*Fotos e Texto por Giselle Dias
No meu périplo pelas semanas de moda de Nova York, Milão e Paris tive o prazer de conhecer durante a temporada do MFW Outono/Inverno 2019 os bastidores e toda a engrenagem da label Iceberg, marca super descolada que é queridinha dos italianos, podendo ser vista frequentemente ao andarmos pelas ruas de Milão. No mês passado, na apresentação da coleção Primavera/Verão 2020 fui convidada pelo diretor criativo da marca para mergulhar no backstage e na preparação do fashion show e acompanhar de perto o mega desfile.
Iceberg foi fundada em 1974 por Giuliana Gerani e seu marido, Silvano Gerani, na cidade de San Giovanni in Marignano, na costa Nordeste da Itália, como uma marca de roupas esportivas que se especializava em malhas. No entanto, ao longo dos anos 90, Iceberg também se tornou cada vez mais entrelaçada com a cena global dos clubes. Com todas essas influências em jogo, suas coleções costumam ser compostas por cores neon, roupas multicoloridas e muitos logotipos.
No final dos anos 80 e início dos 90’s, Iceberg patrocinou o Grand Prix de Fórmula 1, levando a uma publicidade icônica – e extremamente elegante – no pódio do vencedor. É uma foto do nosso campeão brasileiro, Ayrton Senna (1960-1994) borrifando champanhe após sua vitória em 1991, com a parede atrás dele coberta dos logotipos de Iceberg.
E vamos falar sobre James Long, o designer britânico, que depois de se formar no Royal College Of Art em 2008, rapidamente, se tornou um dos jovens mais promissores do país, seu domínio e experimentação em malhas e jeans passaram a ser um branding, o que lhe rendeu muitos seguidores na indústria da moda e colaborações com marcas como River Island e MCM. Após ser contratado pela Iceberg como diretor criativo da coleção masculina em novembro de 2015, levou a marca pela primeira vez ao Reino Unido. Hoje, ele é responsável de toda imagem da label, com o seu début feminino em Outono/Inverno 2018. Alcançou com chave de ouro a meta do CEO, Paolo Gerani, de colocar a criação sob um único guarda-chuva e tornar as coleções mais coesas e consistentes.
O SS20 continua celebrando as mulheres, com Long usando como inspiração o poema Warning, de Jenny Joseph (1932-1918):
‘’When I am an old woman I shall wear purple/With a red hat which doesn’t go, and doesn’t suit me./And I shall spend my pension on brandy and summer gloves/ And satin sandals, and say we’ve no money for butter’’.
Tradução: Advertência, de Jenny Joseph:
‘’Quando eu for uma mulher velha, usarei roxo/Com um chapéu que não combina e não fica bem em mim/E eu gastarei a minha pensão com brandy e luvas de verão/E sandálias de cetim e dizer que não temos dinheiro para manteiga’’.
A coleção Primavera/Verão 2020 traz uma sensação de leveza combinada com uma confiança feminina de se sentir confortável em sua própria pele. Cabelo e maquiagem foram inspirados na arquitetura com gráficos em alusão ao trabalho de design de Zaha Hadid (1950-2016), iraquiana-britânica que imprimiu sua chancela em obras pelo mundo.
A coleção foi apresentada na incrível locação de Bagni Misteriosi, no entorno de uma piscina dos anos 30, no coração de Milão, e totalmente restaurada. Local ideal para o primeiro desfile de James Long, focado exclusivamente na moda feminina, não apenas sob a bandeira de Iceberg, mas também de toda sua carreira como designer. Ele disse que havia batizado a coleção Underwater Lovers, para essa temporada, “muito antes de descobrir o Bagni”. Como ele explico: “Como nós temos apresentado em Londres, eu realmente queria que também tivesse um perfume aqui de Milão. É um pouco show-offy, como a filosofia da Iceberg”.
No entorno da piscina, em uma área de banhos de sol, na ilha cercada por espreguiçadeiras, a DJ Siobhan Bell começa o set ao som de português, para minha feliz surpresa, com a música “Underwater Love” por Smoke City. Uma música que mescla eletrônico, jazz e bossa nova. Roupas de praia e minivestidos de lantejoulas em tons pastel e vestidos longos de seda com painéis de cores, que às vezes eram combinados com blusas de tricô estampadas com gráficos do Looney Tunes abriram a primeira parte do show.
Em sequência, looks em branco, com uma jaqueta de lapela verde fluorescente sobre uma saia longa plissada de duas camadas, também verde. Os modelos usavam tênis slide e slingback.
Na terceira entrada, as modelos apresentavam uma leitura impactante de cores e passeavam pela inspiração de Iceberg definida há muito tempo, uma ampla topografia que vai do sportswear arejado à alfaiataria bem observada.
A seção final virou o mood com looks todos pretos – “a sereia ficou má”, como Long disse. Fechando o show com uma performance ao vivo de Bell, música e DJ britânica, enquanto as modelos faziam a última naquele cenário incrível.
Em suma: O fashion show foi lindíssimo e a nova coleção de Long veio com um aroma de paraísos plurais: vai da beira-mar à pegada urbana.
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