O que ele faz é tão bonito que emociona. Ivanildo Nunes encantou em coleção própria nas passarelas do DFB Festival, batizada ‘Com Elas’, celebrando as mulheres em seus universos particulares – inspiração e parceria preciosa ao longo de seu caminho com a label homônima: “Nesses 12 anos de história e construção da marca, ‘elas’ sempre estiveram presentes com suas mãos de amor e transformação. Cada detalhe foram por ‘elas’ observados com muito cuidado, como uma gestação de um filho. Muito trabalho, sorrisos e lágrimas foram entrelaçados todos esse anos. Hoje homenageamos cada uma dessas mulheres, com suas essências únicas”. E, em mais uma parceria plural com o DFB Festival, o SENAC Ceará, que participa do evento há 14 edições, leva para a passarela do DFB Festival 2022 uma cocriação entre Ivanildo Nunes, designer de renome internacional, e um grupo de artesãs locais detentoras de um saber e fazer artesanal tradicional cearense: as bordadeiras de Rechelieu de Maranguape.
O SENAC ainda propõe ações e reflexões sobre os novos cenários mundiais, as transformações nos modelos de consumo e os impactos na moda regional, através de palestras, desfiles e workshops. Entre as novidades desse ano, tem ainda exposição, ações educacionais do restaurante Mayú e o lançamento do Concurso Jovens Criadores Senac, logo depois do desfile de David Lee.
“A coleção foi desenvolvida por mim e executada por 15 artesãs que fazem richelieu em Maranguape, no Ceará. O objetivo das criações é mostrar o verdadeiro potencial do artesanato cearense, e o quanto podemos imprimir um conceito de design e moda através de técnicas tradicionais, competindo em um mercado que busca exclusividade”, observa Ivanildo Nunes.
Para o projeto, o estilista criou a coleção ‘Digitais‘ inspirada pelas digitais das asas das borboletas, construindo através das mãos das mulheres rendeiras de rechelieu, uma poesia em forma de peças-arte. “Em dias de chuvas, as borboletas se escondem e, quando os primeiros raios do sol aparecem entre as nuvens, dão sinal de vida. Umas abrem os braços e as outras abrem as asas: rendeiras e borboletas se conectam nesse universo onde a unicidade do ser se expande pelas mãos e asas. Cada uma traz consigo uma identidade própria. Suas asas são verdadeiras digitais que encantam pela infinidade de detalhes e transparência”, diz Ivanildo. São vinte looks manufaturados por mulheres que dominam a tradição cearense do bordado rechelieu. Cada uma com sua identidade e digital própria imprimindo a exclusividade de uma vivência cotidiana”.
E detalha mais sobre a técnica das criações que têm o apoio do Senac Ceará, grande parceiro do DFB Festival: “O bordado em richelieu requer muita habilidade e sensibilidade. A artesã guia o tecido com suas mãos e controla com os pés a intensidade do traçado da máquina. Cada desenho precisa estar conectado, delicadamente. Em nosso ateliê temos profissionais com décadas de vivência nas técnicas em renda e bordado. Elas são verdadeiras artistas. Por isso, em todos os lugares onde vou, procuro ressaltar o talento dessas mulheres”, frisa Ivanildo Nunes.
Com mais este trabalho, o designer contabiliza seu décimo segundo desfile no evento que reforça o compromisso com a criatividade e a economia criativa. “Sempre valorizei o DFB por ser uma das maiores plataformas de divulgação da moda autoral brasileira. Infelizmente, nosso potencial criativo não é valorizado como deveria, já que muitos ainda não acreditam que fazemos moda de alto padrão com responsabilidade social e sustentável”.
Celebrando 13 anos da label com sua chancela, o estilista reafirma constantemente que construir sonhos através de mãos artesãs é parte da sua missão. “São dezenas de horas perfurando tecidos para construir um design. Quando penso o design de cada renda, de cada bordado, é possível perceber que existe muito de mim em cada composição. E uma das coisas que mais me impressionam é como as nossas artesãs conseguem embarcar comigo em cada sonho”.
E frisa sobre a potência da moda do Nordeste: “Somos um celeiro de criadores, mas vivendo dentro de uma cultura de valorização do que não é nosso! Além de não termos a consciência de que todo processo de mudanças se faz com a união de todos. Infelizmente a maioria dos criadores pensam a moda de forma individual e esse pensamento não potencializa o verdadeiro valor da moda nordestina”.
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