela própria, com as pessoas e com o planeta. O que agrega à Yasmin, além da beleza, é a sua conscientização com diversas questões, como o meio ambiente. E isso tem valor”, analisou a mãe coruja que viu a carreira da filha começar e deslanchar após Yasmin desfilar na passarela da São Paulo Fashion Week. “Na época, ela saiu em um monte de capa de revista e teve uma super repercussão. Foi então que ela decidiu abraçar a carreira e se dedicar a isso, que é algo que ela gosta”, contou.

Vestido Shoulder | Joias Tereza Xavier | Sandália Arezzo (Foto: Vicente de Paulo)

Com isso, Luiza passou a poder acompanhar de perto as mudanças nas engrenagens de sua profissão. Para ela, além de tudo o que já apontou, a carreira de modelo se tornou ainda mais competitiva e difícil de trabalhar. “Eu vejo que a Yasmin precisa ser muito mais agressiva e profissional para conseguir seu espaço”, disse a mãe que se sente honrada de ser referência para a filha. “Sempre quando ela tem um novo projeto, ela me consulta e eu adoro essa parceria. Eu vejo que ela confia no sucesso que eu tive como modelo, mulher e empreendedora”, comemorou.

Engajamento social e a violência doméstica

Mas a vida de Luiza Brunet foi ganhando novos rumos com o passar dos anos. Mais do que se dedicar ao mundo fashion, a modelo passou a dividir suas energias com a dor de mulheres que tinham em sua casa um cenário de guerra. Embaixadora do Instituto Avon, Luiza trabalha há oito anos com vítimas de violência doméstica. Até o momento que também se tornou uma delas.

No ano passado, a modelo contou ao mundo a agressão que sofreu de seu ex-marido que lhe resultou em quatro costelas quebradas. Sobre a denúncia, Luiza afirmou que se sentiu na obrigação de dar voz a uma luta que lhe era tão familiar, mesmo que indiretamente. “Eu já era muito envolvida com a violência doméstica por causa do Instituto Avon. Há oito anos, eu ouvia histórias de mulheres que passaram por isso, mas não conseguia assimilar o que elas sofriam. Quando foi comigo, eu me senti obrigada a dar voz a essas mulheres e levantar essa bandeira com o espaço e a credibilidade que eu tenho com a mídia. Com isso, eu contribuí para que, de acordo com números do Ministério Público, mulheres em todo o Brasil se sentissem encorajadas a denunciar e recuperar a vida”, explicou a modelo que não escondeu a insegurança antes de expor a sua história. “Qualquer situação que envolve risco, também tem medo. Mas eu ganhei uma coragem que é inacreditável. Hoje, eu me sinto muito poderosa, empoderada e plena. Eu sou uma mulher adulta, corajosa e me sinto muito bem por isso”, garantiu.

T-shirt Jchermann para Vivará | Calça Levi’s | Brinco Lavish | Bracelete Lavish (Foto: Vicente de Paulo)

Passado o turbilhão da notícia, Luiza Brunet voltou aos holofotes da mídia no começo deste mês quando o ex-marido foi condenado pela Justiça. Novamente com seu nome associada à agressão, a modelo reviveu a dor que havia cicatrizado. “Quando qualquer pessoa é agredida, seja mulher, criança ou idoso, sempre fica uma marca, como se fosse uma ferida. E aí, quando mexemos, é como se abrisse um pouco, voltasse a sangrar e, com isso, a gente sofre novamente”, lamentou a modelo que ainda assim destacou um lado positivo nesta situação. “No meu caso, quando a gente tem a vitória como resultado, temos a sensação de que fomos ouvidos e avaliados pela Justiça. Assim, eu sinto que recebi uma condição de merecimento e de que agora posso ser feliz”, disse aliviada.

Se já não bastasse a dor da decepção e da agressão, Luiza Brunet ainda apontou outra situação que potencializou seu momento difícil no ano passado. Em tempos de redes sociais, ela, que escolheu o Instagram para revelar o caso da violência, se viu em meio a uma chuva de comentários negativos. E o pior: por mulheres que poderiam estar na mesma situação. “Foi muito ruim. As mulheres são muito machistas e falam sobre questões que não sabem. Teve muita gente se colocando no meu lugar, como se elas estivessem lá, e julgando o que eu fiz ou deveria ter feito. As mulheres não são unidas e isso é muito triste. Nós estamos tentando mudar um panorama de violência doméstica que existe no Brasil e em diversos países do mundo sem ter o apoio das próprias mulheres, que são mesquinhas e brutas. É muito ruim”, analisou Luiza Brunet que, no fim, acredita que o exemplo tenha sido dado.

T-shirt Jchermann para Vivará | Calça Levi’s | Brinco Lavish | Bracelete Lavish (Foto: Vicente de Paulo)

E não é só a violência doméstica que ganha força no discurso da modelo. No começo da carreira, Luiza Brunet fez um aborto e já contou sobre isso em outras oportunidades. Para ela, o nosso corpo é nossa propriedade e deve obedecer ao que nós desejarmos a ele. “O corpo é nosso e nós podemos fazer o que quisermos. E sermos respeitadas pelas nossas escolhas. A mulher tem o direito de avaliar se ela pode ou não ter um filho naquele momento por diversas razões. Só que de um lado, a gente tem a Igreja que é totalmente contra. Então, a gente fica em uma dualidade do que queremos e devemos fazer”, argumentou Luiza que, quando fez e contou sobre o aborto, sofreu menos do que se fosse nos dias de hoje, em sua opinião. “Foi tranquilo porque não tinha essa interação e liberdade das redes sociais. Foi uma decisão que eu tomei e segui sozinha. De verdade, foi algo importante e certo para aquele momento”, resumiu.

Com esses posicionamentos, fica claro que Luiza Brunet é daquelas que defende a liberdade e a igualdade da mulher na sociedade. Mas sua definição frente ao movimento é melhor do que qualquer explicação: “Eu sou feminista feminina e ativista sempre”. Direta, clara e objetiva, a modelo destacou a importância da união entre as mulheres neste momento de luta em grupo. De sua parte, Luiza viu nas novas plataformas uma oportunidade de aumentar o coro por uma causa que defende com tanto vigor, a violência doméstica. “Na internet, eu estabeleci um canal aberto e fiz uma rede de mulheres que foram agredidas”, contou.

Vestido Corporeum | Sandália Schutz | Bracelete Tereza Xavier | Brinco Lavish (Foto: Vicente de Paulo)

As consequências do passado na Luiza Brunet de hoje

Com marcas que nunca serão esquecidas, Luiza Brunet foi na contramão de uma vida triste e apagada. Após tudo o que viveu, a modelo é uma inesgotável fonte de energia boa e sorriso largo, que encanta os ambientes por onde passa. Colorida e alto astral, ela mostra que tudo pode ser interpretado por um lado mais florido, como as fotos que ilustram este editorial. “Eu aprendi a ser uma mulher extremamente polivalente e fazer de tudo um pouco. É isso o que faz a gente ser interessante. Eu acho que você pode até não dominar uma habilidade, mas ter noção sobre aquilo já é importante. Temos que ficar espertas e observar tudo a nossa volta para saber das novidades. Aprender é sempre muito bom”, disse Luiza que concluiu da melhor forma: “Hoje, eu me defino como uma mulher plena, super segura, feliz e me acho maravilhosa. Me acho bonita, inteira e o máximo”. Como não se apaixonar?

Calça Karine Fouvry Paris | Playsuit Wymann | Rasteira Arezzo | Joias Tereza Xavier (Foto: Vicente de Paulo)