Em bate-papo exclusivo com HT, Andrea Panconesi, da multimarcas italiana Luisa Via Roma, confessa: “Brasileiro é elegante!”


Amante das artes e do futebol, o italiano de Florença comercializa para 120 países o fino do design brasileiro com seu power e-commerce!

Em meio ao burburinho do final da Copa do Mundo e nos poucos dias subsequentes, passou desapercebido no Rio, junto com o filho de 15 anos, o empresário Andrea Panconesi, a cabeça criativa por trás de uma das mais interessantes multimarcas da Europa, a Luisa Via Roma, com uma loja física em Florença e um poderoso e-commerce que atua em mais de 120 países. HT aproveitou a oportunidade para marcar um café com o italiano e conversar sobre sua experiência com a moda brasileira, já que desde o mês passado passou a expor em suas araras mais de 20 brands nacionais, entre elas, onze pertencentes ao Texbrasil (Programa de Internacionalização da Moda Brasileira, promovido pela Abit em parceria com o Apex-Brasil): Pedro Lourenço, Trendt, PatBo, Scarf Me, Helen Rodel, Adriana Degreas/Bain Couture, Der Metropol, Fabiana Milazzo, Lucas Magalhães, Janiero, Mariah Rovery, Isolda, Barbara Casasola, Lucas Nascimento, Martha Medeiros, Farm x Adidas, Les Petits Joueurs, Havaianas, Melissa, Carla Amorim, entre outras.

Encantado com o lifestyle brasileiro, sobretudo o carioca, Panconesi é contundente na hora de afirmar qual é o encanto da moda brasileira: “Gosto dessa elegância natural do brasileiro, essa forma cool, descontraída de se vestir como quem não quer nada e ficar muito bem apresentado. Considero isso excitante”. Ele esteve a primeira vez no Brasil em novembro passado, através de um convite e negociações com a Abit, que promove a divulgação do setor têxtil nacional fora do Brasil. “Vim e fiquei realmente surpreso. Achei São Paulo impressionante. E, no Rio, estive não só em locais da moda, mas subi a favela do Cantagalo, em Ipanema, com meu filho e minhas duas filhas, aproveitando o tal elevador com vista panorâmica que construíram lá, ao lado da saída do metrô. Fiquei extasiado”, confessa completando que curtiu o estilo dos habitantes da comunidade e que a dignidade que exalavam lhe causou espanto. “Bom, só pra resumir, lá em cima eu tomei água mineral, e não água de poço, coisa que seria impensável em outros povoados humildes ao redor do mundo. Que borogodó!”, afirma.

Panconesi: "Não faz diferença se o designer brasileiro tiver a pegada artesanal do novo luxo ou um olhar mais globalizado. Nossos clientes procuram aquela moda que tem a visão individualizada do estilista, independente da mesmice do fast fashion (Foto: Divulgação)

Panconesi: “Não faz diferença se o designer brasileiro tiver a pegada artesanal do novo luxo ou um olhar mais globalizado. Nossos clientes procuram aquela moda que tem a visão individualizada do estilista, independente da mesmice do fast fashion (Foto: Divulgação)

Por isso mesmo, ele revela que não encontra dificuldade em encontrar marcas brasileiras que sejam adequadas ao conceito da Luisa Via Roma, já que seu único critério é o bom gosto: “Não importa se escolhemos um designer com uma levada mais atemporal e urbana, como Pedro Lourenço, ou gente que trabalha o novo luxo do hand made muito bem, tipo Patricia Bonaldi. O importante é o que chamo de good taste.” E nessa levada do peculiar, do artesanal, da moda repleta de detalhes autorais, ele confessa que grifes como Martha Medeiros, Pat Bo e Helen Rodel saem na frente. “As nossas clientes ficam encantadas com o tipo de bordado que a Fabiana Milazzo faz, por exemplo. Essa individualidade, esse ‘ter algo a dizer’ é vital”.

“Nossas clientes são basicamente europeias, asiáticas e norte-americanas que se assombram com a exclusividade e qualidade desses designers, que não pulverizam seus produtos. Ficamos no meio termo entre a alta-costura parisiense e a fast fashion produzida na China, ou seja, estamos em um segmento confortável, já que existe uma demanda forte por um estilo que fuja da massificação, mas que tenha preços mais realistas do que aqueles praticados pela couture”, entrega Andrea Panconesi. “A China é um negócio de louco. E olha que, a uns 10 quilômetros de Florença temos a maior comunidade chinesa da Europa, Prato”, ele ri.

E ele vai mais longe: “Temos uma fartura grande de clientes. Por isso focamos naquilo que é especial. Afinal, mesmo nas coleções dos grandes criadores europeus, entre 500 peças, é impossível acertar tudo e algumas coisas são ruins. Digamos que vamos direto naqueles 50 ítens da coleção de um criador que consideramos perfeitos pata atender nosso público, abrindo mão dos 450 produtos restantes”.

Andrea ainda acentua que, no início, teve certa dificuldade de entender que, no Brasil, muitas vezes o varejo é composto por monobrands, lojas ou cadeias de lojas de uma marca só, já que as multimarcas são tão comuns na Europa. “Depois entendi que nesse país é assim que a coisa funciona”.

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Outra coisa que surpreende o CEO e fundador da Luisa Via Roma é certa autossuficiência de muitas marcas brasileiras com o mercado interno: “Também percebo que várias grifes que poderia comercializar estão voltadas para o mercado interno e que não há necessariamente um interesse – ou estrutura – para vender fora do país. Afinal, o Brasil tem dimensão continental”. Ele cita o Estados Unidos em um processo semelhante há cerca de trinta anos atrás, com grifes como Norma Kamali, Donna Karan ou Bill Blass preocupadas em atender a vasta clientela norte-americana. “Depois isso mudou”.

Amante da arte, Panconesi considera sua Florença natal berço da moda, já foi o Renascimento italiano, quando surgiu o conceito de moda predominando sobre a simples indumentária. “Assim como a arte, a moda também floresceu por lá. Todo mundo fala da moda francesa a partir da Corte de Luís XIII, mas não podemos esquecer de que, bem antes disso, foi uma florentina, Catarina de Médici, que casou com Henrique da França, levando para lá a moda e hábitos como comer de talher. Da mesma forma que Florença é o berço da arte, da perspectiva, do chiaroscuro, é a origem da moda”. E o italiano ainda vai mais longe, viajando na macarronada: “A roupa é escultura, ela não é plana, depende do corpo para se moldar, ganha volume, assim com a pintura florentina, com a perspectiva, dá a sensação de profundidade”.

Envolvido em embrionários projetos artísticos na sua cidade – assim como o secular mecenas renascentista Lorenzo de Médici – o empresário organizou me junho passado o preview Firenze4Ever, evento em que apresentou a moda brasileira para trendsetters, blogueiros e imprensa. “O tema foi “Brasil, arte e moda”, a primeira vez que um país foi tema festa ação. Nem é preciso dizer que foi um sucesso.

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A blogueira alemã Mehrnaz Gorges, do Shop Le Monde (http://www.shoplemonde.de/), escolheu como sonho de consumo um vestido longo com bordados assinado por Fabiana Milazzo: “Nunca tinha visto um trabalho de bordado tão delicado! É um vestido muito especial”, declarou. Já a americana Juliana Sarinana, do Sincerely, Jules (http://sincerelyjules.com/), aprovou as criações de Patricia Bonaldi. “Amo a delicadeza das peças”. Por sua vez, a gaúcha Helen Rödel, que aplica em suas peças técnicas manuais e do artesanato brasileiro, também teve suas peças utilizadas em editoriais estrangeiros: a blogueira Micaela Del Pardo, do E! Online Latino America, se encantou com as criações e proferiu: “os elementos do feito à mão humanizam a modelo para esse street style que produzi, ideal para uma mulher apaixonada”.

“É esse tipo de emoção que a moda brasileira causa em minha clientes”, conta Panconesi, um amante do futebol-arte. “Esperava ver Brasil x Itália na final da Copa no Maracanã, não isso não rolou’, confessa com decepção quase juvenil.