Movimento: trajetória, deslocamento, velocidade, referencial… são inúmeros os conceitos que permeiam a física. Mas, posso linkar perfeitamente às ações que estão intrinsecamente relacionadas ao DFB Festival, maior encontro da moda autoral da América Latina em conexão com ações multiculturais, contribuindo assim para o desenvolvimento da cultura de moda, incentivo aos novos talentos. Movimento é a palavra-chave que permeia a edição 2023 da multiplataforma que faz a sinergia entre moda, capacitação, empreendedorismo, Mostra Criativa, jornada de conhecimento, gastronomia e música, impulsionando o fazer coletivo com inovação. Estamos às vésperas do evento em Fortaleza, que será realizado entre os dias 31 de maio e 3 de junho, no Centro de Eventos do Ceará. Marcas com propósito, empresas com compromisso social e sustentável estão sempre sob os holofotes plurais do DFB Festival, um caldeirão de criatividade, que engloba toda a cadeia produtiva, movimentado pela energia inovadora da moda autoral.
“Além de refletir nosso próprio DNA – estar em constante transformação -, o “movimento” estará presente de múltiplas formas: nas ações dos expositores; na nossa comunicação e até no formato das passarelas, que agora são orgânicas e se adaptam aos diversos insights, transformando cada desfile em um show único. Somos movimento, somos os novos ventos da mudança e conosco teremos um time de peso para apresentar, em seus desfiles, tudo o que temos de melhor na nossa moda autoral e as novas tendências”, pontua Claudio Silveira, idealizador do evento há 24 anos e que tem ao seu lado Helena Silveira, diretora do DFB Festival e exemplo da potência do empreendedorismo. “Helena, de áries, equilibra muito bem o racional e a intuição; e assim ela me mantém centrado, me coloca no eixo. Eu sou o ciclone e ela é o olho desse furacão. Tá vendo como “movimento” é a palavra ideal pra definir até mesmo a nossa relação?”, analisa Claudio nesta entrevista exclusiva. A edição 2023 do DFB Festival com o tema “Em Movimento” enfatiza a constante transformação, evolução e impacto social do evento, que se consolidou como um dos maiores propulsores da cultura criativa no cenário nacional.
HELOISA TOLIPAN – Movimento é a palavra-chave que vai permear o DFB 2023. Pode nos contar como chegou a este tema? Quais os pensamentos e constatações para ela ser alinhavada por toda a edição?
CLAUDIO SILVEIRA – Nós temos um processo criativo muito intuitivo. Na maior parte das vezes, o tema está no zeitgeist; no retrato do momento. Em outras, ele surge de algum alinhamento estratégico com nossos parceiros. Esses dois formatos inspiraram temas como diversidade, alegria, inovação, energia… Curiosamente, o tema “em movimento” começou a perpassar pela nossa equipe criativa vários meses atrás, quando ainda estávamos esboçando o DFB 2023. E funcionou como uma espécie de presságio do que viria: além da mudança no local do evento uma profunda transformação pessoal, na minha própria maneira de ver e fazer o DFB.
HT – Como é o movimento da parceria na vida e na profissão com Helena Silveira? Qual a fórmula para tantos projetos costurados pela dupla? Qual a linha tênue que divide as funções?
CS- É um exercício diário. Já são 35 anos juntos, criando, produzindo, brigando, lutando juntos nas mesmas trincheiras. A fórmula, se há uma, talvez tenha a ver com a divisão do trabalho. Eu sou uma pessoa muito intensa, tendo a centralizar tudo à minha volta… Helena, de áries, equilibra muito bem o racional e a intuição; e assim ela me mantém centrado, me coloca no eixo. Eu sou o ciclone e ela é o olho desse furacão. Tá vendo como “movimento” é a palavra ideal pra definir até mesmo a nossa relação?
HT – Como fazer a conexão de movimento, criatividade, inovação e memórias afetivas olhando passado, presente e futuro?
CS – Tudo está interligado. As conexões já existem; um elemento não vive sem o outro. Essa noção de “multiverso” que ganhou status de cultura pop já rege as interações de quem aposta na moda e na cultura. Não é à toa que somos um festival – e isso é muito mais do que simplesmente apresentar um line-up de moda. O que nos move é a criatividade. Nesse espectro, presente, passado e futuro caminham juntos em uma mesma timeline. Não dá para pensar estrategicamente nos próximos anos sem se desvincular com a bagagem do que já vivemos. Ano que vem fazemos 25 anos! Talvez seja o momento ideal para nos movermos em novas direções, para desbravar novos territórios.
HT – DFB 2023 está de casa nova. Assim como temos mil surpresas a cada edição que acompanho há anos, o evento também é plural e proporcionar ao público uma imersão em espaços icônicos da capital Fortaleza. Como foi esta escolha?
CS – Sorte de termos passado por grandes spots, aqui em Fortaleza. Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Centro de Convenções, Terminal Marítimo, areias do aterro da Praia de Iracema… Olhe o mapa que nós conseguimos traçar e estimular a ida de milhares de pessoas a lugares até então restritos a nichos. A cidade abraça o DFB e ele abraça a cidade de volta. Por causa de novas obras de requalificação da Avenida Beira-Mar, nós perdemos uma grande área onde seria instalado o evento. Aí, a Secretaria de Turismo do Estado nos convidou para o Centro de Eventos, esse colosso. Minha empresa faz vários eventos lá, como a ambientação da Bienal do Livro; mas levar o DFB, com toda a sua carga simbólica, para esse colosso, nos fez ir para um outro nível, tanto na concepção dos espaços, quanto na adequação de formatos e programação. Esse movimento só mostra o quanto o DFB faz parte da cidade e da vida das pessoas.
O DFB derruba a porta na cara do elitismo que sempre foi sinônimo de evento de moda. Essa percepção, que hoje é cafona, de que moda é privilégio, é exclusividade, é reduto… Isso não cabe mais nos nossos tempos – Claudio Silveira
HT – Quais os grandes apoiadores desta edição do DFB e que apostam na potência do evento e na moda autoral, que é a chancela desde sempre desta plataforma multicultural?
CS – Nossa parceira Enel, que rendeu um segundo evento, o ID:Rio, no Rio de Janeiro, mantém sua história de incentivo à criatividade e inovação. O Governo do Estado do Ceará, mais uma vez, insere o evento em seu calendário anual, através do apoio institucional da Secretaria de Cultura e do apoio da Secretaria do Turismo. Quem também nos apoia é a Prefeitura de Fortaleza, com sua trajetória de estímulo a ações inovadoras, e o Sebrae, reforçando que o DFB, apesar de ter foco no autoral, promove e incentiva os micro e pequenos empreendedores.
HT – Vamos abordar O Move Moda – Mostra Competitiva de Fashion Filmes de Curta-Metragem. Saiu o resultado dos 28 filmes selecionados. Como foi o critério da seleção e como você viu voar cada um dos selecionados desta ação, que também é uma das marcas inovadoras do DFB?
CS – O MoveModa é fruto de um dos movimentos naturais que fizemos nos últimos anos. Ele integra a esfera da cultura no DFB Festival e auxilia na revelação de novos talentos do audiovisual. Reunimos participantes do Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul. São múltiplos olhares que dialogam sobre temas da nossa contemporaneidade e complementam, ainda que de maneira transversal, o macrotema do evento. A seleção foi com base em critérios técnicos como qualidade e adequação ao tema. Cada trabalho selecionado irá abrir um dos desfiles do nosso lineup e, no último dia, no palco DFB Experience, nós iremos revelar os 3 grandes ganhadores. São R$ 10.000,00 em prêmios e os vídeos concorrentes podem ser vistos no perfil do Evento no Instagram: @dfbfestival.
HT – Ainda sobre do Move Moda, a ênfase foi um olhar criativo sobre as possibilidades energéticas sustentáveis para o futuro da moda. Na sua opinião quais os avanços que tem acompanhado? E como o Ceará contribui para um mundo melhor e que diminua a emissão do CO²?
CS – O Ceará é pioneiro nos estudos do hidrogênio verde, que especialistas apontam como a próxima grande onda verde do segmento de exploração de energia. Não à toa, o Governo do Estado mantém-se como fiel apoiador do evento, já que é o principal incentivador dessa nova tecnologia no Brasil. E a gente também faz nossa parte; todo o resíduo gerado pelo DFB é processado pelo programa Ecoenel e transformado em bônus de energia, que será doado para o Abrigo de Animais São Lázaro.
Além da coleta seletiva e da parceria com o programa Ecoenel, nós estimulamos o uso mínimo de derivados de plástico pelos nossos bares e restaurantes. Para nossa satisfação, a maior parte dos criadores do nosso line-up já adotam práticas sustentáveis. E, sem falsa modéstia, acho que o DFB tem uma parcela significativa de mérito nesse comportamento – Claudio Silveira
HT – Teremos as marcas com essa pegada de uma produção voltada para economia circular, ênfase ao socioambiental, sustentabilidade de uma ponta a outra da produção. Mas, o varejo, o cliente de uma marca? Ele também, na sua opinião, já está em um patamar de mais consciência de que é parte integrante também de um novo consumir?
CS – É tudo um processo. Já conversamos sobre isso outras vezes, sinal de que o tema não é de hoje e ainda tem muito pra render. O consumidor quer saber mais sobre procedência e práticas sustentáveis, e há uma parcela de consumo crescente que não abre mão desses princípios. A grande maioria, no entanto, ainda se preocupa mais com a relação custo-benefício, fruto de uma cultura de consumo desenfreado e não-sustentável. Mas, a passos lentos, a gente vai caminhando.
HT – Como foi feita a curadoria para o line-up desta edição?
CS – O que nos moveu foi ir de encontro com marcas alinhadas a questões que são fundamentais para o DFB: economia criativa, sustentabilidade, inovação… Recebemos projetos de criadores autorais de todo o Brasil e convidamos alguns deles para integrar o line-up, alinhando-os ao lado de nomes que são a cara do evento, como Lindebergue, Almerinda Maria, Kallil Nepomuceno, Bruno Olly, Vitor Cunha, entre tantos outros. O trabalho de curadoria foi feito no decorrer dos últimos meses e foi capitaneado pela diretora executiva do DFB, Helena Silveira. Eu entro no final do processo, amarrando tudo debaixo do guarda-chuva temático que definimos.
HT – Mercado Criativo DFB, reunindo mostra gastronômica e micro e pequenos empreendedores com foco em moda e design, foi uma riquíssima ação do DFB. O que teremos de novo nesta edição?
CS – Além do conforto de um ambiente totalmente climatizado e uma área gigantesca de circulação, nosso Mercado Criativo reúne 40 micro e pequenos empreendedores dos segmentos de moda, design e gastronomia. Eles irão ocupar o foyer do Centro de Eventos, na principal área de acesso tanto aos desfiles, quanto aos shows.
HT – Qual o prazer hoje ao escolher uma roupa para vestir? Você é adepto do minimalismo?
CS – Mais que minimal, eu sou utilitário. Roupa pra mim tem que ter função. Conforto, qualidade e praticidade são mais importantes que uma estampa, por exemplo. Do minimalismo, eu adoto os princípios do consumo consciente. Compro menos, mas invisto em peças de qualidade superior. Moda tem a ver com isso; nos livramos daquele frenesi de estar sempre renovando o guarda-roupa – esse fenômeno atinge em cheio as camadas mais jovens de consumo – mas nós, que com mais anos de estrada nas costas, sabemos que o que importa, realmente, é o valor agregado de uma peça simples e funcional.
HT – O que tem a comentar sobre as inúmeras collabs que temos visto nos dias de hoje?
CS – Collabs são excelentes ferramentas para oxigenar as marcas que topam esse formato. É um negócio bom para todos os envolvidos. A maioria dos nossos criadores autorais, até por uma limitação de orçamento, opta por trabalhar nesse esquema. Enquanto eles se ocupam com a roupa, outras marcas entram no desenvolvimento de acessórios, por exemplo; ou estampas.
O esforço coletivo é um dos valores que compõem o DNA do DFB. Juntos, somos mais fortes e podemos fazer mais e chegar mais longe – Claudio Silveira
HT – Como analisa o comportamento da geração Z com a moda?
CS – Já estivemos nesse lugar, né? Nos meus 20 anos, até o acesso à cultura mais global era muito difícil. Ou você viajava ou esperava um amigo viajar e trazer as novidades, uma roupa de marca gringa, uma revista importada… Tudo era muito complicado e informação era um artigo muito valioso. Hoje, fica até difícil você explicar esse cenário para um millennial ou para alguém da Geração Z. Pra quem já nasceu conectado, consumir moda é quase que mais um gesto automático nos dedos sobre o smartphone. Porém, enquanto o algoritmo nos impõe exatamente o que achamos que gostamos – veja bem esses verbos – parece que perde-se o valor das coisas. Tudo é fácil. Realizar desejos deixou de ser privilégio de poucos – essa é a parte boa. Mas, ao mesmo tempo, como valorizar aspectos como a construção de uma roupa; o tempo que ela demanda para ser feita, principalmente se for uma artesania como a renda de bilro, por exemplo.
Existe um movimento que vai na contracorrente, da novíssima geração que está redescobrindo o poder do design excelente. Talvez seja a próxima vibe dessa geração que não cansa de se manter em movimento. Eu, particularmente, torço para que seja – Claudio Silveira
HT – Qual o cenário da moda nacional?
CS – Se falarmos em moda autoral, estamos fervilhando de novos designers, de marcas atrevidas, conectadas e independentes. Elas prescindem de grandes eventos, da grande mídia, de influencers. Elas falam direto com seu consumidor, através das redes sociais. Olha que incrível isso! Por outro lado, se falarmos de “moda” como indústria, o que vemos é um quadro de abandono por parte do setor público. Ainda lutamos contra tributos abusivos e contra a ausência de uma política que encare a moda com o respeito que ela merece. Olhe a quantidade de empregos que nós geramos. Olhe o valor que o design brasileiro agrega ao próprio pais, mundo afora. E que estímulo nós temos por parte daqueles que elaboram as normativas que regem nosso segmento? Esses questionamentos me fizeram traçar um movimento radicalmente novo nas iniciativas que eu assino. Mas vou deixar esse assunto pra outra ocasião, depois que o DFB 2023 passar.
HT – Como você sente a receptividade internacional para a moda “made in Brasil” nos dias de hoje?
CS – Acho que a moda brasileira sofre de duas síndromes: vira-lata e impostor.
Da síndrome de vira-lata, de achar que só o que vem de fora é que presta, acredito que estejamos em processo de cura. Há décadas, nossa moda, principalmente a autoral, nos enche de orgulho. Não há como traçar comparações entre as produções nacional e internacional (e nem falo da China!). E isso é ótimo. Cada país tem sua particularidade e deve explorar esse asset da maneira que lhe for mais conveniente.
Já a síndrome do impostor nos impede de interromper um ciclo de sabotagem, seja na hora de precificar, de atribuir o valor real do seu trabalho e do seu produto, seja na hora de se impor no mercado de maneira criativa e empoderada. Se há algo que podemos importar do modus operandi internacional (e, logicamente, não podemos resumir isso em uma única categoria) é a autoconfiança na hora de ocupar seu lugar ao sol.
Ainda somos tímidos, mesmo sendo incrivelmente ricos de criatividade. Somos brasileiros! Inovadores! Resilientes. Olha nossa força! Falta atrevimento para sermos, lá fora, tudo o que já somos aqui dentro – Claudio Silveira
HT – Qual o seu movimento particular no consumir moda hoje?
CS – Desacelerar no consumo e apostar na qualidade e em marcas comprometidas com o futuro do planeta. Comprar cada vez menos e investir, cada vez mais, em marcas autorais é o único movimento possível para quem tem realmente consciência de consumo.
HT – Vimos a pluralidade de estados contemplados com a escolha dos selecionados do Move Moda – CE, MG, RN e Rio Grande do Sul. Como fazer esta ação de Norte a Sul do país?
CS – Fazendo exatamente o que a gente faz: ao invés de sermos bairristas, somos abertos a todo o país. Porque o que nos interessa é essa troca de vivências e de sotaques. É isso enriquece nosso diálogo. Já fazemos isso há mais de 15 anos com o Concurso dos Novos, reunindo estudantes de todos os estados que têm cursos de estilismo e moda.
Com o MoveModa é exatamente igual: com uma conexão de internet e uma câmera de celular, você já pode criar seu vídeo e nos apresentar. Isso é democratizar a cultura de moda para qualquer um em qualquer lugar desse Brasil imenso – Claudio Silveira
HT – O line-up do DFB Festival está repleto de novos integrantes. Como você analisa a entrada dos novos participantes. Pode nos falar de cada um dos que aderiram a esta edição?
CS – Como fazemos todos os anos, nós abrimos edital para que criadores autorais brasileiros enviassem seus projetos pra gente. Foram dezenas. Selecionamos aqueles que mais faziam sentido em um line-up típico do DFB. Como resultado, veremos as estreias de nomes de vários estados e que nunca mostraram seu talento numa passarela, como Sanderson Amaral, Jonhson Alves, Levi Santos e Cléber Lima.Temos a mineira radicada no Rio, Erica Rosa, que fez um trabalho incrível com o IED no ID:Rio…Tem criadores autorais cearenses que voltam ao nosso line-up… É muita novidade e muito talento reunido. Lembro que, pela primeira vez, teremos salas de desfiles em formato inédito pra nós. Enfim, vai ser um espetáculo como há muito tempo a gente queria ver.
Somos movimento, somos os novos ventos da mudança e com a gente, teremos um time de peso para apresentar, em seus desfiles, tudo o que temos de melhor na nossa moda autoral e as novas tendências – Claudio Silveira
HT – Acompanhei pelas redes você à frente da seleção das modelos que estarão na passarela. Quais os critérios para estar nesta edição. O que o seu olhar percebeu de diferente nas new faces que te encantaram?
CS – Eu gosto de verdade da etapa de casting. Porque, de certa forma, também consigo pegar pra mim um pouco da energia desses jovens talentos. Trabalho produzindo moda há 4 décadas. Sei o que quero quando elejo um modelo para a passarela. Nesses momentos de casting, saio da minha função de diretor geral e viro coach mesmo. Digo como se deve pisar, com que força se deve cruzar a passarela… E o que busco, mais do que beleza é presença. Grandes modelos são, sobretudo, grandes personalidades. Eles têm o dom de captar nossa atenção assim que pisam na passarela. Não tem a ver com perfeição ou com um caminhar impecável. Tem a ver com atitude. E sempre foi assim. Veja nossas maiores modelos: mais que lindas, são senhoras absolutas daqueles 30 metros de carpete. E é exatamente esse o elã que procuro nas new faces.
HT – Se no ID-Rio realizado em Niterói sob a sua regência você fez uma sinergia com o desfile da Enel apresentado em Fortaleza e com ênfase no upcycling, desta vez você também leva para a Terra do Sol a coleção apresentada no meu estado do Rio de Janeiro. Me fala o seu ponto de vista dessa conexão?
CS – O upcycling não é uma simples trend. É um movimento definitivo de criar e consumir moda. O sucesso do projeto Enel Coleção Energia foi tão grande que não tinha como manter isso restrito ao ID:Rio quando se tem um palco do tamanho do DFB Festival. Por isso vamos reapresentar a coleção, logicamente com uma série de novidades. É uma forma de inspirar e multiplicar o espírito da sustentabilidade e do consumo consciente.
HT – Quais as ações sociais que serão contempladas nesta edição?
CS – A primeira é o próprio evento em si, tendo em vista que toda a programação é gratuita: dos desfiles aos shows e palestras. Mas como somos um evento comprometido também com o uso correto da nossa energia criativa, nós implementamos duas ações que irão beneficiar entidades beneficentes.
Quem desejar assistir aos desfiles, basta ir ao Centro de Eventos e doar 1kg de alimentos, para garantir um par de convites. O total arrecadado será destinado ao Lar Torres de Melo, que, há mais de 100 anos, acolhe idosos carentes. Já os resíduos gerados durante o evento serão convertidos em bônus de energia, que será doado ao abrigo de animais São Lázaro – Claudio Silveira
HT – O DFB leva a chancela do maior encontro da Moda Autoral da América Latina. Como consegui esta repercussão? Como foi o caminho até aqui para conseguir tal feito?
CS – Foi árduo. Porque, na verdade, caminhamos em um terreno íngreme. E essa caminhada requer fôlego. Todavia, quanto mais cansado se fica, mais longe se chega. E esse é meu lema, atualmente: estou cansado de muitas coisas; formatos, processos, métodos… Chegamos longe demais? Lógico que não! Mas, olhando para o caminho que ficou pra trás, vejo o quanto percorremos. E sinto que, talvez, seja o momento para ingressar em novas jornadas. O DFB tem um legado sólido e sua história é fundamental para a própria história da moda no Ceará. Digo isso sem vaidade alguma. É apenas um fato. Fui protagonista de um projeto incrível, que rendeu, rende e continuará rendendo muitos frutos. Mas é chegado aquele ponto do caminho em que é possível enveredar por novas paisagens, por territórios inexplorados. E é pra lá que talvez a gente rume.
Artigos relacionados