Dragão, Casa de Criadores, Fenin, Bossa Nova, Fashion Cruise, SPFW, Minas Trend: no ultimate fight da moda versus economia, players opinam!


Criadores, empresários, realizadores de eventos de moda no Brasil e gente que faz falam sobre o que precisa ser feito para alavancar o mercado. Confira!

* Por Alexandre Schnabl

É maio. O friozinho dá as caras e o outono começa a ter jeito de inverno nos trópicos. As últimas semanas – aliás, meses –, têm sido pródigas em eventos de moda, apesar da crise. Nesta quinta-feira (7/5), por exemplo, começa em Fortaleza a rodada de desfiles do Dragão Fashion Brasil 2015 – significativa vitrine para a moda autoral e o trabalho manual – , que encerra a temporada com o tema “Mãos à obra, mãos à moda”. Obviamente um assunto relevante, perfeitamente adequado aos tempos de recessão e com o ultimate fight travado pela moda versus economia brasileira. HT andou circulando pelas semanas de moda, feiras e salões, conversando com os envolvidos, trocando ideias, colhendo opiniões, avaliando o momento atual do Brasil e o formato dos lançamentos. O que está bom e o que precisa mudar? Obviamente, nem tudo são flores. Algumas propostas, como o Fashion Rio – interrompido há duas edições para se reformular –, ainda geram incertezas. Outros, como a São Paulo Fashion Week, sobrevivem fortes, apesar do enxugamento de estrutura causado pela escassez de patrocinadores diante das mazelas da economia.

Do sucesso comercial Fenin em Bento Gonçalves em janeiro último – e a confirmação de que essa tradicional feira de negócios finalmente aporta no Rio de Janeiro na última semana de julho, de 28/7 a 30/7 no Riocentro –, à consolidação do Minas Trend, na segunda semana de abril, como vitoriosa plataforma de lançamentos que une desfiles, salão de vendas e badalo em bem resolvida equação, uma coisa é certa: é preciso vender. Ninguém pode se dar ao luxo de apresentar coleções apenas para formar imagem de marca, embora esse aspecto também seja fundamental para o business. E não dá para esperar o governo federal fazer a sua parte, é preciso se movimentar.

Lino Villaventura, que se apresentou com coleção comemorativa na SPFW e desfila quinta-feira (7/5) no Dragão Fashion, enfatiza: “Já que os responsáveis pela economia nos altos escalões não dão conta do recado e a crise galopa, precisamos nos mexer. É hora de olharmos para nós mesmos”.

Villaventura: de cabelos arrepiados com o rumo da economia brasileira, mas acreditando no próprio potencial com força motriz (Foto: Divulgação)

Villaventura: de cabelos arrepiados com o rumo da economia brasileira, mas acreditando no próprio potencial com força motriz (Foto: Divulgação)

Segundo a assessoria do evento organizado pela Fiemg em BH, os 251 expositores – 46 marcas estreantes – receberam 15 mil visitantes (incluindo 5 mil compradores, dentre eles, 750 com alto poder de decisão, incluindo representantes de grandes redes dos Emirados Árabes, França, Irlanda, Reino Unido, Austrália, Portugal e Canadá, que compareceram através da parceria com a Texbrasil) e tiveram um aumentos de vendas de 5% em relação à primavera-verão 2014. Mas houve quem celebrasse números bem maiores, com a calçadista Junia Machado, que superou expectativas e alega ter “aberto novas frentes”, e Silvia Salles, da Isla, que fabrica bolsas e vendeu 25% a mais que na temporada anterior.

E Fábio Faria, sócio na marca de roupas de festa Neusa Faria, afirma que “valeu a pena apostar no plus size como diferencial, pois nestas duas últimas edições o Minas Trend correspondeu a 50% do faturamento esperado para 2015″.

Após 18 anos de trajetória incansável, a Casa de Criadores repensou sua estrutura, mudou de local (o Ginásio Esportivo do Pacaembu) e enxugou os desfiles neste final de abril. Foram apenas nove dessa vez e habituês do agito, como Walério Araújo (um acontecimento, sempre) já haviam encerrado ali suas atividades na edição anterior. Quem não desfilou, optou pelo mix performance + vídeo, como Jadson Raniere (que desfila essa semana no Dragão) ou se mostrou de happenings e pocket shows. Prova de que o mercado está se ajustando onde é possível, qualquer que seja o nicho.

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Tudo isso só revela uma preocupação: como atrair o devido público – e a atenção dos consumidores finais – tendo o pé no chão? Dá para tocar o bonde sem a devida dose de estrelato que promova de forma feérica o circo da moda? Afinal, o espetáculo também é ingrediente importante e alimenta a mídia, que por sua vez alavanca as ações. Mas os preços de quase tudo são proibitivos atualmente.

Da novíssima geração, o carioca Gustavo Carvalho, formado pelo Senai Cetiqt e que montou marca própria que andou se exibindo na Casa de Criadores, comparou os custos de um desfile no país com aquele que fez no semestre passado na Semana de Moda de Nova York: “Lá gastei um quinto do valor que costumava tocar por aqui. Inacreditável!”.

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Mas a questão não se resume aos valores altos para se apresentar uma coleção no Brasil atualmente. É importante que o empresário, seja ele uma marca de maior porte ou um estilista iniciante, entenda que o esforço para promover um lançamento depende também de sua participação. É o que comentam os realizadores das semanas de moda. Recentemente, em entrevista ao jornal carioca O Dia, Paulo Borges reclamou da falta de engajamento das marcas cariocas no Fashion Rio, ressaltando que grifes cancelavam desfiles em cima da hora, sem comprometimento.

André Hidalgo, à frente da Casa de Criadores, parece compartilhar dessa opinião, mesmo comandando um evento de novos designers: “Todo mundo precisa ter compromisso, mesmo quem é novato. Como desfilar uma marca que depois não produz a coleção e não tem o que vender? Isso não existe”, comenta, ressaltando que, com a troca de patrocínio para a Cravo + Canela e a Lunelli, o momento foi propício para fazer ajustes, aproveitando a maioridade do evento. “Hoje, existem outras formas de se mostrar. Se o estilista não tem como levar adiante uma coleção após o desfile, que faça um vídeo, por exemplo. Isso deu certíssimo nessa edição, semana retrasada, ainda que, claro, o peso de se fazer um fashion show seja outro. Mas, se não é possível fomentar o negócio, pode haver outras maneiras de se fazer presente”, alega.

Hildago também reforça a importância de os novos criadores embarcarem em “viagens profissionais mais estáveis, que lhes permitam um amadurecimento”. Na prática, ele quer dizer que trabalhar como diretor criativo em uma grife comercialmente forte pode ser uma excelente pedida para a profissionalização. Ele dá dois exemplos: “No âmbito global, John Galliano ter sido absorvido por uma marca do peso da Dior foi decisivo na sua trajetória como cabeça pensante no mundo da moda. Aqui, a volta de Fábia Bercsek ao nosso line up, depois de desfilar até na SPFW, pode de alguma forma ser creditada à sua atuação como estilista na Cravo + Canela. É preciso maturar sempre”.

Hidalgo: enxugamento dos desfiles na 37ª edição da Casa de Criadores é "fruto do momento atual com o amadurecimento do evento com veículo para lançar marcas que estejam, de fato, em busca de consolidação comercial, e não apenas de projeção de imagem (Foto: Reprodução)

Hidalgo: enxugamento dos desfiles na 37ª edição da Casa de Criadores é “fruto do momento atual com o amadurecimento do evento com veículo para lançar marcas que estejam, de fato, em busca de consolidação comercial, e não apenas de projeção de imagem (Foto: Reprodução)

Faz sentido. De certa maneira, a presença de Vitorino Campos na direção criativa da Animale e de Priscila Darolt na Sacada, duas grifes cariocas que sabem fazer business, é preciosa para a formação individual de cada um dois dos designers. “Essa via de mão dupla – a profissionalização do criador numa amplitude mais densa e o sopro de renovação que ele proporciona à brand que o contratou – faz bem a ambos os lados e é valiosa para o mercado”, finaliza André Hidalgo.

As respostas não são nada fáceis e menos claras ainda, mas pelo resultado de quem participou do Fashion Cruise no final de março, uma flecha é certeira: é preciso dialogar com o consumidor. Opções de eventos para suprir as diferentes demandas devem existir, é claro. Mas resta saber qual é o seu nicho para cada um poder sobreviver a esse período de dúvidas.

Modelos saem da piscina no final do desfile da Amapô no Fashion Cruise, em março: nadar mesmo contra a maré para não afundar nas correntezas da economia brrasileira (Foto: Divulgação)

Modelos saem da piscina no final do desfile da Amapô no Fashion Cruise, em março: nadar mesmo contra a maré para não afundar nas correntezas da economia brasileira (Foto: Divulgação)

É Pity Tagliani, sócia da Amapô – talvez a última marca de uma promissora leva surgida na década passada que se mantém em atividade, com clientela fiel e ainda a desfilar na SPFW – quem dá a deixa, ao participar também do evento al mare promovido pela Dreamakers (praticamente 20 dias antes de apresentar sua nova coleção no último dia da semana de moda): “Gostamos de estar aqui. O Fashion Cruise tem outra proposta e traz um público diferente daquele que se vê nas tendas montadas no Parque Candido Portinari, podemos conversar direto com gente do Brasil inteiro que consome nosso produto e não tem acesso a este. Não é venda direta, mas os canais se abrem. Aqui apresentamos uma coleção adaptada, com peças que já haviam sido vistas na SPFW, mas de outra forma, misturadas de jeito novo. Mas vamos, claro, lançar coleção na edição verão 2016 do evento realizado pela Luminosidade“, contou na época.

Aliás, o desfile da Amapô, o penúltimo a fechar a edição verão 16 desta SPFW, foi verdadeira celebração, dada a energia vista entre os modelos e plateia. Tipo pão e circo, no melhor sentido possível!

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Após pontificar anos da Casa de Criadores, Walério Araújo foi outro que também preferiu nessa temporada mostrar coleção “no barco” (como o pessoal que estava no cruzeiro se referia), indo de encontro ao seu cliente: gente que curte a noite e que também estava à bordo do MSC Costa Favolosa para desfrutar das festas de música eletrônica chanceladas pela D-Edge ou que tiveram starlets com a princesa Paola de Orléans e Bragança comandando as picapes. “Minha clientela é formada por celebrities e por hedonistas que celebram a vida. Aqui tive um pouco de tudo”.

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Uma das grifes presentes no evento, a Poko Pano apresentou coleção no navio após cinco anos sem desfilar no Brasil. “Tenho preferido a Miami Fashion Week. Me apresentei anos na SPFW, em 2009 fiz uma edição no Fashion Rio. Desde então, me desencantei com a forma de fazer desfile no Brasil e optei pelos Estados Unidos, onde já estou há oito edições”, conta Paola Robba, o nome por trás da grife.

A designer e empresária Paola Robba, da Poko Pano: crença na horizontalização dos eventos de moda (Foto: Divulgação)

A designer e empresária Paola Robba, da Poko Pano: crença na horizontalização dos eventos de moda (Foto: Divulgação)

Para a empresária, “a forma autocrática como os organizadores dos eventos de moda no Brasil lidam com as marcas não é interessante: “Muita imposição, certas amarrações e questões de logística que comprometem nossos desfiles e até o orçamento. Prefiro ter um pouco mais de liberdade para definir algo que, no fundo, é meu. É preciso dividir o poder e quem está por cima da carne seca deve ser mais democrático e ouvir a gente”, conta, acreditando que é preciso mudar, “repensar não só os formatos, mas a maneira de interagir”.

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Já a Blue Man, marca que junto com Lenny Niemeyer e Salinas faz parte do triunvirato master da moda praia carioca, não migrou para a SPFW (ao contrário das outras duas) nesta edição de verão em que o Fashion Rio não aconteceu. Ainda assim, ela mostrou sua coleção no Fashion Cruise, ainda que sem o apuro que costuma caracterizar suas realizações. Obviamente, as peças estavam bonitas e vestem bem, as estampas são lindas, mas quem é escolado em desfile de moda pode notar que os acessórios usados foram de apresentações anteriores na semana de moda carioca. Faltou um pouco de show? Talvez. Vale investigar com mais calma e ouvir Sharon Azulay, à frente da marca, explicar o porquê vale a pena participar de um evento como esse, mas pular uma temporada de lançamentos. Motivo há, é claro!

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Na contrapartida, Thaís Gusmão, que desfila no Fashion Cruise desde a primeira edição, acredita nessa relação de proximidade da grife com o consumidor: “É a sexta vez que participo da empreitada e tem valido a pena para mim”, conta ela, que agora apresentou coleção com aroma oriental, embalada por ótima produção.

Thaís Gusmão: designer das calcinhas badaladas que desfila no fashion Cruise desde a primeira edição acredita na elaboração de um ótimo show para ficar próxima de seus consumidores (Foto: Arquivo Pessoal)

Thaís Gusmão: designer das calcinhas badaladas que desfila no Fashion Cruise desde a primeira edição acredita na elaboração de um ótimo show para ficar próxima de seus consumidores (Foto: Arquivo Pessoal)

Sem dúvida, o orientalismo visto na coleção de Thaís é o mesmo apresentado por Paulo Martinez no desfile-conceito de abertura neste último Minas Trend – assim como a pitada de extremo oriente usada por Esther Bauman no fashion show da Acquastudio na SPFW. Todos prova de que a pluralidade de ações ajuda a consolidar macro tendências, ainda mais amplificada pelo devido apoio da mídia. Assim, alguma dúvida de que a presença das laçadas orientais arrematando os looks vistos nestas três oportunidades ajudará destacar a importância do visual “quimono” na próxima temporada? Claro que não, e a confirmação disso estará primeiro nos editoriais de moda e depois nas vitrines da primavera-verão 2015/16, dos shoppings mais sofisticados ao Brás e o Bom Retiro.

Dias depois, já na SPFW, foi o próprio Martinez que deu a deixa: “É importante por de lado bairrismos e unir forças. A moda nacional precisa mais do que nunca dessa comunhão, sem egos em riste”. Sim, há quem aposte cada vez mais na verve cosmopolita para driblar a crise. Pity Tagliani afirma: “Foi ótimo ter no cruzeiro também gente do Nordeste, do Sul, gente que não está no eixo São Paulo-Rio”. Aliar a moda às festas de música eletrônica, workshops e palestras parece ser a vocação do Fashion Cruise no seu encontro com o público final.

E Oskar Metsavah, Alessa Migani e a turma carioca que está reformulando o Fashion Rio (previsto para setembro) também acreditam num novo formato que só faz sentido se o evento aliar os lançamentos ao lifestyle da cidade e a outras expressões como a arte, investida que tem sido bradada ao quatro ventos por Eloysa Simão desde a reformulação do Salão Bossa Nova em dezembro, com nova edição prevista para este mês ainda, no Rio.

Eloysa Simão: em busca da retomada dos eventos de moda no Rio na sintonia fina com a vocação artística da cidade (Foto: Divulgação)

Eloysa Simão vê novos caminhos para os lançamentos de coleção: em busca da retomada dos eventos de moda no Rio, mas em sintonia com a vocação artística da cidade (Foto: Divulgação)

Há quem diga, pelos corredores das semanas de moda, que a estrutura típica dos desfiles está estagnada e a receita do bolo precisa ser refeita. Presente no desfile de estreia de Lenny Niemeyer na SPFW, Ricardo Bräutigam, nome anos por trás da Ausländer e ainda à frente das festas mais bacanas do eixo Rio-São Paulo foi categórico: “Os custos são absurdos, o público está mudando, é preciso mexer na fórmula. Se o custo Brasil inviabiliza investimentos, é necessário mudar”. Ok, mas como?

Papa das estampas e coloridos exuberantes, Victor Dzenk, que desfilou anos no Fashion Rio, fez a edição passada da SPFW e também dá expediente no Minas Trend (entre desfiles esporádicos e um estande de vendas), está contente com o resultado comercial da nova coleção: “Optei por dar um passo atrás e não desfilar agora em São Paulo, mas estarei no Rio em maio, no Salão Bossa Nova que está sendo organizado. Em qualquer contexto, não é hora de perder o eixo, é preciso vender e ter noção de realidade, ter o cliente como meta, sem arroubos”, vaticina.

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Faz todo sentido. E, se Eloysa está por conta dessa nova empreitada no Rio, a empreendedora tem muito a dizer. Afinal, ela foi a primeira a unificar o calendário de lançamentos no Brasil, no início com a Semana Leslie de Estilo, em 1992, que se transformou em seguida em Semana Barrashopping de Estilo, com oito edições até se desdobrar no Fashion Rio, o qual coordenou até 2009.

Em outra direção, o empresário Julio Viana, diretor da Fenin Feiras, comemorou em janeiro os 18 anos do evento, que começou como Feninver e foi se adaptando ao mercado com o passar dos anos. Depois de anos sediada em Gramado, a Fenin se transferiu de mala e cuia para Bento Gonçalves em 2014 para um pavilhão mais moderno, o Fundaparque, também na serra gaúcha, não sem antes fazer uma edição em Fortaleza em 2013 e duas em São Paulo nos dois últimos anos. A próxima data na capital paulista, aliás, é está confirmada de 21 a 23 de junho e os espaços todos vendidos. Ele conta que a 19ª edição do evento gaúcho em janeiro atraiu um número maior de marcas que no ano anterior, mesmo com a transferência de local e ainda com certa carência do setor hoteleiro na região do entorno de Bento: “Pelos expositores, o novo formato já pegou, mesmo com a troca de praça”.

Na Fenin Bento, Julio Viana celebra seu entusiasmo pelo potencial do Rio ao lado de Luciano Szafir: empresário que faz a moda comercial acontecer no país acredita no potencial da Cidade Maravilha como grife para alavancar negócios no segmento (Foto: Vini Dalla Rosa / Divulgação)

Na Fenin Bento, Julio Viana celebra seu entusiasmo pelo potencial do Rio ao lado de Luciano Szafir: empresário que faz a moda comercial acontecer no país acredita na grife da Cidade Maravilha como força para alavancar negócios no segmento (Foto: Vini Dalla Rosa / Divulgação)

Julio, que é partidário de oferecer estrutura para os compradores, envia passagem e proporciona hospedagem, pois entende que o sucesso de vendas de seus expositores depende do comparecimento maciço dos clientes à sua feira: “Sou um fomentador do turismo de negócios, pois é crucial promover venda dando estadia a quem visita a Fenin. O setor não está para brincadeira. O tipo de moda que ofereço é aquela de larga escala, que será vista nas ruas porque quem está na minha feira abastece lojas de departamento, multimarcas e o segmento de fast fashion. É moda de verdade, sem firula, sem oba-oba”.

De certa forma, o diretor comercial da Fenin se mostra antenado com aquilo que pode ser confirmado observando a gestão de business do Minas Trend. Enquanto este último é um excelente feira de roupas de luxo que investe em desfiles para mostrar as coleções comerciais de alguns dos expositores (com certa verve autoral no segmento de festas), o evento do Sul, que por hora se expande por outras regiões do Brasil, foca a tal modinha que acabará virando febre nas ruas, enfatizando o consumo do dia a dia. Em comum nos dois, a força do salão de negócios e, agora,  a visão de que os desfiles podem ser um atrativo a mais como formador de imagem tanto institucional quanto para quem desfila.

Abaixo, a exposição dos looks de verão apresentados no desfile-conceito de abertura do Minas Trend, dirigido por Roberta Mazzola com styling de Paulo Martinez. Aqui, vale a preocupação de mostrar peças comerciais dentro de uma proposta editorial de moda. 

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A visão de Julio Viana faz todo sentido quando se constata o crescimento nas vendas. Segundo sua assessoria, a feira movimentou nos três primeiros dias R$450 milhões a expectativa é que deva gerar o dobro com os negócios alinhados a partir dela. Boa parte dos expositores declarou ter vendido de dois a três meses de sua produção, como a Ton Âge, de Porto Alegre. Manoela Pinheiro Machado, da linha mais jovem da marca, afirma: “Vendemos em janeiro cerca de 30% a 40% a mais que no ano anterior, mesmo com toda a recessão” Já Luiz Alberto Neri, da Raffer, se disse “contente com o desempenho. Estreamos bem ano passado e agora a coisa se consolida”. E Caio Ruiz, da Tricoter, empresa do polo de tricô de Monte Sião (MG), foi um dos que se empolgou: “Estamos praticamente 100% melhor que no inverno anterior”.

Abaixo, a diversidade de ofertas de tendências nos estandes da Fenin: “Já se foi o tempo em que salão de negócios de moda apresentava somente o básico. Os expositores sabem que o diferencial hoje em dia é o desenvolvimento de produtos de ponta, mesmo para um mercado mais seco, pouco chegado a firulas. A busca do estilo ajuda nas vendas”, alega Julio Viana (Fotos: Vino Dalla Rosa / Divulgação).   

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Talvez seja por isso que a prioridade da Fenin continua sendo oferecer estrutura para sua clientela, como bom fluxo de transporte e estadia. Julio Viana nunca foi muito partidário de desfiles para promover eventos e os badalos em sua feira são regrados. Ainda assim, é comum a presença de celebridades fazendo ponto nos espaços dos seus expositores. Em janeiro, Chay Suede, Paulo Zulu, Felipe Tito e Luciano Szafir foram alguns dos famosos que compareceram de corpo presente ao evento. Diga-se de corpo presente porque, pelas alamedas do salão, era possível ver Sabrina Sato, Giovanna Antonelli, Bruna Linzmeyer, Neymar, Luan Santana, Fiorella Mattheis e um sem número de celebridades em banners e paineis, encabeçando campanhas e servindo de atrativo para os negócios. Sim, é impossível não se render ao showbiz, e o star system global continua sendo um ótimo canal de visibilidade.

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Por isso mesmo, Julio, que costumava torcer um pouco o nariz para os fashion shows, anda se rendendo a uma padrão que, aos pouquinhos, começa a andar em direção ao equilíbrio do salão de negócios com desfiles inclusos que caracteriza o Minas Trend. Nas duas últimas edições da Fenin Bento, houve desfiles coletivos para apresentar as coleções, ainda que de forma tímida e com produção incipiente. E, em janeiro, o belo desfile realizado em praça pública teve até uma projeção de videomapping que deixou o público de queixo caído, em apresentação realizada em conjunto com o Salão de Lingerie, de Ana Flores.  É esta que dá a tônica: “Apesar da recessão, o segmento de lingerie cresceu entre 10 a 15% em 2014. As incertezas são muitas, não se pode deixar de repensar no modelo de negócios, mas também não se pode deixar de agitar, criar novos produtos, oportunidades e de apresentá-los ao mercado” Ela faz coro com Lino Villaventura: “Quem fica só esperando iniciativas do governo e não faz nada por si mesmo, dá tiro no pé. Fizemos questão de fazer o desfile coletivo ao ar livre porque ele é boa vitrine”.

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Julio Viana credita esse entusiasmo a uma realidade de mercado: “Apesar da economia, o mercado dá indícios de que está se mexendo. As lojas precisam oferecer novidades aos clientes finais, renovar araras e prateleiras, senão não vendem mesmo. Mas é preciso ajustar calendários. Veja bem, nosso evento de janeiro teve como objetivo abastecer o inverno 2015, algo muito mais próximo da realidade dos lojistas que lançar coleções em outubro ou novembro. Não adianta alinhar temporadas no Brasil com os lançamentos internacionais e desajustar o ritmo natural das coisas. Os compradores precisam de dados mais próximos para planejar seus estoques”.

Por isso, ele vai lançar a Fenim Fashion Rio, de 28 a 30 de julho, no Riocentro e promete movimentar o setor: “Percebi que o Rio é uma grife imperdível, que o comprador dos outros estados vê a cidade como uma grife importante, um selo que transcende até mesmo a imagem do Brasil lá fora. E, diante de todas as suas opções de lazer, o acompanhante do comprador encontra um turismo diversificado da melhor qualidade. Isso importa”. Segundo Julio, a capital fluminense é ideal para uma feira de verão e alto verão e o nicho está desocupado: “Essa oportunidade precisa ser ocupada e, com os eventos esportivos, a estrutura hoteleira está tinindo. Olha só os investimentos no setor na Barra da Tijuca. A única questão é que os preços são salgadíssimos no Rio, uma loucura, mas negociei e vou continuar fornecendo hospedagem para minha clientela. Esse é o segredo. Sou auto suficiente e quero interferência zero da Firjan. O problema de trabalhar com o dinheiro dos outros é esse: o negócio não anda”, confessa, todo animado e levando fé na cidade: “Para 2016, a Barra já terá mais três hoteis novos, 2 Ibis e um Super 8. Dá prazer poder contar com infraestrutura assim para fazer feira de moda. Agora,  é só uma questão de ajuste das diárias para uma realidade de mercado”.