Dragão Fashion Brasil 2015 #day 3 – Jadson Raniere arrasa em mix conceito e luxo e Ivanildo Nunes transforma as curvas de Niemeyer em objeto-desejo


O terceiro dia de desfiles do evento contou ainda com Concurso dos Novos, Weider Silveiro, LIZZI, Rebeca Sampaio e o fera Vitorino Campos encerrando a maratona

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No terceiro dia de desfiles do Dragão Fashion Brasil 2015, a moda autoral deu mais uma vez suas caras, mostrando que a riqueza de materiais, tradições e talentos do nosso país abre espaço para a singularidade de cada um dos estilistas que se apresentaram neste sábado. Entre verdadeiros artistas que se reinventam a cada coleção, foi lindo ver que a nova geração de designers brasileiros mostra estilo pessoal e estão prontos para manterem a indústria se movendo com originalidade e paixão. Entre as curvas de Oscar Niemeyer no desfile de Ivanildo Nunes, o esportivo autoral e genderless de Jadson Raniere e o luxo de plumas da LIZZI, veja como foram os desfiles do DFB 2015:

– Concurso dos Novos | Estácio Sá | Ateneu | Sta. Marcelina | IED 

Foi novamente um prazer ser eleita como jurada para poder escolher um nome promissor que, a partir de agora, entra para as engrenagens da moda, ajudando-a a girar e se renovar. É incrível ver como o Brasil tem tanto talento espalhado por sua vasta imensidão e, a cada vez que conheço uma nova proposta tão original quanto as que foram apresentadas aqui, tenho mais certeza ainda da importância de valorizarmos o que é nosso.

Participei novamente de mais um projeto do Dragão Fashion Brasil de incentivo aos novos talentos da moda brasileira. Ontem foi a vez do Concurso de Novos, uma ação que mobiliza alunos dos cursos de estilismo, moda e design de todo o país, que elaboram as peças sob a orientação dos professores. De acordo com o regulamento, nesta edição do DFB 2015, oito instituições de quatro estados (Ceará, Pará, Paraná e São Paulo) estão na etapa final, que hoje (domingo) revelará o vencedor. Na etapa seletiva, os alunos tiveram de criar peças a partir do tema “O uso inovador e coletivo dos saberes artesanais”, tendo que fazer uma pegada entre o conceito e o comercial. Os trabalhos passaram por uma banca de jurados e os alunos das faculdades selecionadas apresentaram uma coleção-cápsula (composta por oito looks). Os vencedores levam um prêmio de R$ 8 mil e a instituição vencedora ganha o troféu DFB 2015. Só para lembrar, em 2014, quando eu também estive em Fortaleza, os vencedores foram os alunos da Universidade Federal do Ceará.

No sábado, vimos  nas passarelas as interpretações para a tradição X modernidade, a história X futuro e os looks desfilados foram dos alunos do Centro Universitário Estácio do Ceará, da Faculdade Ateneu, Faculdade Santa Marcelina (SP) e Istituto Europeo di Design (SP). Preciso destacar aqui a coleção “Realezas do Sertão”, elaborada pelos alunos da Faculdade Ateneu. Pura criatividade, como eles mesmos definiram, unindo imagens rústicas e artesanais, desconectadas de seu habitat e reprogramadas por um sentimento de preciosismo, validando-as como luxo. Hoje, domingo, será a vez do Centro Universitário Dinâmico das Cataratas (PR), Universidade Estadual de Londrina (PR), Universidade Federal do Ceará e Universidade da Amazônia.

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Vamos aos desfiles de sábado:

– Weider Silveiro

Esse piauiense de 34 anos radicado em São Paulo e formado em moda na Universidade Federal do Ceará tem chancela na moda. Seu trabalho é inspirado na tendência dos grandes centros difusores de tendências e ele acaba de apresentar nova coleção na recente edição da Casa de Criadores, em São Paulo, onde foi considerado o handmade man da temporada. Pudera: sua coleção mostra um sexy ousado através de paetês e teias de tricôs, que fogem da mesmice das transparências vigentes e se alternam entre o completamente nu e aquele jogo de esconde-esconde que deixa partes estratégicas do corpo à mostra. Como contei durante a semana da Casa de Criadores, Weider Silveiro foi in loco buscar inspiração para seu verão 2016. No nosso vizinho Chile, o estilista baixou na tribo indígena dos Mapuches, que conseguiram resistir aos conquistadores espanhóis numa batalha épica que durou 300 anos. De lá, dos antepassados, Weider trouxe muito vazado – ousado! -, e tear, semelhante às técnicas de tecelagem dos indígenas. Além da inspiração de construção das peças, teve espaço para look total-paetê, fazendo alusão à prataria dos Mapuches. Inspiração mil além das Cordilheiras.

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– Jadson Raniere 

Natural de Cupira, no interior de Pernambuco, formado no Rio de Janeiro, mas com ascensão profissional em São Paulo, Jadson Raniere é parte integrante e destaque da Casa de Criadores. Na recente edição, ele encerrou a primeira noite, estreando o formado vídeo + catwalk, com um show à parte. Tinha dança na passarela e na tela. Para dar certo, Raniere bolou peças sobrepostas, com muita fluidez, que permitiram bons movimentos na performance. A elas, o estilista acrescentou estampas florais e psicodélicas, que ajudaram a dar um tom divertido à coleção. Ele soube fechar a Casa de Criadores com chave de ouro, com essa ótima sacada para o formato de vídeo no desfile. Esta, entretanto, é a primeira vez que Jadson lança uma coleção no DFB 2015. Os looks são bem hot, com um espírito étnico, um tempero esportivo e uma capa de musselina dos campos floridos com a mistura urbana típicas de sua coleção.

Jadson Raniere apresenta sua coleção no DFB 2015

Raniere conseguiu com maestria unir o sportswear à moda autoral, o que lhe garante destaque entre as coleções e cria itens de desejo instantâneo. Bermudas e calças com redes entrelaçadas e transparências por baixo, criam alfaiatarias com uma tênue linha de gênero, ideia reforçada por um dos looks que traz o modelo usando saia de estampa floral por baixo de uma camisa oversized de neoprene. Em determinado momento, uma das peças de destaque reforça ainda mais a delicadeza do masculino, que veio repleto de florais e transparências: uma camiseta comprida toda feita com paetês verdes sintetiza a junção entre urbano e artesanal. A paleta de candy colours, com destaque para o amarelo e os detalhes em azul claro, e as estampas florais estão presentes tanto para eles quanto para elas, mostrando que Jadson, mais uma vez, sabe globalizar suas criações e entra na tendência que permeia o cenário mundial: a moda Agender. Adoro o trabalho do estilista.

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– LIZZI

A LIZZI, de Lisyane Arize, é uma marca franco-brasileira que busca em sua essência a preservação do savoir-faire tradicional. E levou para a passarela do DFB 20015 a coleção exclusiva “Trabalhadores do Mar”, que traça um paralelo entre o romance do maranhense Josué Montello, “Cais da Sagração”, e a obra de Victor Hugo, Trabalhadores do Mar, homenageando muitos mestres maranhenses, que sempre desenvolveram a cultura a partir do seu sustento no mar. A ideia é fortalecer o laço com a cultura nordestina a partir da apropriação de técnicas manuais desenvolvidas pelos grupos culturais do Maranhão e com a possibilidade de inserção de couro e peixes em suas peças. O glamour sofisticado vem através da inserção de plumas de ema nos casacos bem estruturados, que se alternam com o uso do couro vazado e das silhuetas com destaque nos ombros proeminentes. A estilista também fez questão de trabalhar em parceria com o grupo maranhense Bumba Meu Boi, que incrementaram ainda mais a premissa artesanal do desfile.

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– Ivanildo Nunes

Estilista que busca criar peças com sofisticação e feminilidade para todos os tipos de mulheres. Formado em Comunicação Social com habilitação em jornalismo pela UFC, é pós-graduado em Criação e Desenvolvimento de Produto de Moda. Atualmente atua como Designer de sua própria marca e presta consultoria em desenvolvimento de produtos de moda, além de palestras sobre Artesanato, Design e Moda. Para a coleção apresentada no DFB 2015, Ivanildo levou o tema “Mãos à obra, mãos à moda” a outro patamar, escolhendo como fonte de inspiração um dos maiores nomes do design nacional: Oscar Niemeyer.

Ivanildo Nunes apresenta sua coleção no DFB 2015

As curvas do arquiteto vão de encontro ao corpo das modelos e, com a ajuda de um trabalho meticulosamente artesanal que envolve rendas de bilro se entrelaçando a estruturas de tules e crochê, a coleção calcada no preto traz em si duas grandes forças do autoral brasileiro. Trazer Oscar Niemeyer para a moda não é algo inédito, mas casar sua grandiosidade com os detalhes de costureiras artesão é sacada genial. O ar elegante das estruturas flerta com o hiper sensual das transparência e se destaca em vestidos longos, midis e curtos, que trazem bordados preciosos, com alusões às obras de Niemeyer, como se cada peça fosse uma catedral em si. Palmas, palmas e palmas para Ivanildo!

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– Rebeca Sampaio

A estilista estudou moda na London College of Fashion e no Instituto Marangoni. Foi lá onde criou sua identidade estilística, sempre preferindo recortes inusitados, misturas de materiais rígidos e leves e inovação a partir de texturas e formas, além de sempre trabalhar com couro. No DFB 2015, optou por peças com elementos marítimos, trazendo artifícios como bordados metalizados, sobreposição de tecidos, recortes estratégicos,  vestidos “bodycon” e peças em couro pintados a mão. A silhueta feminina é o grande ponto de partida da coleção, mesmo que o caimento, às vezes, não proporcione o efeito de sensualidade desejado. Recortes assimétricos, fendas previsíveis, o excesso de lamê e vestidos justos mostram uma coleção um pouco incoerente. Por outro lado, as peças com couro trabalhado à mão, revestidas de pinturas artesanais, acertam em cheio no desejo feminino e são o ponto forte do desfile.

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– Vitorino Campos

Vitorino Campos é como vinho, a gente comentou aqui no site. Com o tempo, vai envelhecer e seu paladar ficará cada vez mais apurado, sem precisar sequer de barril de carvalho para maturar. Ao invés de uvas, sua maturidade vem com uma coleção após outra, nas quais ele consegue manter seu espírito sem nunca deixar de surpreender. O que vimos na recente edição da São Paulo Fashion Week é uma aposta em um verão no qual a alfaiataria impecável e os vestidos são trabalhados seguindo dois vetores: o contraste entre preto & branco e tons pastel (rosinha, hortênsia, gelo e lilás) e o mix de estampas nos looks, com xadrezes gestuais e vichy. Entre os recursos que valorizam o seu verão, estão desde o uso de zíperes aparentes – que ganham viés decorativo – a tules bordadas com flor. No seu minimalismo autoral, o designer ainda se apropria de algumas formas típicas dos sessenta e incrementa com lencinhos amarrados no pescoço (efeito de styling simples, mas que acentua a proposta) uma malha canelada grossa, que se encarrega de reforçar seu apreço pelo essencial e pelos shapes secos.

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