Dragão Fashion Brasil #15: entre luzes espectrais e o bis de Lino, o corpo-manifesto de Jeferson Ribeiro!


No primeiro dia do evento, a reação ao golpe militar de 1964 inspira coleção onde as flores de Geraldo Vandré são poesia têxtil, através da releitura de Vilanova Artigas e Carlos Marighela!

* Com Alexandre Schnabl

Neste primeiro dia da 15º edição do Dragão Fashion Brasil, pilotado com maestria por Cláudio Silveira (e tendo como produtora executiva Helena Vieira) a ordem é diversificar. Entre o desfile comemorativo de Mario Queiroz e o bis da coleção de Lino Villaventura, que já havia sido vista há duas semanas na SPFW (mas sempre merece ser mostrada), modernos como Också, João SobarrAládio MarquesJeferson Ribeiro mostraram suas propostas para o próximo verão, em noite que ainda trouxe o desfile-conceito de Mar Del Castro e Jomara Cid

Också abriu a maratona de desfiles correndo para a luz, como se fosse a pequena Carol Ann, a menininha abduzida por forças do além em “Poltergeist – O Filme” (idem, de Tobe Hooper, 1982). Afinal, quem não se lembra da médium interpretada por Zelda Rubinstein falando, na película: “A luuuuuuz, corra para a luuuuuuz, Carol Ann!” Explica-se: a nova coleção foi inspirada por luzes complexas e decompostas, pela  energia do espectro cromático, se traduzindo em cores vibrantes, dentro de uma leitura transgressora e urbana. Sabe quando se põe um cristal na frente de um feixe de luz? Então, é isso.

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Em seguida, João Sobarr deixou sua porção Indiana Jones vir à tona em desfile onde a inspiração na milenar cultura marajoara, através das escavações arqueológicas, se baseia na indumentária feita com cascas de árvore, penas e sementes em cores de cerâmica, preto e vermelho-urucum. Naturalmente, não é de hoje que os grafismos desse povo servem de ponto de partida para uma coleção de moda, ainda mais quando sua associação com a estilização art déco é tão óbvia. E, como este movimento arquitetônico tem dado as caras nas últimas temporadas, seria de se esperar que alguém enveredasse por esse rumo, com a geometria dessa civilização ancestral de Marajó comparecendo na coleção. Mas, claro, como sempre dá para brincar com isso de uma forma diferente, o estilista fugiu do óbvio e enveredou por uma outra abordagem, onde sobrou pouco dessa conjunção de referências, preferindo um resultado mais visceral, onde recortes e contrastes de cor flertam com grafismos que, lá no fundo, aludem à inspiração, reforçados por elementos de styling.

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Depois, Mario Queiroz apresentou um pout-pourri de looks que homenageiam seus 18 de marca, procurando evidenciar que, mesmo com peças readaptadas, não perde a contemporaneidade. Bom, seu estilo é marcante e, durante sua trajetória, o designer sempre soube aliar alfaiataria ao sportswear na moda masculina, sendo um bom precursor deste caminho na moda brasileira, a partir dos anos 1990. Merece reverência. Diante disso, selecionou um conjunto que – levando em conta que o segmento no qual atua demora mais a se transformar – segue a cartilha da próxima estação, amplificado por cores (como azul e laranja) que fazem parte do vocabulário da próxima temporada. Além disso o repertório de telinhas, saias, macacões, listras e aspectos metalizados colabora na busca desse refresh.    

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Jeferson Ribeiro incorpora Geraldo Vandré e ninguém neste verão poderá dizer que ele não fala de flores. Como assim? Moda-protesto? Não exatamente. O designer baiano se inspira, agora, no movimento de resistência ao Golpe de 1964, que tinha a canção do músico como hino e faz coleção em que o gazar de seda, o crepe georgette e o jacquard se desdobram em formas lânguidas, onde a arquitetura e a política são usadas como álibis para justificar a defesa do corpo. Em seu libelo, o estilista contrapõe a naturalidade e o corpo-espetáculo, questionando o ato de vestir dentro dos parâmetros de uma guerrilha urbana. Afinal, quem disse que, no cotidiano diário, não é preciso se vestir para poder resistir às agruras do dia a dia e lidar com todo o tipo de pressão externa? Viver é, antes de mais nada, uma grande aventura, digna de revolucionários como Carlos Marighela, não é mesmo? Ou do arquiteto Vilanova Artigas, outro a inspirar a coleção com sua obra. Assim, a poesia das flores serve de metáfora para este tipo de pensamento filosófico sobre o ato de vestir-se e, com isso, as peças apresentadas, além do conceito, se inserem dentro da cartilha do próximo verão, quando as floradas dão as cartas. Ou melhor: calam os fuzis da crise que assola o mundo da moda.

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Lino Villaventura fechou a noite oferecendo ao público presente o mesmo cardápio fino que dá continuidade ao seu polêmico desfile de outubro, com algumas diferenças, é claro, porque seu turbilhão mental não para. Sai a festa, desaparecem as flappers inconsequentes, acaba o champanhe, surge a realidade da volta pra casa – e à rotina do dia seguinte – depois de uma noite mágica de excessos. Permanecem os tecidos repuxados, as pregas, as nervuras, os tecidos fluidos e vaporosos, os manchados frenéticos com bordados virtuosos sobre as superfícies. E, honestamente, tenho pensando seriamente em cometer um desatino e, quem sabe, arregimentar um grupo de gatunos para furtar uma dessas jaquetas masculinas. Ficaria linda no meu guarda-roupa, e a sensação é idêntica a uma natureza morta de Diego Rivera que, toda que vez que vou ao Malba, em Buenos Aires, está ali, sussurrando para eu levar pra casa, rs. Vou preso, mas feliz!

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