“Moda com causa, que exala seus porquês, abraça a pele e permite conforto nas experiências”. Adorei a filosofia da Sau, das sócias Marina Bitu e Yasmim Nobre, a primeira estilista, e a segunda psicóloga, que criaram a label de swinwear, surfwear e resortwear, com o desejo de conectar as mulheres e a água, unindo design e a funcionalidade. Mais? Moda autoral, com preocupação socioambiental, práticas de economia circular, slow fashion… o caminho certeiro para fazer sua parte por um mundo melhor. O foco, como tenho pontuado, é mudar o mindset e se juntar a vozes e atitudes sobre zero waste, sustentabilidade aliada ao consumo consciente, DNA inovador, upcycling, e proporcionar à protagonista-consumidora experiências que não sejam só retórica, mas ação. E pra ontem. A label estreia no DFB Festival, maior evento da moda autoral da América Latina.
O DFB Festival é um exemplo do pensamento coletivo, do compartilhar, pois seu próprio formato é uma construção coletiva, em que diferentes potências são convidadas a participar de um projeto maior de luta em prol da criatividade, como pontua Claudio Silveira, o idealizador. Nesta edição, a Sau Swim segue seus voos com uma experiência transformadora. No DFB, a marca desfila o que as duas sócias consideram uma sinergia entre a coleção anterior, batizada ‘Mergulho‘ e a atual. “Nos inspiramos no encontro do corpo feminino com a natureza fluida. E nos líquidos que percorrem nossos corpos, como suor, lágrimas e sangue, que representam vitalidade, movimento e transformação. Acreditamos que assim como as águas que percorrem rios e como as ondas do mar, nós também somos constantes. Nunca iguais, sempre diferentes. Vivenciamos mudanças e movimentos da vida, com a sensação de que o tempo escoa, corre, como água entre os dedos. Um tempo fluido, que não conseguimos segurar, pois ele corre. Feito sangue nas veias”, diz Marina Bitu.
“Inspirado nos fluidos, idealizamos peças de beachwear e resortwear com formas curvas, ondas orgânicas e recortes inusitados. As principais matérias-primas são: lycra dublada, crepe alfaiataria, franjas com fio de seda, linhas de algodão para crochê. As técnicas utilizadas são: corte a laser, trabalhos manuais em macramê e crochê”, revela Marina, acrescentando: “Quando idealizamos a marca, nosso principal desejo era que nossos produtos pudessem acompanhar nossas clientes em muitos momentos próximos ao mar. Seja na prática de esportes aquáticos, com nossa linha sportwear, em uma viagem ao litoral ou ainda em um passeio à beira-mar. Trabalhamos para que as mulheres, assim como nós, desfrutem de experiências marcantes tendo o mar como habitat“.
A dupla exalta a 22ª edição do DFB, que se consagra pela programação diversa e reforça a vocação do Ceará como epicentro para a fomentação da moda, da cultura, da formação e da valorização do turismo, mantendo-se como uma grande plataforma de inovação, um radar criativo, considerada a maior semana da moda autoral da América Latina. “Para nós é um imenso prazer fazer nossa estreia em uma passarela no DFB. Será o primeiro desfile da nossa história e não poderia ser em outro lugar. Na nossa cidade natal, na areia da nossa Praia de Iracema. Para nós, o evento é um dos principais catalisadores e fomentadores da moda autoral nordestina e brasileira e temos orgulho em fazer parte desta história”, aponta Marina, que também está no DFB com sua grife homônima.
Os tempos pandêmicos chegaram com incertezas e muitas apreensões, mas para quem vê nas crises oportunidades, tudo é possível. Marina conta que a grife foi criada ainda no ‘olho do furacão’. “Nossa marca nasceu no dia 2 de fevereiro de 2021, em uma das reaberturas das atividades comerciais. Idealizamos e realizamos a Sau em tempos de distanciamento, fechamento do comércio e escassez de matéria-prima. A inovação e os desafios caminharam ao nosso lado desde o nosso comecinho, e acreditamos que esses são elementos que nos dão combustível para mudar e nos adaptar todos os dias”, divide.
Antenada às demandas socioambientais, a estilista revela que a marca já nasce alinhada com a propostas concretas: “A cada coleção apoiamos um projeto social, pois acreditamos que nós e outras marcas, podemos atuar no reforço e endosso de ações com foco na transformação. Além disso, nossa cadeia produtiva é 100% composta por grupos locais, associações e mulheres autônomas. No que se refere às matérias-primas, priorizamos trabalhar com fornecedores que possuem selos de sustentabilidade, usando fios e fibras reaproveitadas e reutilizando água no processo industrial”.
Respeitando a diversidade de mulheres e seus corpos, a label mantém uma coleção cápsula intitulada ‘Curvas‘, para múltiplos biotipos, abraçando o respeito a toda natureza feminina. “Poder trabalhar com pluralidade de corpos sempre foi um desejo da nossa marca. Como somos uma marca pequena, encontramos alguns desafios de produção que até bem pouco tempo atrapalharam a ampliação da nossa grade de tamanhos”, aponta Marina.
“Quando lançamos a ‘Curvas‘, recebemos retornos muito positivos de pessoas que admiravam a marca, mas que não conseguiam vestir nossos tamanhos. Para nós, conectar mulheres ao mar é incentivar todos os corpos, em suas múltiplas formas e tamanhos, a vivenciarem momentos molhados, com a segurança e confiança que merecemos. Longe dos olhos que nos julgam e nos limitam. Somos mulheres oceânicas e podemos ser grandes, enormes! “.
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