Direto do Fórum de Inspirações Verão 2017: saiba quais as principais tendências para a moda e a indústria de componentes. Da pop art ao pixe!


HT ainda bateu um papo com Marnei Cerminatti, designer e integrante do Núcleo de Design da Assintecal, que apresentou a palestra durante o Minas Trend e reforçou a ideia de que para sair da crise, a indústria criativa precisa se reinventar e reforçar a ideia de individualidade no produto

Enquanto a 17ª edição do Minas Trend e o Salão de Negócios paralelo ao evento apresentavam as coleções para o Inverno 2016, reforçando a importância de valorizar-se a cadeia produtiva da moda através da temática “A força de quem faz”, os estilistas, empresários e fashionistas também tiveram a oportunidade de dar um salto importantíssimo no tempo. O Fórum de Inspirações Verão 2017 foi o centro das atenções na tarde de quinta-feira (8/10), no Expominas. Realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro Calçados e Artefatos (Assintecal), o Fórum é fruto de uma pesquisa aprofundada, comandada por Walter Rodrigues, estilista e coordenador do Núcleo de Design da Assintecal, e sua equipe, na qual buscam e desenvolvem os indicativos de tendências para promover o desenvolvimento de produtos inovadores com base na estação abordada. Ou seja: proporcionam aos integrantes dos principais polos produtivos brasileiros, que se destacam nos segmentos calçadista, confecções, couro, têxtil, artefatos e materiais, uma experiência sensorial e informativa, colocando-os em contato direto com o que há de mais moderno em indicativos de tendências.

Todos os assuntos debatidos durante o Fórum sobre as pesquisas realizadas e a abordagem a respeito das inspirações apresentadas para representantes das mais diversas indústrias, interessados em moda, empresários, entre outros, ganham vida com as novidades desenvolvidas pela indústria brasileira de componentes e chegam à cadeia produtiva através do Inspiramais – Salão de Design e Inovação de Materiais, que será realizado nos dias 11 e 12 de janeiro, no Centro de Convenções do Shopping Frei Caneca, em São Paulo. Nele, altos executivos de indústrias do Brasil, designers, estilistas e equipes de desenvolvimento de produtos das mais diversas empresas, sediadas no Brasil, na Europa e nas Américas Latina e Central ficam a par das inovações tecnológicas para a nova estação feitas a partir de uma pesquisa cuidadosa e seletiva realizada durante seis meses, cujo resultado são 600 materiais, entre tecidos, sintéticos, couros, saltos, enfeites, aviamentos e outros itens que estarão disponíveis.

Realizada pela Assintecal, em parceria com o Footwear Components by Brasil e o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), a próxima edição do Inspiramais promete trazer uma inovação ao evento, como contou a HT com exclusividade a a superintendente da Assintecal, Ilse Guimarães: “Teremos um maior foco na estamparia e uma parceria no ‘Inovações Químicas em Couro’, onde apresentaremos novidades no setor coureiro. Além disso, estamos selecionando 10 startups que possam desenvolver novidades para o mercado calçadista”, explicou.

A inovação no couro também foi um dos assuntos principais durante o Fórum de Inspirações. Por lá, o público ficou ciente que há cerca de 310 curtumes no Brasil, gerando R$ 3,5 bilhões em receita para o país, o que o coloca na 5ª posição do ranking mundial. Mais ainda, é importante frisar que 90% dessas empresas têm investido na questão do impacto ao meio ambiente como prioridade em seus respectivos planejamentos. Também foi apresentado o conceito da Certificação de Sustentabilidade do Couro Brasileiro (CSCB), selo que autentica a origem natural do couro, realizando investigações estratégicas por todo o território nacional.

Após ter rodado o país com a edição de Inverno 2016 e o tema “Pertencimento”, o Fórum de Inspirações, agora, para o Verão 2017, se apoia no conceito “Despertar”, um desenvolvimento que é fruto da crise financeira pela qual o Brasil passa, mas que, ao invés de jogar a toalha, incentiva a força da indústria criativa de se reinventar e apostar na própria individualidade e na busca de novos rumos como forma de encontrar caminhos alternativos. “Lideranças podem usar a crise como campo de prova para tentar fazer diferente: buscando novos nichos de clientes, se organizando para responder a outros segmentos de maneira realmente diferenciada, oferecendo produtos e negócios que são endereçados a necessidades mal atendidas ou até ingressando em novas oportunidades de negócio”, aponta Márcia Neuding, sócia da Neuding Management Consulting, que presta consultoria de direcionamento e capacitação a empresas.

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Como diz a jornalista Biti Averbach, o período atual caracteriza-se como um tempo em que estamos “em plena reconstrução de valores”. A saída é se reinventar, como em um Pós-Guerra onde a alternativa é olhar para o futuro, arregaçar as mangas e, no caso das indústrias, estar ciente do desejo do consumidor, que passa por mudanças constantes, tanto demográficas (onde há um aumento do poder das minorias e uma maior neutralidade de gênero) quanto no que diz respeitos aos seus desejos que, de acordo com Biti, se traduzem em “produtos que atendam as suas necessidades físicas e emocionais, que facilitem a vida e tragam bem-estar e tranquilidade. Tudo isso feito por empresas que estejam em conformidade com seus valores pessoais”. Mais uma vez, a ideia de pertencimento se integra à alternativa para resultados positivos.

Foi essa superação da crise e o reforço da individualidade que deram início à palestra ministrada pelo designer Marnei Cerminatti, que falou sobre tendências como o pixo, a arte pop, o excêntrico e o minimalismo para o público, como apostas certeiras daquilo que será absorvido pela indústria de componentes e estará em voga nas passarelas daqui um ano. A palavra “despertar” no momento atual do país é mais do que uma sugestão do Fórum de Inspirações, é quase uma necessidade para que a indústria criativa consiga se manter forte em meio a uma crise que não dá sinais de se dissipar nem tão cedo. Como Walter Rodrigues explica: “Ao vivenciar neste momento, uma conjuntura econômica e política complicada, percebemos que a força das ações individuais estabelece um forte contraponto ao vazio reinante na sociedade, seja em termos de ideias, em atos ou atitudes. Parece ser mais fácil desistir do que lutar”.

Walter Rodrigues é o coordenador do núcleo de estilo da Assintecal (Foto: Divulgação)

Walter Rodrigues é o coordenador do Núcleo de Design da Assintecal (Foto: Divulgação)

É com o objetivo de amparar das micro e pequenas empresas que o Fórum de Inspirações se firmou como referência no mercado, promovendo o pensamento crítico de importantes players da indústria, ao mesmo tempo em que ensina a vitalidade da noção de pertencimento e singularidade e, simultaneamente, analisa as tendências comportamentais, devolvendo-as à indústria de componentes como um indicativo daquilo que poderá resultar em lucro. “Há de ser heroica a atitude de rebelar-se contra a mesmice de tudo. E a moda tem o dever de antecipar e apontar novos rumos de experimentação para que possamos avançar na direção de um mercado mais ágil, mais consistente e reconhecidamente inovador”, comenta Walter, que acrescenta: “Ao saber exatamente o que nos diferencia no mercado de moda, podemos comunicar de uma nova maneira a nossa expertise”.

Com passagens pelos principais polos e capitais do Brasil, como Belo Horizonte, Goiânia, Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Fortaleza etc., o Fórum de Inspirações apresenta um estudo baseado em pesquisas que se desdobram em um pirâmide de desenvolvimento de produto, a qual representa 100% das indústrias de componente e é divida em três partes: o topo, onde fica o Conceito 03 –“Cotidiano”, e os 10% da produção que traduzem a experimentação e a busca pelo novo no que é feito, com base no que é observado nas ruas; o meio, com o Conceito 02 – “Pertencimento”, no qual há um maior investimento em tendências que já passam por uma melhor aceitação do público e começam a se inserir no mercado; e a base, onde fica o Conceito 01 – “Deslocamento” e os restantes 60% da indústria, mostrando os produtos que já sofrem massificação e fabricação em série.

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Como tudo na moda é cíclico, o caminho natural é que tendências de estampas, texturas, materiais, formas e cores caiam no gosto popular e, gradativamente, desçam os degraus da pirâmide. Ou, na pior das hipóteses, não sejam digeridas pelo público e acabem desaparecendo aos poucos. Ao longo do evento, foram apresentados os três ganchos principais de cada conceito e como eles se desdobram nas indústrias e na moda nacionais.

No topo da pirâmide, onde fica o conceito de “Cotidiano” e tudo o que é visto pela transgressão do urbano, as grandes apostas para o Verão 2017 são temas como o estranho, a pop art e o minimalismo. O primeiro, como visto nas passarelas de Rick Owens e da Givenchy, além de ícones atemporais como Alexander McQueen e Björk, engloba aspectos como a texturas e formas pontiagudas, além de outros como o luminescente e o próprio estranho, os quais se desdobram em materiais celulares e até piercings pelo rosto, como bem demonstrou Riccardo Tisci. A pop art chega através das cores artificiais e da repetição de ícones, criada por Andy Warhol, bem como foi mostrado pela estamparia que o próprio Tisci desenvolveu, levando a figura de Jesus Cristo em “A última ceia”, de Leonardo da Vinci, para camisetas, isso sem falar no reticulado de Roy Lichtenstein. E, por fim, o minimalismo se apresenta em diálogo com a arquitetura e a transgressão urbana, onde o pixo das ruas se transforma em estampas, formas e padronagens, da mesma maneira que concretos, blocos sólidos, claraboias e vácuos.

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Chegando à ideia de “Pertencimento” que se espalha por 60% da indústria, três tendências principais tomam conta da produção: a simplicidade, a ostentação e o retrô. A primeira ganha forma através de elementos como a madeira e o tressê, tecidos perfurados, modelagens desconstruídas (como já foi visto na passarela de gente como Lino Villaventura no Minas Trend), e a textura do atanado. Como não poderia ser diferente, a ostentação chega por meio de muito dourado em cores e acabamentos, estampas de animal print, tecidos amassados e formas em 3D, com exemplos magistrais nas passarelas da Moschino e de Valentino. Por último, o retrô renova a ideia de que “vintage é cool”, trazendo de volta ao mercado tendências como o xadrez, as texturas pied-de-coq, vichy e espinha de peixe, além de uma paleta de cores que inclui turquesa e rosa pink, como visto nos últimos desfiles da Prada, Elie Saab e Elsa Schiaparelli.

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A base da pirâmide para o Verão 2017 trata do “Deslocamento” e carrega os temas aventura, novo artesanal e anos 70. O primeiro, como observado na última coleção da Balmain, traz signos como texturas e padronagens inspiradas no metalizado, cristalizado, petrificado, vulcânico e mineral, que também se espalham pela cartela de cores. Provando a força do handmade, o novo artesanal faz uso e tramas, cordas (vide a mais recente coleção de Tereza Xavier) e tudo o que chega com o aspecto de ‘feito à mão’. Por fim, pegando carona na nostalgia setentista que trouxe de volta o Boho, há padronagens de gravatas, boro, formas utilitárias e apostas em roupas com pegada de uniforme, além do clássico e atemporal Denim, que se espalha até pelos sapatos.

O tema "Aventureiro" se desdobra em texturas, formas, cores e estampas inspiradas no mineral, vulcânico, petrificado e nos tons ferrosos (Foto: Sebastião Jacinto | Divulgação)

O tema aventura se desdobra em texturas, formas, cores e estampas inspiradas no mineral, vulcânico, petrificado e nos tons ferrosos (Foto: Sebastião Jacinto | Divulgação)

“Pesquisamos em diferentes canais e, como precisamos produzir pesquisas, bebemos em cerca de dez fontes diferentes. A turma dos fios, que lança as cores que serão aplicadas na indústria têxtil; o universo da rua, que tem muito peso; e o que é lançado pelas grandes marcas, que ainda mobilizam muito o mercado, e dentro do qual nós incluímos também as fast-fashion, que têm grande valor de produção e impactam o país inteiro. A própria indústria do calçado constitui um universo diferente, no qual procuramos o que tem sido feito de novo”, explica Marnei ao HT, logo após a palestra. “Para cada lugar que olhamos, há uma pesquisa específica de interesses”, acrescenta, frisando a importância de observar-se o comportamento do consumidor.

Marnei Cerminatti durante a apresentação do Fórum de Inspirações, no Expominas (Foto: Sebastião Jacinto | Divulgação)

Marnei Cerminatti durante a apresentação do Fórum de Inspirações, no Expominas (Foto: Sebastião Jacinto | Divulgação)

E os desejos de compra desse próprio consumidor, como o próprio Marnei aponta, surgem em relatórios através de uma observação clínica e analítica de determinados grupos pela Assintecal. “Desde os próprios designers que trabalham com a gente a empresas especializadas em tendências comportamentais, com as quais fazemos um intercâmbio de informações, há uma grande turma que nos gera esses dados”, conta.

Marnei explica ainda que a indústria fashion tem seus momentos cíclicos e que, de acordo com ele, a produção mundial tem experimentado uma certa falta de identidade geral desde o início dos anos 2000, bebendo nas fontes de outras décadas para autenticar novamente alguns signos e trazê-los para o universo contemporâneo. “A moda tem uma repetição matemática e, através de um acompanhamento, nós podemos ver como isso se repete tanto através dos formadores de opinião como na rua, com o comportamento das pessoas. A Gucci, por exemplo, teve seu universo transformado pelo Alessandro Michele, que mostrou uma coleção muito baseada na década de 1970. Podemos também atentar para a cultura de brechó, que é algo universal e invade tanto Londres quanto Minas Gerais”, conta, citando o vintage como grande fonte de tendências e inspirações.

Em entrevista ao HT, Marnei Cerminatti explica como acompanhar o movimento urbano na identificação de tendências: "A moda tem uma repetição matemática, e através de um acompanhamento nós podemos ver como isso se repete tanto através dos formadores de opinião como na rua, com o comportamento das pessoas" (Foto: Sebastião Jacinto | Divulgação)

Em entrevista ao HT, Marnei Cerminatti explica como acompanhar o movimento urbano na identificação de tendências: “A moda tem uma repetição matemática, e através de um acompanhamento nós podemos ver como isso se repete tanto através dos formadores de opinião como na rua, com o comportamento das pessoas” (Foto: Sebastião Jacinto | Divulgação)

Essa crise de identidade citada por Marnei é, como o próprio conta, fruto de um período complicado para o mercado como um todo, que desde a década passada vem enfrentando novos modelos e desafios tanto na produção quanto no consumo. “Os estilistas que continuam produzindo hoje vivem em uma linha muito tênue entre o autoral ou fast-fashion. O meio do caminho é um lugar muito perigoso para quem cria”, explica.

O designer acrescenta que, mesmo em meio à necessidade de se tornar comercial, a Assintecal, através do Fórum de Inspirações, mostra que é possível reforçar a própria identidade dentro de uma coleção através dos 10% da pirâmide de desenvolvimento, sem deixar que ela caia nos clichês fashion. “Essa é uma parte muito importante do trabalho, principalmente pela ideia de experimentação. É algo que permite fugir do senso comum de reproduzir alguma estampa que você tenha visto. É preciso entender aquele desenho e como ele foi parar ali. É pensar: ‘Vou reproduzir a minha história com algo que seja verdadeiro para mim’. Por mais que algumas pessoas não entendam, isso será apenas 10% da coleção, e fará com que, além de criar desejo pela peça, ela se transforme em um bom material para editoriais”.

Marnei Cerminatti durante o Fórum de Inspirações realizado no Expominas (Foto: Sebastião Jacinto | Divulgação)

Marnei Cerminatti durante o Fórum de Inspirações realizado no Expominas (Foto: Sebastião Jacinto | Divulgação)

Marnei ainda aponta três tendências que serão vistas no comportamento do público pelos próximos meses, durante o Verão 2016, e que devem se perpetuar ao longo do Inverno 2016, como ficou provado pelas passarelas do Minas Trend. “A força dos tramados e trançados tem se destacado, graças às características artesanais; os solados e saltos que tenham algum elemento de madeira; e algo que tem sido visto pelas fábricas de sapatos femininos, que é o conforto para os pés, como o modelo Oxford”. E, para 2017, dentre todas as opções apresentadas, em qual ele aposta com mais certeza? “Eu gostaria muito que a mais utilizada fosse o minimalismo, dentre os 10% da pirâmide. Acho que seria o contraste do que é vivido hoje, porque o Brasil é um país de excessos. Ou seja, acho que até isso viria de forma escandalosa, casando-se com a ostentação que vemos nos 60% e com a ideia de que não basta ser caro, é preciso parecer caro”.

Como ficou claro ao longo do evento e da conversa com Marnei, é possível resistir à crise financeira e fortalecer o ganho da indústria criativa desde que o “despertar” para as singularidades de cada grife saia do imaginário e entre para o consciente coletivo. Em um mundo onde a padronização de tudo e de todos parece cada vez mais real, a única saída é a individualidade. E nisso, a indústria fashion tem talento de sobra. Nas palavras do próprio Walter Rodrigues: “Cabe à moda, e a cada um de nós, a tarefa de exaltar aquilo que temos de mais genuíno: a nossa maneira única de expressar as cores, as formas e os conceitos, vestindo-os como uma couraça, uma armadura que nos proteja do pessimismo, da mediocridade e da falta de empreendedorismo. E que venha o Verão 2017!”.