Dragão Fashion Brasil #15: da diáspora africana ao barroco tropical, minotauros do Cariri imergem na passarela!


Ronaldo Silvestre veste Netuno, Lindebergue cai na festa e Do Valle questiona a Copa, mas Mark Greiner e Roberto Dias dão chifrada na plateia!

* Com Alexandre Schnabl

A rotina de um jornalista de moda é árdua e não costuma aparecer na ficção, em filmes ou novelas que retratam esse mundo profissional e que, por necessidades dramatúrgicas, acabam se concentrando no suposto glamour de atos banais – mas significativos –, como sentar em uma primeira fila de um desfile ou se proteger por trás de poderosos sunglasses de grife. À parte de todos estes signos e mitologias, o dia a dia de um editor de moda, sobretudo na hora de fechar o “corridão” – o nome que se dá à cobertura final de um evento inteiro ou mesmo de um dia de desfiles – não é tarefa fácil, ainda mais quando algumas marcas se esquecem de munir a imprensa com informação necessária para a compreensão daquilo que foi visto na passarela. Algumas vezes, o que se escreve é quase fruto de prestidigitação do profissional que, unindo sua bagagem de anos de mercado a uma boa dose de perspicácia, precisa traduzir para os leitores aquilo que seus olhos captam de forma precisa. É inegável a qualidade das coleções apresentadas neste segundo dia da 15ª edição do Dragão Fashion Brasil, em Fortaleza, e vamos ser sherlockianos para elucidar alguns mistérios vistos nos fashions shows. 

A noite começou com Carol Barreto que, seguindo os passos de Jeferson Ribeiro na noite anterior, também se baseia em um momento histórico para conceber seu verão, “Fluxus V15”. Mas, ao contrário do que o nome da coleção pode sugerir – mais parece uma sigla espacial de filme futurista tipo “Oblivion” –, a estilista se inspira na diáspora africana como ponto de partida, o que já lhe rendeu um convite para representar o Brasil na Dakar Fashion Week em 2013. Sim, nem só de ralis vive a capital do Senegal. Os movimentos orgânicos das cabeleiras dos povos africanos, cheias de significados, rendem acessórios (colares de mulher girafa e maxi golas-jabôs avulsas em macramê) que adornam looks formados por peças de linha mais arquitetônica em branco, preto e cores fortes que remetem à Mãe África. Alguns vestidos seguem esse caminho dos acessórios, outros trazem brilhos dourados, mas o conjunto da obra poderia se resumir à alfaiataria proposta por Carol junto com os tais acessórios.

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Bruna do Valle estreia no line up do evento, com sua Do Valle, que mixa esporte e demi-couture na levada da temporada, onde os eventos esportivos ditam caminhos criativos. Com uma coleção feminina e masculina, a designer brinca com questionamentos políticos típicos da turma jovem, associando a onda de recentes manifestos políticos no país ao assunto da vez, a relevância ou não da Copa do Mundo no Brasil atual. Praticamente o mesmo tema usado por outra marca jovem bem estabelecida como lançadora de moda no Fashion Rio, a R.Groove, no início do mês. Com muito jeans e sarja, a marca se diverte com o hand made elaborado sobre regatas, bonés, paletozinhos, shorts desfiados e skinnys, prontos para satisfazer os anseios da garotada que freqüenta escolas de moda e que está aberta a qualquer novidade.

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Ronaldo Silvestre é mais um nesta temporada que imerge nas profundezas subaquáticas, vestindo seu escafandro rumo ao continente perdido de Atlântida. Ao que tudo indica, o canto da sereia tem hipnotizado tantos estilistas que, pelo andar da carruagem, daqui a pouco Tritão e suas nereidas poderão se tornar os seres mais bem vestidos do planeta. Agora, como o designer costuma ter um trabalho diferenciado no jeans, a cartela de azuis do mar, nos looks, também toma conta do cenário, coisa digna de fazer Zeca Pagodinho, Tia Surica e sua Portela rodopiarem de alegria em sambinha esperto. Tudo azul no jeans e seda, que contracenam em composições sofisticadas com recortes, onde as tramas vazadas dos tricôs – hit na próxima estação – aludem às redes de pescador. Coisa fina, com destaque para os vestidos em índigo com saia godê e bordados étnicos em anis.

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Em seguida, o que era mar vira sertão no trabalho em dupla de Mark Greiner (roupas) e Roberto Dias (acessórios). Seres que habitam um Cariri imaginado pelo duo irrompem na passarela e deixam a plateia frenética, com se fosse um programa de auditório onde o público se anima com a descoberta de um talento. Além do tema principal, as festas populares do interior e o músico Daniel Peixoto – muso de toda uma galera – são inspirações, com aposta nos ombros estruturados, macacões e vestidos lady like. E os acessórios feitos com chifre de boi são uma pedrada em vitral de igreja de tão impactantes, alegria digna de qualquer produtor de moda comemorar com Dom Perignon na hora de compor um look. No final, entre a qualidade das peças e as boas sacadas do styling, predomina aquela sensação gostosa que se tem quando se observa em uma passarela tudo aquilo que costumamos sentir quando estamos na plateia de um Viktor & Rolf, por exemplo. Tudo funciona: a luz, a música, as montagens, as coroas de espinhos (feitas com grampos), as cabeças de minotauro nessa cow parade nordestina. É aquela porção de moda-conceito com jeito de tapa na cara da sociedade.

 

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No fim da noite, Lindebergue Fernandes assume o corolário do próximo verão em sua coleção. Comprimentos midi, poás vazados, cores luminosas contrastando com o preto e branco, estampas gráficas, macacões, aplicações, monocromias e assimetrias revelam o desejo de ser contemporâneo no Brasil, mas cheio de idéias próprias, mesmo admirando a moda de Clô Orozco. Assim como Mario Queiroz, Lili (como o estilista é conhecido) também comemora estrada de 18 anos e, assim, faz do seu desfile um baile perfumado, trazendo a alegria para os salões, com a ambientação festiva influenciando nas texturas dos looks. Assim, materiais como sarja, neoprene, couro, tule, crochê e renda surgem em um primeiro momento em cores neutras, simbolizando o início da noite, quando todos ainda estão tímidos. Depois, calibrados pelos excessos do badalo, ganham cores flúor e brilhos nos detalhes, sintetizando o momento em que a festa esquenta e, na pista, a coisa fica elétrica. Bacana.

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Depois de Lindebergue, a noite ainda trouxe uma faixa-bônus, com o desfile da Make B., de O Boticário, com a coleção “Barroco Tropical”, criada em parceria com Ronaldo Fraga. Fernando Torquatto apresentou looks em negro envergados por beldades como Carmelita, Bárbara Berger e Thana Khunen, perfeitas molduras para as novidades cosméticas da grife. Como destaques, cabelos presos repartidos ao meio e bocas que vão dos neutros às cores forte e quentes. Confira as fotos!

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