Concurso dos Novos
No segundo e último dia do Concurso dos Novos – iniciativa que preza pelo objetivo de dar visibilidade ao trabalho autoral de jovens talentos em período discente – desfilaram Fac Senac Porto Alegre, Universidade Federal do Ceará, Universidade da Amazônia e Universidade Estadual de Maringá. HT, membro do corpo de jurados, pôde acompanhar mais uma vez um mergulho profundo pelo sangue latino, se inspirando em países do continente, mas prezando pela fácil reprodução industrial. As coleções-cápsula foram julgadas nos quesitos paleta de cores, conceito, stylist e criatividade – com notas de zero a dez. O resultado sai no sábado (07). Destaque para uma viagem fashion ao Deserto do Atacama, no Chile, e para os dias de carnaval na cidade de Oruruo, na Bolívia, num jogo entre o bem e o mal por meio de máscaras. Nas trends? Oversized, babados, tule, patchwork e sobreposições.
Gil Braga
Nem larva, nem borboleta. Gil Braga pensou no estágio de pupa dos insetos – a chamada crisálida – para nortear sua coleção. Esse estágio intermediário do processo de evolução, onde uma coloração metálico-dourada encontra-se nas pupas, serve para corroborar a metáfora do estilista, que encontra poesia na vida e não necessariamente uma explicação para ela – não que precisasse. É que crisálida é, na verdade, uma espécie de material genético, mas não tem identidade. Digo…depende do ponto de vista. Gil consegue ver presença na ausência. Conhecido por criar figurinos para peças teatrais e espetáculos de dança, ele quis entregar uma coleção atemporal, sem delimitar o estilo de sua mulher. Portanto, sem a obrigação de estabelecer um fio condutor entre o conceito e o produto final, ele conseguiu dar check mark em suas próprias questões. Foi quando, num primeiro bloco (o melhor, de ótimo resultado), tomado por uma paleta soturna, trabalhou com texturas, manipulando ondulações, nervuras, tafetá e criando uma estrutura desabada e inusitada, jogando na trend do momento: o jogo entre o rígido e o fluído no mesmo look. Com ar mezzo futurista mezzo psicodélico, Gil ainda conseguiu conferir um pouco de casualidade para peças repletas de conceito de passarela com decotes e transparências. Questionado sobre a semelhança com o desfile de Lino Villaventura no Inverno 2016, se saiu com: “Sinal de que estou no caminho certo”. Gil Braga está saindo do casulo, moda brasileira. Cheers!
Ronaldo Silvestre
Mais um dessa temporada 2016 do Dragão Fashion Brasil a beber da fonte da sétima arte, Ronaldo Silvestre resolveu ir até o começo da década de 90 e desenrolar a película de “O Piano”, longa de Jane Campion, que conta a história de uma mulher que, desde os seis anos, não fala por decisão própria. Um casamento arranjado a faz se mudar para a Nova Zelândia na companhia de sua filha. Lá, ela não simpatiza com o noivo, que se recusa a transportar seu amado piado para a nova casa. O instrumento então é vendido para um homem que aceita devolvê-lo a Ada em troca de ensiná-lo a tocar. E aí que começa um verdadeiro jogo sexual em meio a partituras. O longa, com perfume vitoriano, emprestou a mesma essência para a passarela. A mulher de Silvestre é, com a devida licença poética, uma vitoriana pós-moderna, já que ela se permite encurtar o comprimento midi e deixar o colo um pouco à mostra. Destaque para as saias plissadas e com transparências (a trend do underwear saindo das quatro paredes e ganhando as ruas gritou – e a gente amou), que conferiram sensualidade e volume à silhueta. As tramas e cortes menos ousados vieram para fortalecer o DNA do estilista e corroborar com a casualidade que as peças de Silvestre se propõe – até porque seu homem continua com ar militarista, assim como na última temporada.
Kallil Nepomuceno
Marcada pela prosperidade e pela ode à liberdade, a década de 20 foi uma profusão sem precedentes para a história da moda. E foi por esses trilhos que Kalil Nepomuceno parece ter andado em seu imaginário. A elegância na silhueta mezzo tubular, sem perder a fluidez, esteve presente em sua moda festa glamourosa, repleta de requinte – à moda cearense – já que os vestidos mais curtos, àquela época, imprimiam leveza e elegância, ao contrário do que hoje imaginam. Kalil investiu em peças douradas, numa paleta clara e prezou por franjas, mangas alongadas e esvoaçadas, imprimindo volume, marcando a cintura e apostando no comprimento midi.
Iury Costa
Ivanildo Nunes
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