Adiantar tendências. Esse é o objetivo principal do Fórum de Inspirações, evento realizado esta semana, no Rio de Janeiro, pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) durante o Seminário de Atualização do Setor de Calçados, Bolsas e Acessórios do couro, promovido pela FIRJAN. O encontro, que reuniu empresários, designers e nomes fortes do meio fashion, como o estilista Ronaldo Fraga e Marnei Carminatti, consultor em design de produtos, designer e integrante do Núcleo de Design da Assintecal, promoveu um contato direto entre os integrantes dos principais polos produtivos brasileiros, que se destacam nos segmentos calçadista, confecções, couro, têxtil, artefatos e materiais, e o que há de mais moderno e inovador em indicativos de tendências para o desenvolvimento de produtos. Tudo, claro, com base no próximo inverno. A ideia é, através de estudos e pesquisas comportamentais aprofundados – desenvolvidos pelo Núcleo de Design sob o comando cuidadoso do coordenador e estilista Walter Rodrigues – lançar um olhar sobre o passado, desde os movimentos globais à identidade local, e o presente, com pesquisas de macrotendências, para, assim, adiantar o que vem no futuro na relação entre a indústria criativa e o consumidor, que vive em transformação constante.
“A indústria de materiais no mundo todo é a primeira parte de um processo grandioso que se chama moda. É na fabricação de componentes que as ideias para formas e materiais ganham vida e proporcionam a milhares de designers no mundo todo a possibilidade de dar sentido a seus projetos. É uma indústria silenciosa, pois, após as ideias estarem prontas para o mercado, seus produtos estão sob o poder de uma marca que será desejada pelo consumidor final, sem que este perceba o trabalho excepcional feito para que ele possa desfrutar um calçado esportivo, vestir uma peça de roupa ou mesmo carregar seus objetos em uma mochila”, explicou Walter, que foi além: “Por ser o primeiro elo de uma enorme corrente, tradicionalmente, a indústria de materiais não comunica o destino de suas criações. Fica tranquilamente à espera de que a marca que comprou os componentes faça sucesso. E que, em seguida, muitas outras marcas queiram copiar a ideia e venham em busca do material perfeito. Este é o caminho trilhado há anos – e tem que mudar. Temos investido em design há uma década. Estabelecemos um diálogo com as empresas para que elas entendam a ideia de um projeto com início, meio e fim; para que compreendam que a inovação é uma tarefa essencial a cada nova coleção, e que essa inovação não é apenas uma vitrine, e sim a prova da evolução do pensamento, da tecnologia e do conhecimento de mercado da empresa. Em seguida, buscamos, nesta publicação, o caminho para conectá-los com o mercado de moda, visando à aceitação e ao sucesso nas vendas, até a etapa da massificação dos produtos”, disse.
Por isso é que o Fórum de Inspirações existe e serve tanto como palestra informativa quanto como uma consultoria para fabricantes, grandes, pequenos e micro empresários. Eliane Andrello, especialista da área de calçados, bolsas e acessórios e de jóias e bijuterias da FIRJAN, explicou que os seminários são específicos para cada área. “Temos séries de palestras, convênios e parcerias. São fóruns de inspirações onde abrimos espaços para discussões, conteúdos de inovação, novas tecnologias, recortes regionais, falar o que acontece no setor em todo país para que o sindicato possa se estruturar, ver outros modelos de atuação e trazer os vencedores para si. É uma atuação em nível de todos os setores”, disse. Vale destacar que a história começou em 2001, quando, a pedido dos sindicatos do setor da moda, o sistema FIRJAN deu início a um trabalho institucional a fim de apoiar o segmento a planejar e se posicionar perante o mercado. A relevância de investir no desenvolvimento de produtos competitivos e de alto valor agregado moveu a FIRJAN a instalar o Fórum da Moda, que proporcionou um planejamento a longo prazo para o setor. A partir de 2006, o SENAI-RJ tornou-se parceiro na empreitada e instituiu uma área técnica especializada, com grupos de estilistas e modelistas engajados em uma pesquisa de comportamento do consumo. Foi aí que a prática de pesquisa de tendências com objetivo de estimular a criação de produtos sintonizados com os grandes movimentos globais ganhou ainda mais força. É sabido que, atualmente, os movimentos que acontecem no cenário internacional produzem efeitos diretos no Brasil e, para que a indústria nacional possa competir nesse mercado globalizado, é importante entender as macrotendências de consumo.
A oportunidade que a pesquisa de macrotendências oferece – de antecipar tendências que prometem se consolidar no futuro – permite a colocação de produtos e serviços diferenciados no mercado. Ou seja: cada um deles possui sua identidade própria – já que se alimentam de referências locais – ao mesmo tempo que se alinham com fenômenos de conjuntura global. São esses dois fatores e, claro, o equilíbrio entre eles, que fazem surgir produtos inovadores. Pois bem… o Fórum de Inspirações que culmina no Inspiramais: Salão de Design e Inovação de Materiais – o grande projeto da Assintecal, em parceria com o Footwear Components by Brasil, o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) e o Brazilian Leather -, ocupará, entre os dias 27 e 28 de junho, um novo endereço: sai do Centro de Convenções do Shopping Frei Caneca para o Pro Magno Centro de Eventos, em São Paulo. Por lá é que serão entregues as grandes tendências que os desfiles e as araras das lojas apresentarão. Resultado de um trabalho de pesquisa que é feito ao longo de todo o semestre. “O Salão de Design e Inovação de Materiais – Inspiramais é resultado da combinação do trabalho dos empresários, juntamente com o trabalho dos consultores do Núcleo de Design Assintecal. Esta é uma nova maneira de pensar produtos, munidos da pesquisa do Fórum de Inspirações. Lado a lado, eles trabalham em novos desenvolvimentos, assim, a cada estação, mostramos no Salão mais de 600 produtos inéditos que serão base para os setores de calçados, acessórios, moveleiro e de confecção. Hoje, o Inspiramais é uma grande vitrine de tudo que é produzido em componentes de moda e de inovação, proporcionando aos visitantes uma visão muito estruturada na estação vigente e também muitas indicações da próxima estação. O Salão é nossa vitrine, da pesquisa, do trabalho dos consultores junto às empresas, dos empresários que confiam e acreditam no projeto e é, portanto, um resultado de muitas mãos em busca do melhor”, nos disse Walter Rodrigues, em uma entrevista exclusiva (Leia mais: Inspiramais: Papo com Walter Rodrigues, coordenador do núcleo de design da Assintecal. “O mote é pertencimento, essência artesanal, que contem alma”)
O tema dessa edição? “Ubuntu”. A palavra, uma filosofia africana cujo significado se refere à humanidade com o próximo, trata-se de um conceito muito amplo sobre a essência do ser humano e a forma como se comporta em sociedade. Para os povos africanos, ubuntu é a capacidade humana de compreender, aceitar e tratar bem o outro – significa generosidade, solidariedade, compaixão com os necessitados e o desejo sincero de felicidade e harmonia entre os homens.
Nada mais propício, já que, nas palavras de Walter, “em pleno século 21, pessoas e empresas ainda estão alienadas, sem perceber que a força do coletivo, com a união de intenções e propósitos, pode gerar prosperidade a todos. Em cada produto de moda, encontram-se dezenas de componentes de várias procedências. Curiosamente, as companhias se reúnem para criar o encantamento, mas não para contabilizar o sucesso. Ele simplesmente é deixado de lado”. Pois bem: o mercado de calçados, acessórios, vestuário, mobiliário e joalheria precisam, a cada trimestre, de novos componentes para criar produtos que irão alimentar lojas e encantar seus consumidores e, se tomarmos consciência da força do que se faz, saberemos valorizar não apenas cada trabalho, mas a cadeia produtiva como um todo, o que, de acordo com Walter Rodrigues, “pode gerar uma energia incrível que será revertida em lucro”.
Por isso, no Inverno 2017, a Assintecal aposta na força do coletivo e indica inspirações fortes para sentimentos que estão à flor da pele. As tonalidades são vibrantes – para encantar e dar vida aos produtos e festejar a ideia da moda como um aglutinador para uma indústria mais forte e atuante. “Apontamos a força do coletivo, indicamos uma inspiração forte para sentimentos que estão à flor da pele, independentemente de qual seja sua cor. Elegemos tonalidades vibrantes para encantar e dar vida aos produtos e festejamos a ideia da moda como um aglutinador de forças para uma indústria mais forte, mais atuante – capaz de entender sua posição na estrutura da cadeia produtiva da moda e de se orgulhar disso”, declarou Walter.
A “pirâmide de desenvolvimento de produto”é, basicamente, a representação do mercado da moda. Dividida em três estágios que, juntos, ajudam a atender diferentes necessidades e desejos, quem é o consumidor e como ele se comporta, a pirâmide ajuda a diminuir a margem de erros e, consequentemente, aumentar o lucro. Ah! Vale destacar, claro, que a divisão poderá ser aplicada tanto na criação de produtos como na busca de novos mercados, no planejamento da compra de insumos para indústria, no produto final para o varejo e nas ações de marketing. Marnei Caminatti explicou que, na crise, é preciso se destacar e, para isso, é necessário entender questões de prioridade. “As experiências de comprar sapatos, bolsas e roupas vêm sendo substituídas por outras. Todo mundo gosta de promoções”, explicou ele, ressaltando: “Existe um universo muito louco em que as pessoas para comprarem produtos de moda, eles têm que impactar na vida delas. Aí não interessa o valor, nem se a pessoa tem ou não tem dinheiro, contanto que o produto cause algum tipo de sentimento”, garantiu.
O topo da pirâmide, chamado de “Conceito 3”, representa 10% do mercado e tem o nome de “Criação autoral – busca pelo novo”. Ele é o início de todo um processo, representante das ideias com base em uma pesquisa direcionada que determina objetivos e sistematiza a inovação e experimentação. O objetivo, aqui, é criar um produto que se torne desejo de consumo entre pessoas com muito acesso à informação de moda, que possuam uma visão individual e se interessam por elementos diferentes do comum. Produtos criados exclusivamente para certos nichos de consumo, que servem de referência para lançamentos futuros, também podem se encaixar no topo da pirâmide. O produto do “Conceito 3” será um investimento a longo e médio prazo que, com acompanhamento, se tornará um importante item no mix de produtos. O exercício da inovação, presente em cada lançamento de coleção, marca o início do processo e o nascimento de ideias.
O meio da pirâmide é o “Conceito 2” e representa 30% do mercado da moda, sendo chamado de “Aposta – processo”. Eles são o resultado do estudo do ranking de aceitação propostos no topo da pirâmide, lá no “Conceito 3”. Com base nos resultados, a criação é alinhada aos processos industriais e é aqui que há adequação de modelagens, fabricações, busca por matéria-prima mais competitiva etc. Os produtos presentes no ranking dos 10% direcionam a criação de novos itens para essa etapa, onde acontece a informação de cores, texturas, acabamentos e estampas previstas nas tendências de moda – preparação para a grande produção de venda no mercado. As iniciativas de marketing são direcionadas e precisam comunicar os produtos para consumidores que serão influenciados por formadores de opinião. Essa é a fase do estudo do ranking e dos processos industriais e o público-alvo é o consumidor multiplicador.
A base da pirâmide, também chamada de “Conceito 1”, representa 60% do mercado de moda e é intitulada “Tem que ter – Massificação”, que já fala por si só. Esses 60% são quem estabelecem um momento de produção rápida e lucrativa – tendo em vista que a experimentação (conceito 3) e o processamento (conceito 2) já ocorreram. São justamente as etapas anteriores que fornecem ferramentas que facilitam a aceitação e sucesso comercial dos produtos no mercado. Mas é claro: os produtos que são referências das empresas também precisam estar em sintonia com novos acabamentos, texturas e estampas, assimilando o movimento da moda global. Através das ações de marketing, as empresas devem se conectar com desejos de milhares de consumidores. Essa é a fase da produção rápida e lucrativa que visa atender o consumidor instantâneo.
Em sua palestra, Marnei Carminatti usou a pirâmide e seus conceitos para falar das principais tendências da temporada de inverno 2017. O “Conceito 3”, de movimento, é determinante de padrões para a criação, comunicação e venda de produtos de moda e deve ser, de acordo com ele, compreendido como uma etapa de experimentação, uma “plataforma de inovação”. No entanto, não há espaço para produtos que não se tornem reais, então eles devem chegar com um objetivo específico e vir acompanhados de um pensamento fabril que se desdobre em peças viáveis para atingir a base da pirâmide. Vale lembrar que o consumidor se divide, sempre, entre os três estágios da metodologia: nunca se limite a uma só. Ainda assim, na fase do princípio da criação, é extremamente importante saber para quem a inovação será feita. Nesse inverno, os temas serão “ancestral”, também chamado de primitivo, que apresenta formas, texturas e padronagens estampadas e contrastes, “provocante”, com toques diferentes como veludo molhado, acabamento plastificado, toque réptil, o “rotação”, com camadas, capas, movimentos e corte espiral, o “cadência”, que é vibrante, polifônico e ritmado, o “flexível”, que tem cortes, elásticos e dobraduras e o “labiríntico”, com desenhos não-lineares, intricados e relevos. A paleta de cores será os tons “pastel rose”, “chocolate brown”, “aragon”, “indian tan”, “rutabaga”, “canyon sunset”, “azalea pink”, “campanula”, “empire yellow” e “citronelle”.
O “Conceito 2”, de cotidiano, é a etapa de planejamento fabril, dos fornecedores e vendas, e é visto como o impacto do lançamento, em que se verifica que variações são possíveis. Nesse processo, a pesquisa de informações de moda é fundamental para ampliar possibilidades de usar a mesma técnica com outras ideias. Em termos de marketing, há necessidade em apostar em grandes pesquisas para identificar marcas trendsetters e como elas comunicam suas apostas, pois é possível associar o protótipo a produtos que já são desejados pelos consumidores multiplicadores. Os destaques do “Conceito 2” no Inverno 2017 são as texturas flutuantes, os detalhes volumosos, tranças, jacquard, mescla de materiais neutros e luminescência, tramas abertas com espaçamentos irregulares, total look pop, uso de imagens icônicas que tornam os produtos divertidos, total look camo, design utilitário e funcional, total white, volumes angulares, em blocos e a comunicação visual estabelecida com base em símbolos e imagens lúdicas e divertidas. Os temas são “estranho”, com padronagens emaranhadas, acabamentos neón e luminescentes,texturas pontiagudas e científicas, “pop”, com padronagens de ícones, pop art e estampas reticuladas, “militante”, com camuflagem e shapes utilitários – cheios de bolsos, por exemplo -, “minimalismo”, com shapes angulares e vãos, looks total white e transparências e “arte gráfica”, com padronagens de pichação e muito quadriculado. Enfeites, solados e saltos serão formas em alta, enquanto couro, laminados sintéticos, tecidos, metais, acrílicos e lasers farão texturas, padronagens e acabamentos diferenciados. A paleta de cores terá “cypress”, “blue iris”, “neutral gray”, “blazing yellow”, “persimmon”, “fuchsia pink”, “green flash”, “chinese red”, “bright white” e “tap shoe”.
O “Conceito 1”, de pertencimento”, é a etapa comercial da metodologia da pirâmide, na qual os produtos criados e desenvolvidos ao longo da sistematização são compreendidos e desejados por consumidores influenciados por mídias de massa – como é o caso das novelas. “Os 60% são o que fazemos de melhor na empresa. O produto pelo qual já somos conhecidos. Não abandonamos eles, fazemos para ajudar o 10%, da criação e o 30%, da aposta. O 10% é o que não fazemos, que nunca tínhamos feito. São novos olhares dentro de uma empresa”, explicou Marnei. No Inverno 2017, os destaques do “Conceito 1” serão as formas sem excessos, detalhes precisos e objetivos, animal print, dourado, camel, denim, efeitos 3d, xadrez, padronagens tradicionais e aplicações. Os temas são “ostentação”, com muitas misturas exóticas como denim com dourado, peças com detalhes “amassados”, metalizados, print matelassê, formas 2d, bordados, e cortes a laser, “simplicidade”, com muitas peças cor camel, efeito airbrush, formas simples, texturas com perfurações, capitonê, estampa animal e textura amadeirada, e “retrô”, com xadrez, aplicações, tons pastéis, pink e turquesa. A cartela de cores terá “molten lava”, “ochre”, “blue atoll”, “bombay brown”, “appricot illusion”, “sirocco”, “dark earth”, “honey”, “pink lady” e “raspberry rose”.
Não restam dúvidas de que o trabalho desenvolvido pelo Fórum de Inspirações e pelo Inspiramais promove, realmente, um alinhamento da cadeia produtiva. Em uma entrevista exclusiva, Walter Rodrigues chegou a nos declarar que o que o inspira são pessoas. “Sempre amei “gente”, gosto de ouvir histórias, de perceber sotaques, de compreender maneirismos pitorescos, sou um voyer e adoro ficar à sombra observando, daí vêm as artes todas, a música que não desligo nunca, os livros e meus colaboradores. E estes, sim, me inspiram muito. Inspirar é para mim uma das palavras mais importantes do vocabulário de moda. Acredito que nós, da Assintecal, estamos conseguindo realizar nosso sonho de incentivar os designers, empresários de todos os setores da moda a serem mais sensíveis e atenciosos para com os sinais que indicam a todo o momento novas inspirações”, disse. Nós assinamos em baixo.
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