“Trabalhar com a reutilização de resíduos parte do princípio de que não é você quem escolhe a matéria-prima, mas ela que te escolhe”. A frase é de Iorrana Aguiar, fundadora e diretora de marketing da Sand Blue. A marca vive o exercício de ressignificar os resíduos, reutilizando-os, e os inserindo novamente dentro da cadeia produtiva. Com proposta sustentável, a Sand atua para além do objetivo de impacto estético através de suas peças. Iorrana diz que é preciso por meio delas, também fazer o que batizaram de ‘passarela de impacto social’.
O resultado pode ser visto na coleção ‘Nós‘, apresentada no DFB Festival, onde o ponto de partida das criações é elaborado pelo viés do ecodesign. “São os ‘nós’ dos entrelaços, e o ‘nós’ do coletivo. A ideia surgiu quando vi os resíduos de cordas náuticas, utilizadas na confecção de móveis para áreas externas na empresa da minha família, a Jacaúna Móveis. Trouxemos esses retalhos de nós das cordas para o beachwear, e criamos acessórios super bacanas para biquínis, maiôs, peças de roupa, saídas de praia. Isso mostra que o resíduo para uma empresa, pode ser a matéria-prima para outra, criando assim ‘laços’ entre parques fabris, fomentando processos sustentáveis. Pretendemos entrelaçar novas formas de relacionamento entre indústrias, pessoas e o meio ambiente”, expõe.
“Dentro desta coleção, temos também uma coleção cápsula de jeans, que não é feita de resíduos. As peças são feitas a partir da linha Sustentare, da indústria Santana Textiles. A lavagem deste jeans é a seco, com ozônio. Ou seja, utilização de zero água. Além disso, a lycra é biodegradável, super confortável, com alguns tecidos tecnológicos. O jeans oferece múltiplas possibilidades por ser um tecido versátil e democrático. Atemporal, ultrapassa o tempo, lugares, credos, limites geracionais, e é perfeito para esse vestir plural e híbrido que tem se desenhado em nossos tempos atuais”, destaca Iorrana.
Na passarela instalada no Aterro da Praia de Iracema, em Fortaleza, que recebe as coleções do DFBeach Club, com foco em beachwear, a marca cearense fundada em 2014, desfila suas peças antenadas ao handmade dos tempos que urgem por um fazer sustentável, ressignificando tudo por meio do design. “Nossa história começou em um parque fabril com a produção de moda praia para marcas nacionais e internacionais. A partir do know-how e da expertise adquirida ao longo de anos, criamos então a marca, que surge para atender a quem ama viver o litoral em cores vivas e estampas incríveis”.
E avalia: “Creio que a contribuição socioambiental tem sido nosso grande exercício e nossa maior busca. Trata-se de uma reorganização do modelo industrial. É um investimento em todos os sentidos para construir um mindset onde o lucro não está só no monetário, e sim no cuidado com tudo o que você faz e o impacto que isso gera para o mundo. Na prática, optamos por tecidos biodegradáveis, trabalhamos com comunidades de mulheres crocheteiras, fazemos reutilização de resíduos de nossa e de outras indústrias. É uma busca constante”.
Iorrana conta que o design e a arte sempre estiveram presentes em sua história. “Meu pai trabalhou com decoração e mobiliário a vida toda, fiz faculdade de moda e pós-graduação em Engenharia Têxtil. Depois, trabalhei em uma indústria de tecidos para decoração, e de lá fui para a Santana Textiles, onde me apaixonei por jeans e fiquei por 10 anos. Atuei na parte de desenvolvimento de produtos e marketing, e pude estudar muito sobre comportamento de consumo, antropologia, sociologia. Viajava o mundo todo pesquisando moda e trazendo possibilidades para a empresa na parte de criação e de comunicação com os clientes”, recorda.
“Depois montei uma marca feminina, a Joiola, com uma amiga, mas a grife hoje está sendo tocada só por ela. Montei também uma agência, e através dela trabalho paralelamente para algumas marcas. A Sand Blue criei com a minha sócia, a Almira Gomes, que tem uma fábrica de biquínis, no Maracanaú, que é o distrito industrial, localizado na Região Metropolitana de Fortaleza. Nossas marca é versátil, híbrida, jovem, com esse pilar da sustentabilidade. Buscamos possibilidades reais dentro de redução, reutilização e reciclagem”.
Ela diz que a label tem o principal intuito de conectar mulheres ao mar. “E conectamos o mar à cidade. Cada vez mais criamos peças versáteis, multiuso, para mulheres que precisam estar em vários lugares ao mesmo tempo. Ao criarmos a coleção, pensamos em como as peças podem ser usadas entre si, e com outras de coleções passadas. É um beachwear que ganha as cidades na hora do exercício (peças beach+active), na hora do supermercado (peças beach +casual), na hora da balada (peças beach +glam). Acreditamos nessa roupa híbrida, que surge pela beira mar”. E acrescenta, sobre seu público: “Nosso produto tem foco uma moda praia jovem, independente da idade, e infantil. Em algumas coleções fazemos também o masculino”.
Iorrana Aguiar celebra ainda, a contribuição do DFB Festival, celeiro e vitrine dos grandes talentos da indústria. “Nossa marca se sente honrada em fazer parte desse plataforma tão rica, multicultural, de ampla visibilidade e que enaltece a criação como base, valorizando criadores e abrindo canais de comunicação e por consequência de comercialização para as marcas que fazem parte. O DFB traz a força que o trade de moda precisa para existir e coexistir”, diz.
“Acredito no Nordeste como grande polo de produção e criação de moda. O próprio DFB fomenta esse movimento. Temos percebido o surgimento de profissionais bem capacitamos nas áreas de styling, produção de moda, beauty. O que é muito bom para o mercado evoluir em imagem e comunicação. Como nordestinos, somos um povo aguerrido. Acreditamos que sempre é possível, então vamos lá e fazemos. Também temos percebido por parte dos empresários de moda uma busca cada vez mais constante por capacitação para estruturar e expandir suas marcas”, conclui.
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