* Com Alexandre Schnabl O quinto e último dia da 15ª edição do Dragão Fashion Brasil seguiu o espírito de pluralidade que marcou a semana de moda. Do concurso de novos talentos – nesta noite com com as universidades de Londrina (UEL / 2º lugar), Ceará (UFC / 1º lugar), Minas Gerais (UFMG) e Piauí (UFPI) – ao desfile de encerramento, a cargo da Rchlo, a nova marca streetwear da Riachuelo, patrocinadora do evento, teve um pouco de tudo. E, claro, muito espaço para moda autoral, o principal objetivo do evento. O momento mais emocionante da noite foi quando Cláudio Silveira, o todo-poderoso do Dragão Fashion Fashion inovou e mostrou gratidão a todos os profissionais que fazem a engrenagem do maior evento de moda do Nordeste girar. Convocou jornalistas que acompanham o seu trabalho há 15 anos (incluindo a colunista aqui) para um agradecimento a esta simbiose entre profissionais. Foi inesquecível. Além disso, agradeceu a todos os patrocinadores que apostam em um evento que cresce ano e ano e já faz os holofotes da moda se voltarem totalmente para Fortaleza.
Maria Philomeno usa caminhos de mesa, toalhas, porta-copos e canudinhos pra fazer moda conceitual. Nesse caso, a moda literalmente põe mesa. Muito bem feita e bem modelada, o que é uma surpresa em se tratando deste tipo de trabalho, onde tantas vezes o devaneio criativo ocupa o espaço que poderia ser dedicado a um bom caimento. Quase nunca usáveis no conjunto, as peças compõem excelente trabalho de criação e algumas delas podem até ser usadas por uma ou outra consumidora mais impetuosa, bem menos afeita a agradar as massas. Vale muito pelo primoroso trabalho de detalhamento e acabamento, qualidade que pode ser proveitosa quando a estilista resolver enveredar por caminhos mais comerciais, diferenciando-se da mesmice.
David Lee manda bem no masculino. Com uma coleção enxuta e bem resolvida, apresentou peças de alfaiataria bem acabadas, boas camisas com amarração atrás, vestes e coletes assimétricos, uns recortes bem colocados e looks com levada utilitária que ganham o reforço extra de estampinha floral tipo liberty. E, para quem acha que é roupa só para moderninho que não está nem aí para o que os outros vão falar, várias peças poderiam estar dando refresco no guarda-roupa daqueles que gostam de moda, mas preferem não ousar tanto, renovando o estilo.
Alix Pinho faz roupa para gatinha moderna com levada esportiva, mas que não abre mão de sensualizar no shape. Daí as silhuetas justas, os tubinhos colados no corpo, as saias secas e curtinhas para valorizar as pernocas de fora, os leggings. Atende bem à brasileira, que não abre mão de exibir o corpo, mas não tem nada de periguete. Ou melhor: até pode ter em uma peça ou outra, dependendo da forma como a cliente usá-la para se produzir, mas aí é outra história, porque ninguém consegue controlar o delirium sensualis daquelas que preferem comprar uns dois números abaixo do manequim para ficar a cara da Anitta ou da Valesca. Óbvio que essa não é a proposta de Alix, que usa e abusa de referências esportivas para imprimir essa leitura de Sportswear Mag alemã do início dos anos 1990. Os produtores de moda que fazem videoclipes vão adorar!
A bola do dia no Atelier Criativo foi a dupla Alysson Aragão (roupas) e Suzane Farias (joias artesanais), que já começou o desfile com performance. Como o evento não distribuiu release, não dá para saber exatamente o que cada um pretendeu fazer, mas, dando uma espiadinha no blog do primeiro, dá para saber ele curte Madonna, ama “Justify My Love” e, talvez por isso, tenha optado pelas máscara ems renda para compor o styling das modelos. E, okay, ele diz que desenha para mulheres sedutoras e passionais. Daí a coleção toda em negro (Noir Collection, no blog), com muita transparência, fendas em saias longas, tops corsetados, rendas, brilhos e até aquele chicotinho de amazona, do tipo que a Blonde Star usava para simular dominação nos bailarinos em shows e apresentações nos music awards da vida, submetendo as plateias ao seu desejo.
Nuno Gama é outro que faz moda masculina de responsa, daquela que concilia ótima alfaiataria com bons tricôs. Ele sabe até usar cores masculinas – como preto, cinza, caquís, terrosos – e dar o devido tempero. Daí as jaquetinhas bacanas e até as peças da parte final do desfile, com inspiração militar retrô e jeito de paquito (para quem é brasileiro e tem Xuxa como referência). Radicado no Porto, ele fez seu nome no Moda Lisboa e tem seu estilo comercializado em toda Europa, América, Ásia, Oriente Médio e até Angola. Confira a bela coleção.
Fechando a maratona de desfiles, a Rchlo trouxe um verão bacana. É marca comercial, de fast fashion? Okay. Está em um evento que privilegia a moda autoral porque é patrocinador? Okay também. Mas nada disso tira o mérito da coleção, repleta dos códigos da estação. Listras, xadrezes, moletons, levada rocker, prints de zebra por aí vai. Os puristas podem até reclamar que o evento e de designers, mas a moda da rede lojas de departamentos é boa, e HT não está nem aí para quem não entende que existe espaço para este tipo de produto na passarela sim, ainda mais quando sua iniciativa em investir em moda ajuda a fomentar eventos importantes quanto o Dragão.
Artigos relacionados