DFB Festival: Rendá por Camila Arraes alinhava ponto a ponto as delicadas criações e tem a arte como bálsamo


A designer cearense Camila Arraes, com sua Rendá, marca presença na 22ª edição do DFB Festival e leva para a passarela a coleção batizada ‘Qual cor você pinta a sua vida?’, homenageando o artista plástico Vando Figueiredo. “A ideia é pensar a arte como acalanto para dias difíceis. Nossa principal matéria-prima, a renda renascença, com mix de rendas e texturas no bordado richielieu, plumas e cristais, como protagonistas da nossa história e do nosso fazer, nessa coleção são arrematadas pelas cores vibrantes e o olhar sensível da obra do nosso querido Vando Figueiredo”, diz Camila

Nesse meu olhar para do Nordeste, lá atrás… eu frisei que o DFB Festival, idealizado por Claudio Silveira, já era a maior semana de moda autoral e festival plural das artes e que tinha promovido um rito de passagem a caminho da internacionalização handmade 100%. E é o que vemos na volta do evento de forma presencial no Aterro da Praia de Iracema, na capital cearense. O valorizar os saberes e os encantos das rendas feitas pelas sábias gerações de artesãs é parte integrante de toda uma roda que faz a economia do país girar reverenciando a sua arte. Um exemplo, dentre os vários que sempre analiso, é o trabalho da designer cearense Camila Arraes com sua Rendá, que, através da valorização da renda nordestina, dá protagonismo ao trabalho manual e a sua relevância para a cultura da região. Com a coleção ‘Qual cor você pinta a sua vida?‘, Camila homenageará o artista plástico, desenhista, pintor, gravurista, escultor e professor de desenho e pintura, Vando Figueiredo, que ganhou o mundo com suas obras de arte. “Fio a fia, ponto a ponto, arrematam-se sonhos. A ideia é pensar a arte como acalanto para dias difíceis. Nossa principal matéria-prima, a renda renascença, com mix de rendas e texturas no bordado richelieu, renda francesa, plumas e cristais, como protagonistas da nossa história e do nosso fazer, nessa coleção arrematadas pelas cores vibrantes e o olhar sensível da obra do nosso querido Vando Figueiredo”, diz Camila.

O trabalho é tão minucioso do feito à mão que levaria cerca de um ano para vermos o resultado em um vestido. Mas, para que isto não aconteça, ela ainda ajuda a movimentar a economia ao contratar diversas costureiras, de locais diferentes, para trabalhar com cada elemento em específico. Camila já mostrou ao mundo as criações da sua Rendá, desfilando na Semana de Moda de Milão a sua arte com muito orgulho executada no Ceará e com um DNA de extremo bom gosto e sofisticação.

Com a coleção ‘Qual cor você pinta a sua vida?’, Camila Arraes e sua Rendá homenageiam o artista plástico Vando Figueiredo (Foto: Roberta Braga e Cláudio Pedroso)

A designer deu um tempo na Psicologia para se dedicar à moda e há quase sete anos sua label tem conduzido a renda ao centro dos holofotes, apresentando releituras e introduzindo matérias-primas que modernizam as composições, sem perder o caráter atemporal das peças, uma prioridade da criadora, mantendo viva a tradição e a potência das rendeiras. E, apesar do cenário desafiador, é com poesia tecida, cultura e arte que Camila resiste: “O momento pois isolamento por conta da pandemia foi bastante reflexivo, e por que não dizer criativo. O silêncio das máquinas de costuras nos fez pensar nas muitas possibilidades que surgiriam quando o pesadelo minimizasse, nos fortalecemos pela necessidade que as clientes relatavam do desejo do retorno, do olho no olho, do café quentinho e do pensar  junto o vestido dos sonhos”.

Croqui de modelo exclusivo da grife Rendá por Camila Arraes para o DFB: coleção 'Qual cor você pinta a sua vida?' (Acervo)

Croqui de modelo exclusivo da grife Rendá por Camila Arraes para o DFB: coleção ‘Qual cor você pinta a sua vida?’ (Acervo)

Camila Arraes acredita na tendência crescente de valorização da moda autoral brasileira. “Sempre terá o público que deseja sair do ‘copia e cola’ das grandes produções do fast fashion. Embora seja uma clientela ainda restrita e seleta, ela valoriza o vestir imprimindo personalidade às peças que não só apenas cobrem o corpo, mas que deixam uma mensagem de autenticidade e unicidade”.

E apaixonada pelo que faz, mas consciente de que o ambiente para empreender no Brasil é de alta resiliência, pontua: “Somos movidos pelo desejo das nossas clientes, e dele nos alimentamos diariamente para superar a expectativa do vestido perfeito. Trabalhar com a arte do feito à mão, e ter reconhecimento, por isso é o que nos dá energia para superarmos as dificuldades de ser empreendedores no Brasil, com os altos tributos, o aumento extorsivo de matérias-primas, bem como da energia, entre inúmeros outros fatores”.

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Entendendo que a renda tem uma história perpétua com a moda, a estilista sinaliza na escolha dos materiais a preocupação com um moda mais sustentável. “Nossa principal matéria-prima é a renda renascença, feita 100% em linhas de algodão, e com uma durabilidade enorme. São peças clássicas, atemporais que atravessam gerações e modismos. Utilizamos também técnicas de tingimentos naturais para reutilização criativa das peças das nossas clientes, para que assim possam ser utilizadas e reeditadas em várias datas comemorativas”.

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E sinaliza sobre o caminho da arte milenar da técnica artesanal em relação ao futuro: “Infelizmente não estamos vendo uma nova geração de rendeiras se renovar. São poucas que seguem o ofício deixado por seus antepassados, o que dificulta o processo até chegar ao consumidor final. O trabalho manual por ser minucioso, exige muito tempo, dedicação e, por vezes, é muito pouco remunerado por quem intermedia o processo, assim, tem sido colocado em segundo plano pela nova geração”.