*Por Alessandro Martins
Hoje vamos discutir as expectativas em relação à cirurgia plástica. Costumo dizer que, nesse campo, realizar a operação é a parte mais fácil, enquanto transformar ‘o desejo dos pacientes’ em resultados concretos precisa ser analisado. Atualmente, as expectativas nem são condizentes com a anatomia dos pacientes. Existe um problema na imagem da cirurgia plástica, pois ela se tornou um tipo de produto amplamente divulgado, comprado e postado.
Mas ela não é um produto. Não é um mercado e não é somente um comércio. É uma especialidade médica que, assim como qualquer outra área da medicina, tem suas limitações. É necessário fazer a programação cirúrgica, analisando se a intervenção é compatível com o paciente, se há condições clínicas de se fazer uma operação associada a outros procedimentos, se o paciente não tem indicação para fazer determinado tipo de cirurgia, se aquela operação vai alcançar o resultado desejado.
É extremamente importante que esse tema seja seriamente discutido durante as consultas pré-operatórias para haver a maior proximidade possível entre expectativa e resultado final. Cada vez mais temos recebido no consultório pessoas que trazem a sua combinação cirúrgica própria, pesquisada na internet e nas redes sociais. Elas vêem os procedimentos dos famosos ou dos influenciadores e acham que são facilmente de serem reproduzidos.
Quando se trata de tecnologia, volume de prótese ou técnica cirúrgica — como o tipo de técnica para a mama, abdômen ou o aparelho para lipoaspiração — é importante entender que o processo não funciona assim. A programação cirúrgica é feita pelo médico. O paciente, naturalmente, deve ser ouvido e expressar seus desejos e os resultados que almeja. Não há problema algum em trazer imagens com exemplos do que considera bonito, mas a decisão técnica cabe a uma grande conversa com profissional.
É preciso avaliar se aquele tipo de cirurgia, padrão ou resultado desejado é adequado para o paciente em questão, levando em consideração sua anatomia, altura, largura do tórax e a presença ou não de flacidez nas mamas ou no abdômen. Também é importante verificar se o resultado apresentado em determinada publicação usada como exemplo pelo paciente é real ou mascarado, e se envolve uma combinação de técnicas, em vez de apenas o método descrito. Todas essas perspectivas precisam ser discutidas e alinhadas com o cirurgião plástico.
Outro aspecto importante que o paciente deve compreender é que o resultado pós-operatório depende cerca de 50% dele mesmo. Todos saem da sala de cirurgia com cicatrizes, suturas e pontos iguais. No entanto, durante o pós-operatório, o paciente passará pelo processo de cicatrização, que ocorre em três fases. A etapa da maturação, a última e mais importante, é crucial. A cicatriz que vemos até 45 ou 60 dias após a cirurgia não é a definitiva, é aquela feita pelo cirurgião. As cicatrizes são finas, sem cor e esteticamente agradáveis nesse período. A partir daí, tornam-se o tecido que o organismo do paciente produz. É quando surgem vermelhidões, hiperemias, pigmentações (cicatrizes mais escuras, mais castanhas) e até mesmo patologias cicatriciais, que podem ser largas e elevadas (quelóides).
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O médico pode intervir e atuar preventivamente durante a recuperação pós-operatória. Existem táticas usadas para se comprimir a cicatriz e medicações tópicas que evitam ou contêm a progressão de uma cicatriz patológica. Em alguns casos, corticoides injetáveis (intralesionais) podem ser aplicados em determinados estágios do tratamento, embora nem sempre sejam suficientes para corrigir totalmente cicatrizes patológicas. Em situações mais graves, pode ser necessário realizar uma nova abordagem cirúrgica para remover as cicatrizes existentes e criar novas, além de utilizar técnicas de radioterapia para conter a progressão.
Outros problemas, como pigmentação e alargamentos sutis, podem ser tratados com laser, ácidos e outras tecnologias não cirúrgicas. Entretanto, os resultados são mais demorados, a longo prazo. É fundamental que o paciente compreenda que a cicatriz estará madura a partir de um ano. Todas as alterações de cor e o inchaço são muito evidentes até os seis meses e, de seis meses a um ano, começam a regredir. É essencial ter calma, esperar a evolução cicatricial para saber se vai melhorar ou não. Exceto nas cicatrizes realmente patológicas, o tratamento precoce muitas vezes consegue melhorar ou bloquear a progressão.
Atualmente, acredito que o ponto crucial na relação entre o cirurgião plástico e o paciente está nas expectativas, especialmente quanto aos resultados e formatos. O fato de uma pessoa, ou uma celebridade, usar uma prótese de volume X não significa que o resultado será o mesmo para você ao implantar a mesma quantidade de silicone. Isso varia de acordo com a estrutura torácica (se o tórax é mais largo ou estreito), o biotipo da pessoa (magra ou mais pesada) e, principalmente, a presença ou ausência de flacidez nas mamas. A flacidez embaça, esconde o resultado da prótese. Em muitos casos, para conseguir um colo projetado e bem definido, é necessário remover pele. Assim, uma paciente que inicialmente pensa em colocar apenas uma prótese de mama pode, na verdade, precisar de uma mastopexia com prótese para alcançar o resultado desejado.
Alguns pacientes já chegam ao consultório falando sobre resultados e tecnologias disponíveis. Um exemplo comum são as cirurgias abdominais, especialmente as lipoaspirações de alta definição. As técnicas, principalmente as associadas a esse tipo de lipoaspiração, têm evoluído significativamente, melhorando os resultados das operações abdominais e corporais. Elas realmente proporcionam benefícios, como a melhora da flacidez da pele e o aumento da produção de colágeno. Isso resulta em uma pele mais firme, facilitando a definição abdominal e aprimorando, de forma considerável, os efeitos das lipoaspirações.
No entanto, para candidatas a plástica com flacidez de moderada para cima, essas tecnologias não geram os resultados desejados sem a remoção de pele. Muitas vezes, a paciente apresenta indicação de abdominoplastia devido à flacidez abdominal e à musculatura da parede abdominal comprometida, geralmente por gravidez ou perda de peso. Porém, seu objetivo é realizar uma cirurgia abdominal, uma lipoaspiração ou utilizar alguma tecnologia que esteja na moda. Nesses casos, o resultado esperado não será alcançado sem a combinação da abdominoplastia e do fechamento da musculatura abdominal, junto com a estimulação de colágeno.
As únicas formas de flacidez que podem ser corrigidas de forma mais rápidas são aquelas mais sutis, que são mais perceptíveis para determinado paciente do que para os outros, ou a que surge em quem não tinha problema de flacidez pré-operatória, mas que, após a remoção de gordura com lipoaspiração, apresenta pele flácida. Nessas situações, as tecnologias podem ser eficazes sem a necessidade de métodos adicionais de remoção de pele.
Por isso, é crucial que o paciente entenda a sua indicação e não chegue com um planejamento cirúrgico pré-definido. Esse planejamento deve ser elaborado em conjunto com o cirurgião.
IMPORTANTE
. Temos que entender a relação entre expectativa, realidade e anatomia ou biotipo de cada paciente.
. O cuidado com a cicatriz é fundamental para as cirurgias, principalmente as que fazem retirada de pele, como a mastopexia, a mamoplastia e a abdominoplastia, que deixam cicatrizes mais extensas. A intervenção precoce em cicatrizes patológicas é de extrema importância.
. As tecnologias sozinhas não garantem resultados em 100% dos pacientes. É essencial discutir essas questões com o seu médico.
. Para alcançar bons resultados no pós-operatório, não basta realizar a cirurgia plástica. É fundamental adotar mudanças na alimentação e praticar atividades físicas. As pessoas que vemos nas redes sociais e na mídia, que têm corpos belos, são aquelas que se cuidam, malham e se dedicam ao seu bem-estar. Esses cuidados devem ser observados por quem deseja obter resultados incríveis.
. Seu médico deve ser o seu principal parceiro e a pessoa em quem você mais confia, pois a relação entre médico e paciente se baseia em confiança, planejamento e apoio mútuo para ter sucesso. Não adianta seguir caminhos separados, nossas trajetórias devem estar sempre alinhadas e na mesma direção.
Contato: Dr. Alessandro Martins
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